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4. TRABALHO DE CAMPO – EVIDÊNCIAS RECOLHIDAS

4.4. Identificação dos stakeholders

Como já foi referido na secção 4.2, com o apoio do executivo nacional do CNE, de documentação relativa à associação – estatutos, regulamentos, Relatórios & Contas e outra documentação constante em www.cne-escutismo.pt, foram identificados os principais tipos de stakeholders do CNE. Identificaram-se dezasseis categorias principais de stakeholders, que se elencam na Tabela 8. Embora a resposta às questões de investigação secundárias seja sintetizada de um modo global na Secção 5.4 (p. 160), no que respeita ao CNE, neste ponto trata-se da resposta à primeira questão de investigação secundária (Quais os vários tipos de stakeholders da OSFL em estudo?).

Os pais (ou encarregados de educação) incluem-se nos principais interessados na atividade do CNE. É a eles que em primeira instância cabe a educação dos seus educandos. Recorrem ao apoio do CNE nessa tarefa educativa [cf. n.º 1 do art.º 40 do Estatutos do CNE em CNE (1992) e CNE (2008a)]. Os menores, sem a autorização dos pais ou representantes legais, não podem ingressar no CNE [cf. art.º 10 dos Estatutos em CNE (1992) e alínea c) do n.º 2 do art.º 23 do Regulamento Geral em CNE (1997c)].

As crianças e jovens que ingressam no CNE – os escuteiros – são o motivo e os beneficiários diretos da atividade desta associação. Sem eles esvaziava-se a razão de existir do CNE (cf. art.º 1 e art.º 3 dos Estatutos do CNE) bem como do movimento escutista em geral [cf. art.º I da Constituição da Organização Mundial do Movimento Escutista em CNE (sd)]. As crianças e

jovens aderem livremente ao movimento escutista, com a autorização e incentivo dos pais, e são elas próprias o principal agente da atividade escutista (CNE, 2009).

Tabela 8 – Principais categorias de stakeholders do CNE.

Stakeholders do CNE Código Categorias Atribuído

Pais PAI

Escuteiros ESC

Antigos Escuteiros AES Igreja Católica IGR Agências Governamentais GOV

Autarquias AUT Parceiros PAR Patrocinadores PAT Beneméritos BEM Fornecedores FOR Funcionários FUN

Dirigentes Unidade DUN Dirigentes Executivos DEX Representantes REP Organização Mundial do Escutismo OME

Congéneres CON

Os antigos escuteiros, tendo passado pelo movimento, acabam por se manter interessados na atividade da associação, são geralmente observadores atentos da sua evolução, fruto do seu conhecimento e experiência. Estes normalmente mantêm-se disponíveis para apoiar o CNE, tendo em conta a sua experiência escutista anterior, a sua evolução pessoal e a sua capacidade de facilitar recursos. Em ligação com o CNE existe uma associação de antigos escuteiros, denominada Fraternidade de Nuno Álvares42.

Uma vez que o CNE foi fundado no âmbito da Igreja Católica43, que se assume

estatutariamente como movimento da mesma (cf. art.º 2 dos Estatutos do CNE), que nos seus diversos níveis territoriais se encontra umbilicalmente ligado às paróquias, dioceses, etc., a Igreja Católica44 enquanto comunidade e através dos seus representantes é um dos

interessados no CNE.

42 Cf. www.fna-escutismo.org.

43 Cf. Apêndice 4 (p. 298) e a história do CNE em (CNE, 2008b). 44 Sobre a Igreja Católica em Portugal cf. http://www.ecclesia.pt/.

O Governo na sua missão de velar pelo “bem comum” do País acaba por estar interessado e ter influência na atividade de associações como o CNE que, por iniciativa dos cidadãos, contribuem para esse “bem comum” (cf. Secção 2.1.2 - pp. 27 e seguintes - sobre as abordagens económicas às OSFL). Através de diversos organismos – Agências Governamentais45

– o Governo relaciona-se e faz parcerias com as OSFL. No caso do CNE é o Instituto Português da Juventude46 o seu principal interlocutor e parceiro junto do Governo Português. No

entanto o CNE tem efetuado parcerias e beneficiado de programas promovidos por outras agências governamentais como, por exemplo, o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB)47, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA)48, o Instituto de Emprego e

Formação Profissional (IEFP)49 e outros.

As Autarquias Locais são também um interessado na ação do CNE. Em termos locais os Agrupamentos do CNE são normalmente considerados como uma força relevante do associativismo local, quer pela sua ação específica, quer pelo apoio prestado em ações da comunidade ou de outros parceiros locais. Também porque, contribuindo o escutismo para o desenvolvimento de “cidadãos úteis e válidos”, por vezes os escuteiros ou antigos escuteiros acabam por ser verdadeiros empreendedores em prol do “bem comum” local. Na generalidade das Autarquias Locais portuguesas existem acordos, protocolos e apoios à atividade do CNE local.

