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CAPÍTULO III- DESCENTRALIZAÇÃO DA SAÚDE E A CRIAÇÃO DAS UMS EM

3. Processo de instalação: o caso da UMS de Lago

O Programa Operacional de Saúde – Saúde XXI, composto por projetos em várias áreas de atuação, foi de grande importância, pois permitiu que várias entidades nacionais implementassem nas suas intervenções projetos inovadores para a saúde pública. O município, em parceira com a ARS do Centro, posteriormente ARS do Norte, foi uma das entidades que revelou interesse no Saúde XXI, designadamente na tipologia de projeto de criação de UMS inserida no eixo prioritário I, medida 1.1 já abordada neste capítulo. O processo de aquisição da UMS envolveu a submissão da respetiva candidatura por parte da autarquia, a qual foi aprovada. Neste processo não houve financiamento por parte dos fundos comunitários e Governo, uma vez que o município investiu na totalidade do financiamento da UMS. De acordo com os parâmetros estabelecidos na parceria com a ARS, a autarquia assumia como obrigações a obtenção de uma viatura com caraterísticas específicas de acordo com as normas impostas pelo Governo e a disponibilização de um motorista para a condução da mesma. Por outro lado, a ARS do Centro integrava comprometia-se a disponibilizar profissionais da área de enfermagem e um outro do CS local para o funcionamento da UMS, bem como material médico-cirúrgico e clínico

necessário à prestação de cuidados de saúde. O funcionamento regular da UMS no concelho teve início no mês de setembro de

2005. Segundo a cláusula 1ª do Acordo de Cooperação (2007), a UMS carateriza-se por ser uma viatura equipada e vocacionada para a prevenção, vigilância de saúde e prestação de CSP na área da enfermagem (rastreios, apoio domiciliário, campanhas de vacinação, entre outros serviços) à população mais envelhecida e com dificuldades de acesso ao CS. A sua capacidade de transporte é de três profissionais incluindo o motorista.

A cláusula 2ª (obrigação das entidades), assume que é obrigação do 1º outorgante ARS do Centro, os seguintes deveres: a) Disponibilização de profissionais da área de enfermagem e outro do CS de Lago para o funcionamento da UMS, de acordo com os recursos humanos disponíveis; b) Disponibilização do material médico-cirúrgico e clínico necessário à prestação de cuidados de saúde e recipientes para o transporte de resíduos hospitalares. Ainda na cláusula 2ª, é da responsabilidade do 2º outorgante, o município, através do seu Presidente, os seguintes deveres: a) Obtenção de uma viatura com caraterísticas específicas, de acordo com as regras impostas pelo governo; b) Assegurar as despesas do seguro da viatura e dos profissionais que integram a mesma; c)

Disponibilização de um motorista para a condução da viatura; d) Assegurar assistência técnica e o combustível necessário para o seu funcionamento; e) Responsabilização com os cuidados de limpeza da viatura. Segundo a cláusula 3ª, é obrigação do CS e do município assegurarem a análise trimestral do funcionamento e importância da UMS para as populações do concelho, bem como o respetivo itinerário com as deslocações às várias povoações. Semestralmente, deverão realizar uma reunião para análise e avaliação do funcionamento da UMS. Poderão, ainda, agendar uma reunião com 8 dias de antecedência para articulação e discussão de assuntos relacionados com o funcionamento da UMS. A cláusula 4ª menciona que o incumprimento, por uma das partes envolvidas, das obrigações celebradas no acordo de cooperação, ocasiona a sua resolução através da indemnização pelos eventuais prejuízos causados. Na cláusula 5ª é referido que o acordo de cooperação entrou em vigor na data da sua assinatura, tendo um período válido de 2 anos e renovável, caso não seja denunciado por uma das partes (Câmara Municipal de Lago, 2007).

Em relação às obrigações das entidades envolvidas na UMS, nomeadamente o diretor do CS ou o enfermeiro chefe e o motorista salienta-se o seguinte: a) O CS é responsável pela substituição do material médico-cirúrgico se este se demonstrar inoperacional; b) O motorista destacado pelo município é responsável pelo itinerário e condução da viatura; c) É da responsabilidade do diretor do CS ou do enfermeiro chefe, o registo de cuidados de saúde prestados na UMS; d) A UMS deve deslocar-se mensalmente às freguesias e povoações do Concelho, de acordo com as necessidades identificadas, cumprindo um calendário, de segunda a sexta-feira e o mesmo pode ser alterado de acordo com as necessidades do serviço do CS; e) É da responsabilidade do diretor do CS ou do enfermeiro chefe a transmissão dos horários e itinerários da UMS (Câmara Municipal de Lago, 2007).

