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Degradação da Qualidade Ambiental e Poluição: delimitações

3.1 Espécies de lesão ao meio ambiente

3.1.1 Degradação da Qualidade Ambiental e Poluição: delimitações

Para compreendermos quais são as atividades sujeitas ao licenciamento ambiental, temos que, preliminarmente, delimitar as conceituações de degradação da qualidade ambiental e poluição, pois estas são pré-requisitos para sujeitar o empreendedor a este procedimento administrativo, ainda que em caráter potencial. É que de forma expressa, a lei da PNMA estabeleceu como um de seus instrumentos o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras72 e impôs a necessidade do prévio

licenciamento ambiental73 para as atividades e empreendimentos aqueles que usam os

recursos ambientais74, que causem, efetiva ou potencialmente, poluição ou degradação da

72 Art. 9º, IV, da Lei 6.938/81. (BRASIL, 1981)

73 A Lei 6.938/81 firma em seu art. 10º que: “Art. 10: A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental”, conforme a redação dada pela Lei Complementar nº 140, de 2011. (Ibid.)

74 A Lei 6.938/81 define em seu artigo 3º, inciso V, recursos ambientais, in litteris: “Art. 3º: Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por: [...] V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores,

qualidade ambiental, sob qualquer forma.

Degradação da Qualidade Ambiental é a “alteração adversa das características do meio ambiente”, consoante estabelece a Lei 6.938/8175. Já Poluição é conceituada, pela

mesma norma, como “a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”.76

Pela definição legal dada a esses dois tipos de lesão ao meio ambiente, se observa que Degradação da Qualidade Ambiental engloba o conceito de Poluição, sendo esta espécie daquela (gênero). O legislador condiciona a ocorrência de Poluição, aos casos de degradação da qualidade ambiental decorrentes de certas atividades, evidenciando, assim, que esta resulta específica e exclusivamente das ações humanas. A citada norma exemplifica tais atividades como aquelas que prejudicam a saúde, a segurança e a sadia qualidade de vida da coletividade, que afetem negativamente as atividades socioeconômicas ou a biota, e, ainda, que desobedeçam aos padrões legais estabelecidos para o lançamento de matéria ou energia.

Degradação (da Qualidade) Ambiental é, portanto, mais abrangente, compreendendo toda e qualquer alteração adversa ao meio ambiente, podendo decorrer, inclusive, dos próprios fenômenos da natureza. É o que ocorre, a título de exemplo, com o fenômeno natural da erosão, que é um processo geológico “contínuo responsável pela remoção e pelo transporte de partículas do solo, principalmente pela ação da água das chuvas”77.

Já Poluição implica em Degradação (da Qualidade) Ambiental, mas esta deve partir, necessariamente, de uma ação antrópica (negativa à qualidade ambiental). Utilizando o mesmo exemplo da erosão, pode-se observar que, apesar de ser um processo geológico natural, que pode ocorrer sem a intervenção humana, esta também pode acontecer como sequela de uma atividade humana. “Na erosão antrópica ocorre uma retirada das camadas superficiais dos solos numa velocidade muito maior do que a natureza é capaz de fazer a reposição dos solos, de tal maneira que a consequência final é a exposição da rocha matriz às

superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. (Redação dada pela Lei nº 7.804, de 1989).” – Grifou-se. (Ibid.)

75 Lei 6.938/81, art. 3º, II. (Ibid.) 76 Ibid., inciso III.

77 NAIME, Roberto. Recuperação de erosão. Disponível em:

intempéries, levando assim, aos processos erosivos”, explica Naime78.

Destarte, no processo de erosão causado pela ação humana ocorre uma alteração adversa da qualidade ambiental mais restrita, definida legalmente como Poluição, pois se trata de um fenômeno decorrente da intervenção de um poluidor, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, que, direta ou indiretamente, afeta negativamente o equilíbrio ambiental, causando consequências danosas, sendo, neste caso, cabível a responsabilização jurídica.

Já no primeiro exemplo, onde a erosão configura uma Degradação da Qualidade Ambiental advinda de um evento natural, não há poluição, e, consequentemente, não acarreta em responsabilidade civil. Podemos ilustrar esse entendimento com o seguinte gráfico:

Figura 1 – Degradação da Qualidade Ambiental

DEGRADAÇÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL

POLUIÇÃO: degradação da qualidade ambiental decorrente das atividades que:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais adequados

Fonte: Elaborada pela autora

Sobre o tema, Fiorillo, Morita e Ferreira79 anotam que:

Podemos notar que o conceito de poluição diz menos que o de degradação ambiental, pois, para que ocorra o primeiro, é mister que exista uma atividade que, direta ou indiretamente, degrade a qualidade ambiental. Parece-nos que condiciona a poluição à atividade de uma pessoa, física ou jurídica, o que não ocorre com a degradação ambiental.

Com isso conclui-se que a única alteração da qualidade ambiental indenizável é aquela que resulte de uma degradação da qualidade ambiental (alteração adversa das características do meio ambiente) e, ao mesmo tempo, seja causada por uma atividade direta ou indiretamente praticada por uma pessoa física ou jurídica. Percebe-se que pode ocorrer degradação ambiental da qualidade ambiental, mas não haver poluição, já que esta reclama degradação ambiental condicionada ao exercício direto ou indireto de uma atividade.

Destarte, podemos afirmar que a Poluição Ambiental é espécie da Degradação da

78 NAIME, Roberto. Op. Cit.

79 FIORILLO; MORITA; FERREIRA, 2011, p. 58.

Alteração adversa das características do meio ambiente (fenômenos naturais) Atividades humanas lesivas à qualidade do meio ambiente

Qualidade Ambiental, devendo esta advir, necessariamente, de uma atividade antrópica que influencie negativamente na qualidade de vida humana, causando um desequilíbrio do meio ambiente.

Outrossim, após a análise concreta de Degradação da Qualidade Ambiental, pode-se arriscar uma definição de Qualidade Ambiental, que entendemos compreender o conjunto de elementos e fatores que compõe a sadia qualidade de vida do ser humano, essencial à existência das presentes e futuras gerações, e que assegure uma saúde adequada, a segurança e o bem-estar da população, atividades sociais e econômicas adstritas à justiça social e ao princípio da defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação, o bem-estar físico e psíquico do trabalhador em seu ambiente de trabalho, não importando a sua condição ou relação de trabalho, a preservação e a defesa da qualidade da biota (fauna e flora) e dos espaços especialmente protegidos, dentre eles os patrimônios naturais e culturais, as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente, a obediência aos padrões ambientais estabelecidos para lançamento de matérias ou energia, a utilização adequada e racional dos recursos naturais, a proteção a biodiversidade, do patrimônio genético e da função socioambiental da propriedade.

Se qualquer um desses fatores for lesado, teremos a ocorrência de uma degradação da qualidade ambiental específica, denominada juridicamente como Poluição, que configura, consequentemente, um dano ao bem ambiental.