PARTE III – PRÁTICA PEDAGÓGICA EM JARDIM DE INFÂNCIA II
3.3. ENSAIO INVESTIGATIVO
3.3.1. INTRODUÇÃO AO ENSAIO INVESTIGATIVO
3.3.2.3. Matemática
A matemática é “uma ciência vital para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo” (Sousa, s/d,
p. 2), assumindo “um papel essencial na estruturação do pensamento (…) para a criança dar
sentido, conhecer e representar o mundo” (Silva et al., 2016, p. 6). Isto significa que as noções
matemáticas das crianças se desenvolvem através da exploração do mundo que as rodeia.
Assim, em idade pré-escolar, e para se perceber quais são os conhecimentos matemáticos das
crianças é importante observá-las enquanto brincam, uma vez que cada uma tem as suas próprias
experiências e vivências, ideias e necessidades (Barber, 2004), e assim, devem ter a possibilidade
de manipularem materiais (Spodek & Saracho, 1998). Estas brincadeiras proporcionadas às
crianças permitem que desenvolvam diversas competências (Smole, Diniz & Cândido, 2000).
Na educação pré-escolar é importante que as crianças desenvolvam noções matemáticas através
de ensino informal, sendo benéfica a exploração ao ritmo imposto por cada criança (Barros &
Palhares, 1997). Para tal cabe ao educador proporcionar oportunidades estimulantes às crianças
para que construam e desenvolvam noções matemáticas (Silva et al., 2016).
Dentro da matemática, optei por abordar algumas subcategorias, nomeadamente os padrões, a
contagem, as correspondências, e as relações espaciais.
Padrões
Os padrões caracterizam-se pela disposição de objetos com regras lógicas através da formação
de sequências (Barros & Palhares, 1997). Estas disposições estão associadas a regularidades
(Palhares & Mamede, 2002) podendo incluir a cor, som, posição, forma e movimentos. A
realização de padrões resulta do raciocínio lógico (Palhares & Mamede, 2002).
Barbosa et al. (2011) distinguem, entre outros, dois tipos de padrão: o padrão por repetição e o
padrão de crescimento. O primeiro “é um padrão no qual há um motivo identificável que se
repete de forma cíclica indefinidamente” (Barbosa et al., 2011, p. 20). Ou seja, nos padrões
encontram-se um termo que se repete sempre, caracterizado como ABABAB. Nos padrões de
crescimento “cada termo muda de forma previsível em relação ao anterior” (Barbosa et al., 2011,
p. 24), ou seja, os termos que se repetem vão aumentando progressivamente a cada termo.
Contagem
No pré-escolar as crianças têm possibilidade de desenvolverem o sentido de número (Castro &
Rodrigues, 2008). Este desenvolvimento passa por compreender que “o número é uma
propriedade que se refere a um conjunto de objectos” (Bohígas et al., 1997c, p. 969). As crianças
compreendem que o número um corresponde a um conjunto com apenas um elemento, o número
dois a um conjunto com dois elementos, e o mesmo para os restantes números. Também Silva et
al. (2016) consideram o sentido de número como a compreensão de forma global dos números,
suas operações e relações.
Para que as crianças desenvolvam o sentido de número é importante que iniciem as contagens.
Este exercício de contar surge naturalmente em interação com os pares e os adultos e no decorrer
das brincadeiras (Castro & Rodrigues, 2008; Bohígas et al., 1997c). Sendo que, primeiramente,
as crianças realizam contagens associadas a objetos concretos, e só mais tarde são capazes de
“pensar nos números sem contactarem com os objectos” (Castro & Rodrigues, 2008, p. 12).
Para que as crianças sejam capazes de realizar a contagem oral, precisam de conhecer a sequência
dos números, aprendendo-a “em interacção com outras crianças e com os adultos” (Castro &
Rodrigues, 2008, p. 13). Mais tarde, começam a relacionar os termos da contagem oral com os
objetos (Castro & Rodrigues, 2008), sendo que as crianças “mais novas ou com menos
experiência, que, embora conhecendo a sequência da contagem oral cometem erros aquando da
contagem de objectos” (Castro & Rodrigues, 2008, p. 18), nomeadamente na correspondência
termo a termo” (Silva et al., 2016, p. 76), isto é, associar o termo a um objeto. A contagem dos
objetos tem características específicas, sendo elas: “a cada objecto corresponde um e um só termo
da contagem; (…) não perder nem repetir nenhum objecto; o conceito de cardinalidade (o último
termo dito corresponde ao número total de objectos contados); que a contagem não depende da
ordem pela qual os objectos são contados” (Castro & Rodrigues, 2008, p. 18). Através das
contagens as crianças começam a ter consciência da relação entre os números, e por sua vez
começam a ter noções de quantidade que os números representam.
