• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DE DADOS I – ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO PARQUE

5.4 Caracterização da área do PNMFT

5.4.2 Descrição física do PNMFT

Como mencionado anteriormente, a área do PNMFT abrange, segundo o seu decreto de criação (PMT, 2003), uma área de 349hectares, possuindo área continental e marinha (ver figura 5.5). Sendo assim, segue a descrição física das duas áreas, para um melhor entendimento dos seus usos e gestão.

Figura 5.5: Delimitação do Parque Natural Municipal do Forte de Tamandaré – PNMFT.

Fonte: Projeto Recifes Costeiros – UFPE/CEPENE/IBAMA/FMA/BID, 2003.

9 A Área Marinha.

A Baía de Tamandaré possui grande importância ambiental, sendo uma reentrância na costa formada em decorrência da estrutura de falhamento típico de litorais atlânticos. Morfologicamente, apresenta-se de forma semicircular com concavidade e simetria

131 quase perfeita. A sua concavidade comprova a forte acção regularizadora do mar, modulada pelo efeito de ondas, ventos e correntes marítimas. Na região central da Baía de Tamandaré observa-se uma praia estreita e de declive acentuado onde, apesar da forte hidrodinâmica sazonal, não há processos de erosão, devido a presença de um cinturão verde de vegetação fixadora do sedimento (ver figura 5.6). Para além dessa vegetação, também contribui para a protecção da praia a existência dos recifes de coral em frente a baía (Guerra, 1969 e Moura, 1991; citado por FUNDARPE, 2005).

Figura 5.6: Área marítima e faixa de areia do PNMFT.

Fonte: Estima, 2008.

Segundo Ferreira e Maida (2007a), os recifes de coral são ecossistemas marinhos tropicais, formados pela deposição de carbonato de cálcio de organismos como corais, algas e moluscos, que abrigam uma grande diversidade de vida. Os recifes costeiros possuem grande importância ecológica, económica e social, mas é actualmente considerado um dos ambientes mais ameaçados do planeta. Dentre as várias formas de uso deste ambiente, a pesca e o turismo são as mais praticadas.

Das mais de 350 espécies de corais existentes no mundo, 18 ocorrem no Brasil, sendo que dessas, 8 são endémicas. Contudo, dos 3 mil km de extensão dos recifes brasileiros só uma pequena parte é protegida por lei através das áreas naturais protegidas. A parte marítima do PNMFT está incluída na Área de Protecção Ambiental Costa dos Corais, considerada a maior área marinha protegida brasileira, como também na Área de Protecção Ambiental de Guadalupe (FUNDARPE, 2005; e PMT, 2003-2008).

132 Figura 5.7: Recifes da Ilha da Barra – PNMFT.

Fonte: Antonio Henrique (citado por Ferreira & Maida, 2007a:42).

Grande parte da área marinha do PNMFT faz parte da “área de recuperação do ambiente recifal” criada por portaria do IBAMA (ver figura 5.7). A primeira portaria teve duração de três anos e foi renovada já duas vezes, ainda estando sob legislação federal (FUNDARPE, 2005; e PMT, 2003-2008).

A área de recuperação do ambiente recifal ocupa um total de 270 hectares, representando cerca de 10% do litoral do município de Tamandaré. De acordo com a portaria do IBAMA, que cria essa área protegida, foram proibidas actividades náuticas de pesca e explorações turísticas. Quem iniciou essa acção foi o Projecto Recifes Costeiros, como subsídio para a elaboração do plano de manejo da Área de Protecção Ambiental Costa dos Corais. Essa acção foi realizada de forma participativa, onde após uma série de reuniões com a comunidade de pescadores local, foi aprovada a iniciativa em assembleia popular, para posterior encaminhamento ao IBAMA. Todo esse processo foi discutido no âmbito do COMDEMA de Tamandaré, com a participação de outros sectores da sociedade, além dos ligados à pesca (Ferreira & Maida, 2007a).

