• Nenhum resultado encontrado

Subsetor de obras científicas, técnicas e universitárias (CTU)

No documento UNIVERSIDADE PAULISTA (páginas 76-81)

Segmento Percentuais de remuneração

5. Segundo elo: edição

5.2 Subsetor de obras científicas, técnicas e universitárias (CTU)

de faturamento, significativamente inferior ao do período anterior. O quanto este patamar é inferior dependerá das explicações que tivermos sobre a relação dos números relativos à mudança cambial, fenômeno que não será estudado nessa dissertação. Nos contentamos em assinalar o decrescente faturamento e a manutenção estagnada do preço dos exemplares em reais, quando confrontados com a inflação do período.

O conjunto de aspectos apresentados nos permitem afirmar que estamos diante de uma crise no segmento de livros gerais, com queda de rentabilidade e pequena margem de manobra econômica dos agentes em questão, pois para que se obtenha economia de escala depende-se do governo e o recurso à economia de escopo encontra-se esgotado devido ao reduzido espaço nas pratleiras.

Exemplares vendidos: O declínio na produção e comercialização de exemplares deste setor é bastante significativa. Quando comparamos o ano de 2003 com o de 1990, a queda percebida é de 47%. Devemos ponderar que os primeiros três anos da década de 90 distorcem significativamente a série de 14 anos. O número médio de exemplares produzidos em toda a série é de 26,6 milhões por ano. Quando confrontamos o ano de 2003 com a média do período, constatamos uma queda de aproximadamente 25%. Caso subdividamos a série, nos concentrando nos últimos seis anos, então os números de 2003 ainda estariam abaixo, porém próximos da média, que seria de 21 milhões de exemplares por ano.

Títulos Produzidos: A média de títulos produzidos na série histórica é de 10,5 mil títulos por ano. Constatamos uma elevação significativa no número de títulos no triênio 1999-2001, acompanhada por um declínio que em 2003 encontra-se aproximadamente 10%

abaixo da média histórica.

Tiragens: As tiragens no período não apresentam grandes novidades, a média é de 2,1 mil exemplares por tiragem. Número abaixo do recomendável do ponto de vista da economia de escala (que seria de no mínimo 3000 exemplares). Durante o período as tiragens declinaram nos anos em que o número de títulos subiu. No ano de 2003, o número das tiragens encontra-se alinhado a média histórica.

Preço por exemplar: Para avaliarmos o preço por exemplar adotamos a divisão da série, pois os números em dólares e a mudança cambial podem contaminar nossa análise.

Observando os números em reais temos uma média por exemplar de R$ 9,70 por ano entre 1998 e 2003. Caso eliminemos desta série o ano de 1998, cujo preço atingiu o dobro da série observada, então teremos a média de R$ 7,96 por exemplar. De qualquer forma temos

um declínio constante no preço em real pago por unidade. O valor obtido por um livro em 2003 é 35% menor do que o mesmo livro obteria em 1999.

Faturamento: Assim como o preço, o faturamento na série histórica é declinante. Optamos pela subdivisão que leva em conta os números dos últimos seis anos expressos em reais. A média histórica de faturamento é de cerca de R$ 205 milhões, o ano de 2003 encontra-se 40% abaixo da média da série. No ano de 2003 o faturamento foi 33,5 % menor que o alcançado em 1999. Verificamos um constante declínio, em especial nos últimos quatro anos. Neste caso poderíamos citar a ascensão da Internet e dos meios de reprodução eletrônica como um dos fatores que vem canibalizando os resultados.

Conclusões parciais diante dos referenciais econômicos: A economia de escala estática não vem sendo alcançada neste setor. Observamos um movimento contrário, sobretudo no triênio 1999-2001, que sofre um refluxo nos anos subseqüentes, sem que as tiragens aumentem em relação a média da série história geral. Novamente a contradição entre economia de escala e escopo se faz presente. Quando diversificamos os títulos nos anos de 1999 e 2000, temos uma significativa queda nas tiragens, cerca de 18%, ameaçando os possíveis ganhos de escala. E aqui também se faz drástica a questão ponto de venda. Como a categoria CTU não é pródiga em vendas, seu espaço nas livrarias é limitado, a diversificação neste caso pode agravar a situação dos títulos marginais, aqueles que jamais serão expostos, gerando a inversão do efeito Tostines36 , não vende porque não é exposto, não é exposto porque não vende. Quando comparamos as evoluções do número do segmento CTU e a do número de matriculados nos cursos superiores em todo o país, verificamos que o aumento da base de potenciais compradores não representou qualquer

36 “Não vende porque não é exposto, não é exposto porque não vende. Paráfrase da famosa frase do comercial de biscoitos Tostines, veiculado na televisão na s décadas de 80 e 90 do século XX, que dizia: “Vende mais porque é fresquinho, é fresquinho porque vende mais.”

