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Uso, ocupação e principais actividades na área do PNMFT

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DE DADOS I – ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO PARQUE

5.4 Caracterização da área do PNMFT

5.4.3 Uso, ocupação e principais actividades na área do PNMFT

9 Edificações.

As edificações existentes na área do parque consistem no Forte Santo Inácio de Loyola e na Capela que se encontra no seu interior. Nesta área encontra-se também o antigo cemitério da cidade, que hoje está desactivado e em total estado de abandono, tendo sido mesmo saqueados os muros exteriores e sepulturas. Na orla marítima do parque, ainda se podem encontrar barracas de plástico e metal cujos proprietários utilizam como pontos de venda de bebidas e comidas aos turistas que por ali passam (ver figura 5.13).

Figura 5.13: Edificações na área do PNMFT – Forte, capela, antigo cemitério e barracas.

Forte e Capela de Santo Inácio de Loyola

Cemitério antigo (desactivado)

Barracas na orla

Fonte: Adaptado do GoogleEarth, Maio de 2008.

O Forte e a Capela de Santo Inácio de Loyla são as únicas edificações de grande porte na área de abrangência do PNMFT. Ressaltando o farol, dentro da Fortaleza (ver figura 5.14).

139 Figura 5.14: Foto aérea do Forte e Capela de Santo Inácio de Loyla.

Fonte: Rede Globo Nordeste/Projecto Recifes Costeiros, 2006.

Como relatado acima, existem também algumas barracas de bebidas e comidas próximas à faixa de areia, mas que não são edificações fixas (ver figura 5.15). São barracas (tendas) cobertas com tectos de plástico, que estão fixadas na área para demarcar o local de cada proprietário. Estes são conhecidos localmente como os “barraqueiros do Forte”. Normalmente estes barraqueiros já trabalharam noutras áreas da orla do município de Tamandaré mas foram recolocados, pela Prefeitura Municipal, a cerca de 15 anos atrás, na área do parque quando esta área ainda não era protegida por lei.

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Fonte: Estima, 2007.

Para além das barracas, também existe uma estrutura precária de madeira que é utilizada como instalações sanitárias pelos visitantes (ver figura 5.16). O proprietário é um dos barraqueiros e cobra uma taxa para o seu de uso, mesmo não possuindo qualquer licença do órgão competente estadual.

Figura 5.16: Instalações anitárias na área do PNMFT.

Fonte: Estima, 2007.

Existem actualmente 32 barracas cadastradas na Associação dos Barraqueiros do Forte – ASBAF, porém existem alguns comerciantes que não são cadastrados e que estão instalados na área. A baixa renda destes comerciantes é reflectida directamente na estrutura precária das barracas e na qualidade do serviço prestado. Neste contexto, é necessária a padronização, qualificação e fiscalização destas barracas como também do comércio ambulante, através de registo e capacitação. Nesta perspectiva, o Projecto Recifes Costeiros realizou capacitações, por intermédio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (SEBRAE), cujo objectivo foi integrar a comunidade local ao parque, para que os mesmos possam prestando serviços de qualidade e de acordo com as normas de uso da área protegida.

Existem eventos específicos realizados na área do PNMFT onde são instalados edificações provisórias. Isso ocorre na época da comemoração do Santo Inácio de Loyla onde é comum verificar a instalação de edificações na área do parque para, por exemplo, celebrar a missa ao ar livre, como também barracas de artesanato e comidas

141 típicas. Ocorrem também eventos ligados à educação ambiental e resgate da cultura local, como a “Regata dos Jangadeiros de Tamandaré”. E também eventos de verão, em que são colocadas grandes estruturas e muitas vezes sem as licenças necessárias dos órgãos competentes (Figura 5.17).

Figura 5.17: Edificações e estruturas móveis na área do PNMFT (Festa de Santo Inácio de Loyla/Regata Ambiental de Tamandaré/Eventos de Verão).

Fonte: Estima, 2005-2007.

9 Emprego e renda.

O emprego existente na área de estudo é gerado pelo comércio das barracas (tendas) e dos ambulantes (pessoas que vendem objectos ou comidas livremente sem pagar impostos). Estes comerciantes vendem alimentos da culinária regional, bebidas alcoólicas e não-alcoólicas (ver figura 5.18). No verão, principalmente nos meses de Dezembro à Fevereiro, são colocadas tendas na entrada do Forte para venda de artesanato local. Além de um comércio desorganizado e sem controlo, o que se observa é uma grande disputa entre os barraqueiros e os ambulantes para trabalharem naquela área (Estima, 2004). Embora esse assunto já tenha sido discutido várias vezes no COMDEMA, as pequenas acções por parte da Prefeitura Municipal de Tamandaré não surtiram efeito, continuando o conflito na área protegida (PMT, 2003-2008).

