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O percurso da investigação: os métodos

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA

4.3 O percurso da investigação: os métodos

Segundo Lakatos (1991a), o método científico é um conjunto de actividades sistemáticas e racionais que possibilita alcançar os objectivos, conhecimentos válidos e verdadeiros, delineando o caminho a ser seguido, descobrindo possíveis erros e auxiliando as decisões dos pesquisadores.

Fachin (2003:27) define método como:

“um instrumento do conhecimento que proporciona aos pesquisadores, em qualquer área de sua formação, orientação geral que facilita planejar uma pesquisa, formular hipóteses, coordenar investigações, realizar experiências e interpretar resultados”.

Para Carvalho (2002), o método científico é a habilidade de interrogar a natureza dos fenómenos, possibilitando o ordenamento dos factos de forma lógica, coerente e objectiva, explicando e reproduzindo os factos empíricos.

Segundo Cavalcanti (2007), a técnica é a maneira na qual o pesquisador vai seguir durante o percurso da investigação. O método é estável e indica o que fazer, enquanto as técnicas são variáveis e indica como fazer. Assim, o método é entendido como a estratégia para se chegar aos resultados.

Dessa forma, existem vários tipos de métodos, de acordo com a natureza específica de cada problema de investigação que se queira desenvolver. De acordo com Gil (1999) e Vergara (2000), os métodos podem ser ordenados em três grupos: métodos que propiciam a base lógica da investigação; métodos que identificam o intuito da pesquisa e projecto da pesquisa; e meios de investigação.

Dentre os métodos existentes, o que proporciona a base lógica da presente investigação é o método indutivo. Para Cavalcanti (2007), o método indutivo parte do particular,

97 onde a generalização é um produto subsequente do trabalho de colecta de dados particulares. Assim, a generalização não é procurada inicialmente, mas surge como uma constatação a partir das observações feitas em casos concretos que confirmam a realidade investigada. Os empiristas Bacon, Hobbes, Loke e Hume propõem esse método, pois vêem que o conhecimento é fundamentado na experiência e não em princípios preestabelecidos.

Dessa forma, a análise da gestão do Parque Natural Municipal do Forte de Tamandaré, no que diz respeito aos conflitos e às redes de relacionamento, correspondeu ao objecto de investigação a ser estudado.

Utilizou-se também a estratégia correspondente ao método hipotético-dedutivo, partindo da percepção de uma lacuna nos conhecimentos, onde são formuladas hipóteses, e depois testadas a predição da ocorrência dos fenómenos abrangidos pelas hipóteses (Carvalho, 2002). Ou seja, o método hipotético-dedutivo aceita premissas cuja verdade será testada posteriori (Hegenberg, 1976). Assim, o método hipotético-dedutivo preocupa-se em buscar evidências empíricas para derrubar as hipóteses da investigação (Cavalcanti, 2007).

Em relação aos métodos que identificam a finalidade das investigações, Vergara (2000) enumera um conjunto de métodos: pesquisa exploratória, descritiva e explicativa. Em relação a finalidade da presente investigação, o método da pesquisa é explicativa.

Para Cavalcanti (2007:22), a pesquisa explicativa procura identificar os factores determinantes, para além de o descrever. É um tipo que pesquisa que busca identificar o porquê das coisas. Jung (2003) afirma que esse tipo de investigação procura esclarecer e justificar os motivos pelos quais ocorre o facto, tentando comprovar quais factores contribuem para a ocorrência do fenómeno investigado. Procura acrescentar generalizações, compor sistemas e modelos teóricos, relacionar e gerar novas hipóteses decorrentes de dedução lógica, exigindo síntese e reflexão.

Quanto ao delineamento da investigação, Gil (1999) o considera como o planeamento da pesquisa, que envolve tanto o esboço como a previsão de análise e interpretação dos dados investigados. Assim, o delineamento compreende o ambiente onde os dados são

98 colectados e as maneiras de controlo das variáveis envolvidas na investigação. Esse método define os meios de investigação, possibilitando confrontar a teoria do problema estudado com os dados reais.

