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3. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

3.3. Desenho da investigação

Na sequência das opções de investigação atrás justificadas – investigação qualitativa, estudo de caso exploratório, pesquisa documental, entrevistas e observação participante – esboçou- se o seguinte para o trabalho de campo a empreender:

Seleção do caso

O propósito, objetivos e questões de investigação atrás definidos são genericamente aplicáveis a qualquer OSFL. Pelo que à partida qualquer OSFL ou conjunto de OSFL poderia servir para o estudo de caso. Contudo cada OSFL é um caso com especificidades próprias, o que no contexto em estudo tem relevância, pelo que a generalização de conclusões será mais fácil para o mesmo setor de atividade e mais difícil para as OSFL em geral. Assim a seleção de um caso típico ou representativo das OSFL serve os objetivos definidos, sabendo-se que o caso concreto, no contexto em estudo, terá sempre algo de raro ou extremo (Yin, 2003a; Denscombe, 2003; Vieira et al., 2009).

Um vez que à partida qualquer OSFL pode ser selecionada para o estudo de caso, conforme refere Denscombe (2003), o critério de seleção do caso pode descer a aspetos mais pragmáticos, como por exemplo o conhecimento prévio da organização, a facilidade de contactos, ou ainda o controlo de custos.

Na presente conjuntura para investigação, optou-se por realizar um estudo de caso único, com coincidência entre a unidade de análise – a OSFL – e o caso em estudo, com uma perspetiva holística sobre a organização (Yin, 2003a).

Assim, tendo em conta o conhecimento e experiência prévia do investigador, optou-se por realizar um estudo de caso ao Corpo Nacional de Escutas (CNE) uma OSFL portuguesa, cuja organização e atividade é apresentada com maior profundidade no Apêndice 4 (p. 298). Trata-se da maior associação de juventude em Portugal segundo o Registo Nacional de Associações Juvenis – RNAJ (IPJ, 2010)), tem implantações locais e regionais em todo o

território nacional, está integrada internacionalmente, baseia-se no voluntariado dos seus membros, a sua atividade – o escutismo – é sobejamente conhecida e prestigiada, sendo reconhecida de Utilidade Pública pelo Estado Português26 e tem quase noventa anos de

atividade consecutiva. Em Portugal no setor do escutismo e guidismo existem com representatividade três associações27. O CNE em termos de efetivo (e consequentemente de

atividade, implantação e impacto) é mais de sete vezes superior ao das outras duas juntas. Em termos internacionais é uma das maiores associações escutistas europeias e mesmo mundiais (WAGGGS, 2009; WOSM, 2009d), tem representantes nos órgãos internacionais do escutismo e tem sido referência internacional como exemplo de boas práticas (WOSM, 2010b). Deste modo o CNE surge como uma associação típica e representativa das OSFL, com um conjunto variado de stakeholders (que à frente se descrevem e apresentam), válida para realização da presente investigação através de um estudo de caso único (Yin, 2003a; Vieira et al., 2009).

A razão de existir das OSFL está na sua missão específica, sendo ela que as conduz estrategicamente (Drucker, 1989, 1990; Weisbrod, 1998; Sawhill e Williamson, 2001; Nonprofit Finance Fund, 2002), estas surgem fundamentalmente para suprir “falhas governamentais” ou “falhas do mercado” (Weisbrod, 1975; Kingma, 1997); ou ainda por razões ideológicas, religiosas, altruístas, caritativas e outras, com vista à oferta de bens e serviços específicos (Young, 1981; James, 1987; Ben-Ner e Van Hoomissen, 1991; Badelt, 1997). Assim, cada OSFL é um caso específico, com motivações e modos operatórios próprios. Esta realidade faz com que só dentro de um mesmo setor de atividade se possam identificar algumas semelhanças. O CNE não foge à regra, trata-se de uma associação que possui quatro níveis territoriais (nacional, regional, de núcleo e local), cada um com órgãos próprios (deliberativo, executivo, fiscalizador e jurisdicional) e forte autonomia de gestão entre eles; trata-se de uma organização ligada à Igreja Católica. Estas particularidades fazem com que o CNE seja um caso específico, com um conjunto próprio de stakeholders com interesses diversos nos quatro níveis da associação, relevante para apreciação particular, e digno de um estudo de caso único (Yin, 2003a; Vieira et al., 2009).

