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1 DO DIREITO À MORADIA

1.11 DA POLÍTICA NACIONAL DE HABITAÇÃO

No ano de 2004, o Governo Federal, por intermédio do Ministério das Cidades, instituiu a Política Nacional de Habitação (PNH), com o objetivo de promover as condições de acesso à moradia digna a todos os segmentos da população, em especial, a pessoas sem ou de baixa renda.

Dentre os instrumentos utilizados pela PNH, destaca-se o Sistema Nacional de Habitação (SNH) e o Plano Nacional de Habitação (PlanHab). O SNH compõe-se de dois sistemas: o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS) e o Sistema Nacional de Habitação de Mercado (SNHM).

O SNHM visa atender a demanda por moradia da população de renda média e alta, por meio de instrumentos jurídicos protetivos dos investimentos dos adquirentes e que facilitem a compra do imóvel mediante financiamento imobiliário de fonte privada, composto de recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) e do Sistema Financeiro Imobiliário (SFI). Esse sistema visa incentivar a ampliação da oferta de unidades habitacionais por parte da iniciativa privada, sem a participação de recursos públicos.

Por sua vez, o SNHIS, instituído pela Lei 11.12453, de 16 de junho de 2005, compõe- se de fundos públicos (FGTS, FNHIS etc.) e visa atender a demanda, por habitação de qualidade, da população sem ou de baixa renda e tem dois grandes eixos de atuação: (i) urbanização de assentamentos precários e (ii) produção e aquisição de unidade habitacional.

Dentre os programas voltados à produção e aquisição de unidades habitacioais, incluem-se: os programas de financiamento destinados ao beneficiário final, como o Carta de Crédito (Individual e Associativo), que passou a absorver a maior parte dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS); o Programa de Arrendamento Residencial (PAR), operado com recursos do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR); o Programa Crédito Solidário, operado com recursos do Fundo de Desenvolvimento Social (FDS); e

53 A mencionada Lei dispõe sobre o Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social – SNHIS, cria o Fundo

Nacional de Habitação de Interesse Social – FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS. Esta lei foi resultado do projeto de lei apresentado no Congresso Nacional, no dia 19 de novembro de 1991, por organizações e movimentos populares urbanos filiados ao Fórum Nacional de Reforma Urbana, tendo sido assinado por mais de um milhão de pessoas e que tramitou por mais de 13 anos no Congresso Nacional.

Programa de Subsídio à Habitação (PSH), operado com recursos do Orçamento Geral da União (OGU).

O objetivo do SNHIS é a implementação políticas e programas que promovam o acesso à moradia digna para a população sem ou de baixa renda, com a finalidade de:

a) viabilizar para a população de menor renda o acesso à terra urbanizada e à habitação digna e sustentável;

b) implementar políticas e programas de investimentos e subsídios, promovendo e viabilizando o acesso à habitação voltada à população de menor renda; e

c) universalizar o acesso à moradia digna para todo cidadão brasileiro, especialmente aquele sem ou de baixa renda.

Os principais princípios que regem a estruturação, organização e atuação do SNHIS são (i) a compatibilidade e integração das políticas habitacionais de todos entes federados e (ii) a moradia digna como direito e vetor de inclusão social.

Com vista à implementação da política habitacional de interesse social, foi criado o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS), de natureza contábil, com o objetivo de centralizar e gerenciar os recursos orçamentários para custeio dos programas estruturados no âmbito do SNHIS. As aplicações dos recursos do FNHIS serão destinadas a ações vinculadas aos programas de habitação de interesse social que contemplem:

a) aquisição, construção, conclusão, melhoria, reforma, locação social e arrendamento de unidades habitacionais em áreas urbanas e rurais;

b) produção de lotes urbanizados para fins habitacionais;

c) urbanização, produção de equipamentos comunitários, regularização fundiária e urbanística de áreas caracterizadas de interesse social;

d) implantação de saneamento básico, infra-estrutura e equipamentos urbanos, complementares aos programas habitacionais de interesse social;

e) aquisição de materiais para construção, ampliação e reforma de moradias;

f) recuperação ou produção de imóveis em áreas encortiçadas ou deterioradas, centrais ou periféricas, para fins habitacionais de interesse social.