Vale a pena ressaltar que a área de recuperação do ambiente recifal, mais conhecida como a “área fechada”, é alvo de várias discussões e conflitos relacionados com a

133 gestão do PNMFT. Alguns conselheiros afirmam que tanto a criação como o prorrogamento da vigência legal desta área protegida não foram realizados de forma participativa através do COMDEMA, mesmo com um dos conselheiros sendo o representante legal dos pescadores (PMT, 2003-2008).

A área de recuperação do ambiente recifal foi monitorizada pelo Projecto Recifes Costeiros até o ano de 2006, período de vigência desse projecto, e continua sendo monitorizada pelo Instituto Recifes Costeiros, ONG ambientalista composta por parte dos funcionários do referido Projecto (ver figura 5.8). Essa monitorização tem como objectivo acompanhar o processo de recuperação do ambiente recifal através do censo visual e outros experimentos de gestão, como o recrutamento de corais (Pinheiro, 2006). Em apenas um ano após a criação dessa área protegida já se pode observar um aumento na densidade de peixes e moluscos demonstrando a capacidade de recuperação do ambiente mediante acções de protecção, gerando benefícios sociais e ambientais locais (FUNDARPE, 2005; e PMT, 2003-2008).

Figura 5.8: Equipe de fiscalização da ‘Área Fechada’.

Fonte: Estima, 2006.

O tipo de pesca praticada em torno da área fechada é tipicamente a pesca artesanal de subsistência ou de pequena escala, sendo comum observar pequenas jangadas artesanais (ver figura 5.9). Nos meses de alta estação, Dezembro à Fevereiro, também existe um fluxo de embarcações turísticas de pequeno porte em volta da área. Por vezes, observa- se veleiros de viajantes estrangeiros ancorados também.

134 Figura 5.9: Pesca artesanal na área de entorno da ‘Área Fechada’ – PNMFT.

Fonte: Projecto Recifes Costeiros, s.d..

Com a criação do PNMFT, o objectivo futuro é transformar a área de recuperação do ambiente recifal num aquário natural para a prática do mergulho contemplativo. Assim, mesmo tendo renovado a portaria do IBAMA para manter a protecção legal deste ambiente, o uso turístico da área já foi e ainda continua a ser bastante discutido nas reuniões do COMDEMA, onde os pescadores são conselheiros (FUNDARPE, 2005; e PMT, 2003-2008).

Em consonância com os objectivos do Parque e a necessidade de promover o desenvolvimento de actividades ecologicamente sustentáveis com a geração de emprego e renda para a comunidade local, serão feitos estudos de capacidade de carga para desenvolver a actividade turística de forma sustentável. Com esse fim, foi criado a Associação dos Jangadeiros de Tamandaré (AJT), organizada e capacitada por intermédio do Projecto Recifes Costeiros e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), tendo como principal actividade a realização de passeios nas piscinas naturais no mar de Tamandaré. Composta por pescadores locais, a AJT busca estar apta para futuramente desenvolver mergulho contemplativo na área do PNMFT (FUNDARPE, 2005; e PMT, 2003-2008).

Para além destas embarcações, também existe na área marinha do parque a instalação de um ancoradouro do IBAMA, onde se pode observar um navio de pesquisa e algumas lanchas ancoradas. Nesta área também é proibida a pesca, embora não haja fiscalização

135 por parte do órgão ambiental e seja comum ver pessoas a fazê-lo (FUNDARPE, 2005; e PMT, 2003-2008).

9 A área terrestre (continental).

A área continental compreende a área onde se encontram o antigo cemitério do município, o Forte e a Capela de Santo Inácio de Loyola. Essa área é pública e está sob domínio da Marinha do Brasil. Em 1992, o Serviço de Sinalização Náutica do Nordeste (SSN-3) cedeu a gestão dessa área ao município de Rio Formoso, quando Tamandaré ainda pertencia a esse município como distrito. A cessão foi de cinco anos e tinha como objectivo a utilização do Forte para fins de implantação de um complexo turístico, histórico, cultural e recreativo. Porém, nada foi realizado e a Marinha não cedeu mais a área para o município (PMT, 2003-2008).

