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5.1 Termos Coletados – Criatividade na Variação

5.1.1 Cânticos, Danças, Saudações, Provérbios e Expressões Populares

5.1.1.2 Danças

A festa do Divino Espírito Santo não tem como marca importante a realização de danças, em geral as danças são parte da festa profana, um complemento que ocorre no final da festa, em comemoração ao sucesso da empreitada e como uma espécie de catarse para as caixeiras, por exemplo, responsáveis pelo ritual. Em alguns momentos, porém, os cânticos são acompanhados por evoluções marcadas que lembram uma dança cerimonial. Ao rigor, lentidão e seriedade dessas evoluções contrapõe-se a liberdade, alegria e espontaneidade da Dança das Caixeiras e do Carimbó das Caixeiras, também conhecido como Carimbó de Velho ou de Velhas.

Dona Luzia descreve a Dança das Caixeiras:

Bem, sobre a Dança das Caixeiras, quando nós chegamos da missa, e depois que faz a obrigação na tribuna, aí a gente faz o ritual da dança. Primeiro sai a caixeira-régia, aí vai tirando as outras, tira a mor, se tiver mor na sala, aí vai tirando as outras até tirar a última. A gente dança, e depois em volta todas juntas, e depois dança o cruzeiro. É a gente dançando de duas a duas, trocando (PACHECO, GOUVEIA, ABREU, 2005, p.59).

No Maranhão, além da dança ritual acompanhada pelo ressoar das caixas e que obedece a preceitos rígidos, registra-se ainda o já mencionado carimbó das caixeiras (ou carimbó de velho ou de velhas), momento de descontração depois de cumprida a missão da festa, assim descrito por Dona Celeste da Casa das Minas: “[...] Carimbó de Velho, é cantando cantigas de Carimbó e elas [as caixeiras] dançando, se requebrando, uma dando punga na outra [...]”.

Nos Açores, o balho compreende um número considerável de cantigas acompanhadas de danças, cada uma das quais com um tipo de evolução determinado.

O Balho Direito era normalmente dividido em duas partes: na 1ª dançava-se a Charamba, sempre a primeira, o S. Miguel ou Virar do Balho, a Tirana, o S. Macaio e a Chamarrita; a segunda parte era iniciada pelo Pezinho, seguindo-se a Praia, a Saudade, o Bravo, o Meu Bem, a Lira, os Olhos Pretos, os Braços, o Casaco ou Cá Sei e, sempre à despedida, a Sapateia (BARCELOS, 2008, p. 96).

Dos Açores foi possível levantar um número considerável de tipos de danças. No entanto, em geral, essas danças ocorrem em momentos comemorativos paralelos às festas e não fazem parte do ritual obrigatório. Diferentemente, as evoluções das caixeiras não se apresentam de forma aleatória, obedecendo, portanto a uma coreografia realizada em momentos determinados, mas não recebem uma denominação específica.

Quadro 11 – Danças

TERMO DEFINIÇÃO OUTRAS INFORMAÇÕES

ALVORADA PULADA

Nos Açores, uma espécie de dança pulada num só pé, alternando a elevação dos pés (AAF, p. 123).

BAMBAÊ

No Maranhão, tipo de dança semelhante ao carimbó das caixeiras.

“O carimbó de caixeiras de São Luís é aparentado a diversas manifestações semelhantes [...] conhecidas como <bambaê> [...]” (PGA, p. 38).

Trecho de cantiga de Bambaê: “Periquitinho que vem da Holanda/ Óis que bamba/

Bamba, <bamba ê>/ Por cima do seu reinado/ óis que bamba, bamba ê/ [...]” (MB, p. 203). BALHO Nos Açores, baile, dança (JSB, p. 95).

BAILHO Nos Açores, outra designação para Balho (AAF, p. 287). BALHO

DIREITO

Nos Açores, o balho que se armava quase sempre nas casas onde havia terços do Espírito Santo (JSB, p. 96).

BALHO À ANTIGA

Nos Açores, outra designação para Balho Direito (JSB, p. 96).

BALHO ANTIGO

Nos Açores, outra designação para Balho Direito (JSB, p. 96).

BRAVO

Nos Açores, moda tradicional, cantada nas ilhas do grupo central (JSB, p. 122).

Eu fui à terra do Bravo/ Para ver se embravecia/ Cada vez fiquei mais bravo/ Com a tua companhia (JSB, p. 122).

CARIMBÓ DAS CAIXEIRAS

No Maranhão, dança sensual e de divertimento, em ritmo de carimbó, e com versos satíricos e de duplo sentido, realizada depois do encerramento da festa, sem caráter de obrigação (FSR, p. 95).

Trecho de carimbó das caixeiras: “Este lindo <carimbó>/ Ele veio do estrangeiro/ Veio para essas caixeiras/ Do Espírito Santo verdadeiro” (PGA, p. 62). CARIMBÓ DE

VELHA

No Maranhão, outro termo pra carimbó das caixeiras (FSR, p. 95). CARIMBÓ DE

VELHO

No Maranhão, outro termo para carimbó das caixeiras (FSR, p. 95). CASACO

Nos Açores, moda tradicional da Terceira, noutras ilhas conhecida por “Cá sei” (JSB, p. 161).

Abana, abana o casaco/ Lá prá banda da Serreta;/ todos abanam o casaco,/ Só eu abano a jaqueta (JSB, p. 161).

CHARAMBA

Nos Açores, o primeiro dos balhos tradicionais da ilha Terceira (JSB, p. 173).