Mais tarde, no ano de 2015 foi estabelecida uma nova parceria entre a UCC de Lago e o município de Lago, em que as obrigações eram as seguintes: a) Gestão do regime terapêutico (medicamentos) tendo em conta o plano entregue pela USF na última consulta por parte do enfermeiro da UMS; b) Sinalização de situações à UCC possíveis de serem resolvidas por parte do enfermeiro da UMS; c) Realização de uma reunião semanal entre o enfermeiro da UMS e a coordenadora da UCC, para o encaminhamento dos utentes com necessidade de avaliação pela USF, resultando no agendamento de consultas; d) Disponibilização do material clínico de acordo com o FRMDM da ARS do Norte por

parte da UCC de Lago; e) Referenciação dos utentes para a sua USF, para agendamento de consulta com o respetivo médico de família por parte da UCC de Lago; f) Elaboração de planos de cuidados aos utentes e famílias, tendo em conta os projetos existentes, por parte da UCC de Lago (Câmara Municipal de Lago, 2015). A implementação desta parceria resultou de vários acontecimentos e planos documentais ocorridos na área da saúde como demonstra a seguinte entrevista:

Esta nova parceria adveio da reforma dos CSP no ano de 2005 e da respetiva regulamentação no ano de 2008 que permitiu a autonomia dos CS e a criação dos ACES, entre eles o ACES Douro Sul (representante atual do CS) constituído por várias unidades funcionais entre elas a UCC de Lago. Neste contexto, no ano de 2015 foi estabelecida esta parceria entre a UCC de Lago e o município de Lago em resultado do plano de ação para 2015 da UCC, que teve por base o PNS (2012-2016) e o PLS do ACES Douro Sul. (Entrevista à coordenadora da UCC de Lago, 2016).

Esta parceria surgiu da necessidade de articulação, envolvimento e aproveitamento de sinergias entre a UMS e as unidades funcionais do CS de Lago, designadamente a UCC de Lago e tinha como objetivos integrar os cuidados de saúde preconizados pela equipa da UMS na UCC, o que iria permitir a reestruturação da UMS e facilitar o acesso dos indivíduos aos cuidados de saúde, de modo a adquirirem uma melhor qualidade de vida (Câmara Municipal de Lago, 2015). Tendo em conta estes objetivos, as funções do profissional da UMS para com a UCC evidenciam-se no seguinte excerto de entrevista:

A concretização da parceira permite que o enfermeiro (a) da UMS proceda à referenciação de utentes com necessidade de avaliação pela USF diretamente à coordenadora da UCC de Lago. Esta referenciação é preconizada quando os utentes apresentam valores alterados da glicemia e da tensão arterial na respetiva consulta e na consulta anterior e quando os utentes não são acompanhados pelas consultas de vigilância da tensão arterial e glicemia na UCC de Lago. Anteriormente à parceria, a referenciação de utentes da UMS ao CS também era efetuada, embora de forma menos integrada, dado que o enfermeiro(a) da UMS procedia à referenciação de utentes aos médicos de família de cada utente ou á Unidade de Cuidados Continuados Integrados (UCCI) do CS (Entrevista à coordenadora da UCC de Lago, 2016). A parceria além de ter permitido que o procedimento da referenciação de utentes da UMS ao CS obtivesse maior organização e complementaridade, permitiu também a

disponibilização de material clínico à UMS, de acordo com o FRMDM da ARS do Norte, (sendo que antes da parceria o fornecimento de material clínico por parte do CS à UMS tinha sido interditado pela ARS do Norte. Aquando a não existência de material clínico na UMS e no stock do CS, a coordenadora da UCC de Lago procede ao seu pedido (na maior parte das vezes em igual quantidade) através do aplicativo informático do CS ao aprovisionamento da ARS do Norte, situado em Vila Real, e, posteriormente, o mesmo

procede ao envio do material clínico através da viatura de entrega de medicação. No final do ano de 2006, o sucesso da resposta foi justificado pelas 2050 consultas

de enfermagem efetuadas, 1883 monitorizações da glicemia, 2050 monitorizações da tensão arterial e 272 vacinas (Câmara Municipal de Lago, 2006).