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A descodificação da situação vivida faz-se através da apresentação do desafio ao grupo, seguida da discussão que esse desafio suscita O/a formador/a tem um pa-

C. Workshops de literacia para a liderança de mulheres

2. A descodificação da situação vivida faz-se através da apresentação do desafio ao grupo, seguida da discussão que esse desafio suscita O/a formador/a tem um pa-

pel ativo na discussão, pondo questões que ajudem na análise crítica da situação apresentada. Ele/ela tem uma visão do mundo e a sua intervenção nunca pode nem deve ser neutra.

Os passos a seguir:

1. Descrição em conjunto do desafio

2. Passagem para a realidade do grupo, partilhando experiências pessoais associa- das ao desafio apresentado

3. Colectivização de experiências individuais e descoberta do que há em comum 4. Análise das causas

5. Fornecimento (troca) de informação;

6. Formulação de pistas de intervenção, permitindo a passagem à prática com o objetivo de mudar as situações discutidas nas reuniões.

C – Acção transformadora

A passagem à prática é um processo fundamental no processo de conscientização. Quando a palavra, a reflexão, a análise, a compreensão crítica se tornam ato, a transformação começa a ser real.

As alterações introduzidas na prática quotidiana são as possíveis em cada momen- to do processo, dependendo em absoluto dos sujeitos envolvidos e das condições circundantes. A partir de qualquer alteração introduzida, o processo encaminha-se para uma nova fase, desenrolando-se em espiral, a que corresponde um patamar cada vez mais elevado de consciência praticada.

Metodologia da Aprendizagem pela Conversa

Há cinco dialéticas que estruturam as conversas e que têm de ser mantidas em equilíbrio sem menosprezar os seus diversos pares de pólos opostos:

1. Apreensão (experiência) e compreensão (saberes); 2. Reflexão (intenção) e ação (extensão);

3. Discurso epistemológico (saberes cognitivos) e o recurso ontológico (saberes tácitos); 4. O individual e o relacional, para permitir a produção de Connected knowledge; 5. Necessidade de ter status (ranking) e solidariedade (linking).

É importante abordar a tensão entre os pólos não enquanto fenómeno dualista (o «certo» e o «errado» em oposição), mas como recurso integrador o que permite abordar o leque de possibilidades entre os pólos. A abordagem integradora implica

viver com a tensão ao longo do continuum dialético, permitindo aprender com o

que surge no espaço entre os extremos dialéticos.

Para promover a aprendizagem as cinco oposições dialéticas definem as frontei- ras do espaço da conversa. Quanto mais diversas forem as perspetivas expressas durante a conversa, mais atenção deve ser dada a este espaço, para que seja um espaço recetivo que permite criar uma base comum no meio da tensão dialética (Baker, Jensen & Kolb, 2002 em Koning, 2009: 88 - 90).

2.4. Duas metodologias: da palavra à prática inovadora

Só há conscientização quando a reflexão crítica conduz à ação. Cabe a cada sujeito determinar qual o conteúdo da ação, como vai intervir para mudar o (seu) mundo, sempre numa perspetiva de emancipação pessoal e coletiva, de justiça, de solida- riedade, de cuidar o (seu) futuro e o do mundo.

Pela aprendizagem pela conversa é possível desenvolver-se um olhar crítico em cada participante. Na conversa assume-se o objetivo de encontrar novos sentidos e deixar emergir novos conhecimentos. A conscientização dos/as participantes emer- ge como uma possibilidade neste espaço, através da formulação de narrativas que vão permitindo agir de forma diferente e desviante da dominante, possibilitando a construção de práticas inovadoras.

Nos workshops realizados no Projeto Lideranças Partilhadas “a aprendizagem pela conversa proporcionou aos/às participantes espaços de autoconhecimento, mas tam- bém de encontro com o/a outro/a e com outras conceções, representações, racionali- dades para o trabalho social” (Lopes, nesta publicação). Trata-se da “enunciação do que faço e porque o faço, a escuta do que outros/as fazem e porque o fazem” (Ibid.). A palavra dita, tanto durante o diálogo na metodologia da conscientização, como na conversa da metodologia de aprendizagem pela conversa, pode mexer com tudo, transforma:

Portanto o essencial é que se venha a dizer o que não se dizia. Mas este dizer trans- forma: a palavra mexe com tudo, inclusive com o próprio corpo. Porque usando a palavra pode finalmente tornar-se presente o que estava bloqueado, agindo na pes- soa apenas através de desvios e afastamentos obscuros” (Bellet, 1990: 55, citado em Koning, 2006: 225).

O falar aproxima-nos, “serve a palavra”, apesar de, ou justamente por causa de diferenças entre as pessoas, por causa da diversidade e dos desacordos:

Não espero, nem desejo que tenham as ‘mesmas ideias’ que eu. Espero, num certo sentido, bem mais: que aquilo que digo possa servir a palavra. Então mesmo aquele que está em desacordo comigo é-me ainda próximo e amigo … na medida em que

me fala (Ibid.:13, citado em Ibid.: 225).

As histórias que contamos sobre o que sabemos do mundo em que vivemos, e que problematizamos, questionando, preparam para um participação (mais crítica), tanto no espaço público, como privado. Os grupos em que usamos as metodologias de conscientização ou de aprendizagem pela conversa constituem- -se (temporariamente) em comunidades de palavras e intenções, onde cada um/a

pode emergir como sujeito que prepara a sua ação na polis: Da antologia 3: Texto-desafio

[Emergência do ser humano como sujeito]

Assim, na cidade, o ser humano não é apenas o observador mais ou menos atento, muitas vezes céptico e indiferente, outras vezes analista político de ocasião. A cidade (figura da polis) é o lugar onde o ser humano emerge como sujeito.

Pela diversidade da sua actividade. Pelo entrosamento de finalidades e de meios de acção com os outros seres humanos. Pela atenção constante aos acontecimentos. Pela importância de que se reveste a acção, traz sempre consigo uma forma própria de saber e de saber fazer, tornando-se assim, na linguagem do grande pensador Paulo Freire, agente de cultura. Pois que é a cultura senão, e uso as palavras desse grande brasileiro, “o acres- centamento que o homem faz ao mundo que não fez”?

Por isso, ao falar de acção, coloco-me deliberadamente na esteira da filósofa Hannah Arendt, isto é, não na obra que cada pessoa realiza no seu domínio próprio mas na acção em que se envolve na construção da cidade enquanto sociedade organizada (Pintasilgo, 2012: 208-209).

3. Projeto Lideranças Partilhadas (2010-2012). A caminho de um novo para-