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3.2 O universo documental – as fontes da pesquisa

3.3.4 Organização dos dados

Inicialmente foi feito um levantamento das palavras e expressões usadas para descrever a festa. Analisando-se o material já existente sobre a festa, em geral registro da fala dos seus participantes, observei que as unidades lexicais utilizadas para a descrição e caracterização da festa, mesmo quando existentes no léxico geral da língua portuguesa, assumiam um valor específico e inconfundível ou novos significados, equivalentes, diferentes ou complementares, no âmbito do ritual da Festa do Divino, o que configuraria tratar-se de uma terminologia específica, entendido termo na perspectiva de Charaudeau e Maingueneau (2004), como uma unidade lexical definida em relação com outras unidades do mesmo tipo no interior de um domínio de atividade estreitamente delimitada.

Levei em conta que determinados objetos do ritual – como a espada, o almofadão, a faixa ou fita, o manto ou capote, entre outros – têm um significado diferente, em razão do valor simbólico de que se revestem, como observou Lima (2002), que afirma que não só a coroa e o cetro mas também a farda, a espada, a faixa e o manto conferem autoridade ao imperador, da mesma forma que a força do sagrado faz de uma coroa e pomba, a Santa Croa, símbolo do Divino e atribui poderes reais, sagrados e de guardiões do saber a crianças e adolescentes, e a caixeiras e a mestres-salas, respectivamente.

Procedi à leitura sistemática de obras que descrevem as festas nas localidades já mencionadas e realizei o levantamento dos termos referentes às festas, com indicação dos livros em que foram encontrados. Organizei esta lista inicial por ordem alfabética, para evitar a repetição de termos. Em seguida, organizei os termos em campos conceituais definidos de acordo com os elementos mais importantes da festa, tendo chegado à seguinte relação: Cânticos, Danças, Orações, Saudações, Provérbios e Expressões Populares; Ciclo da Festa; Culinária; Insígnias e Vestuário; Instrumentos e Outras Referências Musicais; Locais e Tempo da Festa; Objetos Acessórios e Decoração; Participantes e/ou Funções; Espírito Santo e Símbolos.

Em alguns casos raros um mesmo termo pode ocorrer em mais de um campo diferente, o que foi deliberadamente respeitado, uma vez que contribui para um melhor entendimento da riqueza terminológica da festa.

Na consulta a dicionários, em alguns casos a definição do termo acontecia no texto definitório de outro termo. Nesses casos, indiquei o termo em pauta pelo seu número nos Quadros e iniciei a definição indicando em que verbete havia sido encontrada, colocando o termo em caixa alta, entre parênteses, desta forma:

Ex: 3 – (DIVINO) [...] bando precatório pedindo e recebendo auxílios de toda a espécie. A Folia constituía-se de músicos e cantores, com a Bandeira do Divino, ilustrada pela pomba simbólica, recepcionada devocionalmente por toda a parte (LCC, 2001, p. 198).

O número 3 corresponde, no Quadro, ao termo FOLIA DO DIVINO.

Para melhor visualização no trabalho de comparação, os termos foram apresentados em Quadros de diferentes configurações.

3.3.4.1 Quadros de classificação

Utilizado apenas em situações em que o termo apresenta múltiplas variedades, com pequenas variações nas designações, o Quadro de classificação (Quadro 1) tem como objetivo facilitar a compreensão do processo de significação ou a motivação da designação e compreende duas colunas, a da classificação, com os diversos tipos do elemento estudado e a da descrição simplificada de cada um desses tipos, como neste exemplo:

Quadro 1 – Modelo de Quadro de classificação

FORMA/ASPECTO DESCRIÇÃO

Pão-de-fatias Pão distribuído em fatias

Pão-alvo Pão feito com farinha passada em peneira fina Pão-de-tranca ou de tronco Pão de forma alongada

3.3.4.2 Quadros explicativos

Com os termos e suas significações ou descrições e aspectos culturais que contribuem para melhor compreensão do significado ou para contextualizar o seu emprego; o Quadro explicativo (Quadro 2) compreende três colunas: a dos tipos – com a designação e as variantes encontradas e identificadas com base na descrição ou definição obtida nos livros e dicionários regionais ou específicos consultados –, a das descrições ou definições correspondentes, com indicação, sempre que possível da localidade específica em que ocorrem, e a dos aspectos culturais e contexto de utilização, sempre que foi possível registrá- los:

Quadro 2 – Modelo de Quadro explicativo

TERMO DEFINIÇÃO OUTRAS INFORMAÇÕES

ALVORADA

1. Momento do ritual, que se repete por vários dias, às seis horas, ao meio-dia, às 18 horas. 2. Toque de caixa que acompanha o ritual da alvorada.