Gil (1999) define dois grupos de delineamento da investigação: as fontes de papel (pesquisa bibliográfica e documental); e os dados fornecidos por pessoas (pesquisa experimental, pesquisa ex-pos-facto, levantamento, pesquisa de campo e estudo de caso). Dentre estes delineamentos, os utilizados na presente investigação serão pormenorizados na próxima secção.

Muito embora o método científico seja uma amálgama de estruturas racionais, Souza (2006) considera que dedicar-se a um projecto científico, para além das suas caracterizações ordenadas, dos procedimentos regulares, da orientação racional, das regras e hipóteses, é também estar imbuído de uma identificação pessoal com o tema investigado. Não se deve confundir com um processo emotivo, provocando tendências aos resultados, mas sim, motivações para a investigação, induzindo tomada de decisões bem acertadas, curiosidade sem limites e aumentando assim a percepção sobre o fenómeno investigado. É na verdade a crença permanente dos objectivos propostos e a persistência diante das dificuldades e obstáculos existentes no percurso da investigação, motivações basilares que dá vida ao trabalho realizado.

Com essas considerações iniciais, o trabalho desenvolveu-se com o grande interesse do investigador pelo eixo temático das áreas naturais protegidas. Principalmente pelos trabalhos já desenvolvidos, pelo mesmo na área em estudo e pela vontade de ver um modelo sustentável de gestão de áreas protegidas que seja realmente aplicável e participativo. Sendo assim, as principais etapas da investigação e os métodos utilizados para a recolha e análise dos dados aparecem descritos detalhadamente nos pontos seguintes deste capítulo.

4.3.1 Pesquisa bibliográfica e documental.

A descrição das fontes documentais utilizadas é de extrema importância na investigação, pois, a partir das fontes documentais, efectua-se o estudo exploratório sobre o tema de investigação em termos de produção científica, através da escolha das

99 publicações relevantes e na sistematização dos assuntos que serão abordados na investigação, no âmbito da revisão de literatura. Essa fase propicia delinear os objectivos da investigação e a construção das hipóteses de pesquisa (Souza, 2006). A pesquisa bibliográfica é caracterizada por Cavalcanti (2007) como um estudo sistematizado através de materiais já elaborados como, por exemplo, os livros e artigos científicos. Segundo Cervo e Berviam (2002), a pesquisa bibliográfica procura explicar um problema segundo referências teóricas publicadas em documentos, podendo ser efectuada independentemente ou como parte de uma pesquisa descritiva ou experimental. O objectivo de utilização desse método é conhecer e examinar as contribuições científicas e/ou culturais passadas e existentes sobre o problema em estudo, como também explorar novas áreas onde os problemas não foram bem esclarecidos, permitindo assim um complemento na análise das informações investigadas.

Sendo considerada como o primeiro passo essencial em projectos de pesquisa, a pesquisa bibliográfica pode distinguir-se em dois tipos distintos de fontes: primária (colectadas em materiais originais que originaram outros estudos) e secundária (que são as obras já publicadas) (Cavalcanti, 2007).

Já a pesquisa documental diferencia-se da pesquisa bibliográfica por constituir-se de materiais que ainda não receberam nenhum tipo de tratamento analítico. Como exemplos podemos citar os documentos conservados no interior de órgãos públicos e privados, pessoas que podem gerar informações para o pesquisador, entre outros (Cavalcanti, 2007).

Para a presente investigação, foram utilizadas as duas fontes documentais, possibilitando uma maior abrangência do tema pesquisado, destacando-se as actas das reuniões do COMDEMA, que possibilitou o acompanhamento de todo o processo de criação e gestão do Parque Natural Municipal do Forte de Tamandaré (PNMFT), como também a postura das organizações que interferem nesta área protegida.

