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CAPÍTULO IV- ETNOGRAFIA DA UMS

3. Equipa de profissionais da UMS e respetivas funções

No que concerne à equipa de profissionais da UMS, aproximadamente no ano de 2005 a UMS integrou 6 profissionais da área de enfermagem do CS, em sistema rotativo, e um motorista contratado pelo município. Mais tarde, sensivelmente no ano de 2011, em virtude da cessação da parceria entre a então ARS do Centro e o município, o mesmo procedeu à contratação pela primeira vez de um profissional da área de enfermagem, que permaneceu na UMS até 2014. Neste mesmo ano, em substituição da saída da UMS do respetivo profissional da área de enfermagem por motivos desconhecidos, o município procedeu à contratação de um outro enfermeiro. Este, no início da sua atividade, presenciou a integração na UMS de vários profissionais de áreas de atuação distintas, nomeadamente a técnica de serviço social, a psicóloga e a dietista, todas elas contratadas pelo município. No ano de 2016, devido à saída do enfermeiro, o município executou novamente a contratação de um profissional da área de enfermagem, a qual ainda se na UMS.

A integração da técnica serviço social na equipa de profissionais da UMS teve início aproximadamente no ano de 2014. A sua incorporação explica-se, sobretudo, em função de dois fatores. O primeiro foi a crescente exigência por parte do município de uma maior proximidade às populações das freguesias e respetivas povoações, principalmente aos indivíduos em situação de vulnerabilidade social, independentemente de serem utentes ou não da UMS. O segundo foi o fato do município não poder dispor de uma viatura para as deslocações da técnica às freguesias e povoações, de acordo com a existência de situações sociais que exigem a presença da Ação Social municipal. A intervenção realizada pela técnica de Serviço Social era assegurada 2 vezes por mês, uma vez que dispunha de flexibilidade laboral para esse efeito, enquanto a educadora social do município procedia à sua substituição no Gabinete de Ação Social e Saúde do município. Ocasionalmente, a educadora social também integrou a equipa de profissionais da UMS em substituição da mesma. A recetividade dos utentes à presença e intervenção da técnica de Serviço Social na UMS foi positiva, uma vez que a maior parte deles se encontrava em situação de isolamento e/ou falta de rede de suporte.

Atualmente, a equipa de profissionais da UMS é constituída pela mais recente enfermeira, que realiza a intervenção, mensalmente, nas freguesias e respetivas povoações, pela dietista que realiza a sua intervenção uma vez por semana, pela técnica de Serviço Social do município, que realiza a sua intervenção uma vez por mês e pelo motorista contratado desde o início da UMS. De acordo com o acompanhamento da equipa, foi possível apurar com detalhe as funções que cada profissional desempenha.

As funções desempenhadas pela enfermeira são as seguintes: monitorizações da tensão arterial, batimento cardíaco, pulsação e glicemia (diabetes), sendo que este último ato clínico depende da existência de material na UMS, como agulhas e palhetas. Quando a UMS não possui material clínico para a monitorização da glicemia, ela é realizada através do kit de material clínico dos próprios utentes, oferecido gratuitamente pelo CS. Porém, as agulhas e as palhetas não são comparticipadas na totalidade pelo SNS, pelo que os utentes têm que proceder também à respetiva comparticipação. A enfermeira assume ainda várias outras funções, destacando-se: (i) a gestão do regime terapêutico, ou seja, tipo de medicação utilizada e vigilância do cumprimento da mesma; (ii) a gestão das consultas de vigilância da tensão arterial de 6 em 6 meses ou 3 em 3 meses na UCC de Lago e a gestão das consultas de vigilância da glicemia de 4 em 4 meses na UCC, de modo a ter conhecimento se os utentes frequentam ou não as consultas; (iii) o controlo da vacinação; (iv) a promoção da saúde ao nível da alimentação, higienização e prática de atividades desportivas; (v) o apoio de enfermagem aos domicílios dos utentes quando os mesmos não possuem mobilidade suficiente para se deslocarem à UMS; (vi) a referenciação de utentes com necessidade de avaliação pela USF, sendo que esta referenciação é preconizada quando os utentes apresentam valores alterados da glicemia e da tensão arterial na respetiva consulta e na consulta anterior ou quando não são acompanhados pelas consultas de vigilância da glicemia e tensão arterial na UCC; (vi) e o preenchimento e atualização dos indicadores de intervenção nas cadernetas de cada utente disponibilizadas pela UMS 7, bem como nas fichas técnicas da sua responsabilidade.

As cadernetas são importantes, por um lado, para que os médicos de família dos utentes tenham conhecimento dos valores dos indicadores de intervenção e possam

controlar com a respetiva medicação, e, por outro lado, para que os utentes tenham conhecimento do seu estado de saúde e da data e hora da próxima intervenção da UMS.

Estas cadernetas traduzem os seguintes indicadores de intervenção: data e hora da próxima consulta; colesterol; triglicerídeos; tensão arterial (TA) máxima e mínima; glicemia; batimento cardíaco; peso e o Índice de Massa Corporal (IMC) (Anexo VI).

