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Domínios, responsabilidades e gestão do PNMFT

CAPÍTULO 5 – ANÁLISE DE DADOS I – ANÁLISE E AVALIAÇÃO DO PARQUE

5.8 A gestão do PNMFT

5.8.1 Domínios, responsabilidades e gestão do PNMFT

O PNMFT está inserido nas Áreas de Proteção Ambiental Costa dos Corais (Federal) e de Guadalupe (Estadual) onde a gestão está a cargo do Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA) e da Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH). A área Federal possui maior poder legal, onde as demais esferas, Estadual e Municipal, devem ser mais restritivas (ver capítulo 01).

Quanto à capacidade institucional e técnica, Tamandaré vem viabilizando e fortalecendo a formação de uma estrutura local para a gestão integrada do litoral Sul do Estado de Pernambuco. Ao longo desses anos, as experiências adquiridas no município indicam que a elaboração e implantação de um sistema de gestão ambiental assente em acções locais podem ser um modelo eficiente e auto-sustentável. Exemplo disso é a criação do COMDEMA de Tamandaré, actuando como entidade pró-activa na gestão ambiental municipal (FUNDARPE, 2005).

De acordo com o art. 3º do Decreto 013 de 10 de Setembro de 2003, o PNMFT terá sua gestão baseada nos princípios estabelecidos nas Leis Federais nº 9.985 de 18 de Julho de 2000, nº 9.605 de 12 de Fevereiro de 1998 e no Decreto Federal nº 3.179 de 21 de Setembro de 1999. O parque será administrado pela Prefeitura de Tamandaré juntamente com o COMDEMA, instituições que regulamentarão esta área natural protegida (ver figura 5.25) (PMT, 2003).

156 Figura 5.25: Estrutura de gestão do PNMFT.

PNMFT

COMDEMA PREFEITURA CONSELHO GESTOR DO PNMFT GESTOR DO PNMFT Fonte: Estima, 2008.

Para além disso, o Parque é um órgão integrante da Secretaria de Turismo, Comércio, Cultura e Meio Ambiente de Tamandaré, onde o seu gestor será sempre a pessoa que ocupar o cargo de Secretário (PMT, 2003). Esse é outro ponto de divergência entre os conselheiros, visto a necessidade de tempo por parte do gestor, como também a capacidade técnica necessária para ocupar um cargo que demanda conhecimentos em várias áreas de actuação.

Seguindo as normas do SNUC (veja capítulo 1), foi criado um conselho gestor para o PNMFT, composto por oito entidades que já fazem parte do COMDEMA de Tamandaré, a saber (PMT, 2003-2008):

- Governamentais – Prefeitura de Tamandaré, IBAMA, CPRH, e FUNDARPE;

- Não Governamentais – IRCOS, Fundação Gilberto Freyre, Associação dos Jangadeiros de Tamandaré e Associação dos Barraqueiros do Forte de Tamandaré.

De acordo com o COMDEMA, o conselho gestor do parque é de carácter deliberativo e actuará com as seguintes competências (FUNDARPE, 2005:20):

“Acompanhar a elaboração, implementação e revisão do plano de manejo do Parque Natural Municipal do Forte de Tamandaré; Buscar a integração do Parque Natural Municipal do Forte de Tamandaré com as demais unidades e espaços territoriais especialmente protegidos e com seu entorno; Esforçar-se para compatibilizar os interesses dos diversos segmentos sociais relacionados com o Parque Natural

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Municipal do Forte de Tamandaré; Elaborar o regimento interno do Parque Natural Municipal do Forte de Tamandaré; Avaliar e aprovar o orçamento, plano de gastos e relatório financeiro elaborado pela Secretaria Municipal de Turismo, Comércio, Meio Ambiente e Cultura; Ratificar a contratação e os dispositivos de contratos, convênios, ajustes, acordos e outros instrumentos a serem firmados com o Parque Natural Municipal do Forte de Tamandaré; Acompanhar a execução dos instrumentos citados no item anterior; Avaliar e aprovar obra ou atividade potencialmente causadora de impactos na área do Parque Natural Municipal do Forte de Tamandaré, em sua zona de amortecimento, mosaico ou corredores ecológicos; Aprovar o nome do coordenador do Parque Natural Municipal do Forte de Tamandaré”.

Embora tenha sido criado um grupo específico dentro do COMDEMA para ser o conselho gestor do PNMFT, foi acordado entre todos os conselheiros que ficava inviável a realização de reuniões mensais, fora das reuniões COMDEMA, para tratar apenas da gestão do Parque. Dessa forma, foi acordado e votado entre todos os conselheiros que, já que o COMDEMA é o conselho gestor, todas as informações relacionadas a essa área protegida seria pauta das reuniões ordinárias e extraordinárias do COMDEMA, onde todos têm poder de voto, sendo dessa forma uma gestão participativa (ver figura 5.26).

Figura 5.26: Organizações que fazem parte da gestão do PNMFT. PNMFT COMDEMA CAPITANIA PRODETUR ASBAF CEPENE ATOP FUNDARPE SIND. TRAB. RURAIS IRCOS PARÓQUIA PREFEITURA REBIO FGF CÂMAR A DOS VER APA DE  GUADALUPE APA COSTA CORAIS AHPREST AJT PREFEITURA PRIVADO PÚBLICO Fonte: Estima, 2008.

