• Nenhum resultado encontrado

1. INTRODUÇÃO

1.4. Metodologia de investigação

Para se atingirem o propósito e objetivos de investigação formulados, bem como para se dar resposta às questões de investigação, garantindo-se a qualidade e validade das conclusões, a definição e implementação de uma metodologia de investigação correta é um passo fundamental (Mason, 2002; Ryan et al., 2002). Embora a metodologia de investigação seguida seja discutida e apresentada em capítulo próprio (cf. p. 77), introduzem-se desde já os traços gerais da mesma.

A investigação científica é um processo de descoberta intelectual sobre o mundo que nos rodeia, visando a transformação do conhecimento e compreensão que temos sobre ele (Ryan et al., 2002). O conhecimento científico é aquele que resulta da investigação metódica e sistemática da realidade, em relação a determinado domínio do saber, analisando os factos para descobrir as suas causas e concluir as leis gerais que os regem, sendo verificável por demonstração ou experimentação (Barañano, 2004). Para o conhecimento humano global, além do conhecimento científico, segundo Barañano (2004), contribuem outros três tipos de conhecimento: o conhecimento empírico, baseado na experiência vivida ou transmitida por alguém; o conhecimento filosófico, baseado na capacidade de reflexão do homem; o conhecimento teológico, apoiado na fé humana na existência de uma(s) entidade(s) divina(s), apresentando respostas a questões que o homem não pode responder com os outros três tipos de conhecimento.

Na investigação em contabilidade tem-se assistido nos últimos anos a uma crescente diversificação das metodologias seguidas. Há cada vez mais investigadores a estudar a contabilidade no seu contexto organizacional e social, assumindo visões subjetivas dos fenómenos contabilísticos, não seguindo o paradigma dominante, onde se defende o estudo de uma realidade objetiva, com o investigador a ter um papel neutro e passivo (Vieira, 2009).

As diferentes alternativas da investigação em contabilidade são influenciadas por abordagens filosóficas que as motivam (Ryan et al., 2002). Segundo Hopper e Powell (1985) os pressupostos teóricos e filosóficos estão subjacentes a qualquer investigação, os valores e as crenças dos investigadores acabam por influir nas suas opções de metodologia de investigação, pelo que as considerações ontológicas e epistemológicas devem preceder a decisão sobre a metodologia de investigação a seguir (Vieira, 2009).

Desde o final dos anos setenta do século passado que se reconhece a validade e o interesse de na investigação em contabilidade se seguirem também métodos “naturalistas”, estudando a contabilidade no seu “ambiente natural” através de trabalho de campo, face ao estudo mais tradicional através dos métodos “científicos” originários das ciências naturais, com a formulação e teste de hipóteses (Tomkins e Groves, 1983; Ryan et al., 2002). Em alternativa ao positivismo de Comte (1798 - 1857) que está na base do método “científico” tem-se contraposto o idealismo de Kant (1724 - 1804) relacionado com os métodos “naturalistas”. Nestes não se considera que haja apenas uma única interpretação – objetiva – da realidade mas admite-se que possa haver tantas interpretações desta quantos os investigadores que a procuram interpretar. Há também investigação que além de procurar compreender e interpretar o mundo, de forma crítica busca as condições para que possam ocorrer mudanças sociais (Vieira, 2009).

Hopper e Powell (1985) com base num trabalho de Burrel e Morgan em 1979 propuseram uma taxionomia da investigação em contabilidade dividida em três categorias principais: funcionalista (assumindo o objetivismo nas ciências sociais e a regulação da sociedade), interpretativo (assumindo o subjetivismo nas ciências sociais e a regulação da sociedade) e radical (assumindo o potencial de se contribuir com a investigação para mudanças radicais na sociedade). Ryan et al. (2002) propõe uma adaptação desta taxionomia denominando as três categorias de: “investigação predominante em contabilidade”, “investigação interpretativa” e “investigação crítica em contabilidade”. Vieira (2009) denomina-as por: “investigação positivista”, “investigação interpretativa” e “investigação crítica”.