Para a OSFL escolhida, identificar-se-ão as principais categorias de stakeholders, para junto de cada uma destas categorias se recolherem os dados relevantes para a investigação. A abordagem será essencialmente empírica, procurando investigar um “fenómeno atual no seu contexto real”, tendo em conta uma realidade dinâmica e dando primazia à metodologia qualitativa (Yin, 2003a, 2003b).

26 Cf. Diário da República, II série, de 3 de agosto de 1983 (Despacho de 20 de julho de 1983).

27 Além do Corpo Nacional de Escutas (CNE) (www.cne-escutismo.pt), a Associação de Escoteiros de Portugal (AEP) (www.escoteiros.pt) e a Associação de Guias de Portugal (AGP) (www.guiasdeportugal.org/).

Técnicas de recolha de dados e fontes de evidência

Para a recolha de dados, conforme atrás delineada, fundamentalmente através de pesquisa documental e inquéritos por entrevistas (semiestruturadas), serão dados os seguintes passos:

1) Contacto com elementos da direção executiva do CNE, procurando identificar a sua perspetiva sobre as questões em apreço; nomeadamente quem são os stakeholders da organização e recolhendo desde já os contactos para futuras entrevistas. Esta fase é apoiada pelo estudo de documentação diversa sobre a organização.

2) Entrevistas a representantes das principais categorias de stakeholders identificados para a OSFL em estudo.

3) Envio aos stakeholders entrevistados, se possível por correio eletrónico, do relato da respetiva entrevista. Enviar também um documento com a síntese das respostas de outros entrevistados para que haja confronto e reflexão face às próprias respostas. Solicitar a emissão de comentários e de correções - adaptação do Método de Delphi (Rowe e Wright, 1999, 2001)28.

4) Por comparação e de modo indutivo29, como sugerido por Lakatos e Marconi (1991)

e Barañano (2004), verificar se existe alguma unidade ou relação nos critérios de avaliação do desempenho da organização apontados pelos diversos stakeholders abordados.

Para cada uma das questões de investigação secundárias, nas quais se subdividem as questões de investigação principais referidas atrás, as fontes de evidência a pesquisar e a respetiva justificação são sintetizadas na Tabela 5:

Tabela 5 – Fontes de evidência para as questões de investigação em estudo.

Questões de Investigação Fontes de Evidência Justificação 1 - Quais os vários tipos de

stakeholders da OSFL em estudo?

• Documentos internos ou públicos, disponibilizados pelo CNE ou sobre o mesmo; • Entrevista aos responsáveis

do CNE.

• A consulta de documentos relativos ao CNE permite identificar os respetivos stakeholders.

• A entrevista permite obter a identificação dos stakeholders a partir da opinião dos responsáveis do

28 O método Delphi permite analisar dados qualitativos. Através da realização de uma série de questionários o método identifica e sintetiza as opiniões de especialistas. Após a identificação do problema, é construído um questionário e este é apresentado individualmente a cada um dos elementos de um grupo de especialistas. Os resultados obtidos numa primeira ronda são agregados e depois entregues aos especialistas, para que estes possam reformular as respostas anteriormente apresentadas. Os especialistas repetem de uma forma anónima e independente a resposta ao questionário tendo em conta a compilação das respostas dos demais colegas especialistas. O número de rondas repete-se até se conseguir um razoável grau de consenso entre os especialistas

CNE, permite também confirmar uma listagem de stakeholders previamente elaborada com base na consulta de documentos. 2 - Qual a informação

identificada como relevante pelos stakeholders da OSFL na avaliação do desempenho e tomada de decisão face a esta?

