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A Gestão do Processo do Planeamento

3.5 Financiamentos Turísticos

Segundo Inskeep (1993, p. 420), a actividade turística necessita de constantes investimentos de recursos financeiros para o seu desenvolvimento, principalmente em alojamentos, transportes, infra-estruturas, outros serviços turísticos e muitas vezes nas próprias atracções turísticas. Actualmente, com o desenvolvimento acelerado do turismo, outros sectores da actividade turística também requerem investimentos financeiros constantes, são eles: a qualificação de mão-de-obra, o marketing e outros elementos institucionais, bem como a sua própria organização administrativa.

O financiamento é um dos maiores problemas da gestão administrativa do organismo nacional de turismo e, em muitos casos, é a principal causa dos fracassos dos planos e programas de fomento ao turismo preparados por este organismo (ACERENZA, 2002, p. 311).

Numa economia altamente socialista todo investimento realizado parte do governo, mas em economias mistas e capitalistas (como a maioria no mundo ocidental) é necessário que grande parte dos investimentos partam do sector privado (INSKEEP, 1993, p. 420). Isto faz, como já foi analisado na secção 3.2.4, com que a iniciativa privada seja responsável pela base, pelo fornecimento de meios para a actividade turística.

As actuais fontes de financiamento turístico passam, portanto, necessariamente pelo sistema financeiro, na medida em que os recursos têm origem em apenas quatro fontes básicas: o já citado investimento privado, investimento público, crédito oficial e agência de financiamento do exterior (BENI, 2003, p. 67).

Para Inskeep (1993, p. 421), é normal que nas economias capitalistas o Estado assuma os investimentos para o desenvolvimento em infra-estruturas básicas (água, luz, saneamento básico) e as infra-estruturas de apoio (aeroportos, estradas e vias de acesso em geral). Esta medida pode ser avaliada como incentivo para atrair o investimento privado para a área. No caso de hotéis e resorts isolados é normal que seja o Estado a desenvolver a infra-estrutura básica pelo menos até a fronteira dos locais de desenvolvimento.

No geral, os turistas necessitam dos mesmos equipamentos e serviços que outros consumidores. O fornecimento de uma infra-estrutura turística, obviamente, não pode dissociar-se do contexto mais amplo da provisão e do financiamento de equipamentos e serviços para a economia total. Na maioria dos países, tanto desenvolvidos quanto em desenvolvimento, o seu estabelecimento pode ser da competência do sector público, seja por questão legal, seja por tratar-se de “bens públicos”, que por sua própria natureza não devem ser objecto de comércio pois destinam-se ao benefício do público em geral; a iniciativa privada que venha a interessar-se pelo custo de serviços ou absorvê-lo isoladamente não deve ficar excluída. Pelo contrário, ela deve somar-se ao poder público no regime de parceria (BENI, 1998, pp. 138-139).

Nos casos em que a iniciativa privada seja responsável pelo investimento nessas infra- estruturas básicas de acesso, por exemplo, os empresários podem cobrar os direitos pela respectiva utilização, ou então, poderá instalar esses equipamentos e serviços e repassar gastos de capital e de operação a órgãos públicos (BENI, 1998, p. 139).

Para atracções turísticas públicas, como parques nacionais, o governo também é responsabilizado pelo investimento para garantir o bom uso e a conservação destes lugares. Este tipo de investimento visa também desenvolver serviços para os visitantes e poderá ser recuperado, pelo menos em parte, através de taxas de admissão e receitas oriundas de franchising, tais como restaurantes e lojas, a investidores privados (INSKEEP, 1993, p. 422).

Os investimentos nas infra-estruturas turística feitos exclusivamente pela iniciativa privada começam a ser prática comum em serviços de obrigatória exploração pública. O moderno processo de terciarização, já consagrado nos países desenvolvidos, começa a ser utilizado nos países em desenvolvimento. O custo em função dos recursos utilizados é o mesmo, independentemente da realização dos serviços pelo sector público ou privado, na suposição de que ambos os sectores possam fazê-lo com idêntica eficácia (BENI, 1998, p. 139).

Vale destacar que os investidores privados só levam em consideração o rendimento financeiro de um projecto, enquanto que os investidores públicos fazem a relação entre os custos do projecto e os benefícios sociais, que é conveniente para determinar as prioridades dos investimentos e o melhor momento para efectuá-los.

É interessante ressaltar ainda que grande parte da renda destinada a cobrir o orçamento geral da Nação é gerada por meio do sistema tributário. Neste sentido, toda renda gerada com a actividade turística destina-se às “rendas gerais” do governo, ou seja, um fundo comum composto também pela renda proveniente de outros sectores. Neste caso, o Estado utiliza-se deste fundo para suprir as necessidades de investimentos prioritários, o que leva a entender que o dinheiro arrecadado com o turismo pode ser utilizado para financiar outros sectores da economia, e não o turismo (ACERENZA, 2002, p. 313). Assim, os investimentos turísticos realizados pelo sector público dependem desta “renda geral” e competem directamente – em termos de obtenção de recursos – com outros tipos de financiamentos (que não são da área turística) e, portanto, as possibilidades relacionam-se em parte com as verbas totais disponíveis (BENI, 1998, p. 139).

