PARTE III – PRÁTICA PEDAGÓGICA EM JARDIM DE INFÂNCIA II
3.3. ENSAIO INVESTIGATIVO
3.3.1. INTRODUÇÃO AO ENSAIO INVESTIGATIVO
3.3.2.2. Processos Básicos da Ciência
Quando as crianças interagem com os materiais, elas observam-nos e/ou manipulam-nos
utilizando diferentes órgãos dos sentidos, uma vez que
o corpo é (…) o conteúdo prioritário de conhecimento e, ao mesmo tempo, o principal instrumento-recurso para contactar a realidade, para codificar a própria experiência, para exprimir a dinâmica pulsional e emotiva interna e para sedimentar de forma integrada os conhecimentos cognitivos (Zabalza, 2001, p. 195).
Isto significa que é através da utilização do corpo que as crianças conhecem o mundo que as
rodeia, e, assim, desenvolvem diferentes tipos de conhecimento, pois conhecem as propriedades
dos objetos. Assim, através da exploração desses objetos as crianças vão descobrindo, criando e
inventando (Not, 1991). Desta forma, considera-se importante que as crianças possam observar
e explorar os objetos e materiais que as rodeiam para poderem deles obter conhecimento físico
(cor, forma, tamanho, espessura…) e exercerem sobre eles ações (Kamii & Devries, 1986;
Piaget, 1971, citado por Silva, 2013). Neste sentido compreende-se que a criança vai conhecendo
os objetos quando os explora (Piaget, 1971, citado por Silva, 2013).
Os processos da ciência correspondem a modos de ação e pensamento, são formas de raciocínio
e destrezas intelectuais que são utilizadas em atividades científicas. Apesar de haver diversos
processos da ciência podem-se considerar como processos a observação, a ordenação, a seriação,
a classificação, a medição, a previsão, a inferência e a comunicação (Pereira, 1992; Pereira,
2002). Estes processos devem estar incluídos na educação em ciência mas para tal é preciso criar
situações práticas para que as crianças recorram a eles e se apercebam da sua importância para
as mais variadas situações do dia a dia (Pereira, 2002).
Observação
A observação é um processo fundamental, uma vez que implica que exista a exploração e
descoberta de algo que está escondido ou que é desconhecido (Dewey, 1933, citado por
Hohmann & Weikart, 2003). Na base da observação está a recolha de dados, que implica a busca
de informações sobre os objetos, permitindo que sejam identificadas as suas propriedades
(Pereira, 2002; Pereira, 1992).
Tendo como ponto de partida a curiosidade das crianças, tornando-as exploradoras ativas
(Hohmann, Banet & Weikart, 1979), elas recorrem aos diferentes órgãos dos sentidos (Pereira,
2002). Através deles, elas conhecem as propriedades físicas dos objetos (Spodek & Saracho,
1998). Assim, é importante que a criança manipule e explore os objetos uma vez que “as
estruturas sensório-motoras constituem a origem das operações ulteriores do pensamento”
(Piaget & Inhelder, 1993, p. 31), isto significa que se a criança não conhecer os objetos, ela não
consegue pensar sobre eles e sobre as suas propriedades e características físicas.
Nas suas observações as crianças exploram os objetos para os conhecerem, seguram-nos,
agarram-nos, metem-se de baixo deles e/ou sobem para cima deles, deixam-nos cair, observam-
nos em diferentes ângulos, cheiram-nos, escutam os seus sons… (Hohmann, Banet & Weikart,
1979; Hohmann & Weikart, 2003). Isto é, as crianças só conhecem os objetos se forem elas
próprias a explorar e a descobrir as características e propriedades, bem como as relações entre
os objetos e suas funções (Hohmann, Banet & Weikart, 1979; Kamii & Devries, 1986).
A brincadeira também pode ser associada à observação, pois as crianças através das suas
brincadeiras vão construindo o seu conhecimento e vão aprendendo as propriedades dos objetos
como, o tamanho, a forma e a cor (Dias e Correia, 2012).
Após adquirirem o conhecimento físico dos materiais, as crianças começam a adquirir o
conhecimento social através do seu contacto com a sociedade, uma vez que um conjunto de
pessoas atribui o nome aos objetos, sendo reconhecido em várias partes do mundo. Os nomes
para os objetos são decididos de acordo com critérios que podem variar ou não de cultura para
cultura (Kamii & Devries, 1986).
Seriação
As crianças em idade pré-escolar iniciam o processo de seriação. Este processo diz respeito a
“ordenar os objectos, baseando-se em diferenças e em variações graduais das suas qualidades”
(Hohmann & Weikart, 2003, p. 703). Também pode ser visto como a capacidade de ordenar
objetos numa série, seguindo uma propriedade comum, de acordo com a sua ordem crescente ou
decrescente da propriedade em causa (Hohmann, Banet & Weikart, 1979; Pereira, 1992; Pereira,
2002; Piaget & Inhelder, 1993).
Na seriação, está implícita a comparação de objetos, para que a criança possa colocar por ordem
os objetos de acordo com um, ou mais critérios em simultâneo, o que só é possível através do
contacto direto com os objectos que se está a comparar (Hohmann, Banet & Weikart, 1979).
A seriação pode ser realizada através da organização de objetos com uma ordem a partir de
apenas um atributo ou qualidade, como por exemplo a organização de carros do mais pequeno
para o maior, ou através da organização dos objetos através de uma sequência de características
que se repetem (Hohmann e Weikart, 2003).