142 Figura 5.18: Barraqueiros e ambulantes na área do PNMFT.

Fonte: Estima, 2007.

Conforme já mencionado, a pesca também é fonte de sustento para a comunidade local, mas em pequena escala, visto que grande parte dos pescadores que a utilizam é apenas para consumo próprio e venda local. Todavia, existem pessoas que desrespeitam a lei e tentam pescar dentro da “área fechada”. Eles infringem a lei, pois sabem que nesta área existem peixes de grande porte e com maior valor no mercado. Essa situação já causou vários conflitos nos primeiros anos de implantação da área de recuperação do ambiente recifal, levando alguns dos infractores à prisão. Contudo, actualmente não tem ocorrido nenhuma infracção, demonstrando a mudança de postura da comunidade local relacionada a preservação do ambiente no município.

9 Uso público da área terrestre do parque.

Tendo em vista o elevado número de pessoas que frequentam a área terrestre do PNMFT nos fins de semanas, foi realizado em 2004 uma pesquisa, a nível de especialização e com apoio do Projecto Recifes Costeiros, para identificar o uso público desta área protegida. As informações decorrentes deste estudo foram fundamentais para o planeamento inicial de medidas de implementação e gestão desta área protegida junto à Prefeitura, COMDEMA, FUNDARPE, PRODETUR e a Marinha do Brasil.

143 Segundo Estima (2004), nos finais de semana, a área terrestre do PNMFT é utilizada por um número elevado de visitantes. Observou-se que em alguns domingos, dia de maior visitação, viram mais de 50 autocarros, com aproximadamente 50 passageiros cada autocarro. Durante o período de Outubro a Dezembro de 2003, registou-se cerca de 351 autocarros estacionados na área do Parque. Além destes veículos, também foram identificados carros de passeio. Na época da pesquisa, estes veículos ficavam estacionados na parte de trás do Forte Santo Inácio de Loyola, próximo às barracas. Mas observaram-se também veículos estacionados próximos da área do antigo cemitério. Observou-se que o facto de não haver um estacionamento (parque) específico e adequado na área do parque, vários veículos estacionam em locais impróprios, como é o caso de carros que estacionam em cima da restinga (vegetação nativa) após a faixa de areia (ver figura 5.19). A restinga serve de protecção natural contra a erosão do mar e o estacionamento de carros destrói o pouco que ainda resta desta vegetação na área em estudo (Estima, 2004).

Figura 5.19: Veículo estacionado em cima da restinga.

Fonte: Estima, 2003.

Para além da degradação ambiental, ainda existe o risco de acidentes envolvendo banhistas que circulam na área do parque, principalmente as crianças. Outro impacto também observado neste estudo, foi o causado pelos autocarros que ficam estacionados próximos das barracas. Como alguns autocarros possuem “W.C.”, os motoristas despejam os dejectos no local onde estão estacionados. Este mesmo local é utilizado

144 pelos visitantes para recreio e, durante a semana, é mesmo utilizado pela comunidade local para jogar futebol (ver figura 5.20) (Estima, 2004).

Figura 5.20: Impactos causados pelos autocarros (autocarros estacionados próximos às barracas/despejo de dejectos pelos autocarros/uso da comunidade local na área).

Fonte: Estima, 2003.

Como consequência dessa pesquisa, tentou-se organizar uma área específica para o estacionamento dentro do parque, que ficou na área próxima à Escola Municipal Almirante Tamandaré. Para além disso, foi colocado uma corrente impedindo os veículos de entrarem na área do Parque, com excepção dos veículos de recolha de lixo, descarga de mercadorias e da polícia militar. Mesmo tendo estabelecido uma área apropriada, e como não há fiscalização, ainda se observam veículos circulando e estacionando em toda a área do Parque.

Ainda segundo a pesquisa, o facto da grande maioria dos autocarros não estarem regulamentados segundo as normas de trânsito brasileira, eles chegam à área do parque ainda de madrugada, quando não existe nenhum tipo de controlo e fiscalização. Para além disso, a existência de outros veículos revela que os visitantes que frequentam a área não se restringem apenas às pessoas que vem em grupos organizados (excursões/turismo de massa). Esses visitantes, embora tenham o mesmo objectivo de lazer, podem possuir formas distintas de locomoção e poderão ter outras necessidades de infra-estrutura na área do parque (Estima, 2004). Para ordenar esses usos deve-se estabelecer as limitações da área protegida, implementar infra-estruturas básicas e turísticas, estabelecer horários para visitação, como também campanhas de educação ambiental no intuito de facilitar a gestão da área e a preservação do património local. De acordo com o acompanhamento do número de autocarros na área do PNMFT (no ano de 2003), pode-se estimar que o número de visitantes no local aos domingos, dia de maior visitação, é de aproximadamente 2.500 visitantes. Esses visitantes procuram a

145 área do PNMFT para lazer (sol e mar) ficando concentrados na parte inicial do mar, na faixa de areia e nas barracas. Como não há infra-estruturas adequadas, muitos procuram abrigo debaixo dos coqueiros (ver figura 5.21) (Estima, 2004).

