• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV- ETNOGRAFIA DA UMS

9. Debilidades percecionadas pelas entidades envolvidas na UMS

Sensivelmente ao longo dos anos de 2005 a 2011, o CS e a UMS integraram 6 enfermeiros em sistema rotativo para 5 médicos de família. No entanto, por vezes estes enfermeiros demonstravam dificuldades em integrar a UMS em resultado do excesso de trabalho que tinham no CS. Durante estes anos, apesar de existir restrição ou racionalização do material clínico concedido ao CS, a UMS continuou a assegurar a prestação de cuidados de saúde aos utentes, incluindo também vacinações, referenciação de utentes para a UCCI do CS e o desenvolvimento de iniciativas como rastreios de diabetes à população. A ARS do Centro era responsável pelo fornecimento de material

clínico ao CS e depois este fornecia determinada quantidade à UMS. O agravamento da situação da disponibilização de enfermeiros para a UMS

despontou, quando, aproximadamente no ano de 2011, um enfermeiro do CS se ausentou das suas funções, provocando o fim do sistema rotativo e a existência de apenas 5 enfermeiros para 5 médicos de família. No ano de 2011, devido às diligências dos 5 enfermeiros para com a enfermeira chefe da UCSP de Lago, no sentido da existência de poucos enfermeiros no CS, excesso de trabalho no mesmo além da intervenção na UMS, a enfermeira chefe suspendeu permanentemente a disponibilização de enfermeiros do CS para a UMS. Dada a situação, a parceria entre a ARS do Centro posteriormente ARS do Norte e o município terminou.

De acordo com a entrevista realizada ao anterior enfermeiro, devido à cessação da parceria no ano de 2011, o município não teve alternativa senão contratar uma enfermeira para a UMS. Esta contratação foi percecionada de forma positiva por parte dos utentes e a prestação de cuidados de saúde aos mesmos permaneceu assegurada, ao nível da variedade e quantidade de material clínico como bio box para as agulhas, ligaduras, adesivos, esfigmomanómetro da tensão arterial, aparelhos de monitorização da glicemia e colesterol e respetivas palhetas, compressas e agulhas, álcool etílico, soro, material de pensos e bisturis, registando-se uma adesão à UMS de aproximadamente 700 utentes. Sensivelmente no ano de 2013, em virtude do contexto de crise económica e financeira ocorrida no país e consequente racionalização de recursos por parte do CS, a UMS manifestou pela primeira vez debilidades relacionadas com a diminuição da quantidade de material clínico, o que originou um decréscimo da afluência de utentes à UMS. No ano de 2014, devido à saída da enfermeira da UMS por motivos desconhecidos, o município

procedeu à contratação de um novo enfermeiro sendo percecionado de forma positiva pelos utentes (Entrevista ao anterior enfermeiro, 2016).

Segundo a entrevista efetuada ao anterior presidente do Concelho, a intervenção desempenhada pela UMS atualmente não é semelhante à intervenção preconizada no decorrer do seu mandato (1997-2013) pelos seguintes motivos: diminuição da prevenção, vigilância e prestação de cuidados de saúde com qualidade e continuidade, diminuição da quantidade e, por vezes, ausência de material clínico para a monitorização da glicemia, extinção da monitorização do colesterol, diminuição da proximidade da UMS às populações e a renovação constante dos enfermeiros, o que dificulta a ligação de confiança entre os utentes e a equipa de profissionais da UMS (Entrevista ao anterior presidente do Concelho de Lago, 2016).

Segundo a entrevista realizada ao anterior enfermeiro, a UMS constitui-se como uma resposta insuficiente, apresentando debilidades ao nível da prevenção, vigilância e prestação de cuidados de saúde com qualidade e continuidade, uma vez que não detém de material clínico suficiente para a monotorização da glicemia, nem material clínico de primeiros socorros, não realiza a análise do colesterol e não incorpora uma equipa multidisciplinar. Durante a intervenção, o enfermeiro efetuou várias diligências junto do município a propósito destas debilidades. No entanto, nunca foram verdadeiramente colmatadas (Entrevista ao anterior enfermeiro, 2016).

De acordo com a entrevista realizada à coordenadora da UCC de Lago, uma das debilidades apresentadas pela UMS é a diminuição da quantidade e por vezes ausência de material clínico para a monotorização da glicemia, devido à dificuldade de disponibilização de material clínico por parte do aprovisionamento da ARS do Norte, por motivos de indisponibilidade para a entrega de material clínico no CS e por falta do mesmo na própria instalação. Uma das consequências desta debilidade é que os utentes em muitos casos não são monitorizados, sendo prejudicial para a saúde e bem-estar dos mesmos (Entrevista à coordenadora da UCC de Lago, 2016).

Sensivelmente desde o ano de 2005 até ao ano de 2011, a UMS constituiu uma resposta de elevada importância, na medida em que efetuava uma intervenção de proximidade para com as populações permitindo identificar e controlar os vários estados de saúde dos utentes. No entanto, apresentava debilidades relacionadas com a ausência de um projeto estruturado e dinamizador da intervenção assente numa equipa multidisciplinar contínua, a inexistência de iniciativas direcionadas à saúde, como rastreio

de diabetes, “dia do coração”, “dia da promoção da alimentação saudável” e desmotivação, e o desinteresse dos enfermeiros do CS devido à diminuição da quantidade de material clínico na UMS, excesso de trabalho no CS e às condições de trabalho. Atualmente, apesar de a enfermeira não ter conhecimento da intervenção e funcionamento da UMS, continua a defender a importância da mesma no sentido da promoção da saúde e combate ao isolamento. Segundo ela, os profissionais que integram a UMS poderão fazer a diferença: “A UMS será aquilo que nós quisermos que seja”, “a intervenção da UMS depende sempre dos profissionais que lá trabalhem” (Entrevista à enfermeira chefe da UCSP de Lago, 2017).

Segundo a entrevista realizada à coordenadora da UCC de Lago, os procedimentos de encaminhamento de utentes da UMS para o CS em situações de valores alterados da tensão arterial, glicemia, batimento cardíaco entre outros são considerados importantes.

No entanto, o CS não consegue dar resposta a essas situações porque não dispõe de meios de diagnóstico suficientes como o raio X e análises para a deteção e controlo dos valores alterados. Além disso, o enfermeiro (a) da UMS também não pode proceder ao encaminhamento de utentes para o CS em situações de valores alterados, porque os médicos de família do CS já têm as consultas programadas para cada dia e não podem, facilmente, alterá-las em função do surgimento de situações da UMS (Entrevista à coordenadora da UCC de Lago, 2016).