158 Tendo em vista o papel da Marinha do Brasil na gestão da área do PNMFT, a mesma foi convidada para ser conselheira no COMDEMA, fórum onde todos os assuntos relacionados com o parque são tratados. Contudo, a Marinha não aceitou, colocando-se apenas no papel de supervisionar as obras e instalações a serem executadas na área do parque e sua envolvente, de acordo com suas normas internas e com o Termo de Cessão da área tombada. Vale a pena ressaltar que a Marinha solicitou à Prefeitura de Tamandaré um representante para fazer o elo entre ela e o PNMFT. Assim o Prefeito, da época, determinou que esse representante seria a pessoa que assumisse o cargo de Secretário de Turismo, Comércio, Cultura e Meio Ambiente. Porém observa-se a inexistência de comunicação da Marinha com a Prefeitura, pelo menos de uma forma oficial e participada no COMDEMA (FUNDARPE, 2005; PMT, 2003-2008).

Segundo a Lei Municipal nº 072/99 que cria o COMDEMA, prevê-se a arrecadação de fundos provenientes de taxas, licenciamentos e multas ambientais que devem ser destinados à sustentabilidade das acções de gestão ambiental. Esses recursos devem ser administrados pelo Fundo Municipal de Meio Ambiente – FMMA, criado pelo Decreto Municipal nº 157 de 2000 (FUNDARPE, 2005).

Este é outro grande ponto de conflito entre os conselheiros do COMDEMA, pois mesmo existindo leis, o poder público não disponibiliza os recursos devidos para o FMMA, dificultando as acções ambientais deste órgão municipal. A existência de conflitos desse nível dificulta o encaminhamento de outras acções tratadas a nível do COMDEMA, conselho gestor do parque.

Estima-se que depois de finalizadas as obras de restauração do Forte e Capela de Santo Inácio e com o Parque em funcionamento de facto, haverá aporte de recursos provenientes da visitação e dos serviços ofertados como o estacionamento, produtos turísticos, passeios de jangadas, eventos, entre outros. Essa exploração comercial na área do Parque deverá ser permitida mediante processo de licitação pública, de acordo com as normas do SNUC (ver capítulo 1). Os recursos arrecadados destes usos e serviços devem ser depositados numa conta específica e geridos pelo conselho gestor, a fim de existir uma gestão participativa e transparente desta área protegida (FUNDARPE, 2005; PMT, 2003-2008).

159 Para assegurar uma gestão participativa do PNMFT, cabe ao gestor (Prefeitura) enviar anualmente ao conselho gestor o orçamento do parque para que haja um controlo externo ao executivo municipal. Cabe também enviar, trimestralmente, a este conselho o plano de gastos, acompanhado de relatório financeiro. Com base nestes documentos, fica a cargo do conselho gestor aprovar a efectuação dos gastos em relação ao Parque pelo executivo municipal. Contudo, essa prestação dos recursos utilizados na área nunca ocorreu, inviabilizando a gestão participativa e gerando sérios conflitos entre os conselheiros do COMDEMA (FUNDARPE, 2005; PMT, 2003-2008).

Ainda em relação à gestão do PNMFT, de acordo com o Decreto de criação desta área protegida, a Prefeitura poderá firmar convénios, contratos, ajustes e acordos com instituições públicas e privadas com o objectivo de desenvolver actividades e projectos de acordo com os objectivos do parque (PMT, 2003:3).

Como consequência da falta de diálogo entre a Prefeitura Municipal e o COMDEMA, o que se observa são acordos tratados apenas pela Prefeitura para desenvolver acções, muitas vezes incompatíveis com os objectivos da área protegida, sem o conhecimento deste conselho. Esse tipo de acção vem gerando ao longo de vários anos grandes conflitos entre as partes envolvidas, desgastando as relações existentes entre os actores envolvidos na gestão da área protegida (PMT, 2003-2008).

5.9 Conclusão.

Através da abordagem do processo de criação e dos usos do Parque Natural Municipal do Forte de Tamandaré foi possível compreender como funciona a gestão deste parque. Para além disto, possibilitou compreender como ocorreu a inserção dos actores envolvidos e a importância dos mesmos no processo participativo de gestão desta área protegida. Observou-se que o processo de criação e o uso público do Parque gerou, e ainda continua a gerar, grandes conflitos sócio-ambientais que interferem directamente na gestão da área inviabilizando a sua efectividade.

Notoriamente, mesmo possuindo uma base legal que regulamenta todo o processo de gestão do parque, o desrespeito às leis ocorre de forma corriqueira de acordo com os interesses pessoais e institucionais de cada actor (organização) envolvido na gestão da

160 área. Assim, os conflitos vão aumentando e desarticulando as acções de gestão do parque, sendo necessária a implementação de soluções urgentes. Nesta perspectiva, é que a presente investigação procura delinear um novo modelo de gestão de áreas naturais protegidas baseadas em redes, onde os conflitos são mediados através de uma estrutura transparente, participativa, colaborativa e democrática.

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CAPÍTULO 6 – ANÁLISE DE DADOS II - ANÁLISE E AVALIAÇÃO DA