Com a criação do PNMFT, o município de Tamandaré teve que negociar novamente junto à Marinha do Brasil a cessão da área, agora como município proponente. Esse foi um processo demorado, onde ocorreram várias visitas in loco e reunões entre a Marinha, PRODETUR/NE, COMDEMA, FUNDARPE e Prefeitura de Tamandaré para a explanação da proposta de criação e gestão do Parque e o repasse do recurso para restaurar o Forte e implementar a área protegida (ver figura 5.10) (PMT, 2003-2008).

Figura 5.10: Visita técnica da Marinha do Brasil ao PNMFT.

Fonte: Estima, 2004.

Dessa forma, em 24 de Fevereiro de 2005 a Marinha do Brasil cedeu à Prefeitura de Tamandaré a gestão da área tombada, que compreende a área continental do PNMFT

136 (ver figura 5.11). A cessão compreende 10 anos e consta de obrigações e deveres entre à Marinha e à Prefeitura de Tamandaré (FUNDARPE, 2005; e PMT, 2003-2008).

Figura 5.11: Assinatura da cessão da área do PNMFT.

Fonte: Estima, 2005.

Tendo em vista o actual estado de abandono da Fortaleza como também o desordenado uso público na área do Parque, para a Marinha do Brasil essa cessão possui como vantagens (FUNDARPE, 2005:24-25):

“O resgate da história da Marinha do Brasil no município de Tamandaré; A parceria da Marinha do Brasil no processo de gestão ambiental do litoral de Tamandaré; A continuidade do processo de implementação da guarda municipal marítima, viabilizando o controle do tráfego aquaviário; A restauração, recuperação e conservação de um patrimônio da Marinha do Brasil, hoje em estado total de abandono; A conservação do Farol e a construção de uma nova Casa do Faroleiro; A imagem da Marinha do Brasil junto aos mais de 2500 turistas que freqüentam a área do Forte aos domingos”.

Em 2002 foi realizado um estudo, a nível de especialização, cujo objectivo foi elaborar uma proposta de jardim botânico para a área do PNMFT, onde foi realizado um diagnóstico da vegetação existente na área continental. Segundo Rojas (2002), a vegetação existente na área do PNMFT encontra-se de uma forma geral esparsa com um agrupamento maior de espécies no entorno do Forte, sendo caracterizada na sua maioria por coqueiros. Próximo à escola municipal, área limite do Parque, existe uma vegetação rasteira com alguns arbustos e na lateral direita do Forte observa-se uma mancha com

137 espécies frutíferas. Na parte posterior do Forte, em direcção ao mar, observa-se uma área sem vegetação (onde os autocarros estacionavam) e outra com coqueiros, algumas espécies arbóreas e vegetação rasteira. Já na linha de praia, apenas em alguns trechos é que existe vegetação de restinga, como a salsa-da-praia, quase inexistente na restante área do município, sendo esta de grande importância para evitar o fenómeno da erosão (ver figura 5.12).

Figura 5.12: Diagnóstico da vegetação existente na área continental do PNMFT.

Fonte: GoogleEarth, maio de 2008.

Ainda segundo Roja (2002), no pátio central do Forte Santo Inácio de Loyola observam-se algumas espécies frutíferas (mangueiras, cajueiro, coqueiros e mamoeiro). Próximo ao Farol, existe um pequeno jardim com palmeiras, figueiras e hibiscos. A autora também observou o cultivo de mandioca, feijão, milho e mamoeiros dentro do Forte, próximo à antiga casa do faroleiro. Esse cultivo ocorre devido a falta de controlo por parte da Marinha e/ou Prefeitura e pelo estado de abandono que encontra-se a área continental do Parque.

138