• Entrevistas aos diversos stakeholders;

• Documentos internos ou públicos disponibilizados por cada stakeholder inquirido.

• As entrevistas permitem colocar as questões de investigação e discuti-las com os inquiridos. • A consulta de documentos, fornecidos pelos entrevistados ou de algum modo públicos (na internet ou noutro meio), complementa as respostas às entrevistas.

3 – Quais os principais critérios de avaliação do desempenho da OSFL, identificados por cada categoria de stakeholder?

• Entrevistas aos diversos stakeholders;

• Documentos internos ou públicos disponibilizados por cada stakeholder inquirido.

• As entrevistas permitem obter a resposta às questões de investigação.

• A consulta de documentos, fornecidos pelos entrevistados ou de algum modo públicos (na internet ou noutro meio), complementa as respostas às entrevistas.

4 - Quais os indicadores tidos como mais adequados, por cada categoria de stakeholder da OSFL, para avaliar o desempenho da organização no curto prazo? No médio e longo prazo? E no modo como os resultados foram ou serão atingidos (no que respeita à estratégia, aos recursos e ao processo)?

• Entrevistas aos diversos stakeholders;

• Documentos internos ou públicos disponibilizados por cada stakeholder.

• As entrevistas permitem obter a resposta às questões de investigação.

• A consulta de documentos, fornecidos pelos entrevistados ou de algum modo públicos (na internet ou noutro meio), complementa as respostas às entrevistas.

5 – Existe alguma uniformidade ou ligação entre os critérios e os indicadores apontados pelos diversos stakeholders da OSFL?

• Entrevistas aos diversos stakeholders;

• Documentos internos ou públicos disponibilizados por cada stakeholder.

Através da análise comparativa, das respostas dos diversos stakeholders e da documentação complementar tratada, pode-se concluir da possível uniformidade – ou não – de critérios e indicadores, de modo a identificar um conjunto destes, que sirvam simultaneamente os diversos stakeholders do CNE.

6 - Há ou não adaptabilidade das metodologias de avaliação de desempenho existentes (Balanced Scorecard, Performance Prism, Key Performance Indicators, Tableau de Bord) à prestação de informação para a avaliação do desempenho da OSFL pelos seus stakeholders?

• Respostas às questões de investigação anteriores; • Entrevistas;

• Análise de documentação.

Através do confronto entre as necessidades de informação dos stakeholders do CNE, identificadas nas respostas às questões de investigação anteriores e a literatura científica relativa às metodologias de avaliação de desempenho existentes, poder- se-á concluir da adaptabilidade destas, ou não, às necessidades dos stakeholders do CNE. 7 - É possível a elaboração de • Respostas às questões de Com as respostas às questões de

um modelo de prestação de informação para a avaliação do desempenho da OSFL que sirva simultaneamente a generalidade dos stakeholders?

investigação anteriores; • Entrevistas;

• Análise de documentação.

investigação anteriores – baseadas na análise das entrevistas e documentação – e nas conclusões da literatura relevante sobre a temática pode-se concluir da possibilidade – ou não – de elaboração de um modelo de prestação de informação que sirva para a avaliação do desempenho do CNE pela generalidade dos seus stakeholders.

8 – Que características deve possuir um modelo de prestação de informação aos stakeholders que lhes permita avaliarem o desempenho da OSFL? • Respostas às questões de investigação anteriores; • Entrevistas; • Análise de documentação. Se a resposta à questão de investigação anterior for positiva, com apoio da literatura relevante sobre a temática, procurar-se-á contribuir para um modelo genérico de avaliação do desempenho das OSFL. Procurando identificar as características a assumir por um modelo de prestação de informação aos stakeholders para que, de um modo genérico, estes possam avaliar o desempenho das OSFL. Buscando a generalização para o setor de atividade da OSFL em estudo e depois para as OSFL em geral.

Fonte: Elaboração do autor com base em Mason (2002).