Segundo o Plano Nacional de Habitação54 (PlanHab), o Brasil apresenta um quadro de profunda desigualdade econômica e social e um déficit habitacional que, em 2008, era

54 BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Plano Nacional de Habitação. Brasília,

estimado em cerca de 5,8 milhões de domicílios, concentrado 92% nas famílias que auferiam renda de até R$ 1.200,00 e os 8% restantes encontravam-se na faixa de renda acima de R$ 1.200,00 até R$ 4.900,00. O que conduz a conclusão de que 100% (cem por cento) do déficit habitacional encontra-se nas famílias de renda até R$ 4.900,00.

Na definição de prioridade na aplicação dos escassos recursos financeiros públicos e institucionais, em consonância com as diretrizes da PNH, no ano de 2009, o Governo Federal instituiu o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), por meio da Lei nº 11.977, de 7 de junho de 200955, destinados a famílias com renda mensal de até R$ 5.000,00 (cinco mil reais), cujas linhas centrais de atuação compreende: (i) a urbanização de assentamentos precários, (ii) a construção de novas unidades habitacionais; e (iii) o financiamento habitacional, total ou parcialmente, subvencionado, inclusive com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), de acordo com a faixa de renda mensal familiar.

O referido Programa foi regulamentada pelo Decreto nº 7.499, de 16 de junho de 2011, que, com base no valor da renda mensal56, dividiu as famílias beneficiárias em três faixas de renda a contempladas com as seguintes modalidades de financiamento:

a) a primeira faixa (até R$ 1.600,00): total ou parcialmente subvenvionada com recursos públicos ou institucionais a fundo perdido;

b) a segunda faixa (acima R$ 1.600,00 até R$ 3.100,00): parcialmente subsidiada com recursos públicos ou institucionais e o saldo remanescente financiado com recursos do FGTS; e

c) a terceira faixa (acima de R$ 3.100,00 até R$ 5.000,00): financiada com recursos do FGTS e SBPE, segundo as regras do Sistema Financeiro de Habitação57 (SFH). As pessoas com renda acima R$ 5.000,00 estão excluídas do SNHIS. Para elas, os financiamentos seguem as regras de mercado, previstas no Sistema Financeiro de Imobiliário (SFI), instituído pela Lei 9.514, de 20 de novembro de 199758, ou mediante financiamento

55 A referida Lei dispõe sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida – PMCMV e a regularização fundiária de

assentamentos localizados em áreas urbanas; [...] e dá outras providências.

56 O PMCMV tem por finalidade criar mecanismos de incentivo à produção e à aquisição de novas unidades

habitacionais, à requalificação de imóveis urbanos e à produção ou reforma de habitações rurais, para famílias com renda mensal de até R$ 5.000,00 (cinco mil reais) e compreende os seguintes subprogramas: a) Programa Nacional de Habitação Urbana - PNHU; e b) Programa Nacional de Habitação Rural - PNHR.

57 As regras do SFH encontram-se estabeleciadas na Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964.

58 A referida Lei dispõe sobre o Sistema de Financiamento Imobiliário, institui a alienação fiduciária de coisa

direto com as incorporadoras ou construtoras ou com recursos próprios (aquisição sem financiamento).

Dessa forma, diante da escassez de recursos financeiros públicos e institucionais, a opção do Estado brasileiro por priorizar o fornecimento de moradia digna às pessoas sem ou de baixa renda, por meio do SNHIS, está em perfeita consonância com o princípio da dignidade pessoa humana, insculpido na Carta Magna.

1.12 A CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO À MORADIA POR INSTRUMENTOS DE