O CNE na sua atividade desenvolve um conjunto de parcerias em diversos âmbitos. Os seus interesses são coincidentes, complementares ou permutáveis com os de outras entidades ou organizações. Muitas destas estão consideradas nas categorias de stakeholders identificadas. Contudo há organizações que basicamente congregam parceiros em torno de um denominador comum e que visam finalidades de interesse comum aos parceiros e/ou associados. No âmbito do CNE é por exemplo o caso do Conselho Nacional de Juventude (CNJ)50, do Conselho

Nacional dos Movimentos e Obras (CNMO)51, da Confederação Portuguesa das Associações de

Defesa do Ambiente (CPADA)52. Foi este tipo de stakeholders do CNE que se procurou

considerar na categoria de “parceiros”.

45 Opta-se por esta designação por ser a mais utilizada na literatura. 46 Cf. www.juventude.gov.pt/portal/ipj. 47 Cf. www.icnb.pt. 48 Cf. www.apambiente.pt/. 49 Cf. www.iefp.pt. 50 Cf. www.cnj.pt. 51 Cf. www.cnmo.org. 52 Cf. www.cpada.pt.

Com as empresas as OSFL fazem muitas vezes uma permuta de interesses. As empresas patrocinam as suas atividades ou ações através de donativos em dinheiro, géneros ou serviços, em troca esperam a promoção da empresa ou dos seus produtos nas atividades ou ações da OSFL. No caso do CNE, temos o exemplo do Calendário Escutista que já foi patrocinado por empresas, como a Nestlé53, a Caixa Geral de Depósitos (CGD)54 e a TMN -

Telecomunicações Móveis Nacionais55. Também muitos acampamentos de maior envergadura

do CNE, como os Acampamentos Nacionais (ACANAC), os Acampamentos Regionais (ACAREG) e alguns Acampamentos de Agrupamento têm sido patrocinados por diversas empresas.

Ao longo da sua história o CNE tem tido o auxílio generoso de beneméritos que o têm apoiado com donativos em dinheiro, edifícios, terrenos, equipamentos, serviços prestados e outros. Por exemplo se se consultar as Ordens de Serviço Nacionais do CNE (CNE, 2008c), na secção de Justiça e Disciplina/Distinções e Prémios encontram-se um conjunto grande de reconhecimentos e agradecimentos ao apoio benévolo recebido de pessoas ou entidades externas ao CNE. Estes beneméritos apoiam o CNE porque concerteza reconhecem valor ao trabalho desenvolvido pela associação. Em função do seu apoio esperam ver “obra feita” e, também, a “prestação de contas”, face ao apoio prestado e, de um modo geral, acerca da atividade desenvolvida pelo CNE. Estes dados serão concerteza relevantes na concessão de apoios futuros.

Como em qualquer organização, também existem fornecedores no CNE. Aqui existem necessidades esporádicas de fornecimento, relacionadas com atividades ou ações específicas, mas também existem necessidades correntes de fornecimento. Estas estão principalmente relacionadas com:

• a aquisição de uniformes e de outros artigos úteis à prática do escutismo (equipamentos, livros, audiovisuais), distribuídos habitualmente através da sua rede interna de Depósitos de Material e Fardamento (DMF)56;

• a angariação dos bens ou serviços necessários ao regular funcionamento das suas estruturas, principalmente nos âmbitos administrativo, financeiro e logístico.

Exemplos destes fornecedores são:

• os de camisas, calças, cintos, emblemas e outras peças do uniforme escutista;

• os de material de acampamento e outro útil às atividades típicas dos escuteiros, como mochilas, tendas, machados e bússolas;

• as gráficas relacionadas com as publicações editadas; • os bancos e as seguradoras. 53 Cf. www.nestle.pt. 54 Cf. www.cgd.pt. 55 Cf. www.tmn.pt. 56 Cf. www.dmf.cne-escutismo.pt/.

São sobretudo os fornecedores correntes que estão interessados em acompanhar a atividade do CNE, o seu desempenho, a sua gestão, e a sua capacidade de angariação de recursos, especialmente de recursos financeiros.

O CNE embora sendo uma organização assente no voluntariado dos seus membros, dada a sua dimensão e o seu volume de atividade, tem necessidade de recorrer ao apoio de alguns profissionais. Deste modo, a nível nacional mas também regional, há um conjunto de funcionários que, principalmente nos âmbitos administrativo, financeiro e logístico, debaixo da alçada dos órgãos executivos, apoiam a atividade dos dirigentes voluntários57. Além de

razões de sintonia com os fins da associação58, mas também porque se trata da sua principal

fonte de sustento, os profissionais do CNE estão naturalmente interessados na evolução e desempenho da associação.