Medição
A medição é outro processo básico da ciência utilizado pelas crianças. Resulta de comparações
de objetos (Pereira, 2002), acompanhando o processo de observação. Ao ser realizada pelas
crianças, resulta da comparação de objetos através de uma unidade de medida (Silva et al., 2016).
No desenvolvimento do conceito de medida podem-se considerar três etapas, “a primeira refere-
se às acções de comparar e ordenar; a segunda diz respeito à utilização de uma unidade de
medida, seja ela natural ou padronizada; a terceira refere-se à utilização de um instrumento de
medida” (Mendes & Delgado, 2008, p. 46).
Classificação
Um outro processo da ciência é a classificação, que se caracteriza pelo agrupar de objetos com
propriedades comuns. As crianças usam a classificação quando organizam materiais ou pessoas
nas suas brincadeiras tendo em conta critérios (Hohmann & Weikart, 2003; Pereira, 2002).
Para classificar é necessário observar as características dos objectos e as suas semelhanças.
Posteriormente é que se agrupam os objetos semelhantes (Hohmann, Banet & Weikart, 1979).
Ao classificar as crianças usam o pensamento lógico pois necessitam de perceber as
características de cada objeto para os poderem agrupar (Hohmann, Banet & Weikart, 1979). O
pensamento lógico-matemático “consiste nas relações que o sujeito cria e introduz nos ou entre
objetos” (Kamii & Devries, 1986, p. 32), compreendendo-se que as crianças obtêm
conhecimento dos objetos através da experiência, pois só assim é que constroem o seu
pensamento e o seu conhecimento (Kamii & Devries, 1986). Para tal é necessário que as crianças
estabeleçam relações com diferentes objetos (Piaget, 1971, citado por Silva, 2013). Neste
pensamento inserem-se a classificação, a seriação e os números (Spodek & Saracho, 1998).
Enquanto exploram os objetos, as crianças começam a ver de que forma é que os podem
combinar e utilizar (Hohmann, Banet & Weikart, 1979). Ao agrupar os objetos as crianças
escolhem critérios, tendo em conta as características e as propriedades deles, como a cor, a forma
e o tamanho (Hohmann, Banet & Weikart, 1979; Papalia & Olds, 1981). Deste modo, a
classificação constitui-se um processo básico em que as crianças organizam determinados
objetos, materiais, pessoas e acontecimentos (Homann & Weikart, 2003).
Há diferentes modos de classificar os materiais, sendo eles por um critério ou por dois em
simultâneo (Barros e Palhares, 1997). Assim, agrupar os objetos por um critério (por exemplo,
cor) resulta na possibilidade de formar tantos conjuntos como as cores existentes nos objetos a
serem classificados, tendo como base “tem a mesma cor que…” (Barros & Palhares, 1997).
Classificar por dois critérios pode resultar da interseção de dois conjuntos, sendo que neste tipo
de classificação a criança tem de ter presente dois critérios em simultâneo para classificar os
objetos (Barros & Palhares, 1997), como por exemplo ser amarelo e ser maçã, no caso de
classificação de frutos. Partindo da classificação por dois critérios em simultâneo o mesmo
acontece na classificação para três ou mais critérios em simultâneo, onde se têm de ter sempre
presente os critérios a usar para o agrupamento de objetos ou materiais.
O papel do educador, no decorrer das explorações e brincadeiras das crianças, no que concerne
à classificação, é o de apoiar as suas experiências para compreender o pensamento das crianças
(Hohmann & Weikart, 2003), sendo “importante fornecer à criança materiais de características
semelhantes e diferentes” (Barros & Palhares, 1997, p. 31).
Comunicação
Ao longo da educação de infância as crianças vão-se desenvolvendo e, vão também, evoluindo
as suas capacidades e competências. Nesse sentido, as crianças vão aprendendo a usar a
linguagem adquirida para comunicar (Papalia & Feldman, 2013), sendo o ato de comunicar “um
processo dinâmico, natural e espontâneo que exige a interacção de, pelo menos, duas pessoas,
com vista à partilha de necessidades, experiências, desejos, sentimentos e ideias” (Sim-Sim,
Silva & Nunes, 2008, p. 31).
A comunicação pode ser comunicação verbal e comunicação não-verbal (Sim-Sim, Silva &
Nunes, 2008; Zabalza, 1998b). Ambas pressupõem competências comunicativas, expressivas e
cognitivas (Zabalza, 1998b).
A comunicação verbal é realizada através de uma interação verbal, que implica que a criança
ouça e fale. É através dela que as crianças se tornam comunicadores fluentes da sua língua,
adquirindo e desenvolvendo a linguagem (Sim-Sim, Silva & Nunes, 2008). Neste âmbito, as
crianças devem ser capazes de reproduzir o que o outro fala e manterem-se ativas durante as
conversas e diálogos, deve haver uma tradução e interpretação da mensagem recebida a partir da
mensagem recebida (Zabalza, 1998b). Já a linguagem não-verbal é quando a criança comunica
não utilizando a língua para o fazer, comunicando, por exemplo, através do choro, o olhar, os
movimentos do corpo, ou as vocalizações (Sim-Sim, Silva & Nunes, 2008). Neste tipo de
comunicação, a criança utiliza maneiras diversificadas para transmitir a sua mensagem até
conseguir comunicar verbalmente (Sim-Sim, Silva & Nunes, 2008).
No documento
Refletindo e investigando enquanto educadora da creche ao jardim de infância
(páginas 81-85)