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Situação política do país após a Proclamação da República

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Capítulo 2 – Século XIX: Cenário histórico e político brasileiro

2.3. Situação política do país após a Proclamação da República

O período da Primeira República ou República Velha estende-se de 1889, com a Proclamação da República, até 1930. O cenário político brasileiro sofreu muitas mudanças durante aqueles anos, para a presente pesquisa são considerados relevantes alguns dos fatos ocorridos até 1898, ano em que Campos Salles foi eleito Presidente da República.

Com a queda do Império, naturalmente foi rompido o equilíbrio existente entre os dois poderosos partidos (Conservador e Liberal). Segundo GUANABARA (1983, p. 9-10), as influências exercidas sobre as províncias foram eliminadas com a revolução de 1889, o pessoal que dominava as províncias foi sobreposto por um terceiro elemento, formado sem homogeneidade, de militares, de moços radicais e de alguns antigos filiados aos partidos monárquicos, apressados em aderir à nova ordem de coisas. Ao invés dos dois grandes partidos nacionais, regendo uniformemente todos os departamentos administrativos do país, apareceram em cada um deles agremiações diversas, compostas de elementos colhidos indiferentemente nos seus remanescentes.

O terceiro elemento, mencionado por Guanabara, era o Partido Republicano. Com o início da República encontrava-se praticamente desagregado e sem uma direção central bem definida. Dividido em diversas agremiações locais e regionais, simbolizadas por siglas como PRP (Partido Republicano Paulista), PRM (Partido Republicano Mineiro) e PRB (Partido

Republicano Baiano), dirigiam os destinos políticos da nação através dos altos cargos ocupados e dos representantes no Senado e na Câmara Federal.

Neste sentido, WITTER (1999, p. 29) argumenta que:

A falta de um núcleo político de sustentação do regime e a ameaça do parlamentarismo, que de certa forma era defendido pelo monarquistas, além da ameaça de uma volta pura e simples ao regime monárquico eram argumentos fortes para que os republicanos pensassem num partido que tivesse por escopo a defesa da Constituição.

Na tentativa de organizar “sob a mesma bandeira elementos de formação bastante diversa (...). Liberais, conservadores, republicanos históricos, republicanos adventícios, homens sem preocupação partidária até então” (WITTER, 1999, p. 50), é criado efetivamente no dia 8 de julho 1893, sob o comando de Francisco Glycério, o novo partido nacional, denominado PRF – Partido Republicano Federal. Considerado posteriormente como “uma catedral aberta a todos os credos” (GUANABARA, 1983, p. 12), justamente por abrigar sob a mesma legenda as mais diversas ideologias políticas (um dos princ ipais motivos que o levaria a ser extinto em 1899), tinha o intuito de defender a Constituição e o princípio republicano federativo. Para WITTER (1999, p. 48), terminado o período do Governo Provisório e com a chegada do momento de eleger o sucessor de Flo riano Peixoto na presidência da República, a criação de um partido nacional tinha uma finalidade mais prática e premente: a disputa do primeiro pleito eleitoral da República através do voto direto. O PRF revelou-se de fato “como agremiação político-partidária voltada para um fim bem definido que era o da campanha e da eleição dos futuros presidentes e vice-presidentes da República” (WITTER, 1999, p. 63).

Segundo GUANABARA (1983, p. 11), o principal traço-de-união, capaz de calar as divergências dentro daquele agrupamento político tão heterogêneo, não era outro senão o interesse da conservação do poder e da influência nas Províncias. Na plenitude de seu domínio e estando infiltrado em todo o país, o PRF pôde eleger o primeiro presidente civil da República, Prudente de Moraes, em 1894, além de constituir um terço do Senado e a totalidade da Câmara com partidários seus. Apesar disso, WITTER (1999, p. 66) argumenta que durante toda a existência do Partido Republicano Federal, a agremiação esbarrou em constantes problemas regionais, “enquanto em alguns estados houve maior entrosamento com a direção central do partido, em outros foi muito flácido esse liame”.

