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A tabela 4.1 foi introduzida como subsídio para o estudo daqui em diante. Ela procura dar uma ideia sobre a capacidade econômica e os gastos com defesa dos Estados da amostra, e sobre suas relações com o mar, traduzidas pela dependência de petróleo, basicamente trans- portado por via marítima, e pelas dimensões litorâneas.

Os primeiros dados, referentes aos PIB, mostram a já notória superioridade da econo- mia norte-americana que, apesar de se debater na crise iniciada em setembro de 2008, ainda ostentava, em 2010, um PIB superior à soma das três seguintes.

Os dados que se seguem consistem nos gastos com a defesa nacional, em que também sobressai o montante desproporcional dos EUA, que ultrapassa fartamente os dos demais

componentes da tabela, pois foram superiores à soma dos 20 maiores gastos militares seguin- tes, equivalendo, em 2010, a 44,31% (SIPRI, 2011)44 do total mundial no setor.

PAÍS PIB 201045

(106 US$)

Gastos com Defesa (106US$)46 Petróleo47 (106 b/dia) Extensões litorâneas Nº VALOR Valor (2010)48 %PIB (2010) Impor- tação % impo. ZEE 49 Fronteira Marítima50 EUA 1º 14.657.800 (1º) 687.105 4,69% 9,606 51,4 11.351.000Km2 51 30.645,3 km China 2º 5.878.257 (2º) 114.300 1,94% 4,005 48,84 877.019 Km2 2.367,8 km Japão 3º 5.458.872 (6º) 51.420 0,94% 4,363 100 4.479.358 Km2 12.093,3 km Alemanha 4º 3.315.643 (7º) 46.148 1,39% 2,3254 95,42 57.485 Km2 155,2 km França 5º 2.582.527 (3º) 61.285 2,37% 1,7882 95,37 11.035.000 Km2 52 29.792,1 km R. Unido 6º 2.247.455 (4º) 57.424 2,56% 0,098 5,871 3.973.760 Km2 10.728,3 km Brasil 7º 2.090.314 (11º) 28.096 1,34% 0,0628 2,55 3.539.919 Km2 53 9.557,0 km Itália 8º 2.055.114 (9º) 38.198 1,86% 1,3241 86,15 541.915 Km2 1.463 km Canadá 9º 1.574.051 (13º) 20.164 1,28% 0 0 2.755.564 Km2 7.439,4 km Índia 10º 1.537.966 (10º) 34.816 2,26% 2,1614 72,53 2.013.410 Km2 54 5.435,8 km Rússia 11º 1.465.079 (5º) 52.586 3,59% 0 0 7.566.673 Km2 20.428,4 km Espanha 12º 1.409.946 (15º) 15.803 1,12% 1,4974 100 1.039.233 Km2 2.805,7 km Austrália 13º 1.235.539 (14º) 19.799 1,6% 0,4048 42,78 8.148.250 Km2 21.998,5 km México 14º 1.039,121 (33º) 4.859 0,47% 0 0 3.177.593 Km2 8.578,8 km Coreia do Sul 15º 1.007.084 (12º) 24.270 2,41% 2,1669 99,17 300.851 Km2 812,2 km

Tabela 4.1 – Dados geográficos e econômicos dos países da amostra

Tais dados provêm do “Stockholm International Peace Research Institute” (SIPRI) e abrangem as forças armadas, inclusive missões de paz; ministérios da defesa e outras agências governamentais envolvidas em projetos de Defesa; forças paramilitares, quando treinadas e equipadas para operações militares; e atividades militares espaciais. Essas despesas compre- endem pessoal militar e civil, incluindo serviços sociais para todos e pensões para militares da reserva e reformados; operações e manutenção; aquisições; pesquisa e desenvolvimento mili- tares; ajuda militar (para o país que provê a ajuda). As despesas não incluem a defesa civil nem a decorrente de atividades militares anteriores, como benefícios a veteranos de guerra, despesas de desmobilização, conversão ou destruição de armamento.

44 Total calculado pela base de dados do SIPRI= US$1,550,520.1 bilhões (US$ de 2009)

45 INTERNATIONAL Monetary Fund, Data and Statistics. World Economic Outlook Database,

April, 2011

46 SIPRI. The SIPRI Military Expenditure Database, 2011

47 CENTRAL Inteligence Agency, The World Factbook ,2011a. Trata-se de importação líquida. 48 Ordem na hierarquia mundial, determinada pelo autor a partir da base de dados do SIPRI.

49 EXCLUSIVE Economic Zone. Fishery Management, 2011; Zona Econômica Exclusiva. Gollog Servi-

ço de Cargas da Gol, 2011(EUA, China, Japão, França, Reino Unido, Brasil, Canadá, Rússia, Austrália, Coreia do Sul. As ZEE não incluem extensões devidas à Plataforma Continental.

50 A fronteira marítima é o valor da ZEE dividido por sua largura de 200 milhas (370,4 km) 51THE UNITED States Is an Ocean Nation, 2011

52 AREA OF FRANCE, Maps of the World 2011 53

CAROLI, Luiz H. A Importância Estratégica da Amazônia Azul para o Século XXI. Rio de Janeiro, 2008.

