PARTE III – PRÁTICA PEDAGÓGICA EM JARDIM DE INFÂNCIA II
3.1 REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA EM JARDIM DE INFÂNCIA II
3.1.5 A IMPORTÂNCIA DAS HISTÓRIAS
Ao longo da Prática Pedagógica, fomo-nos apercebendo as crianças, durante as suas brincadeiras
na sala de atividades, não frequentava a área da biblioteca.
Enquanto futura educadora de infância tenho a consciência que a exploração de histórias é
fundamental no desenvolvimento das crianças pois “através da leitura de histórias às crianças
(...) cria-se um laço emocional e pessoal muito forte, de forma que as crianças passam a associar
a satisfação intrínseca a uma relação humana muito significativa com as histórias e a leitura”
(Hohmann & Weikart, 2003, p. 547) e também, é através “dos livros que as crianças descobrem
o prazer da leitura e desenvolvem a sensibilidade estética” (Silva et al., 2016, p. 66). Neste
sentido, enquanto par pedagógico, decidimos implementar um novo momento na rotina das
crianças, denominado por Hora do conto que acontecia todos os dias da nossa intervenção, no
período entre as 13h40 e as 14h00. Uma vez que considerávamos que este momento era
importante para as crianças, decidimos não apenas ler histórias, mas incorporar esse momento
na rotina pois ela permite “às crianças prever a sucessão das atividades e explorarem, treinarem
e ganharem confiança nas suas competências em desenvolvimento” (Post & Hohmann, 2011).
Desta forma, este assunto foi, por mim, muito refletido ao longo da Prática Pedagógica tanto
com o par pedagógico, educadora ou professora supervisora, e também em reflexões individuais
relacionado com a evolução dos comportamentos das crianças com a implementação deste
momento, como é visível no seguinte extrato:
Após a implementação deste momento neste contexto de Jardim de Infância, e, apesar de este apenas ter sido implementado esta semana, já pude observar algumas mudanças significativas no comportamento de algumas crianças no momento de brincadeiras na sala de atividades. Uma vez que em momentos de brincadeiras na sala pude observar que as crianças pediam para irem para a área da biblioteca de forma a explorarem diversos livros (Fotografias 5 e 6) (Anexo VII: Reflexões em contexto de Jardim de Infância II – Reflexão 9.ª semana).
Também ao longo das semanas experimentámos estratégias diversificadas no momento de leitura
de histórias, nomeadamente a utilização de suporte tecnológico. A utilização de literacia digital
“implica o domínio de um conjunto de competências com vista a favorecer nos utilizadores as
potencialidades comunicativas das TIC” (Tavares & Barbeiro, 2011, p. 28) uma vez que têm
potencialidade comunicativas e pedagógicas que o educador deve trabalhar com as crianças
(Tavares & Barbeiro, 2011). Ao realizar a leitura de livros com recurso a este suporte pude
vivenciar o interesse e motivação das crianças, tendo em conta que à medida que ia lendo e
explorando a história com elas as crianças tinham oportunidade de fazerem a leitura das imagens
da história e, assim, acompanhar o desenrolar das ações.
3.1.6 BRINCADEIRAS LIVRES
O Jardim de Infância fornece ao educador os meios potenciadores para o desenvolvimento das
crianças, devendo aproveitar todas as oportunidades para estimulá-las. Esta aprendizagem pode
acontecer em qualquer momento do dia, nomeadamente nos momentos de brincadeira.
Sendo que “a aprendizagem pela acção é definida como a aprendizagem na qual a criança, através
da sua acção sobre os objectos e da sua interacção com pessoas, ideias e acontecimentos, constrói
novos entendimentos” (Hohmann & Weikart, 2003, p. 22) e sendo no período entre os 2 e os 6
anos de idade que a criança se desenvolve mais a nível social (Tavares et al., 2007), é
fundamental que o educador proporcione às crianças momentos em que elas possam em
interação, descobrir o mundo que as rodeia e realizar aprendizagens diversificadas.
Ao observar as crianças em diversos momentos do dia, pude constatar que realizavam muito o
jogo simbólico, pois durante o período pré-escolar a criança é “dotada de um pensamento
mágico, imaginativo e metafórico” (Tavares et al., 2011, p. 52), onde se envolve em brincadeiras
com os seus pares (Brazelton & Greenspan, 2006). Ao longo da Prática Pedagógica, refleti sobre
este assunto podendo ser observado no extrato seguinte:
Nos momentos de brincadeiras das crianças, pude observar que elas exploram diversos materiais que estão ao seu dispor, como bolas, pedras, tecidos, bonecos e interpretam diversos papéis realizando brincadeiras de faz-de-conta, como vestir vestidos de princesas ou interpretar o papel de mãe e de pai (Anexo VII: Reflexões em contexto de Jardim de Infância II: Reflexão 3.ª semana).