Em 1897, como já era esperado, ocorre uma cisão no PRF. CAMPOS SALLES (1998, p. 72) afirma ter tido a previsão segura dos fatos, pois o germe da dissolução encontrava-se na dupla: ausência de coesão de idéias e inconformidade de sentimentos. Em sua opinião, aquele “não era propriamente um partido político, senão apenas uma grande agregação de elementos antagônicos. Aí estava o morbus que lhe corroeu a existência” (CAMPOS SALLES 1998, p. 119). Apesar das críticas, Campos Salles, de acordo com WITTER (1999, p. 125), “procurou conciliar os grupos que se formaram, tentando reaproximar Prudente de Moraes e Francisco Glycério. A conciliação teria sido possível se, ‘ao impulso das suas tendências conciliadoras não se opusessem a resistência dos irreconciliáveis de um e de outro lado’”.

Na verdade, um conjunto de fatores motivou a confirmação da cisão, entre eles a revolta de Canudos, a moção Seabra, o incidente da Escola Militar, o desentendimento entre Prudente de Moraes e Francisco Glycério, além das próprias divergências ideológicas entre os membros do partido. Mas não cabe a este trabalho discutir cada um destes aspectos, pois isto já foi feito com excelência por alguns dos principais historiadores do país, o objetivo aqui é tentar demonstrar como aquela cisão criou um ambiente propício para o surgimento do nome de Campos Salles para a sucessão presidencial de 1898 (como será abordado com maior profundidade no Capítulo 4). Por enquanto, é importante anotar como a agremiação e praticamente todo o país ficaram divididos, após a cisão, em dois grupos políticos majoritários:

- Os reacionários ou moderados: que naquele momento governavam o país, representados em sua maioria pelos antigos elementos dos partidos monarquistas, contando entretanto, também, com republicanos do período da propaganda, entre eles o próprio Prudente de Moraes; e

- Os legalistas ou radicais exaltados: que não tinham de fato objetivo prático algum, mas atuavam como uma forte oposição às organizações e resistências reacionárias.

Segundo GUANABARA (1983, p. 13):

Os moderados do partido provocaram uma cisão que subsistia, como estamos vendo, desde a sua formação. A cisão não foi nem o produto de uma exaltação de momento, nem uma submissão a imposição de princípios, ou de ponto de vista doutrinário: foi, na mente dos que a resolveram e a fizeram efetuar, o coroamento de uma longa e meditada obra política, que se caracterizaria pelo deslocamento do poder das mãos dos republicanos históricos para os dos antigos elementos dos partidos monarquistas que aderiam à República, pois que ela estava feita, mas que queriam governá-la, alegando que eram, de fato, a maioria do país.

Prudente de Moraes havia incorrido no desagrado dos exaltados, e dependendo da indicação do candidato do governo para a eleição presidencial de 1898, o país poderia cair numa guerra civil, pois qualquer um dos grupos que saísse vitorioso naquele pleito, fatalmente esmagaria o adversário. Na opinião de GUANABARA (1983, p. 14):

Todos esperavam que os reacionários lançassem o seu grito de guerra sem comiseração, indicando um dos seus pró-homens para a Presidência a vagar. (...) Foi nessa conjuntura que a direção inteligente do grupo que dominava o governo lançou a candidatura do Sr. Campos Sales. Era um ato de submissão à opinião republicana, era o reconhecimento de sua própria impotência, era uma capitulação formal, que, entretanto, se fazia com o grande alarido de quem triunfava por completo. Esperava-se da astúcia o que se não tinha podido conseguir da força.

Sobre a indicação de Campos Salles, GUANABARA (1983, p. 19) ainda argumenta que ele “era, dos republicanos tradicionais, o que tendo maior soma de responsabilidades na República, mais afastado se conservara do Partido Republicano Federal”. O próprio ex- presidente comenta esse aspecto em sua autobiografia: “Sem haver tomado parte na fundação do Partido Republicano Federal, sem ter assumido responsabilidade alguma na sua direção, e estando na presidência do Estado de S. Paulo, achei- me eventualmente isento dos atritos que então se produziram na política federal” (CAMPOS SALLES, 1998, p. 79). Ele mesmo conclui: “Não me achei, portanto, entre partidos opostos, mas simplesmente entre facções rivais, que se haviam desagregado com objetivo no governo da República” (CAMPOS SALLES, 1998, p. 119).

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