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DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E CIDADES

QUADRO 17 – ÁREAS SELECIONADAS POR MUNICÍPIO DA RMR –

3. BASE TEÓRICA E CONCEITUAL

3.1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E CIDADES

Existem vários de conceitos para o termo desenvolvimento sustentável, desenvolvidos por inúmeros especialistas. O mais divulgado é aquele que consta do Relatório Bruntland, publicado em 1987. Nele, o desenvolvimento sustentável é compreendido como um processo que busca satisfazer as necessidades e

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Espaço periurbano segundo definições do Laboratório de Estudos Periurbanos da UFPE, constitui área situada em zona urbana ou e expansão urbana sob forte pressão antrópica de ocupação ou especulação imobiliária, com possibilidade de passar por um processo de transformação significativo. Destaca-se, ainda, a necessidade de manter esses espaços como áreas de amenização do processo acelerado de ocupação urbana, permitindo qualidade ambiental às cidades.

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aspirações das pessoas no presente, sem comprometer a possibilidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades.

A busca por uma forma de desenvolvimento sustentável está presente nos meios científicos e acadêmicos desde a década de 60, mas só após o encontro das Nações Unidas, ocorrido em Estocolmo, em 1972, é que surgiram movimentos mais atuantes em defesa de um crescimento econômico menos predatório, observando o meio ambiente e sua capacidade de resiliência47. Apenas na década de 80, é que se consagra a idéia de desenvolvimento sustentável, consolidado no Encontro Mundial ocorrido no Rio de Janeiro, a ECO 92.

Trata-se de uma abordagem que reavalia os relacionamentos da economia e da sociedade com a natureza e, ainda, do Estado com a sociedade. Esse desenvolvimento deve garantir o equilíbrio entre o nível de crescimento da população e a conservação da base de recursos naturais, reorientando a tecnologia e administrando os riscos de perdas irreparáveis, sempre que possível, de modo que o meio ambiente passe a ser considerado no processo econômico e na tomada de decisão.

A idéia de sustentabilidade refere-se à capacidade de algo ser suportável, duradouro e conservável, associando-se à noção de continuidade. Essa idéia remete a uma lógica que demanda uma nova ordem econômica e social, estabelecendo um processo de mudanças no qual a exploração dos recursos, a orientação dos investimentos, os rumos do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional estão de voltadas para o atendimento de necessidades atuais e futuras.

É importante destacar que o princípio da sustentabilidade não é apenas a conciliação entre o crescimento econômico e a gestão racional dos recursos naturais. Assim, cabe diferenciar –“desenvolvimento sustentável como a

capacidade de um sistema se reproduzir no tempo, de forma simples ou

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Resiliência é a capacidade de um sistema de manter sua estrutura e padrão de comportamento face aos distúrbios externos. Capacidade de se adaptar às mudanças.

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expandida, utilizando os recursos existentes no interior de seu território sem dilapidá-los, considerando, portanto, a potência interna do sistema”48. (Zancheti,1997)

O conceito de necessidade, sobretudo de necessidades essenciais varia enormemente para diferentes contextos culturais. Mas, de uma forma geral, um dos maiores problemas é que muitos teóricos e decisores acreditam que, se por um lado as necessidades dos pobres do mundo devem receber a máxima prioridade, por outro, as limitações que a conservação do meio ambiente impõe ao desenvolvimento, no estágio atual da tecnologia e de organização social, impedem o atendimento das necessidades presentes, para preservar a capacidade das gerações futuras.

O grande desafio do desenvolvimento sustentável é, portanto, atingir o compromisso entre o desenvolvimento econômico, justiça social e a preservação ecológica e a herança para o futuro, entendendo-o como a relação entre o crescimento econômico com distribuição, mantendo a preservação da natureza sem degradação crescente e, simultaneamente, fazendo com que a herança a ser legada permita adequados níveis de qualidade de vida, mantidos no tempo e no espaço. Nosso futuro demanda uma nova visão e gestão do desenvolvimento à luz de postulados interdependentes de equidade social, equilíbrio ambiental, equilíbrio econômico e autodeterminação política.

O conceito é extremamente abrangente e aplicado distintamente quando as realidades locais são distintas. O fator cultural é elemento diferenciador da sustentabilidade possível em cada lugar. O que é sustentável nos países desenvolvidos, no conceito da pós-modernidade globalizada, não o é necessariamente para os países dependentes e pobres.

O desenvolvimento sustentável refere-se, portanto, a processos de mudança sociopolítica, socioeconômica e cultural-institucional, visando assegurar a

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Zancheti, Sílvio Mendes. Conceitos de desenvolvimento sustentável, no 1º CURSO DE CONSERVAÇÃO INTEGRADA URBANA E TERRITORIAL- CECI,1997. PROGRAMA BRASIL- ITUC/BR.