Devido à existência noutras UMS de outros concelhos, as cadernetas para cada utente da UMS foram implementadas pelo anterior enfermeiro que iniciou a sua participação na UMS no ano de 2014, Além disso procedeu também à afixação de folhetos informativos relacionados com a tensão arterial, tétano, recomendações para uma alimentação saudável e fatores de risco de diabetes, bem como a diligências junto do município de Lago sobre a necessidade de maior quantidade de material clínico para a UMS, tendo a autarquia disponibilizado um estetoscópio da tensão arterial e um oxímetro do batimento cardíaco.

As fichas técnicas, por seu lado, têm como objetivos conhecer e controlar o percurso de saúde (dados pessoais e indicadores de intervenção) de cada utente e também disponibilizar essa mesma informação numa base de dados. Destas fichas técnicas constam dados pessoais (nome do utente; localidade/residência; médico de família; data de nascimento; estado civil; telefone/telemóvel; profissão; estado de saúde atual; antecedentes e medicação) e também indicadores de intervenção, tais como a data e hora da próxima consulta, peso, altura, tensão arterial máxima e mínima, glicemia (mg/dl), colesterol, triglicerídeos, batimento cardíaco, IMC e vacinação (Anexo VII).

Fora do contexto da UMS, a enfermeira realiza mensalmente um relatório de atividades da UMS, no qual consta o seguinte conjunto de informações: objetivos, propósitos e reflexões da intervenção; caracterização dos utentes (nº de utentes, sexo e faixa etária); afluência de utentes; caraterização dos valores de tensão arterial dentro dos parâmetros normais e considerados hipertensão e a caraterização dos valores da glicemia. No final de cada mês, o respetivo relatório é entregue no município à técnica de Serviço Social.

No âmbito da sua intervenção, duas das funções que não desempenhou por inexistência de situações que o justificassem foram o encaminhamento de casos sociais para a técnica de Serviço Social da UMS e o estabelecimento do contato telefónico com os utentes aquando do surgimento de situações que impeçam a deslocação à UMS. Ainda no âmbito da sua intervenção, uma função que não desempenha por não ser autorizada é

a administração de injetáveis aos utentes, devido à inexistência de material clínico apropriado e à ausência de médico para a deteção e controle de eventuais reações alérgicas.

Para o autor Collière (1999), “a ação de enfermagem consiste por um lado, em melhorar as condições que favorecem o desenvolvimento da saúde, com vista a prevenir e a limitar a doença e por outro lado, revitaliza alguém que esteja doente” (Collière, 1999. p. 285, cit. in Àvila, 2009).

As funções desempenhadas pelos três motoristas ao longo do mês em que integrei a UMS, no âmbito do meu trabalho de campo, consistiram no seguinte: condução da viatura, cumprimento do itinerário planificado para cada mês e o abastecimento do combustível na viatura.

No que concerne às funções desempenhadas pela dietista, destacam-se a monitorização de indicadores como o peso e a altura, o respetivo preenchimento destes indicadores na sua ficha técnica e na caderneta de cada utente, e a prestação de informações no sentido da promoção da saúde ao nível da alimentação, higienização e prática de atividades desportivas.

As funções desempenhadas pela técnica de Serviço Social aos indivíduos independentemente de serem utentes ou não da UMS são as seguintes: realização de atendimentos e visitas domiciliárias, no sentido de avaliação das condições económicas e habitacionais, vigilância e deteção de situações e isolamento e/ou falta de rede de suporte, vulnerabilidade e casos de abuso excessivo de bebidas alcoólicas, prestação de informações relacionadas com direitos à saúde e apoios sociais, atribuição de apoios sociais, articulação e encaminhamento de situações sociais para as instituições/serviços e o encaminhamento do itinerário da UMS para os organismos locais, designadamente para as juntas de freguesia do concelho.

Segundo os autores Cavalcanti e Zucco (2006), o profissional de Serviço Social na realização da sua intervenção, deve contribuir para a expansão dos direitos de cidadania dos utentes dos serviços de saúde, através da satisfação das necessidades e do reconhecimento da importância de espaços de reflexão com os utentes para que a saúde possa ser concebida como produto das condições gerais da vida (Cavalcanti & Zucco, 2006, cit. in Castro & Oliveira, 2012).

O profissional de Serviço Social deve estabelecer estratégias complementares com os utentes para que possa ocorrer o enfrentamento do processo saúde /doença de uma

forma esclarecida e deve capacitá-los na procura pela viabilização dos seus direitos. De acordo com o autor Vasconcelos (2006), os indivíduos têm os seguintes direitos na saúde: direito ao acesso universal aos serviços de saúde; a prevenção de doenças, tratamento, e reabilitação; direito a informações no que concerne ao quadro de saúde bem como os familiares; atendimento de qualidade e sem preconceitos e direito a ser ouvido e de ouvir nos atendimentos (Vasconcelos, 2006, cit. in Castro & Oliveira, 2012).