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Gestão sustentável de Parques brasileiros

CAPÍTULO 1 ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS

1.5 Gestão de áreas naturais protegidas no Brasil

1.5.1 Gestão sustentável de Parques brasileiros

Segundo a World Wildlife Foundation - WWF (2000; citado por Costa, 2002), foi observado que dos parques nacionais criados até o ano de 2000, mais de 50% só existiam de facto no papel. Identificou-se que grande parte destes parques nunca foi implantado, alguns não possuem funcionários nem equipamentos adequados para o funcionamento sustentável da área, outros nunca tiveram suas terras legalmente demarcadas, dentre outros problemas.

Na busca de unir a conservação e o desenvolvimento nas áreas naturais protegidas, observou-se nas últimas décadas o incremento do uso recreativo, educacional e sobretudo turístico, modificando os conceitos de gestão. Criou-se então os programas de uso público estruturados de acordo com as categorias e os objectivos de gestão que subsidiaram os critérios de usos e infra-estruturas. Contudo, na tentativa de colocar o turismo como a redenção económica dos parques, muitas vezes os objectivos de gestão destas áreas são desrespeitados, existindo categorias completamente descaracterizadas com os objectivos de sua criação (Faria & Pires, 2007).

As apetências das áreas naturais protegidas para a actividade turística é um factor que influencia directamente estes espaços, seja pelos impactos positivos ou negativos. Sendo estas áreas detentoras de grandes belezas naturais, tornam-se atractivas para o desenvolvimento desta actividade representando um importante factor de rentabilidade económica. De entre as categorias de áreas protegidas mundialmente, os parques se destacam no fomento da actividade turística. Existem vários autores que discorrem sobre esse tema, principalmente na definição dos conceitos do turismo. Contudo, a definição do conceito é polémica, e o que importa para a presente investigação é saber que o uso turístico nas áreas naturais protegidas podem contribuir para os objectivos da

31 área, mas podem também causar graves impactos, caso não haja planeamento e controlo (Costa, 2002; Oliveira, 2005; e Faria & Pires, 2007).

Segundo Costa (2002), os usos dos recursos naturais devem ser vistos sob ópticas distintas, diferenciando os usos turísticos dos usos da população local. Essa distinção é necessária para que o planeamento e a gestão sejam adequados a cada público, trazendo benefícios para a área protegida. Assim, o desenvolvimento sustentável deve ser orientado por necessidades essenciais, presentes e futuras, mas também pela limitação. Dentre as categorias brasileiras de áreas naturais protegidas, as reservas particulares do património natural, as áreas de protecção ambiental e os parques são as que mais contribuem para o incremento do turismo em áreas protegidas. Um reflexo dessa importância foi a publicação do IBAMA em 2000, a nível federal, do “Programa de Uso Público e Ecoturismo em Parques Nacionais: oportunidades de negócios”. Esse programa teve o objectivo de possibilitar investimentos em parques brasileiros descentralizando a gestão destes espaços protegidos (Costa, 2002).

Sendo assim, a gestão de serviços voltados ao atendimento dos visitantes em parque efectuados por ONGs já é uma realidade, embora necessite de estudos relacionados ao planeamento, implementação e gestão destes usos, compatíveis com os objectivos de cada área natural protegida. Um documento legal, de fundamental importância para a gestão dos usos numa área natural protegida é o plano de manejo, como mencionado anteriormente. As áreas protegidas que ainda não possuem esse plano não poderão gerir correctamente a área e consequentemente seus usos, inclusive os turísticos. Decorrente da inexistência de planos de manejo, são poucos os investimentos públicos nas áreas protegidas brasileiras (Costa, 2002).

Quando for permitida a visitação nas áreas naturais protegidas, como nos parques, a gestão da área deve abordar a interpretação ambiental, procurando passar para o visitante os porquês da existência da área, seus objectivos, valores e benefícios, como também a sua história e a importância da interacção com a sociedade (Faria & Pires, 2007). Essa é uma forma de gerir os usos de forma compatível com os objectivos da área.