Segundo Mason (2002) antes de se iniciar uma investigação devem clarificar-se cinco questões: a posição ou perspetiva ontológica do investigador face à realidade social; a posição epistemológica do investigador face ao conhecimento e à evidência da realidade social; a área de investigação; o puzzle intelectual a explicar e as questões de investigação; os objetivos e propósito da investigação. Para a presente investigação esta clarificação é efetuada no Capítulo 3 e pode resumir-se da seguinte forma:

Em termos de posicionamento ontológico este estudo enquadra-se nas assumpções mais “objetivas” conforme a classificação de Burrel e Morgan em 1979, citados por Hopper e Powell (1985) e Vieira (2009). Assume-se para o presente estudo que a realidade social

formada por uma rede de relações entre as partes envolvidas, onde em termos gerais se pode encontrar uma estrutura concreta de comportamentos. Uma realidade com interação entre as partes envolvidas, onde se geram processos concretos interligados entre si, onde existem influências e interesses diversos, onde há particularidades a ter em conta. Contudo uma realidade social onde se encontram linhas gerais de comportamento, de interesse e de atuação. Assume-se pois a realidade social entre a “estrutura concreta” e o “processo concreto” conforme definidos em Morgan e Smircich (1980).

A posição epistemológica assumida para se alcançar o conhecimento inerente ao fenómeno em estudo, no seguimento do posicionamento ontológico, foi a positivista, procurando-se pela observação descobrir e explicar uma realidade, pouco conhecida e tratada (Morgan e Smircich, 1980; Hopper e Powell, 1985; Chua, 1986; Ryan et al., 2002; Vieira, 2009). A combinação da visão objetivista do mundo com a preocupação da sua regulação foi denominada por Burrel e Morgan em 1979 por “funcionalismo” e tem sido nesta combinação que predominantemente se tem realizado a investigação em contabilidade (Hopper e Powell, 1985; Chua, 1986; Ryan et al., 2002; Vieira, 2009). No funcionalismo encaixam-se abordagens como as da teoria organizacional e da teoria dos sistemas (Hopper e Powell, 1985), nas quais assenta a teoria dos stakeholders (Elias et al., 2000; Freeman e McVea, 2001), teoria esta que serve de apoio ao presente trabalho.

A área científica de investigação do presente trabalho é a da contabilidade.

O puzzle intelectual a explicar, segundo a classificação de Mason (2002), é do tipo “mecânico”, correspondendo à investigação sobre a forma como algo funciona ou é constituído, ou o que é equivalente, sobre a forma como algo pode funcionar ou ser constituído. A presente investigação sobre a prestação de informação aos stakeholders das OSFL, de modo a que estes possam avaliar o desempenho da OSFL com quem se relacionam, tem subjacente este tipo de puzzle intelectual.

As questões de investigação são as já acima apresentadas (cf. Secção 1.3; p. 17). Também os objetivos e propósito da investigação foram já apresentados (cf. Secção 1.2; p. 16).

Uma vez que se pretende explicar uma realidade social ainda pouco estudada, onde há complexidade, onde no seu estudo se exige detalhe, com análise e observação de diferentes fontes de informação ainda pouco estruturadas, implicando o envolvimento e intervenção do investigador, em que a sua transformação em palavras, mais descritiva, numa visão mais holística, resulta melhor do que com a sua transformação em números, seguindo Mason (2002), Ryan et al. (2002), Denscombe (2003), Vieira et al. (2009), optou-se por realizar uma investigação qualitativa. Uma vez que o fenómeno em análise – a necessidade de satisfazer os stakeholders das OSFL com informação que lhes permita avaliar o desempenho da OSFL com

quem se relacionam – não se distingue claramente no contexto onde se insere, em que se colocam questões de “como”, de “porquê” ou mesmo do tipo “qual”, em que há vantagem em se utilizarem múltiplas fontes de evidência, tratando-se de um fenómeno contemporâneo com um contexto real identificado, seguindo Yin (2003a, 2003b), Dul e Hak (2008), optou-se como estratégia de investigação efetuar um estudo de caso. Dado que de um modo preliminar se exploraram as razões para práticas específicas no âmbito da contabilidade, seguindo Lakatos e Marconi (1996), Carmo e Ferreira (1998), Ryan et al. (2002), Yin (2003a, 2003b), Barañano (2004), Dul e Hak (2008), Vieira et al. (2009), optou-se por realizar um estudo de caso do tipo exploratório. Uma vez que a seleção de um caso típico ou representativo das OSFL serve os objetivos inicialmente definidos, sabendo-se que no contexto em estudo, o caso concreto terá sempre algo de raro ou extremo, seguindo Yin (2003a), Denscombe (2003), Vieira et al. (2009), optou-se por realizar um estudo de caso único, tendo como unidade de análise a OSFL, com uma perspetiva holística sobre a organização.