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2. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

2.3. A teoria dos stakeholders e a prestação de informação nas OSFL

2.3.3. O desenvolvimento da teoria dos stakeholders

Após a fase embrionária de desenvolvimento da teoria dos stakeholders seguiram-se um conjunto de outros trabalhos também eles apontados como referências base desta teoria. Entre eles destacam-se os trabalhos de Donaldson e Preston (1995), Clarkson (1995), Jones (1995), Mitchell et al. (1997) e Atkinson et al. (1997).

Donaldson e Preston (1995) propõem três abordagens para explicar a teoria dos stakeholders: descritiva, instrumental e normativa. Estes aspetos estão inter-relacionados mas simultaneamente são distintos, envolvem diferentes tipos de evidências, de argumentação e de implicações. Como abordagem descritiva e empírica, a teoria dos stakeholders descreve e explica, as características específicas e os comportamentos nas organizações. Como abordagem instrumental a teoria dos stakeholders utiliza modelos que examinam e ligam, a gestão dos stakeholders e o desempenho da organização. Como abordagem normativa a teoria dos stakeholders interpreta e define a função da organização, incluindo os princípios morais e/ou filosóficos, a serem seguidos nas operações e na gestão. Estes três aspetos da teoria dos stakeholders estão encaixados uns nos outros; há como que uma concha exterior da teoria que é a seu aspeto descritivo, que apresenta e explica, relações que são observáveis a partir do mundo exterior e face à organização; num segundo nível da teoria os aspetos descritivos são suportados por aspetos instrumentais, onde se releva o seu caráter instrumental e previsional, sugerindo-se que se determinadas práticas forem seguidas, determinados resultados serão obtidos; contudo a parte central da teoria é normativa, os outros aspetos da teoria fundamentam-se na conceção normativa. Assim, a teoria apresenta precisão descritiva, poder instrumental e validade normativa para a gestão dos stakeholders nas organizações.

Clarkson (1995), depois de analisar mais de 70 estudos de campo, sobre a responsabilidade social das empresas e as respetivas respostas sociais, propõe um modelo para analisar e

avaliar o desempenho social das empresas. No modelo proposto reconhece-se a necessidade de satisfação dos stakeholders primários – aqueles sem a colaboração dos quais a empresa não poderá sobreviver; envolve além dos proprietários, os empregados, os clientes, os fornecedores, mas pode envolver outros como os governos e as comunidades, dos quais dependem infraestruturas, mercados, regulamentações, etc. Além dos primários definem-se os stakeholders secundários como sendo aqueles que influenciam ou afetam, são influenciados ou afetados pela empresa. É o caso por exemplo dos meios de comunicação social ou de grupos de interesse, que têm capacidade de mobilização da opinião pública.

Jones (1995) apresenta a teoria dos stakeholders como um instrumento que pode integrar os interesses dos negócios e da sociedade. O relacionamento entre a empresa e os seus stakeholders é expresso através de contratos, sendo que as empresas que optem pela verdade e a cooperação terão vantagem competitiva face às que não a utilizem.

Mitchell et al. (1997) propõem uma classificação dos stakeholders em função de três atributos que caracterizam o seu relacionamento com a organização: “power, legitimacy and urgency” que se podem traduzir por “poder, legitimidade e necessidade”. Segundo os autores (Mitchell et al., 1997) o poder pode ser: coercivo – baseado nos recursos físicos da força, violência e restrição –; utilitário – baseado nos recursos financeiros e materiais –; e normativo – baseado em recursos simbólicos que podem chamar a atenção dos meios de comunicação social. A legitimidade é necessária para dar autoridade, o poder só por si não basta. A necessidade está relacionada com a dependência e importância que se deve dar ao stakeholder. Ou seja, com a sensibilidade do stakeholder face a atrasos ou a tempos de espera, e consequentemente com a urgência na execução Mas também com o risco que se corre face a uma reclamação ou manifestação de desagrado por parte do stakeholder. Em função dos atributos que cada stakeholder reúne, em termos de legitimidade, poder e urgência, Mitchell et al. (1997) agruparam-nos em sete tipos: 1 – Adormecido (Dormant); 2 – Arbitrário (Discretionary); 3 – Desejado (Demanding); 4 – Dominante (Dominant); 5 – Perigoso (Dangerous); 6 – Dependente (Dependent); 7- Definitivo (Definitive); 8 - Não stakeholder (Non-stakeholder/Distant).

Atkinson et al. (1997) propõem um modelo para a avaliação do desempenho das empresas. Este tem o intuito de ajudar todos os seus stakeholders a compreenderem e avaliarem as suas contribuições e expectativas face à organização. O sistema proposto serve para que a empresa monitorize as suas relações contratuais com os diversos stakeholders. No modelo sugerido propõe-se que se considerem as contribuições e expectativas dos principais stakeholders da organização, agrupando-os em dois grandes grupos: os stakeholders de contexto e os stakeholders de processo. Os primeiros são os que influenciam ou condicionam a estratégia, que se relacionam mais com a organização ao nível dos seus objetivos primários, estratégicos ou de contexto. Os segundos são os que planeiam, desenham, implementam e

operam no processo. Estes relacionam-se mais com a organização ao nível dos seus objetivos secundários, operacionais/táticos ou de processo.

A teoria dos stakeholders e os seus desenvolvimentos foram ao longo dos últimos vinte e cinco anos influenciando a literatura científica relacionada com a gestão das empresas e das organizações em geral. Ao nível da gestão estratégica, ao nível da governação, ao nível da gestão operacional. Em âmbitos como o das finanças, ligando preocupações financeiras e sociais, e indo além destas; na contabilidade, com práticas de contabilidade social, ambiental e ética, de auditoria, de normalização contabilística; no marketing. Mas também em disciplinas relacionadas como o direito; a saúde e bem-estar; a administração e a política pública; a política social e ambiental. (Friedman e Miles, 2006; Freeman et al., 2010). A teoria dos stakeholders continua contudo, confome se reconhece em Mainardes et al. (2011), com problemas em aberto, necessitando para se desenvolver de investigação que sistematize o conhecimento já produzido e lhe proporcione convergência teórica.