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Não foi apenas o conceito de planeamento que evoluiu ao longo dos tempos. Como veremos adiante, o conceito de desenvolvimento que hoje conhecemos sofreu grandes alterações até chegar à denominação de Desenvolvimento Sustentável tão comentada actualmente na área de turismo.

Na génese do conceito encontramos Adam Smith que, em 1776, esboçou um sistema de disposições e comportamento económico – denominado hoje de capitalismo – que prometia elevar substancialmente a produtividade económica e dispersar seus ganhos

amplamente entre as populações trabalhadoras (KOTLER et al., 1997, p. 15). Este sistema introduziu a visão de que as nações geravam valores e riquezas de maneira mais eficiente usando o princípio da divisão do trabalho, cada trabalhador tornando-se especialista e, portanto, mais produtivo numa única tarefa. Nestas circunstâncias, ninguém poderia produzir tudo o que necessitasse, e por isso as pessoas deveriam obter os seus bens valendo-se do valor de troca recebido ao trabalhar. Adam Smith via a troca (compra e venda), a propriedade privada e o livre mercado como a base para a geração da riqueza nacional (KOTLER et al, 1997, p. 10).

O surgimento do capitalismo corresponde ao início da ideia de desenvolvimento. Para os Iluministas, no período da Revolução Francesa de 1789, o progresso seria um remédio para os males da humanidade, pois geraria desenvolvimento e riquezas a serem utilizadas para o bem comum (DIAS, 2003, p. 66). Contudo, o que se viu na realidade foi a grande concentração de riquezas nas mãos de uma minoria com a criação de uma classe abastada, de uma classe média e o abandono de milhões de trabalhadores mal pagos e mal alimentados (KOTLER et al., 1997, p. 15). No entanto, a ideia do progresso firmou-se de tal modo no capitalismo que foi incontestada até ao final da primeira metade do século XX.

Este progresso – até então conhecido como ‘desenvolvimento’ – começou a sentir a escassez dos recursos devido à enorme quantidade de riquezas produzidas. Esta preocupação manteve-se desde a primeira metade do século XX até aos dias de hoje, com a palavra ‘desenvolvimento’ sendo acompanhada por outras que pretendiam qualificar o seu grau e sua a capacidade de locação de recursos – social, humano, sustentável, responsável etc. (DIAS, 2003, p. 66).

No turismo, é a partir da década de 1970 que se inicia uma nova etapa no seu desenvolvimento. Numerosos países, estimulados pelos evidentes benefícios que o turismo proporcionava às comunidades receptoras, fundamentalmente no aspecto económico, começam a fomentá-lo mediante a criação de centros turísticos planeados, contando para isso, com o decidido apoio de organismos internacionais de desenvolvimento. A partir desta época, também é possível notar o surgimento de crescimentos turísticos motivados pelo sector privado (ACERENZA, 2002, p. 89).

Somente a partir do final da década de 70 é que o tema “natureza” ressurge com força na literatura do desenvolvimento, como um limite ao crescimento económico. A preocupação com a deterioração do meio ambiente introduziu uma dimensão nova ao problema, obrigando os especialistas a reverem todas as concepções sobre o desenvolvimento económico (VIAL, 1991, citado por DIAS, 2003, p. 75).

No início da década de 90, após a realização da Conferencia das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, o termo ‘desenvolvimento sustentável’ passou a ser amplamente utilizado. Esta expressão estabelece que, de forma genérica, o desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente às necessidades ambientais e de desenvolvimento de gerações presentes e futuras (DIAS, 2003, p. 75). Esta linha de desenvolvimento sustentável é tida como uma base para o turismo do século XXI. Não deveria, no entanto, ficar restrita a essa área de estudo, pois, segundo Cooper et al. (2001, p. 234), qualquer desenvolvimento deve ser sustentável para ser considerado desenvolvimento, caso contrário deverá ser considerado apenas como um crescimento a curto prazo.

2.4.1 Considerações sobre Desenvolvimento

A ideia de desenvolvimento como uma meta a ser conscientemente perseguida, pela comunidade internacional, com o objectivo de obter uma melhor aproveitamento dos recursos, estabeleceu-se após a Segunda Guerra Mundial, após a compreensão de que a divisão do mundo em áreas ricas minoritárias em contraposição a áreas pobres amplamente maioritárias constituiria uma nova ameaça à paz entre os povos (NUSDEO, 1975, citado por DIAS, 2003, p. 67).

Assim, o desenvolvimento das áreas mais pobres do planeta é uma meta que deve ser constantemente buscada. Porém, vale a pena ressaltar a importante distinção entre os conceitos de “desenvolvimento” e “crescimento económico”. Para Fernandes e Coelho (2002, p. 29) crescimento económico é uma medida quantitativa de incremento do Produto Nacional Bruto (PNB), sendo visto de modo relativo, dimensão estatística de mudança económica, sem revelar como se dá a sua distribuição dentro de um país. Já desenvolvimento económico tem uma interpretação mais ampla, ou seja, tem implícita a

observação de como o crescimento económico tem sido usado para melhorar o padrão de vida e o bem-estar da população de um país.