“Alvorada nova, novas alvoradas/ De manhã bem cedo, sobre a madrugada/ Alecrim cheiroso, angerca dobrada/ Ao sair da estrela, ela foi croada.” (PGA, p. 51).

3.3.4.3 Quadros de comparação

Compreendem as seguintes informações: termo e variantes em Portugal, nos locais considerados para a pesquisa, e seus equivalentes no Maranhão. Quando o termo for específico para a festa em apenas um dos locais apenas este foi indicado. Neste quadro também levei em conta os termos estruturalmente iguais ou semelhantes, com significados iguais ou diferentes e ainda aqueles que, embora estruturalmente diferentes, referem-se a um mesmo objeto, ação, função ou outro aspecto da festa. O Quadro de comparação (Quadro 3) é constituído por apenas duas colunas, uma que se refere a Portugal e outra ao Maranhão:

Quadro 3 – Modelo de Quadro de comparação

PORTUGAL MARANHÃO

TAMBOR

TAMBOR DA FOLIA

TAMBOR DO ESPÍRITO SANTO

CAIXA

3.3.4.4 Quadros de análise

Estes Quadros (Quadro 4) são utilizados apenas para os campos do Quadro anterior que apresentam correspondência, ou seja, termos estruturalmente iguais ou semelhantes, com significados iguais ou diferentes e termos que, embora estruturalmente diferentes, se referem a um mesmo objeto, ação, função ou outro aspecto da festa. Estes Quadros compreendem o termo e suas variantes; a presença em dicionários gerais e específicos – este campo tem como primeira informação as definições encontradas apenas nos documentos que serviram de base à seleção dos termos, (o glossário dos termos da festa no Maranhão – São Luís e Alcântara, identificado pelas iniciais FSR e o Roteiro Lexical das festas dos Açores, identificado pelas iniciais MBS) e as fontes documentais estão identificadas por siglas, tal como indicado na Identificação das fontes, e pelo número de página; a etimologia do termo, quando sua origem e formação não forem evidentes; os significados encontrados em dicionários portugueses e brasileiros de diferentes épocas, cuja relação está mencionada em outra parte deste capítulo, em acepções que tenham relação com a festa; outras informações, como aspectos histórico-culturais, provérbios e expressões idiomáticas construídas com o termo

Quando o termo estruturalmente igual ocorre nos dois campos, está destacado em negrito. Os termos e suas variantes, quando houver, estão numerados, repetindo-se o número quando ocorrer nos dois espaços geográficos, para economia de espaço, e as informações encontradas nos dicionários seguirão essa numeração, como forma de identificação da variante a que se referem:

Quadro 4 – Modelo de Quadro de análise

AÇORES E PORTUGAL CONTINENTAL

MARANHÃO – ILHA DE SÃO LUÍS E

ALCÂNTARA

PRESENÇA EM DICIONÁRIOS

GERAIS ESPECÍFICOS

ABH AMS AH JS DPE JCS DVF JSB VFB LCC

ETIMOLOGIA JPM – AN – AGC – SIGNIFICADOS DICIONÁRIOS GERAIS PORTUGUESES BRASILEIROS DICIONÁRIOS ESPECIALIZADOS OUTRAS INFORMAÇÕES

Tendo em vista o número grande de variantes que alguns termos apresentam, muitos dos quais dificilmente identificáveis fora de contexto, optei por organizar os Quadros respeitando a ordem alfabética dos termos de cada campo, identificando cada item com o termo mais comum e mais facilmente reconhecível, como no caso dos símbolos, cuja ordem leva em conta os termos bandeira, coroa, mastro e pomba e não variantes como santo-véu, divina santa croa, oliveira ou alva pomba, que determinariam uma nova organização alfabética. Assim, identificados os itens, retomei, para cada um, o critério de organização em ordem alfabética das variantes.