Constituíram-se também como importantes recursos aos estudos exploratórios desta pesquisa o acervo das Bibliotecas da Universidade de Aveiro e do Instituto Superior de

100 Contabilidade e Administração de Aveiro, principalmente nas áreas da Gestão, Meio Ambiente, Sociologia, Filosofia, Economia, Turismo e Psicologia. Tendo em vista a evolução do conhecimento, para além dos livros e teses consultadas, as revistas científicas foram de grande importância para a actualização de informações recentes voltadas para o eixo temático da investigação.

Para além dessas fontes, o advento da Internet permitiu consultas rápidas e actualização constante durante toda a investigação, tendo sido um recurso essencial à fase exploratória, como também uma ferramenta de comunicação com outros autores e pesquisadores da área, principalmente do Brasil.

4.3.2 Estudo de caso.

Segundo Gil (1999), estudo de caso é o estudo intenso e exaustivo de um ou vários objectos, possibilitando um amplo e pormenorizado conhecimento. Para Yin (2005), é uma investigação empírica, pois investiga um fenómeno contemporâneo no seu contexto real, mesmo quando os limites entre o contexto e o fenómeno não são claros. Assim, Mazzotti (2006) salienta que o estudo de caso não é um estudo histórico, mas que pode recorrer a factos passados para compreender o presente.

Yin (2005) também ressalta que a investigação de estudo de caso enfrenta mais variáveis de interesses do que de pontos de dados, resultando em várias fontes de evidências com dados convergindo de forma triangular, além de se favorecer de proposições teóricas para conduzir a recolha e análise de dados.

Assim, Chizzotti (2006:102) afirma:

“o estudo de caso é uma caracterização abrangente para designar uma diversidade de pesquisas que coletam e registram dados de um caso particular ou de vários casos a fim de organizar um relatório ordenado e crítico de uma experiência, ou avaliá-la analiticamente, objetivando tomar decisões a seu respeito ou propor uma ação transformadora”.

Segundo Yin (2005:19) existem diversas maneiras para se realizar uma pesquisa, dependendo das seguintes condições: “tipo de questão da pesquisa, o controle que o

101 pesquisador possui sobre os eventos comportamentais efectivos, o foco em fenómenos históricos, em oposição a fenómenos contemporâneos”. Tratando-se de estudo de caso, geralmente colocam-se questões do tipo “como” e “por que”, e o pesquisador possui pouco controle sobre os fenómenos investigados.

Dessa forma, Martins e Santos (2003) afirmam que investigar é examinar uma situação em profundidade procurando descobrir todas as variáveis importantes para a pesquisa, exigindo um trabalho detalhado e com um período de tempo relativamente grande. Segundo alguns autores (Fidel, 1992; Yin, 2005; e Hartley, 1994), o estudo de caso é considerado adequado quando:

- Existe uma grande diversidade de factores e relacionamentos; - Os factores e relacionamentos são observáveis;

- Para testar uma hipótese ou teoria antecipadamente explicada; - É uma investigação (situação) única e reveladora;

- Compreender os processos sociais num contexto organizacional ou ambiental; - Explorar diferentes processos ou comportamentos podendo gerar hipóteses e teorias; - Identificar factos na vida organizacional, onde a pesquisa quantitativa não seria capaz de reconhecer.

Quanto a modalidade de estudo de caso, Stake (2000) identifica três tipos: intrínseco, instrumental e colectivo. Já Yin (2005) divide em único ou múltiplo. Para a presente investigação optou-se pela modalidade instrumental e/ou única. Tratando-se de um estudo de caso instrumental, o interesse é baseado na convicção de que a investigação possibilitará uma compreensão mais ampla do tema/problema estudado, podendo prover

insights ou contradizer uma generalização já aceite. E o estudo de caso único representa

uma verificação da teoria actual, uma circunstância incomum ou um caso inédito (Cavalcanti, 2007).