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Senador

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Capítulo 4 – Rumo à Presidência da República

4.3. Senador

Durante a implantação da Constituinte Federal, em 1891, Campos Salles, Rangel Pestana e Prudente de Morais foram eleitos senadores por São Paulo. Na mesma ocasião, o ministro Lucena ofereceu a direção de São Paulo para Campos Salles, cargo que havia sido ocupado temporariamente por Prudente, na seqüência do triunvirato empossado em 1889. Para tanto, o então senador deveria abrir mão dos laços que o ligavam aos republicanos, separando-se principalmente de Prudente e Glicério. Naturalmente, Campos Salles repeliu a proposta, a qual Américo Brasiliense acabou aceitando, assumindo a presidência paulista.

A oposição no senado era liderada por Campos Salles e Prudente de Morais. Eles impuseram dificuldades às propostas de leis de Lucena, forçando-o a renunciar ao alto cargo e sendo substituído por Bernardino de Campos. Campos Salles justifica sua postura num trecho de uma carta à sua esposa, de 18 de junho de 1891, (DEBES, 1978b, p. 354): “Tenho revelado o meu pensamento de não extremar o antagonismo entre o Congresso e o Presidente da República, e, ao contrario disso, de procurar a solução mais patriotica”.

Um grande problema ameaçava a República recém instaurada, Deodoro apresentava graves problemas de saúde. Novamente, através de correspondência, Campos Salles manteve sua esposa informada sobre os fatos políticos, DEBES (1978b, p. 358) transcreve trecho da carta datada de 16 de outubro de 1891, na qual o ex-presidente não demonstra preocupação

com a fatalidade iminente: “O que parece certo é que o próprio Floriano assumirá o governo, caso o Deodoro falte, e isto se dará sem perturbação alguma”.

Entretanto, o problema sucessório não era tão simples, pois de acordo com a nova Constituição Federal, o vice-presidente somente poderia suceder o presidente, quando já tivessem transcorridos dois anos do mandato. Deodoro estava no governo havia poucos meses. Pela primeira vez, o nome de Campos Salles surge como candidato à uma possível eleição ao mais alto cargo da nação, fato marcante registrado em sua carta (DEBES, 1978b, p. 359):

Rio, 22 de 8bro. de 1891

Anninha.

Hoje era dia de v. escrever-me, e no entanto não tive carta. Que seja para bem.

Em carta que hoje recebi do Pisa diz-me elle que eu sou o candidato do exercito,

parlamento e povo à presidencia. Não é exacto isso. O que há é o que já contei a v. Ha

alguns deputados e senadores que desejam a minha candidatura, que aliás é bem vista pelos militares. Disem que serei bem aceito no Norte, etc. Mas a candidatura que agora será necessaria é a do Floriano, e é quem deve ser eleito, salvo se elle incompatibilisar-se assumindo o governo.

- Aqui ainda continua o máo tempo. Chove quasi todos os dias. Em compensação temos fresca.

Adeus.

Do C. Salles.

A preocupação e seriedade política de Campos Salles mais uma vez foram apresentadas de maneira muito evidente. Nas palavras transcritas acima, contidas em uma correspondência íntima enviada à sua esposa, é possível perceber toda sua racionalidade e determinação em manter a estabilidade da República, sendo humilde em não considerar seu nome como o mais adequado para dirigir os rumos da nação naquele momento.

O Marechal recupera suas forças e, sentindo-se ameaçado com o domínio dos boatos que percorrem o país, decreta estado de sítio, em 3 de novembro de 1891. Sua atitude foi considerada um Golpe de Estado, com o agravamento da situação somente lhe resta a renúncia em 23 de novembro de 1891. Sobre o fato, comenta LESSA (1999, p. 100): “Com minoria no Congresso, caso único na história republicana, o Governo Deodoro cai, em novembro de 1891, após tentativa de implantar uma ditadura, com a dissolução do Legislativo”.

Floriano rapidame nte assume o poder e reabre o Congresso. “Os congressistas apressaram-se em votar todas as medidas necessárias à boa marcha da administração” (DEBES, 1978b, p. 368). Havia a necessidade de legitimar a posição de Floriano, portanto o Senado oferece um parecer, do qual Campos Salles foi o relator, sua defesa e postura na tribuna são analisadas por DEBES (1978b, p. 369) como sendo resultantes de uma forte formação positivista:

Demonstrou seus dotes de advogado. Empenhou-se, na defesa da causa que patrocinava, com denodo. Valeu-se de sua poderosa dialética, esteada na opinião de

doutrinador francês, a respeito dos processos de hermenêutica.

A passagem de Campos Salles pelo Senado foi marcante em diversos aspectos, promovendo, por exemplo, a execução do sistema de independência e harmonia dos Poderes. Segundo Célio DEBES (1978b, p. 371), ele assumia a “dupla condição de leader da maioria no Senado e de membro da comissão parlamentar organizada para dirigir a ação política da maioria do Congresso e regular as suas relações com o Executivo”.