As brincadeiras permitem à criança “vivenciar o lúdico e descobrir-se a si mesma, apreender a
realidade, tornando-se capaz de desenvolver seu potencial criativo” (Siaulys, 2005, citado por
Queiroz, Maciel & Branco, 2006, p. 169), e também “ajudam a criança a aprender a relacionar
uma imagem ou representação com um desejo e usar depois essa imagem para pensar” (Brazelton
& Greenspan, 2006, p. 30). Isto é, sem brincar, a criança acaba por não estar preparada para a
vida futura, uma vez que não experienciou e vivenciou diversos papéis sociais. É assim que
constroem significados sendo através das aprendizagens feitas que as leva a quererem brincar
sempre mais, podendo estas brincadeiras também resultar das interações com outras crianças e
adultos (Hohmann & Weikart, 1997; Hohmann & Weikart, 2003).
Nas brincadeiras, as crianças não aprendem só a desempenhar papéis sociais, mas também a
desenvolver competências ao nível da linguagem, uma vez que adquire e se desenvolve através
de um processo de aquisição e desenvolvimento linguístico “rápido e complexo, mas ao mesmo
tempo fascinante, dado que a criança, através das interacções que desenvolve com as pessoas
que se encontram ao seu redor, activa e optimiza as suas capacidades verbais” (Sousa, 2012, p.
12). Este desenvolvimento da linguagem não acontece só na área do faz-de-conta, mas também
na área de reunião, nas construções e no exterior onde as crianças imitavam frequentemente as
estagiárias. Além disso, também a criatividade vai-se desenvolvendo nas diversas brincadeiras
realizadas (Hohmann & Weikart, 1997).
Através destes momentos de brincadeira das crianças é importante que o educador as observe
pois conhece muitas das suas características e interesses a partir deste processo, “os adultos
observam e interagem com elas para descobrir como as crianças pensam e raciocinam”
(Hohmann & Weikart, 2003, p. 27).
3.1.7 A AVALIAÇÃO
No decorrer desta Prática Pedagógica em Jardim de Infância II, e tendo em conta os dois
contextos anteriores, Creche e Jardim de Infância I, decidimos, enquanto par pedagógico, e a
nível pessoal, investir um pouco mais na avaliação, uma vez que ela é fundamental para termos
a perceção da evolução das crianças, bem como da nossa própria evolução.
Assim, a avaliação é um “instrumento de apoio e de suporte da intervenção educativa, ao nível
do planeamento e da tomada de decisões do educador” (Circular n.º 4 /DGIDC/DSDC/2011,
2011, p. 2), isto significa que a avaliação é um ponto importante na ação educativa do educador
pois “pressupõe a apreciação do percurso de aprendizagem da criança através de procedimentos
que tenham em conta a atividade do dia-a-dia do jardim-de-infância” (Mcafee & Leong, 2006,
citado por Ferreira & Anjos, 2015, p. 29).
Achámos que seria importante realizar exercícios de avaliação, construindo instrumentos para
recolher as informações, tendo em conta momentos do dia previamente estabelecidos, bem como
intencionalidades educativas e competências, que queríamos que as crianças desenvolvessem.
Este facto deveu-se a que a avaliação “é um elemento integrante e regulador da prática educativa
que implica procedimentos adequados à especificidade da actividade educativa no Jardim de
Infância, tendo em conta a eficácia das respostas educativas” (Circular n.º 17
/DSDC/DEPED/2007, 2007, p. 4).
Cabe a cada educador realizar os seus instrumentos de avaliação e adaptar a mesma ao contexto
e às crianças, podendo, em alguns momentos, avaliar o grupo todo e em outros apenas uma, ou
um grupo reduzido de crianças, pois “cada educador traz consigo o limite de não poder conter e
repropor a inteira complexidade das experiências que uma criança pode experimentar durante o
dia” (Malavasi & Zoccatelli, 2013, p. 24).
Os exercícios de avaliação, realizados ao longo da Prática Pedagógica em Jardim de Infância II,
foram pois centrados “na documentação do processo e na descrição da sua aprendizagem, de
modo a valorizar as suas formas de aprender e os seus progressos” (Silva et al., 2016, p. 15) e
não de modo a valorizar somente o produto final das ações ou propostas educativas.
A longo das intervenções refleti sobre a avaliação em Jardim de Infância, bem como da
importância das crianças participarem nesse processo, como é visível no extrato seguinte:
a criança também deve ser considerada como um avaliador do trabalho desenvolvido. Desta forma, nesta semana realizei dois tipos de avaliação com as crianças: um após a realização das pesquisas com os três pequenos grupos de forma separada e o outro, no final da semana com todo o grupo de criança. Com os pequenos grupos realizei a questão “O que aprenderam?” e em grande grupo questionei as crianças “O que gostaram mais de fazer na semana?”, “O que gostaram menos de fazer na semana?” e, por fim, “O que ainda gostariam de fazer?” (Anexo VII - Reflexões em contexto de Jardim de Infância II: Reflexão 9.ª semana).
Uma diferente forma de avaliação experimentada e vivenciada neste contexto foi a realização de
um portefólio de aprendizagens de uma criança do grupo, sendo este uma “outra forma de avaliar
a aprendizagem das crianças” (Spodek & Saracho, 1998, p. 203).
