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PROPOSTA DE TRABALHO E SUAS "LINGUAGENS"

Capítulo 3 Proposta de Trabalho e suas "Linguagens"

3.5 Definição das categorias

No nosso trabalho pré-existiram categorias emergentes do referencial teórico subjacente às entrevistas. As categorias pré-existentes que se mantiveram são:

• currículo formal, • currículo real, • currículo oculto, • relação pedagógica.

Num outro contexto emergiram categorias induzidas no decorrer das fases da análise de conteúdo:

• relação com o meio, • relação interpares, • reflexão,

• laços comuns; • opiniões.

3.5.1 Categoria: Currículo formal

Esta categoria traduz a organização de um espaço em "cantos", como pano de fundo onde se desenvolverá toda a acção que envolve crianças e adultos. É uma imagem da cultura a ser transmitida, expressa à priori no exercício do "ofício de criança". O currículo formal aparece como indutor do jogo, enquanto actividade privilegiada para o desenvolvimento e

aprendizagem das crianças. É o local de encontro entre adultos e crianças, onde estas são recebidas afectuosamente e ao qual as educadoras dão "sempre um toque" pessoal no sentido de o tornar "mais acolhedor"', "mais bonito" e "mais atraente". Este espaço assim construído contribui para o

esbatimento do "choque" e da "tristeza" que algumas crianças sentem nos primeiros dias de separação familiar. Deste modo o currículo formal é um pano de fundo comum a todos os jardins de infância, atribuindo-lhes um conjunto de características que lhes conferem uma forma canónica constitutiva de um significado passível de se traduzir num estereótipo. Desta categoria fazem parte as unidades de significado relativas à sala de acordo com o número e a designação dos "cantos".

3.5.2 Categoria: Currículo real

Incluímos nesta categoria as unidades de significado que fazem alusão a projectos e planos de trabalho onde estão incluídas todo o tipo de actividades, rotinas e regras. Esta categoria engloba "o conjunto de experiências, de tarefas e de actividades que geram ou que se pressupõe que gerem aprendizagens" (Perrenoud, 1995, p. 51). Atendendo à sua complexidade procedemos à criação de subcategorias induzidas durante o processo de análise de conteúdo. Assim, desta categoria farão parte enquanto subcategorias os projectos, as rotinas, as regras e as actividades. Este momento foi particularmente difícil de resolver face à exclusividade: característica a respeitar na análise de conteúdo. No entanto as subcategorias aqui desenhadas fariam parte de uma outra categoria que classificamos como currículo oculto. Todavia nesta categoria a sua existência era olhada através de outras lentes, que lhe retiravam um outro sentido. Embora as rotinas e as regras apareçam no currículo real, a verdade é que são portadoras de um sistema de significados que geram aprendizagens não previstas, apenas compreendido pelo desocultar do currículo oculto. Neste sentido não deveríamos escamotear a sua importância, mesmo porque, ao atendermos à exclusividade, acabávamos por pôr em perigo a produtividade, empobrecendo o conteúdo da investigação.

3.5.3 Categoria: Currículo oculto

Esta categoria funciona como interface do currículo real. Assim sendo, dela fazem parte as rotinas e as regras vistas de um outro ângulo e interpretadas com a ajuda da observação participante, que trouxe à análise notas de campo que foram um contributo precioso à desocultação de sistema de significados ou de mecanismos que provocam a socialização feita pela escola, da qual temos consciência embora não seja expressa no currículo real. Tendo em conta a ambiguidade do currículo oculto, considerámo-lo em dois sentidos: o currículo oculto onde se geram mecanismos de aprendizagem, ocultos para as crianças mas conscientemente construídos pelas educadoras como dinâmica social, e o currículo escondido que gere aprendizagens que são "fundamentalmente atitudes, comportamentos, valores e orientações que permitem que as crianças e jovens se ajustem da forma mais conveniente às estruturas e às pautas de funcionamento" (Silva, 2000, p. 83).

3.5.4 Categoria: Relação pedagógica

Nesta categoria foram reunidas todas as unidades de significado alusivas à forma como as educadoras interagem com as crianças, nomeadamente que tipo de intervenção exercem, quando e onde são interventivas. E também como se reveste essa relação: pela sedução, manipulação ou obrigação. Através desta categoria podemos perceber o valor atribuído às actividades e se estas são consideradas como trabalho ou como jogo.

3.5.5 Categoria: Relação com o meio

Nesta categoria incluímos as formas de comunicação feitas com a família e com a comunidade em geral. O enfoque foi posto nas mensagens que se pretende enviar como resposta às expectativas dos pais, da escola e de outros intervenientes sociais que partilham dessas expectativas

relativamente ao trabalho desenvolvido no jardim de infância. Esta categoria traduz pressões sentidas pelas educadoras, as quais não raras vezes norteiam atitudes e opções feitas relativamente ao desenho do currículo real bem como às prioridades que nele se inscrevem.

3.5.6 Categoria: Relação interpares

Nesta categoria reunimos toda a informação sobre a forma como as crianças se relacionam entre si dentro do jardim de infância. Registamos as unidades de significado que traduzem a autonomia, a interajuda, o conflito, a imitação, o isolamento e o ócio.

3.5.7 Categoria: Reflexão

Esta categoria emergente da indução, foi construída em torno da necessidade expressa pelas entrevistadas, de reflectir sobre a sua prática, exercício para o qual pensam ser necessária a presença de "alguém de fora", de "estudos", de "teorias" ou então de "entrevistas como esta" que ajudasse a conscientizar a sua prática, de olhar o familiar como estranho.

3.5.8 Categoria: Laços comuns

Tal como a reflexão, também esta categoria induzida emergiu aquando das primeiras leituras que precederam a constituição do corpus. Pela análise das entrevistas percebemos a existência de pontos comuns que as educadoras usam como definição, em linhas gerais, do trabalho realizado no jardim de infância, da sua finalidade e dos meios necessários para levar a bom termo essa finalidade. Reunimos nesta categoria os laços comuns que traduzem a preocupação das educadoras em dar resposta "aos interesses e necessidades das crianças" e "partindo dos interesses e necessidades" desenhar um projecto de trabalho que sirva "o desenvolvimento global e

harmonioso das crianças" que pensam ser o meio de produção de práticas comuns uma vez que cada uma por si pensa que "sempre vi fazer assim".

3.5.9 Categoria: Opiniões

Nesta categoria foram agrupadas opiniões várias que se espalharam ao longo das entrevistas e que as educadoras foram dando espontaneamente, em jeito de confissão ou então já num processo de busca interior. No seu conjunto são opiniões sobre orientações curriculares, condições processuais e estruturais, etc.

O JARDIM DE INFÂNCIA -