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Os SLMB são empregados exclusivamente na dissuasão estratégica nuclear, embora atualmente haja iniciativas no sentido de fazê-los participar da “guerra praticável”, como o PGS (“Prompt Global Strike” – Ataque Global imediato) (WOOLF, 2008. CRS-6§3), concei- to norte-americano que prevê o emprego de mísseis balísticos com cabeças não-nucleares. Na dissuasão, eles permanecem mergulhados em local desconhecido, prontos a lançarem seus mísseis sob ordem do mais alto nível do Governo. Todos os Estados que possuem submarinos nucleares, possuem SLMB.

No ataque a forças navais, o cenário típico prevê um submarino procurando atacar de- terminadas unidades de superfície – navios aeródromos, transportes anfíbios, navios mercan- tes, etc – que, por sua importância estratégica, navegam escoltadas por uma cobertura forma- da por unidades com capacidade antissubmarino (AS) – fragatas, corvetas, contratorpedeiros, helicópteros com sonar retrátil, etc – além de SNA e aviões AS em apoio.

Tais unidades são dispostas de maneira a obrigar o submarino a passar por suas áreas de atuação para atingir posições de tiro sobre as unidades protegidas, ou a atirar de mais lon- ge, revelando sua presença com menores probabilidades de acerto, a menos que disponha de armamento de maior alcance e grande precisão, como mísseis, os quais, por sua vez, poderão ser também detectados e engajados pela escolta durante o voo.

62 No caso dos SC, a velocidade menor que a da força inimiga faz com que a aproxima- ção para colocar a unidade coberta dentro do alcance de seu armamento se restrinja a um setor angular centrado na proa da unidade-alvo – onde a cobertura AS é concentrada.

Assim, a condição básica para tais ações consiste em dispor de inteligência e tempo necessários, para que o comando superior estabeleça zonas de patrulha no percurso da força inimiga, transmita-as aos submarinos e eles se posicionem nelas, a fim de esperar sua passa- gem, o que é muito difícil em áreas oceânicas, principalmente se os submarinos forem pouco numerosos.

Um SNA não precisa necessariamente ser posicionado com antecedência, porque, ex- ceto em casos muito especiais19, tem velocidade maior que a das unidades de superfície, po- dendo, portanto, alcançá-las ou interceptá-las mesmo em áreas oceânicas, desde que haja al- guns dados a respeito, pois sua velocidade e grande capacidade de detecção de forças navais proporcionam condições de busca que poderão compensar certas deficiências de Inteligência.

Pelos mesmos motivos, ele poderá escolher o melhor setor da força para a aproxima- ção e ataque, não ficando restrito ao setor dianteiro, como os SC.

Um SC não tem como se afastar apreciavelmente da área após o ataque, o que reduz suas possibilidades de sobrevivência e poderá exigir que despenda escassas e caras munições em escoltas; já um SNA tem condições muito melhores para evadir-se sem combater, o que permite a otimização do emprego das munições nos alvos mais importantes.

Se o enfrentamento ocorrer no trânsito da força naval para seu objetivo, um SC difi- cilmente poderá realizar um segundo ataque, por não ter velocidade para alcançá-la; já um SNA poderá aproximar-se da força para avaliar a disposição das unidades, escolher a melhor tática, afastar-se, atacar, afastar-se novamente e reatacar outras vezes.

Este último aspecto restringe os SC, no ataque a forças navais, às ações de “força bru- ta”, enquanto os SNA têm melhores condições de realizar coerção por negação, atacando pri- meiro navios menos valiosos, a fim de tentar abortar a missão do inimigo, o que pode ser poli- ticamente desejável. Clancy (2002, p.179§3)20 apresenta um caso hipotético no qual considera que, em uma força tarefa anfíbia em trânsito para a área do objetivo, seu comandante possi- velmente abortaria a missão ao presenciar, impotente, a destruição de alguns escoltas por um

19 Como os Navios-Aeródromos de Ataque (NAeAt) de propulsão nuclear dos EUA, que podem navegar indefi-

nidamente a 30 nós ou mais.

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Ao contrário de outros livros do autor, como “Caçada ao Outubro Vermelho” e “Jogos Patrióticos”, o livro a- qui referido, “Submarino” é um texto descritivo sobre submarinos e a atividade submarina na atualidade, sendo, inclusive, empregado como referência em instrução no Comando da Força de Submarinos da Marinha do Brasil.

SNA inimigo, antes de ser responsável pelo alto número de baixas que seria produzido pela destruição de um ou mais dos transportes de tropa.

Vê-se assim que, no enfrentamento de forças navais, a superioridade dos SNA sobre os SC é acentuada por dependerem muito menos do local das ações (se em áreas oceânicas ou estreitos e outras áreas focais, p. ex.) e permitirem melhor aproveitamento político das mes- mas. Além disso, segundo Holland Jr., a Guerra das Malvinas demonstrou que uma força na- val formada apenas por navios de superfície só opera numa área onde um submarino nuclear esteja presente, com a aquiescência dele (HOLLAND Jr, 2002, p.338§2).

No que toca às operações AS, os submarinos constituem boas plataformas por opera- rem no mesmo meio dos objetivos, e suas formas tradicionais de emprego nessa tarefa são a barragem, ofensiva – posicionando-se sua ZP (ou as ZP de vários submarinos) em alguma á- rea de provável trânsito dos submarinos inimigos; e a cobertura, defensiva – posicionando-a nos acessos a algum objetivo que se deseja proteger contra os submarinos inimigos, ação que pode incluir outras unidades AS, como navios e aeronaves, na proteção a objetivos fixos (a- cessos a um porto ou base) ou móveis (um navio aeródromo, comboios de navios mercantes, etc).