O educador tem um papel fundamental no desenvolvimento das contagens nas crianças. Além
de as acompanhar deve encorajá-las a explicarem os seus métodos, e os seus raciocínios aos
pares (Castro & Rodrigues, 2008).
Correspondência
Segundo Barros e Palhares (1997) e Bohígas et al. (1997c), podemos considerar a
correspondência como uma noção matemática. Isto porque “explorar os atributos das coisas,
ordenar e estabule correspondências são maneiras das crianças pequenas construírem o seu
mundo físico e social” (Hohmann & Weikart, 2003, p. 680).
A correspondência diz respeito à ação de estabelecer a relação um a um (Ferreira, 2013), sendo
esta relação de dois objetos entre si, duas pessoas entre si, ou entre uma pessoa e um objeto de
um dado conjunto. Assim, “na correspondência um a um, colocam-se a par, um a um, dois ou
mais grupos de objectos” (Hohmann, Banet & Weikart, 1979, p. 282). As crianças fazem
correspondências, por exemplo, quando fazem uma garagem para cada carro ou colocam um
pincel dentro de cada frasco de tinta (Hohmann, Banet & Weikart, 1979). As crianças começam
por fazer correspondências imperfeitas até conseguirem realizar a correspondência termo a
termo, sendo de esperar que o façam aos 5-6 anos (Barros & Palhares, 1997).
Relações espaciais
As crianças entre os 2 e os 7 anos de idade localizam-se no estádio pré-operatório. Neste sentido,
demonstram avanços relativamente ao espaço, categorização e número. As crianças até aos 3
anos não entendem relações “entre figuras, mapas ou maquetes, e os objetos ou espaços que eles
representam” (Papalia & Feldman, 2013, p. 260). As crianças mais velhas “conseguem transferir
o entendimento espacial adquirido do trabalho com modelos para mapas e vice-versa (Deloache,
Miller & Plerroutsakos, 1998, citado por Papalia & Feldman, 2013 pp. 260, 261).
As relações espaciais enquadram-se nas noções espaciais uma vez que as crianças pequenas
revelam competências matemáticas “no sentido de lidar com materiais e com eles resolver
problemas lógicos, quantitativos e espaciais” (Barros & Palhares, 1997, p. 11). Também se
prendem com “tudo o que nos rodeia e a forma como apreendemos essa realidade que nos
envolve” (Reis, 2014, p. 11) pois tratam-se “de formas de compreensão do espaço (…) que não
aparecem naturalmente” (Hohmann, Banet & Weikart, 1979, p. 293), e também podem ser
entendidas como um “conjunto complexo de competências que se interligam, dando origem à
capacidade de perceber distâncias, direções, movimentos e relações que o indivíduo estabelece
com o meio circundante, com os objetos ou estes entre si” (Rodrigues, 2011, citado por Reis,
2014, pp. 11, 12).
A manipulação de objetos, partindo de atividades espontâneas e lúdicas, permite às crianças fazer
representações mentais das relações espaciais entre os objetos manipulados e o próprio corpo,
tendo como base pontos de referência. Desta forma, adquirem noções como a posição, a direção
e a orientação, se o objeto está longe ou perto, dentro, fora ou entre, aberto ou fechado, em cima
ou em baixo, à esquerda ou à direita (Bohígas et al., 1997c; Silva et al., 2016; Barros & Palhares,
1997). Este pensamento espacial constrói-se através da vivência da criança, no espaço e no
tempo, partindo das atividades espontâneas e lúdicas (Silva et al., 2016). Assim, adotou-se pela
designação de plano vertical e plano horizontal como subcategorias das relações espaciais.
3.3.2.4. Brincadeira
O Jardim de Infância é um espaço onde as crianças passam grande parte do seu dia e onde lhes
são proporcionados diversos momentos de brincadeiras quer sejam orientadas ou não. No
entanto, em ambas compreende-se que a brincadeira estimule a aprendizagem não só das artes
como também das ciências, da matemática, da linguagem e até da alfabetização. Nas situações
de brincadeiras os educadores devem preparar, planear e orientar intencionalmente as
brincadeiras (Spodek & Saracho, 1998), para que esta se torne educativa. Também é importante
que o educador participe nas brincadeiras pois assim as crianças sentem-se valorizadas e veem
que o adulto está interessado (Hohmann & Weikart, 2003).
Ao longo das Práticas Pedagógicas apercebi-me que o brincar é fundamental no desenvolvimento
das crianças sendo as brincadeiras contempladas nas suas rotinas, uma vez que é na infância que
elas aprendem a brincar (Teixeira & Volpini, 2014). Neste sentido, o Jardim de Infância deve
proporcionar às crianças espaço para que ocorram as brincadeiras, pois desta forma está a auxiliar
a formação e a socialização, ajudando também a que as crianças desenvolvam outras habilidades:
psicomotoras, sociais, físicas, afetivas, emocionais e cognitivas (Teixeira & Volpini, 2014).