54 ÍNDIA. Freedom to Use the Seas: India’s Maritime Strategy. New Delhi: Integrated Headquarters; Ministry of

130 Essa abrangência torna o SIPRI diferente de outros órgãos que apresentam gastos mili- tares, como a OTAN, que os define de forma diferente, ou o FMI, que se atém às rubricas es- pecíficas dos gastos, e obrigou ao desenvolvimento de métodos particulares para cada país, que privilegia os documentos oficiais sobre tais gastos, mas também emprega outras fontes e técnicas estatísticas para determinar ou estimar os dados faltantes. (SIPRI, 2011, “Measuring

Military Expenditure”, “Defining Military Expenditure”)

A China tem sido criticada pela falta de transparência de seus gastos com Defesa. O sí- tio GlobalSecurity informa que o orçamento militar chinês para 2009 (que produziu os gastos informados pelo SIPRI como de 2010, constantes da tabela 4.1) foi de US$ 70,27 bilhões, mas, como sempre, não incluía diversas despesas importantes, como forças estratégicas, im- portações, pesquisa e desenvolvimento e forças paramilitares. (CHINA’S, 2012, §17 e 18)

Tais atividades e várias outras são computadas pelo SIPRI, que desenvolveu uma me- todologia específica para esse país, cuja série histórica indica que as despesas reais são, apro- ximadamente, de uma vez e meia o valor do orçamento. Considerando o orçamento acima ci- tado, o valor assim estimado seria de cerca de US$ 105 bilhões, algo menor, mas próximo, dos US$ 114.300 bilhões divulgados pelo instituto sueco, o que depõe a favor de sua credibi- lidade, apesar da falta de transparência desse e de outros governos. (SIPRI, 2011, “Sources

and Methods for SIPRI military expenditure data”, item V)

Um aspecto observado na tabela 4.1 é a forte relação entre os Estados que constituem as quinze maiores economias com os quinze maiores gastos militares. As diferenças são ape- nas duas: o oitavo país em gastos militares é a Arábia Saudita, que não consta da tabela por- que seu PIB em 2010 foi o 23º (US$ 443,691 bilhões), mas dele gastou 9,67% em defesa (US$ 42,917 bilhões) (INTERNATIONAL MONETARY FUND, 2011; SIPRI, 2011); e o décimo quarto PIB é o do México, que, portanto, consta da tabela, mas é o 33º em gastos mili- tares.

Tal correlação é indício de uma regra da Economia de Defesa, pela qual o próprio PIB é determinante crucial dos gastos militares, guardando com eles uma proporcionalidade direta, pois seu crescimento indica que o Estado tanto tem mais recursos para gastar em defesa como tem mais ativos a defender. Assim, ele figura como a primeira variável na função de estimati- va de gastos militares de Sandler; Hartley (2000, p.60§2 e 3), em que GM = f (PIB, GA, GI, PM), sendo:

GM – gastos militares; PIB – Produto Interno Bruto

GI – a ameaça – os gastos militares do potencial inimigo;

PM – preços relativos do material de defesa com referência a bens e serviços não rela- cionados com defesa.

A coluna “Extensões Litorâneas” apresenta as áreas das Zonas Econômicas Exclusivas (ZEE) e as extensões lineares das “fronteiras marítimas” dos países.

O comprimento das linhas de costa constitui uma medida intuitiva para a avaliação re- lativa da influência das atividades marítimas na vida das nações, mas introduz uma distorção incômoda em estudos ligados à defesa, dando valores muito elevados em países de costa mui- to recortadas. As áreas das ZEE constituem uma medida mais conveniente por conterem a re- gião onde se situa a maior parte dos ativos nacionais no mar, o principal fator de valorização intrínseca das áreas litorâneas, mas têm a desvantagem de não serem lineares, dificultando sua associação com a visualização dos litorais dos países em mapas geográficos.

Assim, a fim de proporcionar uma melhor apreciação relativa entre os países de suas extensões de contato com o mar para fins de defesa, é aqui proposta uma forma precisa de quantificar a “fronteira marítima”, conceito usado pelo Almirante Flores (2002, p.51§1) como a extensão das “águas costeiras com seu tráfego, outros interesses nelas existentes e o litoral em si”; que consiste em dividir a área da ZEE por sua largura teórica de 200 milhas náuticas (370,4 km), obtendo-se o que pode ser imaginado como a linha que contorna os territórios ter- restres do país a essa distância, ou seja, a envoltória da ZEE.

A fronteira marítima assim definida é normalmente menor que a linha de costa se esta tiver uma forma geral côncava, e normalmente maior, se a costa for convexa, mas é menos díspar que ela e fornece uma ideia mais real da extensão que interessa para fins de defesa lito- rânea. Assim, pode-se ver, por exemplo, que a defesa naval da China deve ser planejada con- siderando uma extensão linear de cerca de 2400 km, e não de 14.500 km, que é a extensão de sua linha de costa. Da mesma forma, o Brasil deve considerar perto de 9.550 km, em vez de 7.491 km, e o Canadá, algo em torno de 7.400 km, e não 202.080 km, a maior linha de costa do mundo. (CENTRAL, 2011)