32 A tradição de interpretar o património é estimular as diversas formas de olhar e aprender algo novo, mostrando o valor único de cada ambiente, de cada ser vivo, estabelecendo assim uma comunicação com o visitante. O olhar do visitante procura encontrar a peculiaridade do lugar, seus símbolos e significados. Assim, interpretar é descobrir, descortinar significados, fazer sentir emoções. Para agregar valor ao produto turístico (como por exemplo os parques), deve-se investir na interpretação do património, valorizando o ambiente natural, a história, os saberes tradicionais, a cultura, etc., diversificando assim o produto e abrindo novos nichos de mercado. No Brasil, existe muito mais do que sol e praia, contudo deve-se desenvolver a preservação e a interpretação dos bens culturais, convencendo as pessoas do valor do património e da importância de conservá-lo. Essa é a essência da interpretação (Murta & Albano, 2002). Sendo assim, Murta e Albano (2002:13) explica que:

“A interpretação do património, em sua melhor versão, cumpre uma dupla função de valorização. De um lado, valoriza a experiência do visitante, levando-o a uma melhor compreensão e apreciação do lugar visitado; do outro, valoriza o próprio património, incorporando-o como atração turística”.

Mesmo existindo um programa de interpretação do património em áreas naturais protegidas, caso não haja um permanente controlo, a visitação pode gerar uma série de impactos negativos na fauna e na flora (erosão, extinção de espécies, perturbação no acasalamento e migração da fauna, etc.), como também afectar a (in) satisfação do visitante. Para isso, saber a capacidade de suporte das áreas sob visitação é fundamental para a gestão sustentável dos ecossistemas (Cifuentes, 1992 e FAO/PNUMA, 1992). Grande parte dos visitantes nos parques nacionais não fica satisfeito apenas com a contemplação da natureza, sendo necessária uma maior integração com o ambiente, através do contacto directo, na sua maioria pela prática de desporto de várias categorias (caminhada, montanhismo, escalada, ciclismo, mergulho, etc.). Porém, algumas actividades de desporto podem causar impactos à área protegida, sendo divididas em 3 grupos, de acordo com o grau do impacto: de baixo impacto, de médio impacto e de alto impacto. Assim, a prática de desporto, apesar de proporcionar recursos à área protegida, deve ser restritiva aos espaços considerados seguros e permitidas no plano de manejo da área (Costa, 2002).

33 Os recursos obtidos pelas áreas de protecção integral, onde se destacam os parques, através da cobrança de taxa de visitação ou decorrentes de outros tipos de arrecadação, serviços e actividades desenvolvidas dentro da área devem ser aplicados, segundo o SNUC, da seguinte forma (Brasil, 2000:16-17):

“até cinquenta por cento, e não menos que vinte e cinco por cento, na implementação, manutenção e gestão da própria unidade; até cinquenta por cento, e não menos que vinte e cinco por cento, na regularização fundiária das unidades de conservação do Grupo; até cinquenta por cento, e não menos que quinze por cento, na implementação, manutenção e gestão de outras unidades de conservação do Grupo de Proteção Integral”.

Como mencionado acima, os usos turísticos em áreas naturais protegidas são condicionados ao volume humano que a área pode suportar. Existem várias metodologias para calcular esse volume, definido como “capacidade de carga” ou “capacidade de suporte” (Costa, 2002). De acordo com Garcia e Delgado (1998), “capacidade de carga é um conceito relativo que envolve diferentes considerações e

juízos científicos, apresentando uma gama de valores os quais devem ser associados aos objetivos de manejo específicos para dada área”.

Tratando-se da capacidade de carga turística em áreas protegidas, grande parte dos estudos leva em conta os seguintes itens: tamanho e espaço utilizado pelos turistas; topografia, hidrografia e relevo; fragilidade do ecossistema; existência e características dos recursos naturais; comportamento das espécies animais com o uso turístico; percepção ambiental dos visitantes; infra-estrutura e facilidades existentes para os turistas (Costa, 2002).

Controlar a demanda e a limitação do uso público num espaço protegido auxilia na manutenção, como também no ganho social, advindo da utilização correcta do tempo de estadia do visitante na área. A mensuração e a avaliação das limitações desses usos ainda não são uma prática comum no Brasil. Todavia, para um estudo detalhado do uso público devem ser utilizadas fórmulas específicas facilitando as escolhas acertadas para controlar e minimizar os efeitos desse uso, mas deve-se ressaltar que essas fórmulas são instrumentos geradores de dados, sendo necessários ser avaliados, como também analisados junto com as características de cada área (Costa, 2002).

34 Para que haja uma gestão adequada, deve haver um planeamento ambiental baseado nas possibilidades da área, utilizando instrumentos como o zoneamento, plano de manejo, entre outros (Costa, 2002). Além disso, deve-se integrar a comunidade local através das actividades de educação ambiental, minimizando as possíveis pressões e conflitos com a área protegida, além de fomentar a sua participação em projectos sustentáveis, que reúnem viabilidade económica e a protecção e preservação do ambiente (Faria & Pires, 2007).