Quanto à classificação dos investimentos na área de turismo, podem ser: investimentos sectoriais, complementares e de efeitos indirectos. Essa classificação decorre de acordo com a pertinência do sector (BENI, 2003, pp. 66-67).

A primeira categoria, de investimentos sectoriais, compreende os investimentos aplicados em empresas plenamente turísticas (alojamentos, equipamentos complementares, instalações turístico-recreativas, agências de viagens e operadoras de turismo, de propaganda e publicidade, e outras). A segunda, chamada de complementares, são os investimentos motivadores dos primeiros, sem os quais

dificilmente se poderia desenvolver a actividade turística (investimentos no conjunto de atractivos turísticos, estradas turísticas, equipamentos de recreação e lazer, obras de melhoramento da oferta natural e cultural, encostas, praias, montanhas, construção de teleféricos, restauração de monumentos, implantação de museus e outros). Finalmente, os investimentos com efeitos indirectos, que reúnem todas as obras de infra-estrutura que, embora não sejam sectoriais, são básicas como suporte a toda actividade do sector (terminais de transporte, vias de acesso, saneamento básico, energia, comunicações e outras).

3.6 Conclusão

Neste capítulo foi possível explorar os principais participantes na gestão do planeamento turístico. Em linhas gerais pode-se verificar que a participação é um elemento chave em todo o processo de planeamento do turismo e através dela pode-se conseguir aumentar o comprometimento das diversas esferas que participam do processo.

Ao analisar o papel da sociedade dentro do processo de planeamento turístico foi observado que a inclusão social é um desafio para a actualidade. No turismo esta realidade é ainda mais presente, visto que a sociedade funciona como uma espécie de “pano de fundo” para o desenvolvimento do turismo. Para tanto é necessário que a sociedade não só concorde com o desenvolvimento da actividade turística, como também participe do processo e tenha acesso as infra-estruturas básicas de moradia, saúde, educação, entre outras.

Em relação ao Estado, apesar das constantes privatizações, este deve continuar a ser o órgão responsável por controlar e planear a actividade turística. É do Estado a obrigação de estabelecer uma política nacional de turismo e os objectivos que se pretende atingir. O Estado ainda deve manter as funções de marketing, legislação e regulamentação da actividade, como forma de obter o equilíbrio entre os interesses dos diversos participantes e garantir o bem-estar colectivo.

As ONGs apresentam um papel privilegiado dentro da actividade turística, pois por não estar comprometida com o poder público, nem com o privado, tem a capacidade de ser um órgão fiscalizador dos mesmos. As ONGs conseguem também ter um papel complementar as acções do Estado e ajudam a aumentar a participação da sociedade no processo de planeamento.

No que se refere a iniciativa privada, foi possível identificar que esta é a base da actividade turística, visto que a maioria das empresas que dão suporte a actividade (ramos de transportes, alojamento, restauração e intermediários do serviço turístico) pertencem a empresas particulares. Estas empresas são responsáveis pela qualidade do serviço turístico oferecido e a sua qualificação é fundamental para o desenvolvimento sustentável da actividade.

No que diz respeito aos turistas, com a abordagem realizada na secção 3.2.5 pode-se observar que a falta de consciencialização por parte dos visitantes pode por em risco a sustentabilidade da actividade turística. Por isto, muitos autores ressaltam a necessidade de educar os viajantes para a fragilidade do meio ambiente local e para a importância do turismo ser sempre uma actividade integrada e sustentável.

Ao abordar o Desenvolvimento Regional, foi possível voltar a discutir a diferença entre crescimento e desenvolvimento regional, tão importante para o planeamento turístico. Nesta secção foi ressaltado a importância do turismo como factor de desenvolvimento das comunidades, assim como a formação de pólos turísticos como forma de ganharem competitividade e promoverem o desenvolvimento endógeno das comunidades.

Em relação as Políticas Públicas de Turismo foi observado e ressaltado a importância do estabelecimento de uma política pública responsável e coerente para o desenvolvimento sustentável das actividades. O objectivo central desta política deve ser coordenar os interesses dos diversos participantes da actividade turística e manter a actividade funcionando nos seus melhores índices de aproveitamento, principalmente no que diz respeito a melhoria da qualidade de vida das populações locais.

Para finalizar, com a análise dos capítulos 2 e 3 desta dissertação pode-se observar que para atingir o desenvolvimento sustentável e integrado das localidades turísticas é necessário o estabelecimento de um planeamento adequado. Este planeamento deve

fazer parte de uma política pública de turismo que vise desenvolver a actividade em sintonia e equilíbrio com todos os participantes do processo, dando prioridade a sustentabilidade das regiões e a melhoria das condições de vida das comunidades.

Capítulo 4