alento ao declínio de vendas e a estagnação da produção. E mais, o que temos é uma queda absoluta e relativa do consumo de livros por parte dos universitários como mostra o quadro abaixo,

Tabela 08: Consumo per capita de livros do subsetor CTU, por estudantes universitários (1990, 1998 e 2003)37

De 25 exemplares por aluno matriculado no ensino superior em 1990, o consumo de livros per capita da categoria CTU, declinou para cinco exemplares em 2003. Ou seja, não estamos diante apenas de uma questão de variação mercadológica causada pelo declínio da renda, ou pela elevação no preço do livro. Como vimos, o preço médio por exemplar vem caindo de forma significativa. O que temos aqui é o indício de uma mudança mais profunda, de natureza cultural e que acreditamos, não pode ser explicada simplesmente pelo mito da idade de ouro, qual seja, que em décadas pretéritas nossos estudantes universitários liam mais, pois o ensino era de melhor qualidade, com a massificação da oferta de vagas, tivemos um declínio tão acentuado na qualidade que a leitura declinou acentuadamente.

Aceitamos as premissas, mas não a conclusão. O processo de massificação pode ter representado uma queda na qualidade da educação superior, mas o declínio da leitura que se processa entre os anos de 1990 e 1998 é ainda maior que o observado entre os anos de

37 Os números foram obtidos junto ao INEP, órgão do ministério da educação responsável pelas estatísticas educacionais. Todas as séries históricas podem ser acessadas no site: www.mec.gov.br

Ano Exemplares Alunos educ. sup. Consumo per capita

1990 37.846.825 1.540.080 25

1998 21.403.866 2.125.958 10

2003 20.000.000 3.887.022 5

1998 e 2003, sem que no primeiro dos períodos citados estivéssemos vivendo a plenitude do processo de massificação da educação superior, que no segundo período é mais intensa.

Uma conclusão apressada seria atribuir à aquisição de conhecimentos pela Internet a responsabilidade pela queda na leitura de livros impressos. Mas este argumento pode ser refutado por uma análise da capilaridade do acesso à rede no Brasil que se torna significativo apenas nos primeiros anos do século XXI, portanto, não explicando o declínio da década de 90 do século passado. O fato de não podermos justificar este declínio exclusivamente com a emergência da Internet, não significa que este fenômeno seja descartável, sobretudo nos dias atuais, quando a inclusão digital das classes A e B38 é bastante significativa. Algumas hipóteses podem ser levantadas diante deste fenômeno:

1. A leitura de capítulos ou trechos de livros fortemente incentivada nos ambientes acadêmicos tem fragmentado a leitura. Na medida em que o número de títulos cientifico publicados aumenta, acentua-se a necessidade da leitura fragmentada.

2. O livro como um bloco uno e indivisível, projeção da potência e unicidade do homem moderno não corresponde mais a atual fragmentação da identidade dos indivíduos moderno-tardios.

3. A proliferação das copiadoras no entorno e dentro das faculdades durante a década de 90 do século XX, acentuou a queda nas vendas de livros.39

38 Utilizo a divisão de classes de que se valem as empresas de pesquisa de mercado, índice homologado pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa - ANEP, para o qual as classes se dividem em A1, A2, B1, B2, C, D e E – conforme as respectivas rendas familiares aferidas pelo IBOPE. Mais informações podem ser obtidas no site da ANEP no seguinte endereço eletrônico, acessado em 02.07.2005, as 18:00 horas:

www.anep.org.br

39 Para cada livro técnico - científico vendido no Brasil, quatro são copiados. Esta é uma das conclusões da dissertação de mestrado "Academia e Pirataria: o livro na universidade", defendida no Programa de Engenharia de Produção da COPPE por Ana Cláudia Ribeiro. Dados da dissertação revelam que 80% das cópias de livros são feitas dentro das universidades.

4. O desenvolvimento de uma cultura de reaproveitamento de livros usados recolocados no mercado pelos “sebos”, impacta o consumo de livros novos.

5. As formas de reprodução gráfica, outrora disponíveis apenas através de empresas, hoje se encontram ao alcance de usuários domésticos através dos multifuncioanais aparelhos que realizam a digitalização, cópia e impressão de textos e imagens.

6. A gama variada de conteúdos disponíveis na Internet, encontrados através de mineradores de dados como o Google e, muitas vezes enfeixados em portais horizontais40, atendem parte da demanda por conhecimento, outrora atendida pelos livros.

Estas hipóteses serão retomadas no decorrer dessa dissertação e serão confrontadas com um conjunto de pesquisas as quais tivemos acesso.41

No documento UNIVERSIDADE PAULISTA (páginas 76-81)