Para que as ações das crianças sejam consideradas brincadeira, não é necessariamente preciso a
utilização de um brinquedo, basta brincarem livremente (Freitas, 2015). O ato de brincar deve
ser natural e espontâneo (Teixeira & Volpini, 2014), pois é através dele que a criança se exprime,
se desenvolve, aprende e, assim, evolui (Freitas, 2015). Neste sentido o brincar pode ter uma
função educativa, pois permite à criança realizar aprendizagens, aumentando assim o seu
conhecimento do mundo que a rodeia passando a compreendê-lo melhor (Constantino, 2016).
Segundo Hohmann e Weikart (2003) a brincadeira pode ser dividida em: exploratória,
construtiva, faz-de-conta e os jogos. Este tipo de brincadeiras aumentam a sua complexidade e
acompanham o desenvolvimento da criança. Na brincadeira exploratória as crianças vivenciam
experiências simples, lúdicas e repetitivas, nas quais exploram as propriedades e funções dos
objetos/instrumentos (Hohmann & Weikart, 2003). Desta forma, começam a conhecer as
propriedades físicas dos objetos. Nestas explorações as crianças manipulam, enchem e esvaziam
recipientes, encaixam e separam objetos. Nas suas experiências recorrem aos órgãos de sentido
para poderem observar as diferenças e as semelhanças e organizá-los de maneiras diferentes
(Hohmann & Weikart, 2003). A brincadeira construtiva já pressupõe mais do que uma
exploração, as crianças usam objetos para criarem algo (Hohmann & Weikart, 2003). Desta
forma, percebe-se que as brincadeiras vão evoluindo, e que ao longo do tempo as crianças vão
realizando outro tipo de explorações, fazendo construções ou realizando algo com um propósito
definido (Freitas, 2015). Esta ainda pode ser associada a um jogo sequencial com objetivos
(Smilansky, 1968, citado por Spodek & Saracho, 1998). Os autores Hohmann e Weikart (2003)
consideram que este tipo de brincadeira é uma evolução da brincadeira exploratória, isto porque
as crianças “fazem coisas” com os objetos (Papalia & Feldman, 2013, p. 296). Nas suas
brincadeiras as crianças
estão a encaixar e a separá-las; a fazer reproduções; (…) a explorar e descrever semelhanças e diferenças; a classificar e a seriar; a utilizar e a reconhecer as coisas de formas distintas; a comparar; a organizar diferentes objetos uns a seguir aos outros numa série ou padrão; a experimentar e a descrever posições, distâncias,
direcções, e velocidades de movimentos; (…) e a resolver problemas que encontram durante a brincadeira (Hohmann & Weikart, 2003, p. 303).
Também fazem uso da linguagem escrita e oral, da representação e aprendem “acerca das
relações no mundo físico” (Hohmann & Weikart, 2003, p. 303). As crianças ao serem
espontâneas nas suas brincadeiras, recorrem ao faz-de-conta para representar ações e situações e
pessoas, dando um uso aos objetos diferente, por exemplo usam a vassoura para fazer de cavalo
(Bee, 2003; Hohmann & Weikart, 2003). À medida que vão crescendo as suas brincadeiras
também vão sendo mais complexas e mais imaginativas. Assim, percebe-se que uma criança de
2 anos use um carro para brincar “aos carros” e uma criança de 4 anos use uma caixa para o
mesmo efeito (Frein, 1975, citado por Dempsey & Frost, 2002). Nas brincadeiras de faz-de-conta
as crianças são muito espontâneas e estão sempre motivadas para o jogo simbólico. Elas recriam
situações que vivenciaram no seu dia a dia, imitam pessoas que conhecem e nas suas ações
auxiliam-se de objetos dando-lhes novas funções (Hohmann & Weikart, 2003; Papalia &
Feldman, 2013; Silva et al., 2016). Outras das forma de classificar as brincadeiras, é através dos
jogos, que são brincadeiras com regras específicas que condicionam o comportamento dos
participantes (Hohmann e Weikart, 2003; Roque & Rodrigues, 2005). À medida que vão
crescendo vão inventando os seus próprios jogos e criando regras (Hohmann & Weikart, 2003).
3.3.3. METODOLOGIA
Neste tópico apresenta-se a metodologia utilizada para o ensaio investigativo, organizada em
seis pontos. No primeiro é apresentado o contexto, seguido da descrição do estudo,
caracterização dos participantes, a apresentação dos instrumentos e técnicas de recolha de dados,
informações sobre a recolha de dados e, por fim, a análise e tratamento de dados.
No documento
Refletindo e investigando enquanto educadora da creche ao jardim de infância
(páginas 85-89)