Na mesma época, Campos Salles mobilizou voluntários em São Paulo, afim de auxiliarem na defesa contra os revolucionários do Rio Grande do Sul. Na opinião de DEBES (1978b, p. 377-379) é possível notar na carta abaixo, endereçada ao Comandante paulista, o Coronel Firmino Pires Ferreira, a perspicácia de um político experimentado:

S. Paulo – 26 Fro. – 94 Meu Caro Pires Ferreira

Tenho tido desejos de ir ve-lo nessas paragens, mas já vejo que isso não é possivel, porque continuo a estar muito occupado com a organisação dos corpos de voluntários para a defesa do Estado. Destes em breve seguirá um batalhão que vai-se encorporar às forças sob o seu comando. É um batalhão de elite, e creio que saberá cumprir o seu dever.

Segundo os meus calculos parece que v. ainda não tem conseguido reunir gente sufficiente para tomar a offensiva. Não sei o que v. terá pensado a este respeito; mas o que parece, sem os dados precisos para uma apreciação exacta da situação, é que não se deve em caso algum affrontar os riscos da offensiva sem que estejam reunidos sob

suas mãos todos os elementos indispensáveis para um resultado seguro e garantido.

Antes disso, qualquer tentativa será uma temeridade perigosa, capaz de sacrificar a causa que se acha posta ao abrigo da sua espada, do seu valor e do seu provado tino militar. A historia desta revolução tem infelizmente accumulado muitos exemplos para que não se possa confiar em recursos apenas promettidos; é de boa prudencia espera- los para agir com elles, quando chegarem ao campo da acção. O Argollo foi mandado para invadir Santa Catarina com tropas que lhe enviariam depois: teve de voltar um tanto offendido no seu prestigio militar, porque... nunca recebeu as tropas promettidas. O Coronel Carneiro foi encarregado da defesa do Paraná, e, apezar de sua immensa bravura, pereceu sacrificado pelo abandono. Estes factos advertem que o general, nesta campanha, deve ser muito previdente e muito seguro para não dar um passo em falso.

Não sou homem de guerra, mas parece-me que v. não deve tentar a invasão do Paraná, affastando-se dos pontos donde lhe vão recursos, sem ter tropas sufficientes para guardar as fronteiras, guardando a sua retaguarda, e formar uma columna invasora bastante poderosa para destruir as forças inimigas dentro do seu proprio acampamento. Sem isto, na hypoteze, sempre possivel na guerra, de um revez, a sorte da sua expedição será extremamente precaria e ficará aberta a passagem para a realisação completa dos planos revolucionários. Eu penso que v. tem em suas mãos a chave do problema da revolução em terra, assim como o Gonçalves a tem no mar.

Se os revolucionarios chegassem aqui triumphantes, nessa mesma hora entraria em Itamaraty outro Governo. Em quanto o bravo, o heroico Cel. Carneiro pedia socorro, o caso era deverso: uma invasão a todo o tranze tornava-se necessaria. Nem os proprios selvagens deixam perecer, abandonados, os seus companheiros de guerra. Mas agora o motivo da urgencia cessou: e é preciso agir com prudencia e segurança; o que não exclue a actividade e a energia. Continue a fallar com franquesa ao Governo como o tem feito até hoje, faça-lhe conhecer a situação, peça recursos, organise as forças, concretise o seu plano no duplo ponto de vista do ataque e da defesa, e assim terá v. cumprido o seu dever, cubrindo-se de glorias por haver debellado a mais perigosa das crizes por que tem passado a Republica.

Desculpe se metto-me a ensinar resa ao vigario. Tenho este temperamento para com os amigos: enquanto não lhes digo o que sinto, não fico tranquillo.

- O seu manifesto impressionou muito bem a todos, e foi geralmente muito recebido (sic). O Correio Paulistano o publicou e a imprensa do Rio o reprodusiu.

- Está ahi um moço campineiro muito distincto, filho de um velho amigo, a quem muito estimo e considero; é o dr. Rozo Mascarenhas, médico dos guardas nacionaes de Campinas. Chamo para elle a sua particularissima attenção, certo de que tudo quanto para elle fiser será como se fosse feito a um filho meu.

- Penso que a causa legal acha-se agora em uma excellente situação. É evidente que a revolução enfraque-se (sic), e que, alem das enormes perdas que tem soffrido, começa a ser trabalhada pela indisciplina, pela discordia, pelos descontentamentos. Acredito que o triumpho da legalidade está muito proximo, e que em breve estará restituida a paz a nossa patria. Abraço-o com effusão.

Velho amo. affmo. Campos Salles

P.S. Oiço diser-se que a Serra das Furras (Furnas) é um bom ponto estrategico contra a invasão; não será porem, inconveniente affastar-se muito dos pontos donde vão recursos?

Assim como no episódio da Proclamação da República, ficou novamente evidenciada a boa articulação de Campos Salles com os militares, sugerindo o respeito que ele lograva entre alguns dos maiores seguidores do positivismo no Brasil.

Em 1893 é fundado o Partido Republicano Federal, sob a liderança de Francisco Glicério. Muitos homens do período da propaganda republicana, assim como outros de diferentes colorações ideológicas e partidárias, ingressaram no novo partido.

Campos Salles estava na Europa e não participa da fundação. Na verdade, nunca chegaria a envolver-se ativamente no PRF (vide Capítulo 2), principalmente por considerar que a:

Dupla ausência de coesão de idéias e de conformidade de sentimentos estava o germe de dissolução, sob cuja influência deletéria devia fatalmente cair esfacelada essa massa informe. (...) ele já trazia, no próprio organismo, o morbus que lhe minava a existência desde a hora em que saiu, armado, do cérebro de seu fundador (CAMPOS SALLES, p. 72).

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