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Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT

Planeamento e Turismo no Brasil

5.2 Planeamento do Turismo no Brasil

5.2.2 Planos e programas (projectos e acções)

5.2.2.2 Programa Nacional de Municipalização do Turismo – PNMT

O Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT) foi criado em 1992 e adoptou a metodologia da Organização Mundial de Turismo (OMT)8. Esta metodologia visava implementar um novo modelo de gestão descentralizada da actividade turística, simplificado e uniformizado, buscando maior eficiência e eficácia na administração da actividade turística, para estados e municípios (DIAS, 2003, p. 144).

Implantado através de uma parceria do Banco do Brasil, SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas), OMT e Embratur, o PNMT visava trabalhar a consciencialização na base da comunidade sobre a importância económica e social do sector turístico, com impactos positivos no desenvolvimento local9.

Foi estruturado em 3 níveis, nomeadamente o nacional, o estadual e o municipal. Ao nível nacional compete à coordenação geral do PNMT (exercida pela EMBRATUR e pelas instituições parceiras) planear, coordenar, implantar, acompanhar e avaliar as acções do Programa, ao nível nacional. Ao Comité Estadual do PNMT (formado por representantes da unidade gestora da política de turismo e das instituições parceiras estaduais), compete planear, coordenar, implantar, acompanhar e avaliar as acções do Programa, no Estado. E, na esfera municipal, compete ao Conselho Municipal de Turismo, criado dentro da filosofia do PNMT, iniciar e coordenar o processo de elaboração do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo, por meio de metodologia simplificada de planeamento.

Dentre os objectivos gerais do programa, merecem destaque (WWF Brasil, 2004): • A consciencialização do cidadão para a importância do turismo;

• A iniciativa de descentralização;

• O poder normatizador, transferindo ao município a competência para equacionar e ordenar soluções locais;

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A metodologia adoptada pela OMT foi desenvolvida pelo governo alemão (por intermédio da agência

Gesellschft Fur Technische Zusammenarbeit – GTZ) que possui os direitos de aplicação e para a

aplicação no Brasil sofreu algumas adaptações. Conhecida como ZOPP (Planeamento de Projectos Orientados por Objectivos), tem enfoque participativo, sendo este factor uma das justificativas para a sua utilização (DIAS, 2003, p. 144).

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Mensagem ao Congresso Nacional da Presidência da República (1999). Disponível em

• A elaboração de instrumentos e métodos que ajudem os municípios a planear adequadamente a actividade;

• A formação de parcerias entre o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada na busca de caminhos e respostas; e

• A optimização na prestação de serviços turísticos de forma a não só operacionalizá- los com qualidade e segurança, mas também divulgar e vender melhor o produto.

Desta forma, o programa foi desenvolvido com base em princípios como: descentralização; sustentabilidade; desenvolvimento de parcerias para o fomento e desenvolvimento do turismo sustentável no município; mobilização da comunidade para participar da elaboração de projectos de turismo sustentável; e capacitação da mão-de- obra turística.

Na prática, o primeiro passo dentro do PNMT foi a classificação dos municípios em Municípios Turísticos (MT), que são aqueles consolidados como destino (capazes de gerar deslocamentos e estadas de fluxos permanente), e os Municípios com Potencial Turístico (MPT), que são os que possuem recursos naturais e culturais expressivos e podem encontrar no turismo directrizes para o desenvolvimento socioeconómico do município. Esta classificação teve como objectivo, a curto prazo, identificar os municípios prioritários, os quais seriam priorizados na utilização de recursos públicos para o financiamento de empreendimentos turísticos (DIAS, 2003, p. 145).

O passo seguinte consistiu no estabelecimento de equipas técnicas, e na formação de Agentes e Monitores nos três níveis (federal, estadual e municipal). A formação dos Agentes e Monitores percorria três fases que eram a consciencialização, a capacitação (qualificação) e o planeamento. Na primeira fase capacitava-os para a mobilização, sensibilização e consciencialização da comunidade; a fase de capacitação tinha como objectivo a qualificação dos Agentes e Monitores para orientação quanto à formação do Conselho Municipal de Turismo e Fundo Municipal de Turismo; e, na última fase, os Agentes e Monitores eram capacitados como facilitadores na “Metodologia Simplificada de Elaboração da Estratégia Municipal de Desenvolvimento Sustentável do Turismo” (DIAS, 2003, p. 145).

Somente quando estes monitores estivessem considerados capacitados e actuando junto à comunidade para a criação do Conselho Municipal e em processo de articulação do

Plano de Desenvolvimento Turístico Sustentável, é que o município estava considerado como engajado no PNMT. Quando cumpridas todas as exigências, o município recebia da EMBRATUR o selo de Município Prioritário para o turismo, passando a ter prioridade nos investimentos turísticos (DIAS, 2003, p. 145).

O PNMT foi extinto com o novo Plano Nacional de Turismo 2003-2007, deixando muitas críticas e elogios por parte dos profissionais e estudiosos da área.

O ponto alto do programa foi a valorização do cidadão no processo de planeamento da actividade turística. O programa visava envolver ao máximo a comunidade, desde as discussões locais, ao diagnóstico a elaboração de projectos turísticos a serem desenvolvidos na região, como forma de promover a parceria com as prefeituras municipais e criar o comprometimento do cidadão com a actividade.

Para Pellin (2004), o PNMT é um exemplo de política pública que busca a inserção da comunidade local nas discussões do turismo, pois permite que os próprios municípios apliquem as directrizes básicas do programa, envolvendo todos os actores que estão directamente interessados no desenvolvimento da actividade.

As críticas dirigidas ao PNMT são baseadas principalmente na ineficiência na divulgação dos resultados alcançados, na metodologia inadequada e nas contradições encontradas dentro do próprio Programa.

Segundo Beni (1997, p. 79), o PNMT encontra contradições dentro do programa, por apresentar os mesmos objectivos num espaço geográfico tão extenso e com características tão variadas como a totalidade do território brasileiro. O autor complementa questionando como é possível lançar um Programa com essa natureza sem estar atento às características diferenciadas e vocacionais do turismo nas diferentes regiões.

Dias (2003, p. 145) ressalta que o PNMT apresentou características contraditórias pois, ao mesmo tempo em que pregava a descentralização, concentrava para si a direcção e o controle da implementação do programa. O programa só se viabilizava com a sujeição dos organismos hierarquicamente inferiores às normas da Embratur.

Segundo Santos Filho (2002), o programa sofreu enorme rejeição por parte dos turismólogos, professores e educadores da área de turismo. Para eles, os resultados do PNMT são limitados e a função do mesmo é manter um conhecimento técnico, superficial, arcaico e submisso do fenómeno turístico. O autor defende ainda que o programa representou um desrespeito com as culturas locais, pois como modelo germânico em nada reflecte a realidade brasileira. Constatou que o mesmo foi aplicado de forma autoritária e os recursos financeiros destinados pelo governo federal foram escassos. Ocorreu que muitas vezes estes encargos (como é feito na maioria das vezes) recaíram em cima do governo estadual e/ou local.

Para o WWF, Brasil (2004) o PNMT esforçou-se para orientar e estimular técnicos nos municípios com potencial turístico, mas encontrou barreiras tanto no desinteresse de governos e agentes locais, como na ausência de recursos, não conseguindo estabelecer uma continuidade efectiva nos trabalhos nas suas diferentes fases de captação.

Com o novo Plano Nacional de Turismo 2003 – 2007, foi lançado em 2004 um programa substituto ao PNMT, o Programa de Regionalização do Turismo (PRT) que será analisado na secção 5.2.2.4.