A criança escolhida para a elaboração do portefólio foi a criança LF (4 anos) do género feminino,
por ser uma criança que desde o primeiro dia me cativou e me desafiou a diversos níveis. Uma
criança meiga, comunicativa, que gostava de brincar ao faz-de-conta, fazer desenhos, explorar o
mundo à sua volta, interagir com os seus pares e adultos, muito perspicaz e com vontade de testar
os adultos ao seu redor. Foi neste sentido que recaiu a minha escolha pela LF uma vez que tentou
desafiar-me em diversos momentos.
Este portefólio foi construído no final do estágio, mas com a organização de registos em diversos
momentos do dia, deste setembro a dezembro de dois mil e dezasseis. Por o portefólio ser um
documento que reporta aprendizagens da criança deve incluir elementos de identificação da
criança e fornecer informação global acerca das aprendizagens e aspectos mais significativos da
criança (Portugal & Laevers, 2011), sendo organizado da seguinte forma: uma apresentação da
criança LF, realizada pela própria, uma apresentação realizada pela sua família; uma
contextualização da realização do portefólio bem como a sua importância para mim, enquanto
educadora de infância; uma caracterização da criança baseando-me em autores de referência; um
enquadramento teórico do desenvolvimento para a sua faixa etária (4 anos); os registos de
evidências (Anexo VIII) com interpretações de cada um, à luz das áreas e domínios descritos nas
Orientações Curriculares para a Educação Pré-Escolar (Silva et al., 2016); algumas
considerações analisando as aprendizagens e evolução no desenvolvimento ao longo dos quatro
meses de observação; e, por fim, uma carta dirigida à LF, que evidencia o significado que este
portefólio teve para mim, enquanto pessoa e educadora de infância, tendo em conta o que aprendi
com a realização do mesmo. Além de esta carta ser dirigida à criança, com algumas palavras do
seu contributo, também acrescentei uma seleção de fotografias que retrataram alguns dos
momentos passados com ela.
Para a realização deste portefólio considerei a criança como o centro do processo, de forma a
“estabelecer estreita cooperação, favorecendo a formação e o desenvolvimento equilibrado da
criança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário”
(Lei n.º 4/97 de 10 de fevereiro, 1997), onde lhe expliquei o trabalho que estava a desenvolver,
convidando-a a dar a sua perspetiva em muitos dos registos, partindo da sua leitura das imagens
que apresentava nos registos, e a fazer uma apresentação sua para constatar no mesmo. Também
considerei importante o envolvimento dos pais neste processo, convidando-os a fazerem também
uma apresentação da criança, tendo eles também o conhecimento do trabalho que estava a ser
desenvolvido com a filha deles. A recolha dos dados, para integrar no portfólio, não obedeceu a
nenhum critério de seleção para os mesmos, sendo que todos foram recolhidos em momentos
aleatórios ao longo da Prática Pedagógica em Jardim de Infância II. No entanto, agora tenho a
consciência que devia, previamente, ter selecionado alguns critérios de recolha dos dados para
mais tarde poder comparar a evolução da criança ao longo do tempo.
A documentação pedagógica realizada “torna-se uma forma de tornar «transparente» o trabalho
com as crianças, passível de interpretação e análise crítica e, decorrente, de avaliação”
(Vasconcelos, 2012, p. 40), que resulta na minha interpretação tendo em conta a observação, e
posterior registo de evidências realizado da criança, ocorrendo a avaliação da criança.
Durante a recolha dos dados através do registo de evidências observadas da LF, senti a
necessidade de observar a criança como um todo uma vez que “é de interesse recolher
informações sensoriais acerca do outro, utilizando o que se vê e sente e prestando uma atenção
particular à expressão do rosto e lábios” (Sequeira, 2012, p. 45). Isto significa que além das ações
e comportamentos das crianças também é importante olhar para as suas expressões, uma vez que
é a partir delas que pudemos compreender a satisfação das crianças pelas experiências.
3.1.8 A REFLEXÃO
Em todo o processo educativo, é fundamental que o educador seja reflexivo de forma a melhorar
a sua ação educativa, progredindo como profissional de educação. Assim, o educador deve
refletir ao longo dos dias e semanas, antes, durante e após a sua ação com as crianças.
Tendo em conta que a reflexão pressupõe “meditar, cogitar, ponderar, considerar, absorver-se,
pensar” (Dias, 2009, p. 32) e, que “anotar o que se observa facilita, também, uma distanciação
da prática, que constitui uma primeira forma de reflexão” (Silva et al., 2016, p. 15), o educador
deve ser reflexivo em todos os momentos da sua prática.
Deste modo, um profissional reflexivo é
aquele que pensa no que faz, que é comprometido com a profissão e se sente autônomo, capaz de tomar decisões e ter opiniões. Ele é, sobretudo, uma pessoa que atende aos contextos em que trabalha, os interpreta e adapta a própria atuação a eles (Pellegrini,s/d, p. 2).