Fernandes e Coelho (2002, p. 31) defendem ainda que:

Embora desenvolvimento seja um conceito de muitos significados, vários países tendem a adotar como medidas de progresso econômico, mudanças em seu Produto Interno Bruto (PIB)1, Produto Nacional Bruto (PNB) ou renda per capita. Esses conceitos de fato são difíceis de quantificar, particularmente no mundo subdesenvolvido ou em desenvolvimento, onde informações estatísticas são escassas e geralmente irrealistas.

Alguns aspectos são comuns aos países subdesenvolvidos. Fernandes e Coelho (2002, pp. 29-35) citam por exemplo elevados índices de analfabetismo e baixos padrões educacionais, baixo rendimento per capita das populações, elevado índice de produção concentrado no sector primário, taxas constantes e elevadas de desemprego, desequilíbrio económico com altas taxas de juros e inflação, baixa produtividade da mão-de-obra, altos índices de natalidade e mortalidade infantil, reduzida quantidade de capital em relação à força de trabalho disponível, recursos naturais inexplorados ou usados em benefício dos países mais fortes economicamente e, não menos importante, a descrença generalizada, entre o próprio povo, de que o país é subdesenvolvido.

O economista Celso Furtado (1980, citado por Dias, 2003, p. 67) concebe a ideia de desenvolvimento baseada em três dimensões: aumento da eficácia do sistema de produção, satisfação das necessidades elementares da população e “consecução de objetivos a que almejam grupos dominantes de uma sociedade e que competem na utilização dos recursos escassos”. Para Souza (2002, pp. 18-19), o desenvolvimento pode ser considerado ainda como um processo de superação de problemas e conquista de condições (culturais, técnico-tecnológicas, político-institucionais, espaço-territoriais) propiciadoras de maior felicidade individual e colectiva.

A educação da população é um dos factores básicos para se atingir níveis satisfatórios de desenvolvimento. Para as ciências económicas, a educação é o alicerce de qualquer

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Segundo Fernandes e Coelho (2002, p. 31) Produto Interno Bruto é uma medida do que é produzido dentro da economia de um país. Na pratica é o somatório da produção verificada nos sectores primário, secundário e terceário. E Produto Interno Bruto per capita é simplesmente a divisão do montante do PIB pela população estimada.

processo de desenvolvimento. No turismo, este facto torna-se ainda mais representativo, pois além de ter reflexos na qualificação da mão-de-obra local, a educação da população faz com que a mesma tenha consciência da importância da actividade turística e do seu papel dentro dela. A procura de níveis cada vez maiores de qualidade faz com que o imediatismo da operação nos negócios do ramo perca espaço para processos de planificação mais responsáveis (FERNANDES E COELHO, 2002, p. 30).

Um processo de desenvolvimento considerado clássico pode ser caracterizado basicamente pelos seguintes factores (HOLANDA, 1974, p. 28, citado por DIAS, 2003, p. 69):

a) Aumento do rendimento per capita da população;

b) Redução das desigualdades na distribuição do rendimento entre as regiões;

c) Alteração na estrutura da formação do rendimento – redução da participação do sector primário e aumento do sector industrial e de transportes, por exemplo;

d) Alteração da estrutura da composição do produto industrial – aumento da participação relativa da produção de bens de capital e de bens intermediários e diminuição da produção de bens de consumo;

e) Integração das actividades de todos o sistema económico, eliminando-se a concentração ou dependência excessiva de sectores ou actividades;

f) Melhoria das condições sociais e culturais da população, com redução do analfabetismo e elevação dos padrões de escolarização;

g) Ampliação das oportunidades de avanço social, a eliminação de tabus e preconceitos e a melhoria das condições de saúde, nutrição, higiene e habitação da comunidade. Em 1990, a ONU (Organização das Nações Unidas), através do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), lançou o primeiro Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), composto por três indicadores interligados: alfabetização, expectativa de vida e nível de rendimento. A inclusão de dois indicadores sociais e um económico nesta avaliação teve como objectivo reforçar o aspecto de que o crescimento económico, embora indispensável, é um meio para se atingir o desenvolvimento social. Publicado anualmente, o relatório mundial sobre o desenvolvimento permite a comparação do nível de desenvolvimento dos mais diversos países. Uma das grandes vantagens do cálculo do IDH é que através dele é possível averiguar de que forma o desenvolvimento está a alterar a vida da comunidade. No seu cálculo são utilizados

dados básicos de existência quase universais, o que possibilita que o IDH seja utilizado para unidades sub nacionais e regionais, como estados e municípios (DIAS, 2003, p. 70).