O apoio a forças navais é tarefa para os SNA, já que os SC não possuem velocidade mantida que permita acompanhá-las. As barragens podem, teoricamente, nivelar SC e SNA por exigirem baixas velocidades, a fim de criar uma situação de superioridade acústica sobre o oponente, que está em trânsito, mas os SNA são superiores na perseguição para ataque após a detecção.

O ataque a objetivos terrestres pode ser realizado tanto por SC como por SNA, com o emprego de mísseis de cruzeiro ou mesmo de mísseis antinavio, desde que o objetivo possa ser colocado dentro de seu alcance, e os mísseis adequadamente orientados até ele.

O ataque ao tráfego marítimo constitui a forma de emprego que proporcionou maior rendimento aos submarinos nas duas guerras mundiais do século XX, mas só produz efeitos sensíveis no esforço de guerra do oponente a médio ou a longo prazo, condicionados ao seu grau de dependência em relação ao transporte marítimo. A oposição a tais ações como tradi- cionalmente prevista, por meio de escolta de grupos de navios (comboios), exige um esforço desproporcional de mobilização, tanto na defesa do tráfego marítimo como nas estruturas ci- vis do Estado relacionadas com o transporte marítimo, principalmente as de movimentação das cargas de e para os portos.

Mesmo antes de atingir esses efeitos, os prejuízos causados seriam tão grandes que tais ações poderiam ser usadas como dissuasão ou contra-coerção punitiva, com o propósito de e-

64 vitar ou interromper ações de um beligerante mais forte, aspecto que é vislumbrado pelos nor- te-americanos como uma temível forma de oposição de países mais fracos (HOLLAND Jr, 2002, p.341§2).

Os prejuízos políticos ao Estado autor de tais ações contra o tráfego marítimo reduzi- riam consideravelmente sua aceitabilidade como instrumento estratégico, em face da ênfase hoje dada à segurança da navegação, à poluição ambiental e à globalização econômica, aspec- tos que tornam muito difícil não prejudicar terceiros Estados e aumentam sobremaneira a re- percussão negativa.

O uso de SNA nessas ações seria, em princípio, um subemprego, tratando-se de uma campanha sistemática como a dos alemães na 2ª GM, mas poderia não sê-lo, se realizado de maneira não-sistemática, em termos de coerção por punição e eventualmente por negação, ou mesmo de força bruta, no caso de uma campanha focada em alguns navios que transportassem determinado recurso, cuja falta inabilitasse ou dificultasse ao oponente conseguir algum obje- tivo ou prosseguir nas ações – petróleo, armamento, tropas de reforço, etc;

As operações especiais de submarinos são as realizadas por grupos de mergulhadores de combate (MEC) neles transportados até as proximidades dos objetivos a fim de cumprirem tarefas como infiltração e retirada de agentes, localização e desativação de minas, destruição de instalações ou navios, levantamento de informações, preparação da área para operações an- fíbias, etc.

Os submarinos são boas plataformas para operações de minagem ofensiva, isto é, as realizadas em águas sob controle do inimigo. Tanto SC como SNA podem realizá-las, mas os SNA, com suas altas velocidades e maior capacidade de transportar minas, podem realizá-la com maior eficiência e menor comprometimento de sua participação no restante do conflito, já os SC, tendo menores restrições de profundidade de operação, podem minar águas mais ra- sas, o que pode ser necessário em alguns casos.

As tarefas de esclarecimento – busca, patrulha ou reconhecimento (BRASIL, 2007) – para levantamento de informações de várias naturezas são clássicas para os submarinos, que, devido à ocultação, têm boas condições de cumpri-las.

A ocultação e o armamento fortemente letal sempre fizeram do SC um importante fa- tor dissuasório, por levar a um possível oponente a ameaça das graves consequências de sua possível presença nas proximidades de um objetivo importante – uma base inimiga, por e- xemplo. Um SNA acrescenta a isso a alta velocidade que, na lógica do oponente, significa que ele poderá estar presente em qualquer ponto de uma área muito maior (MOURA NETO, 2009, p.20), aumentando significativamente a dissuasão geral do Estado.

No tocante a ações de coerção por negação, como exposto anteriormente, os SNA têm melhores condições de realizá-las que os SC. Já para a coerção por punição, que seria imple- mentada por ações ofensivas, em represália, existem diversas alternativas, como minagem de portos, afundamento de navios importantes, etc, que poderiam ser realizadas tanto por SC como por SNA, ressalvando-se que a maior mobilidade dos SNA lhes proporciona uma maior faixa de opções.

Verifica-se pelo que foi exposto acima que, na guerra naval clássica, os submarinos tem emprego principal na negação do uso do mar porque, excetuando o ataque a objetivos ter- restres, as operações especiais e as de esclarecimento, todas as demais consistem nessa tarefa básica, ainda que no contexto de algum esquema de controle de área marítima, como numa cobertura de entrada de porto ou no apoio AS a forças navais. A doutrina da marinha britâni- ca, inclusive, considera que o SNA é um sistema primordial para a negação do uso do mar a submarinos e navios de superfície (UNITED KINGDOM, 2004, p.183§2).