PARTE III – PRÁTICA PEDAGÓGICA EM JARDIM DE INFÂNCIA II
3.1 REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM JARDIM DE INFÂNCIA II
3.1.4 DESAFIANDO AS CRIANÇAS
Neste ponto desta reflexão pretendo abordar algumas das experiências educativas
proporcionadas ao grupo de crianças, sabendo que para conseguirmos desafiar as crianças,
enquanto par pedagógico, sempre tivemos em conta a importância de planificar.
O exercício de planificar é importante uma vez que “planear permite, não só antecipar o que é
importante desenvolver para alargar as aprendizagens das crianças, como também agir,
considerando o que foi planeado” (Silva et al., 2016, p. 15) e também enquanto planeamos temos
em conta a “flexibilidade e multiplicidade de possibilidades e não para a unidireccionalidade de
uma planificação tradicional e linear” (Vasconcelos et al., 2012, p. 15). Desta forma, compreendi
melhor qual o objetivo de planificar, uma vez que este exercício permite-nos antecipar o que vai
ocorrer na prática, de antever perguntas a realizar, estratégias a utilizar e também prever qual o
papel da criança na experiência, preparando a ação futura. Este foi um assunto refletido ao longo
da Prática Pedagógica, ilustrado no extrato seguinte:
Desta forma, é através do exercício de planificar que o educador prepara e prevê as ações que vão permitir o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças. No entanto, as experiências educativas que são planificadas podem não acontecer exatamente como são descritas ou podem acontecer atividades que não são planificadas ou atividades de recurso. Estas alterações prendem-se com o facto de, no momento da ação, o educador vai tirar partido dos interesses e necessidades da criança e, assim, há a necessidade de alterar o planificado (Anexo VII: Reflexões em contexto de Jardim de Infância II – Reflexão 4.ª semana).
No entanto, em alguns momentos da prática é necessário a mudança ou alteração da planificação
tendo em conta os interesses do grupo. No extrato seguinte é visível uma alteração da
planificação na ação educativa, que refleti numa das reflexões semanais:
No entanto, na segunda-feira posteriormente à ida à rua, em conversa entre o grupo, e com a educadora cooperante, achámos que teria mais sentido que esta exploração fosse realizada na segunda-feira, uma vez que também sentimos que havia essa necessidade e, assim, optámos por alterar a planificação e, desta forma, corresponder aos interesses do grupo que foram observados, sendo que desta forma reconhecemos “oportunidades de aprendizagem não previstas, para tirar partido delas” (Silva et al., 2016, p. 15) (Anexo VII: Reflexões em contexto de Jardim de Infância II – Reflexão 4.ª semana).
Para conseguirmos desafiar as crianças, temos de as conhecer bem pois precisam de ser
estimuladas no seu próprio ritmo (Wetton, 2004) e tendo em conta que é a partir do
desenvolvimento da criança que “se vão estabelecendo os padrões gerais da personalidade da
criança enquanto «ser individual» e enquanto «ser no mundo»” (Zabalza, 2001, p. 35).
Para iniciarmos as nossas intervenções no contexto, e tendo em conta, o privilégio do meio
envolvente do Jardim de Infância onde estagiámos, decidimos proporcionar uma exploração de
elementos naturais, nomeadamente folhas de árvores, ao grupo, tendo como pressuposto que
qualquer um dos espaços/ recursos físicos do Jardim, nomeadamente o exterior, estimulam
atividades lúdicas e sociais (Ladd & Coleman, 2002). Assim, a exploração foi realizada em duas
fases distintas, a primeira, foi a ida à rua para observar e recolher folhas de árvores, e, na segunda,
explorar e manipular as folhas, em pequenos grupos, em sala de atividades. A nossa ideia inicial
era de proporcionar a exploração de elementos naturais tendo em conta a utilização dos cinco
sentidos para conhecerem o mundo (Sequeira, 2012). A partir desta exploração, refleti sobre a
mesma, como é visível no extrato seguinte:
A exploração de elementos naturais que foi realizada com as crianças, nomeadamente a exploração de folhas de árvores, bem como a ida à rua (Fotografia 1) proporcionou às crianças a oportunidade de contactar com o meio físico que as rodeia (…) Esta proposta educativa, de exploração das folhas (Fotografia 2), após a ida à rua, foi realizada no espaço exterior, em pequenos grupos, cinco crianças em cada momento, permitiu a manipulação e exploração de folhas de árvores desenvolvendo os conceitos de igual/semelhante (Fotografia 3) e de diferente e, desta forma, a criança consegue “um melhor conhecimento do meio natural e das características dos objetos do ambiente em que vive” (Bohígas et al., 1997, p. 468). Nesta proposta, as crianças brincaram livremente com os seus pares e com as estagiárias, manipulando as folhas, amachucando, partindo, cheirando (Fotografia 4)… e foram respondendo a questões realizadas por nós e assim,
desenvolveram noções de cor, tamanho e forma das folhas (Anexo VII: Reflexões em contexto de Jardim de Infância II – Reflexão 4.ª semana).
Tendo em conta as características do grupo de crianças, bem como as suas necessidades,
achámos pertinente proporcionar-lhes experiências de recolha de dados e posterior leitura e
análise de gráficos. Desta forma, proporcionámos ao grupo a oportunidade de recolher e
organizar os dados, sobre assuntos que elas conheciam, através da elaboração de um gráfico que
“permite uma análise mais rápida, uma vez que a contagem dos elementos da mesma categoria
é mais evidente” (Castro & Rodrigues, 2008, p. 72), com a finalidade de as crianças
desenvolverem e/ou aprofundarem as suas capacidades e competências relativas ao domínio da
matemática, no que concerne à organização e tratamento de dados. Para realizarmos esta
exploração, atribuímos um significado de “votação” de forma a que as crianças ficassem
interessadas e motivadas. Neste sentido realizámos uma votação de escolha da cor para uma
exploração de “massa mágica” e ainda para a escolha do nome do “esqueleto”, tendo em conta
o Projeto realizado sobre O Corpo Humano. Apesar de estas votações serem mais direcionadas
para o domínio da matemática, também é visível o domínio da linguagem oral, uma vez que,
durante a leitura e análise dos gráficos, as crianças comunicam e expressam-se verbalmente.
Refleti sobre este assunto numa reflexão, sendo apresentada no extrato seguinte:
Também houve um momento de interpretação do gráfico construído onde realizei algumas questões às crianças, com o objetivo de perceber as suas ideias a cerca da proposta educativa realizada. Algumas destas perguntas foram “Qual foi a cor que teve mais votos?”, “Qual foi a cor que ficou com menos fotografias?”, “Houve cores que tiveram o mesmo número de fotografias?”, entre outras (Anexo VII: Reflexões em contexto de Jardim de Infância II – Reflexão 7.ª semana).