A maioria dos voluntários adultos do CNE são Dirigentes de Unidade. São eles que nos agrupamentos locais trabalham nas diversas Unidades, animando, gerindo e desenvolvendo o trabalho pedagógico que o CNE se propõe realizar59. Representam assim, um dos grupos

interessados no desempenho desta associação.

Nos vários níveis territoriais do CNE os membros dos órgãos executivos são eleitos por mandatos de três anos. A estes compete representar e gerir a associação no respetivo nível territorial60. A avaliação do desempenho da associação interessa-lhes uma vez que lhes é

atribuída a responsabilidade de, no respetivo nível, levar a associação a atingir as metas, finalidades e missão.

Nos Conselhos Nacionais do CNE – Conselho Nacional Plenário (CNP) e Conselho Nacional de Representantes (CNR) – são tomadas as grandes decisões deliberativas sobre a vida da associação (cf. art.º 18 e art.º 21 dos Estatutos do CNE)61. Têm especial relevância os

membros do CNR – os designados representantes – pois é a eles que compete decidir as grandes linhas de orientação do CNE e consequentemente avaliar o respetivo desempenho.

57 No que respeita aos Serviços Centrais do CNE, que engloba profissionais e voluntários, cf. CNE (2008d).

58 Os profissionais do CNE são habitualmente recrutados entre pessoas que foram ou são voluntários na associação.

59 Cf. Apêndice 4 (pp. 298 e seguintes).

60 Cf. Apêndice 4 (pp. 298 e seguintes) e CNE (1992). 61 Cf. Apêndice 4 (pp. 298 e seguintes).

A Organização Mundial do Movimento Escutista (OMME)62 e as respetivas Regiões – para o caso

de Portugal, a Região Europeia do Escutismo – têm por finalidade promover o Movimento Escutista no Mundo, apoiando e perseverando o caráter que lhe é próprio junto das organizações escutistas nacionais. Assim, através da Federação Escutista de Portugal (FEP)63,

Interessa-lhes o CNE e o seu desempenho.

As congéneres do CNE em Portugal são a Associação dos Escoteiros de Portugal (AEP)64 e a

Associação das Guias de Portugal (AGP)65 que por razões de irmandade, de comparação, de

defesa do Escutismo e do Guidismo, estão interessadas na atividade do CNE e no seu desempenho.

Para a generalidade das categorias de stakeholders acima referidas, identificaram-se com o apoio do CNE representantes tipo de cada categoria (cf. Tabela 23 apresentada no início do Apêndice 3, p. 237). Para cada um foram seguidos os procedimentos previstos no protocolo apresentado na secção 3.4 (p. 90) nos seus passos cinco a oito e conforme a seguir se específica:

5) Foram inquiridos através de entrevista – conforme previsto na secção 3.3, p. 86 – sobre: quais os critérios com que avaliam o desempenho do CNE; quais os principais indicadores para avaliarem a associação – os que utilizam e os que gostariam de utilizar –; qual a informação relevante para as suas decisões, a curto prazo, a médio e longo prazo – a que já recebem e a que gostariam de receber. O resumo das entrevistas realizadas consta no Apêndice 3 (p. 237).

6) Após o tratamento de cada entrevista o respetivo documento foi enviado por correio eletrónico ao entrevistado, seguindo em conjunto um documento com uma síntese enriquecida das respostas dos outros entrevistados, para comparação e reflexão. Solicitou-se e obteve-se a emissão de comentários e de correções ao texto da correspondente entrevista66.

7) Com base nas entrevistas realizadas e em documentação complementar, foram elaboradas grelhas e esquemas de síntese, procurando interpretar e refletir sobre as respostas das entrevistas (cf. Secção 4.5 e Secção 4.6, pp. 109 e 119, respetivamente). Para tal e afim de melhor validar as respostas às questões de investigação inicialmente colocadas, os dados das entrevistas são confrontadas e complementadas com outras informações.

62 Em inglês: World Organization of the Scout Movement (WOSM). Cf. www.scout.org e Apêndice 4 (p. 362 e seguintes).

63 Cf. www.fep-portugal.org e Estatutos da FEP (CNE, 1982). 64 Cf. www.aep.pt.

65 Cf. www.guiasdeportugal.org. 66 Cf. Apêndice 2 (p. 229 e seguintes).

8) Tendo em conta as sínteses a que se chegou, colocando-as em confronto com a literatura, é averiguada a possibilidade de unidade ou ligação entre as perspetivas de avaliação do desempenho do CNE pelos seus diversos stakeholders. Projetou-se um modelo de informação a prestar pelo CNE, que sirva em conjunto os seus diversos stakeholders e responda às necessidades detetadas (cuja proposta se apresenta no Capítulo 5).

Na secção seguinte apresenta-se uma síntese e análise das respostas obtidas, elaborada a partir das entrevistas realizadas e em triangulação com outras fontes de evidência, recolhidas a partir da consulta de diversos documentos e da observação do investigador.