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Das primeiras leis ao estabelecimento ao Copyright

No documento UNIVERSIDADE PAULISTA (páginas 139-143)

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6. Das primeiras leis ao estabelecimento ao Copyright

Como vimos, por conta de uma necessidade de proteção comercial por um lado e de controle de idéias por outro, um corpus jurídico começou a formar-se de maneira fragmentária, em diversas regiões da Europa nos séculos XV e XVI. As leis atendiam especialmente aos livreiros-editores e impressores, que buscavam estabilizar o mercado.

Isto não significava que os autores abdicaram de estabelecer seus direitos, mas o que as pesquisas históricas realizadas neste campo até o momento demonstram é que as tentativas dos autores em fazer valer seus direitos eram iniciativas isoladas, especialmente daqueles cujo sucesso editorial permitia que negociassem com os livreiros-editores melhores adiantamentos.

Não sabemos se os poligrafi se organizaram como classe, ou fração de classe, ou se estes “proletários” das letras criaram algum movimento no sentido de fazer valer seus direitos. Mas, certamente, que, na medida em que as categorias sociais se consolidavam e os resultados obtidos com o comércio de idéias enriquecia os livreiros-editores, os autores, mesmo os mais marginais, passaram a perceber que tinham um papel importante na geração desta riqueza. Desta “consciência” até o estabelecimento de movimentos em prol dos direitos de autor, longo período deve ter decorrido.

Alguns dados corroboram com a idéia de que os autores a partir do século XVI buscavam tomar as rédeas do empreendimento literário:

(...) para conservar os benefícios e para fiscalizar a difusão de suas obras, muitos autores tentaram em toda parte, a partir dos finais do século XVI, mandar imprimir seus livros as suas expensas. (...) Mas tais tentativas eram muito mal-vistas pelos livreiros e pelos impressores. Estes procuravam entravar de todos os modos a venda de obras publicadas em “edição de autor”. (Febvre e Martin, 1991: 245)

Para melhor compreendermos a situação do autor no século XVII é importante que façamos um inventário dos dados que levantamos até o momento:

a. A partir do século XI o conceito de autor começa se formar.

b. Por cerca de quatro séculos a idéia de produção de um conhecimento original e de propriedade intelectual de uma idéia, conviveu com as formas de produção coletiva de conhecimento.

c. A idéia de autoria ganhou força no século XV com a invenção da prensa de tipos móveis.

d. A possibilidade de aferir benefícios financeiros pela criação de uma obra intelectual se desenvolveu nos séculos XV e XVI.

e. Movimentos intelectuais dentre os quais destacou-se o humanismo contribuiu fortemente com a criação de uma identidade de autor.

f. A idéia de cobrar pela produção intelectual conviveu entre os séculos XV e XVII com os modelos de mecenato vigentes na Idade Média.

Com estes dados acreditamos ser possível sustentar que na segunda metade do século XVII, encontrava-se madura, nas principais regiões produtoras de livros as condições para que surgissem as primeiras leis de proteção aos direitos de autor, como resultado de quatro forças convergentes:

a) A necessidade dos capitalistas do mercado editorial de se preservarem contra a ameaça de possíveis concorrentes aos originais que editavam;

b) A necessidade de Estado e Igreja de identificar e controlar os autores de idéias e o comércio de conhecimento;

c) A necessidade dos autores de participarem dos lucros aferidos na empreitada editorial.

d) O estabelecimento de um mercado consumidor, cujos membros reconheciam o valor dos autores e de suas obras, conferindo prestígio a alguns.

Das nações européias, a precursora no estabelecimento de uma legislação positiva acerca do direito de autor foi a Inglaterra. No mesmo período em que Londres tornou-se a capital européia da edição superando Amsterdã e Veneza, surgiu a primeira lei relacionada à propriedade intelectual: refiro- me do Licensing Act de 1662, que proibia a impressão de livros que não fossem devidamente registrados e concedia os privilégios aos livreiros editores. Era uma lei parecida com a que vigorava na França um século antes e como aquela protegia basicamente os privilégios dos capitalistas da edição, ao mesmo tempo em que assegurava o controle do Estado. Mas enquanto na França as coisas não avançaram no sentido de um corpus jurídico que protegesse também o autor, na Inglaterra em 1709 foi promulgado o Copyright Act, da Rainha Ana, que concedia ao autor a regalia de receber

dividendos pela sua obra, protegendo-a por 21 anos após o seu registro formal, que poderia ser feito após a impressão. Para obras não impressas a proteção era de 14 anos.

O século XVIII francês foi marcado por inúmeras batalhas judiciais entre autores e livreiros-editores pelo privilégio de publicar e comercializar as obras que criavam. Há registros de uma importante vitória dos autores em 1761, quando as netas de La Fo ntaine obtiveram o privilégio de publicar as obras do avô às expensas de seus antigos editores. Em 1777, cinco decretos estabeleceram privilégios indefinidos de exploração da obra pelos autores e de dez anos para exploração das obras por livreiros-editores. Mas foi apenas após a revolução, em 1793, que a França passou a contar com uma lei geral de proteção aos direitos autorais: “(...) o autor tinha o direito de vender e distribuir suas obras e de ceder sua propriedade, totalmente ou em parte, e o direito de propriedade de autor prolongava -se em favor de seus herdeiros dez anos após sua morte”.( Febvre e Martin, 1991: 249)

De forma desigual e lenta durante todo o século XIX, o direito de autor vai sendo estabelecido no ocidente. Um dos marcos institucionais da internacionalização dos direitos de autor foi a realização na França, no ano de 1878, do congresso literário mundial, durante o qual foi fundada a Associação Literária Internacional, entidade que irá trabalhar em prol da defesa dos direitos internacionais de defesa dos direitos de autor. No ano de 1886 realiza-se na Suíça a terceira conferência diplomática sobre direitos autorais na qual é composta a Convenção de Berna para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas, cujos princípios inspiraram muitas das leis e acordos sobre direito autoral e propriedade intelectual. Sua abrangência e flexibilidade pode ser atestada por sua longevidade, pois ele é o mais antigo tratado internacional vigente.59

59 Sua última revisão data de 24 de julho de 1971, com emendas realizadas em 28 de setembro de 1979.

No Brasil a primeira lei relativa à proteção da propriedade intelectual é de 1830: o Código Criminal do Império, que prevê sanções para quem copiasse obras artísticas e literárias sem autorização de seus autores, protegendo as obras durante a vida do autor e até dez anos depois de sua morte. O código civil promulgado em janeiro de 1916 traz todo um capítulo dedicado à propriedade literária, científica e artística.

Em 1973 foi promulgada uma lei dedicada exclusivamente ao direito autoral. E a teia jurídica que protege os direitos de autor no Brasil também se compõe do artigo 184 do Código Penal, e da própria Constituição Federal, que consagra um de seus itens a proteção deste direito.Finalmente no ano de 1998, foi promulgada a Nova Lei de Direitos Autorais brasileira, a lei 9.610. Este diploma legal atualizou uma série de questões da lei anterior e incorporou na lei questões relacionadas à emergência do mundo digital e a desmaterialização de conteúdos.

No documento UNIVERSIDADE PAULISTA (páginas 139-143)