Figura 5.21: Visitantes na área do PNMFT.

Fonte: Estima, 2003.

Também foi observada, na referida pesquisa, a falta de conhecimento da comunidade local e visitantes em relação ao Forte Santo Inácio de Loyola e sua importância histórica para o município de Tamandaré e para o Estado de Pernambuco. Esse dado foi relacionado com a inexistência de divulgação por parte da gestão do Parque, do município e/ou do Estado. Sendo enfatizada a necessidade de implantação de um programa de interpretação do património existente no Parque buscando proporcionar uma vivência adequada da área protegida, fazendo o elo entre o passado, o presente e o futuro (Estima, 2004).

Um tópico abordado nesta pesquisa foi a percepção dos visitantes entrevistados em relação às melhorias necessárias na área do Parque. Dentre as medidas sugeridas destacam-se: a implantação de áreas para lazer; nadador salvador; eventos na área; organização das barracas; distribuição de sacolas de lixo; realização de campanhas de sensibilização; organização do estacionamento; policiamento; melhorias na qualidade do atendimento dos barraqueiros; proibir o estacionamento na faixa de areia; divulgação do local e do município como um todo; proibir animais e a prática do futebol na faixa de areia (Estima, 2004).

Quanto à forma de utilização do Parque pela comunidade local, além do lazer (praia e desporto) é também muito utilizada como passagem. Embora estes usos tenham sido identificados no final do ano de 2003, ainda hoje permanece da mesma forma (ver figura 5.22).

146 Figura 5.22: Uso da comunidade local na área do PNMFT.

Fonte: Estima, 2007.

Dessa forma, o uso público existente na área do PNMFT ocasionam vários impactos sócio-ambientais. Além da segurança dos visitantes, do impacto na vegetação local, também geram um grande volume de lixo que é espalhado por toda a área do Parque. Como a colecta dos resíduos é realizada uma vez por semana, às segundas-feiras, os comerciantes tentam limpar para deixar a área mais agradável, mas no final do dia o lixo gerado fica espalhado por todo lado (ver figura 5.23).

Figura 5.23: Lixo espalhado na área do PNMFT gerado pelos usuários.

Fonte: Estima, 2007.

As descrições colocadas de acordo com essa pesquisa do uso público, realizada na área do parque nos anos de 2003 e 2004, ainda permanecem actuais, com algumas ressalvas: - O número de visitantes na área diminui significativamente;

147 - Os autocarros já não estacionam próximo das barracas, o que gera grande descontentamento por parte dos barraqueiros, que alegam que essa acção diminuiu o número de visitantes na área;

- Ainda não foi realizado nenhum tipo de campanha de educação ambiental ou cultural; - Como também nada foi feito em relação à infra-estrutura turística.

Uma alusão deve ser feita aos eventos ocorridos no verão na área do PNMFT, tendo em vista os conflitos decorrentes que influenciam directamente na gestão desta área protegida. Todos os anos, nos meses de verão (Dezembro à Fevereiro), a Prefeitura Municipal de Tamandaré fecha acordos com empresas de eventos para a realização de shows musicais na área do parque. Contudo, em nenhuma vez a Prefeitura consultou antecipadamente o COMDEMA, visto que o mesmo é o conselho gestor da área protegida. Essa falta de coordenação e respeito para com o conselho tem gerado, durante anos consecutivos, grandes conflitos. Para exemplificar, no ano de 2007 o Prefeito criou um Decreto Municipal cujo objectivo foi acabar com a área protegida (PNMFT) para que assim o evento pudesse ocorrer na área do parque. Mesmo que o Ministério Público Estadual e Federal intervenha nessa questão, anos após anos o mesmo facto ocorre, acentuando a inoperância da gestão participativa desta área natural protegida (PMT, 2003-2008).

Perante o exposto, observa-se também o desconhecimento por parte dos envolvidos, sobre a legislação brasileira, onde se estabelece que toda área protegida só pode ser desfeita (desconsiderada) através de lei, seja ela federal, estadual ou municipal. São exemplos como esse que demonstram o grau dos conflitos ligados ao PNMFT, dificultando a gestão sustentável desta área natural protegida.