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satisfação das necessidades básicas da população e a eqüidade social, no presente e no futuro, promovendo oportunidades de bem-estar social, compatíveis com as circunstâncias ecológicas de longo prazo. Necessariamente, traduz preocupações com a produção e o consumo de bens e serviços, com as necessidades básicas de subsistência, com os recursos naturais e o equilíbrio ecossistêmico, com as práticas decisórias e a distribuição do poder e com os valores pessoais e culturais.

A redução da pobreza, a satisfação das necessidades básicas e a melhoria da qualidade de vida da população passam pelo resgate da eqüidade, pelo respeito à vida, pelo estabelecimento de uma forma de governo que garanta a participação social nas decisões, para que o processo de desenvolvimento seja julgado como sustentável.

O ambiente propício para o desenvolvimento sustentável requer um sistema econômico que gere excedentes de maneira a atender a um universo maior do que o atual, além de conhecimentos técnicos calcados em bases tecnológicas e um ambiente social capaz de resolver conflitos. Por isso um dos pressuposto básico dos processos decisórios é a participação política dos cidadãos, assim como o estabelecimento de bases de conhecimento e geração de novas práticas.

Hoje, se observa um discurso mais aberto e hegemônico, onde esse conceito apresenta-se com mais clareza, haja vista a conscientização ambiental dos formuladores de políticas de desenvolvimento e a generalização da preocupação com a proteção de ecossistemas importantes, visando garantir que esses recursos passem às novas gerações. De outra parte, financiamentos internacionais vêm condicionando a qualidade dos projetos ao componente ambiental.

Em resumo, o desenvolvimento é sustentável quando atinge as dimensões ecológica, econômica e social. No tocante à esfera ecológica se materializa nos processos de conservação dos ecossistemas e no manejo racional do meio ambiente e dos recursos naturais. Na esfera econômica se realiza na promoção de atividades produtivas, razoavelmente rentáveis, mais voltadas para a

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qualidade de vida do que para a quantidade da produção, com relativa permanência no tempo. Finalmente, o desenvolvimento sustentável acontece na esfera social quando as atividades oriundas dos processos de desenvolvimento são compatíveis com os valores culturais e as expectativas da sociedade, quando os atores sociais estabelecem controles nas decisões sobre ações que afetam seus destinos, considerando a questão da distribuição, com equidade, dos frutos do desenvolvimento.

Os mecanismos de mercado são inadequados para garantir a sustentabilidade. A suficiência material não garante, per si, a melhoria na qualidade de vida, embora possibilite o acesso aos bens e serviços produzidos, O desenvolvimento sustentável insiste na qualificação e apreciação do crescimento econômico, igualando a suficiência material à equidade, como princípio da distribuição e justiça, e à garantia ambiental como solidariedade entre as gerações.

O discurso atual sobre cidades, em diversos níveis e lugares, faz menção ao desenvolvimento sustentável. O problema está nas práticas, que tomam caminhos diferentes do discurso e têm trazido entendimentos focados em dimensões diversas da sustentabilidade urbana.

De uma forma geral, busca-se a sustentabilidade urbana através do equilíbrio entre o crescimento populacional e a capacidade de determinado território em atender à demanda por serviços urbanos e infra-estrutura. Do ponto de vista ecológico há necessidade de se promover a redução do consumo de energia, da poluição atmosférica e hídrica, mantendo a diversidade biológica e assegurando a proteção a determinados recursos naturais.

Na questão social considera-se fundamental a redução da pobreza e da fome, principalmente nos países do hemisfério sul, onde existe percentual bastante alto da população que vive abaixo da linha de pobreza, considerando que a redução da pobreza é pré-condição para o desenvolvimento humano e ambiental equilibrado.

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Na RMR existe um percentual elevado de pobreza49, aquela sem acesso aos serviços

públicos e, conseqüentemente, às condições necessárias a uma vida digna. As tabelas a seguir apresentam dados de 2000 e indicadores de pobreza dos municípios da RMR. È possível verificar o contingente populacional que vive em precárias condições de vida na região: cerca de 40,53% das famílias da metrópole contam com uma renda per capita inferior a meio salário mínimo.

Vale ressaltar que, como a RMR concentra 42% da população pernambucana, os indicadores para o Estado são fortemente influenciados pelos da metrópole, melhorando o desempenho médio estadual. Isso significa que são piores as condições sociais das outras regiões de Pernambuco. A análise por município metropolitano, a partir de uma desagregação realizada em trabalho da FIDEM, leva à identificação de municípios mais carentes no interior da RMR, como é o caso de Araçoiaba, o município de maior pobreza, e de Itamaracá, que apresenta o pior indicador da metrópole quanto ao atendimento em esgotamento sanitário.

As Tabelas 1, 2 e 3, a seguir apresentam: a primeira, a composição dos indicadores de pobreza de Pernambuco e da RMR; a segunda, os dados da população em 2000, por município da RMR, onde é possível verificar o contingente populacional que vive em precárias condições de vida, e por fim, tabela que apresenta o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH dos municípios da RMR, comparando dados de 1991 com 2000.

TABELA 1 – INDICADORES SOCIAIS DE POBREZA – PERNAMBUCO E REGIÃO