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Licenciamento Ambiental Corretivo

4 LICENCIAMENTO AMBIENTAL: O CONTROLE ESTATAL PREVENTIVO DAS

4.8 Licenciamento Ambiental Corretivo

Vimos que o Licenciamento Ambiental é o instrumento de gestão do Poder Público hábil a controlar previamente as atividades potencialmente poluidoras do meio ambiente. É evidente que tal ferramenta busca prevenir danos ao meio ambiente e ao bem-estar da população, conformando os empreendimentos às normas ambientais antes de sua instalação e funcionamento. Por tal razão, o legislador previu a necessidade de um licenciamento tríplice, que permite analisar a obra sujeita ao licenciamento desde o momento de seu projeto, passando pelo momento de sua instalação, até a observação de como deverá proceder ao funcionamento da atividade.

Apesar do Licenciamento Ambiental ser, em regra, prévio, há situações em que o controle estatal se dará quando o empreendimento já estiver instalado ou a atividade já estiver em funcionamento. Isso ocorre por duas razões: 1) o empreendimento já havia sido instalado e/ou a atividade já se encontrava em funcionamento antes da institucionalização do procedimento licenciatório em matéria ambiental ou anteriormente à exigência legal do licenciamento ambiental para aquela determinada atividade; 2) o empreendimento se instalou e/ou a atividade deu início à sua operação sem as correspondentes licenças ambientais, por ter o empreendedor desrespeitado a exigência legal do licenciamento ambiental já vigente à época.

177 BRASIL. Tribunal Regional da 5a Região. Apelação Cível n. 102004 em Mandado de Segurança TJRN

0010559-16.2007.4.05.8400. Relator: Desembargador Federal Francisco Barros Dias. Data do Julgamento: 15 de setembro de 2009. Publicação em 05 de outubro de 2009. Disponível em

< http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8340850/apelacao-em-mandado-de-seguranca-ams-102004-rn- 0010559-1620074058400-trf5>. Acesso em 01 de jun. 2012.

A primeira hipótese ocorre pelo fato da previsão legal do instrumento de licenciamento ambiental ter ocorrido pioneiramente no nosso ordenamento jurídico pátrio pela PNMA, em 1981, assim como em virtude das constantes inovações legislativas no que concerne ao uso dos recursos naturais e ao controle da poluição. Em tais casos, a atividade terá nascido dentro da legalidade vigente então, tornando-se, posteriormente, irregular, em virtude da obrigatoriedade imposta por comando legal posterior. O empreendedor, diante da nova exigência legal, deve adequar-se à nova realidade legislativa, eis que inexiste direito adquirido à potencialidade de degradação ambiental, devendo necessariamente submeter sua atividade ao procedimento de Licenciamento Ambiental Corretivo, sob pena de incorrer numa infração administrativa, estando sujeito às sanções cabíveis, independentemente da responsabilidade civil e penal pelos danos que eventualmente tiver causado ao meio ambiente. Milaré178 esclarece que não há direito adquirido às atividades preexistentes à

institucionalização do procedimento licenciatório em matéria ambiental, devendo o poluidor sempre submeter-se à nova regra mais protetiva a meio ambiente:

A uma, porque a ordem econômica e a livre iniciativa iniciada são norteadas pela defesa do meio ambiente, assim como o exercício de direito de propriedade. A duas, porque as normas editadas com o escopo de defender o meio ambiente, por serem de ordem pública, tem aplicação imediata e se aplicam não apenas aos fatos ocorridos sob a sua vigência, como também às consequências e aos efeitos atuais e futuros dos fatos ocorridos sob a égide da lei anterior (facta pendentia). Essas normas só não a atingirão os fatos ou as relações já definitivamente exauridos antes de sua edição (facta praeterita).

Quanto à segunda hipótese, temos obras ou atividades clandestinas, que apresentam vício desde seu nascedouro, fato que configura um comportamento ilícito do empreendedor179, devendo o mesmo regularizar administrativamente a situação de sua obra ou

atividade, submentendo-a à análise do órgão ambiental competente, por meio de Licenciamento Ambiental Corretivo, podendo ser a mesma regulável ou não. Caso não seja seu vício sanável, deverá o gestor ambiental embargar definitivamente a obra ou a atividade, restando o empreender sujeito às sanções administrativas cabíveis, como multa, proibição de contratar com o Poder Público, ou dele obter subsídios ou até mesmo demolição180, sem

178 MILARÉ, 2009, p. 444.

179 A Lei de Crimes Ambientais, Lei n. 9.605/98, prevê este tipo penal específico, in verbis: “Art. 60. Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.”

180 A Lei n. 9.605/98 também faz previsão das sanções administrativas cabíveis em matéria ambiental, in verbis: “Art. 72. As infrações administrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no

prejuízo das responsabilidades civil e penal aplicáveis ao caso em concreto. Neste sentido, Bechara181 frisa que “a regularização posterior da atividade não implica o perdão da infração

ambiental cometida anteriormente”.

Assim, seja em caso de empreendimentos instalados anteriormente à vigência da exigência legal de licenciamento ambiental para a sua atividade ou até mesmo da institucionalização de tal instrumento, ou em caso obras ou serviços potencialmente poluidores instalados e/ou em operação sem as devidas licenças, contrariando as normas ambientais vigentes, deverá o empreendedor regularizar a situação de seu empreendimento, ou de sua atividade, através do Licenciamento Ambiental Corretivo, mediante o qual o órgão ambiental competente avaliará a possibilidade de regularização do mesmo, podendo, em caso de vício insanável, interditar a obra ou a atividade, impondo as sanções administrativas cabíveis, sem prejuízo das responsabilidades imputáveis no âmbito civil e penal.

art. 6º: I - advertência; II - multa simples; III - multa diária; IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração; V - destruição ou inutilização do produto; VI - suspensão de venda e fabricação do produto; VII - embargo de obra ou atividade; VIII - demolição de obra; IX - suspensão parcial ou total de atividades; X – (vetado); XI - restritiva de direitos.

5 AS LICENÇAS AMBIENTAIS E AS ETAPAS DO PROCEDIMENTO DE