Esta é a primeira vez/que neste auditório canto/ em nome de Deus começo:/ Pai, Filho e Esprito Santo (JSB, p. 173).

CHAMARRITA

Nos Açores, dança, acompanhada por violão, banjolim, violino e palmas dos dançadores.

“Ó piquei-me num silvado/ fui ao Pico piquei-me/ piquei-me lá num silvado/ não quero tornar ao Pico/ sem o pico ser mudado” (EVO, p. 59).

CHAMARRITA ZARAGATEIRA

Nos Açores, uma variação da

Chamarrita. “Chamarrita, Rita, Rita/ eu venho contradizer/ eu hei-te dar um jeitinho/ com outro não hás- de querer” (EVO, p. 43).

DANÇA DAS CAIXEIRAS

Dança ritual das caixeiras, de saudação ao mastro e ao Império.

“Bem, sobre a <Dança das Caixeiras>, quando nós chegamos da missa, e depois que faz a obrigação na tribuna, aí a

gente faz o ritual da dança” (PGA, p. 59).

“[...] a gente faz o ritual da dança. Primeiro sai a caixeira- régia, [...] tira a mor, [...] vai tirando as outras até tirar a última. A gente dança, depois a gente dança em volta todas juntas, e depois dança o cruzeiro. É a gente dançando de duas a duas, trocando” (PGA, p. 59). Cântico para a dança das caixeiras: “Caixeira que está dançando/ dança bem, não dança mal/ o defeito que ela tem/ é dançar não me puxar” (CMG, p. 76).

FOLGAS

Nos Açores, bailes realizados em casa do Imperador, na sala onde se encontra exposta a coroa (MBS, p. 94).

FOLIAR

Nos Açores, dança que os Foliões faziam dentro da Casa de Espírito Santo em frente ao altar, após as Alvoradas (JSB, p. 281).

LIRA

Nos Açores, moda tradicional das ilhas-de-baixo, nunca cantada no grupo de ilhas orientais, também chamada Líria (JSB, p. 332).

MEU BEM

Nos Açores, moda tradicional cantada nas ilhas-de-baixo (JSB, p. 364).

Ó meu bem se tu te fores/ Como dizes que te vais/ Deixa-me o teu nome escrito/ Numa pedrinha do cais (JSB, p. 364).

OLHOS PRETOS

Nos Açores, moda tradicional da Terceira, talvez de origem erudita (JSB, p. 394).

Olhos pretos são gentios, / são gentios da Guiné,/ Da Guiné por serem negros/ Gentios por não ter fé (JSB, p. 394).

PEZINHO

Nos Açores, balho regional, com vozes masculinas e femininas cantando quadras de sete pés [...] (JSB, p. 431).

PEZINHO DO

BALHO Nos Açores, outro termo para Pezinho, na ilha Terceira. PEZINHO DOS

BEZERROS

Nos Açores, variação do Pezinho, na Terceira, tocada e cantada na sexta-feira da matança do gado (JSB, p. 431).

Quando oiço o Pezinho/ Lembra- me uma bezerrada/ Faz lembrar o pão e o vinho,/ a carne e a massa sovada (JSB, p. 431).

PRAIA

Nos Açores, balho regional das ilhas do grupo ocidental e de S. Miguel (JSB, p. 448).

Olha a praia, olha a praia,/ olha a praia, onde ela fica/ fica na Ribeira Grande/ Presa com

laços de fita (JSB, p. 448).

SAPATEIA

Nos Açores, o último da sequência dos balhos regionais terceirenses (JSB, p. 503).

Aqui vai a sapateia/ Para o balho se acabar;/ Senhora com quem balhei/ Bem me queira desculpar (JSB, p. 503).

SAUDADE

Nos Açores, cantiga tradicional açoriana, cantada em todas as ilhas [...] (JSB, p. 506).

A palavra saudade/ quem seria que a inventou?/ o primeiro que a disse/ com certeza que chorou (JSB, p. 506).

TIRANA

Nos Açores, balho regional açoriano (JSB, p. 545).

Tirana, atira Tirana,/ Tirana, olé, olé/ Casar com mulher sem dote/ É remar contra a maré (JSB, p. 545).

VACAS

Nos Açores, balho possivelmente de origem flamenga, dançado antigamente no Pico, com os braços levantados, que representavam os galhos das vacas; também conhecido no Faial e nas Flores, onde era dançado pelos Foliões em frente da Coroa, nos Impérios do Espírito Santo (JSB, p. 571).

Ai, ai, que venho das vacas/ Ai, ai que das vacas venho/ Ai, ai , que venho sem leite/ Ai, ai, que sem leite venho. Para findar o Balho o Mandador gritava: Tirolé ou Chega ao palheiro (JSB, p. 571).

5.1.1.2.1 Um balho na Terceira em 1842

Simões (1987, p. 201) transcreve em apêndice um balho na Terceira (APÊNDICE A), descrito por António Moniz Corte-Real, publicado em O Annunciador da Terceira, nº 5 a 12, em 1842. Optei por organizar em quadro os nomes, descrições e exemplos das danças que compuseram o balho observado pelo autor, na ordem em que se apresentaram e que confirmam a composição do balho encontrada em outros livros. O autor descreve as danças comparando-as ao desenvolvimento de uma relação entre namorados, que começa timidamente e depois alterna alegria, tristeza, rusgas, reconciliações, recriminações e ameaças. Mantive a grafia original.