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Planeamento e Turismo no Brasil

5.2 Planeamento do Turismo no Brasil

5.2.2 Planos e programas (projectos e acções)

5.2.2.1 Plano Nacional de Turismo

Plano Nacional de Turismo – 1996/1999

O documento Política Nacional de Turismo: directrizes e programas 1996/1999 foi lançado em 1996, no governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Apresentou um conjunto de directrizes, estratégias, objectivos e acções formuladas e executadas pelo Estado através do Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, via Embratur, pelo Sistema Oficial de Turismo e pela iniciativa privada. Teve como finalidade promover e incrementar o turismo como fonte de rendimento, de geração de emprego e desenvolvimento socioeconómico do país (PNT, 1996).

De acordo com o governo4, o PNT 1996-1999 sustentava-se em cinco macroestratégias, que contemplavam a implantação de infra-estruturas básicas e turísticas, a capacitação de recursos humanos para o sector, a modernização da legislação, a descentralização da gestão do turismo e, finalmente, a promoção do turismo no Brasil e no exterior.

Os principais programas desenvolvidos pelo Governo Federal para consolidar as directrizes do PNT foram: Programa de Acção para o Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR), Programa Nacional de Municipalização do Turismo (PNMT), Programa Nacional de Ecoturismo, Programa de Formação Profissional no Sector Turístico e o Plano Anual de Publicidade e Promoção (DIAS, 2003, p. 135).

O PNMT e o PRODETUR foram os programas turísticos de maior destaque desta Política Nacional e serão analisados em separado nas secções 5.2.2.2 e 5.2.2.3, respectivamente.

Uma meta do PNT 1996-1999 cumprida com bastante propriedade foi a de investir de forma sistemática e planeada no marketing institucional, melhorando a imagem do Brasil no exterior. Para tanto, a Embratur investiu R$ 21 milhões em publicidade em 1998, contra R$ 3,6 milhões investidos em 1995. Estas campanhas visaram não só promover o turismo no Brasil como mudar a imagem do destino Brasil. Como exemplo, pode-se citar a campanha contra o turismo sexual infanto-juvenil: “Cuidado, o Brasil

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Mensagem ao Congresso Nacional da Presidência da República (1999). Disponível em www.presidencia.gov.br. Consulta efectuada em 13.10.2005.

está de olho”. Os resultados da campanha levaram a OMT a adoptar o modelo e a logomarca da campanha em 130 países associados5.

Algumas campanhas de marketing pró-turismo interno também mereceram destaque, dentre as quais podemos citar “Onde Tem Lixo Não Tem Turista”, “Viva o Seu País, É o Seu Brasil, Brasileiro” (campanha que elevou em 7% a venda de pacotes domésticos), “Viva o Seu Novo Brasil, Onde Você Chega Está em Casa” (26,7% de incremento no turismo interno) e “Viaje Seu Novo Brasil, Agora Dá, Os Preços Altos Saíram de Férias” (30% de aumento no turismo interno em relação a 1997)6.

Num balanço realizado no início de do ano 2000, o governo considerou encerrado o ciclo de desenvolvimento do turismo iniciado como o estabelecimento da Política Nacional do Turismo, e que as metas traçadas foram superadas, tendo o sector turístico contribuído com a geração de emprego e rendimento e com o desenvolvimento das regiões menos desenvolvidas do país (DIAS, 2003, p. 136).

Para Petrocchi (1998, p. 45), as principais conquistas do PNT 1996-1999 foram os investimentos realizados na divulgação do Brasil no exterior, e no fortalecimento do turismo interno.

No quadro abaixo, pode ser observado o crescimento dos principais indicadores do turismo brasileiro entre os anos de 1995 a 19987.

Tabela 1 – Turismo Brasileiro (1995 - 1998) – Principais Indicadores

ITENS RESULTADOS

1 — Desembarque em voos nacionais

Aumento nos desembarques domésticos (1995-97)

1995 — 16.763.000 1996 — 19.532.000 1997 — 21.275.000 27% em três anos 5 Idem 6 Idem 7 Idem

2 — Número de turistas estrangeiros

1995 — 1.991.000 1996 — 2.665.000 1997 — 2.989.000 3 — Taxa média anual de ocupação hoteleira (1)

1995 — 56,9% 1996 — 59,3% 1997 — 62,4% 1998 — 65,0% 4 — a) Número de projectos cadastrados na Bolsa de Negócios

Turísticos da Embratur

b) Projectos cadastrados conforme sua natureza

c) Valor médio dos projectos cadastrados d) Valor global aproximado dos investimentos

1996 — 24 Projectos· 1997 — 39 projectos 1998 — 72 projectos Parques temáticos — 17 Resort — 24 Hotéis — 31 R$ 70 milhões R$ 5 biliões

5 — Receita Turística Cambial 1995 — US$ 2.097.100 1996 — US$ 2.469.146 6 — Projectos com participação do FUNGETUR 1994 a 1997: 68 projectos

– R$ 172,6 milhões 7 — Número de Empregos gerados pelo sector (2) 6.000.000

Fonte – WTTC.

Entre os anos de 2000 e 2003, não houve um plano específico para orientação da actividade turística no país, e como consequência, neste intervalo, o fluxo turístico de chegadas internacionais sofreu uma queda considerável.

Alguns factores também colaboraram negativamente para a chegada de turistas estrangeiros ao Brasil durante este período. A crise na Argentina foi responsável pela queda de 20,7% do número de turistas que visitaram o país em 2002 – dos 989.157 turistas que o Brasil deixou de receber, 677.893 (68,5%) referem-se aos argentinos. Além destes factores, as imagens de violência urbana e o crescente número de visitantes

em busca do chamado "turismo sexual" são apontados como coadjuvantes na queda do turismo no ano de 2002 (SEBRAE PARANÁ, 2005).

Plano Nacional de Turismo – 2003/2007

A posse do novo Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva, em 1 de Janeiro de 2003, trouxe como novidade a criação de um Ministério exclusivo para o Turismo – o Ministério do Turismo (MTur). Esta concretização colocou o sector como uma das grandes prioridades do governo.

As principais atribuições do MTur são (DIAS, 2003, p. 138): 1. Realizar a política nacional de desenvolvimento do turismo; 2. Promover e divulgar o turismo nacional, no país e no exterior;

3. Estimular as iniciativas públicas e privadas de incentivo às actividades turísticas; e,

4. Planear, coordenar, supervisionar e avaliar os planos e programas de incentivo ao turismo.

Assim, em 29 de Abril de 2003, o governo divulgou o Plano Nacional de Turismo: directrizes, metas e programas 2003/2007. Foi proposto um novo modelo de gestão descentralizada e participativa, atingindo em última instância o município, onde o turismo efectivamente acontece. A proposta central do PNT é consolidar o Ministério do Turismo como o articulador do processo de integração dos diversos segmentos do sector turístico, cabendo à Embratur voltar seu foco para promoção, marketing e apoio à comercialização do produto turístico brasileiro no mundo (DIAS, 2003, p. 140).

O PNT deve ser o elo entre os governos federal, estadual e municipal; as entidades não governamentais; a iniciativa privada e a sociedade no seu todo. Deve ser factor de integração de objectivos, optimização de recursos e junção de esforços para incrementar a qualidade e a competitividade, aumentando a oferta de produtos brasileiros nos mercados nacionais e internacionais (PNT, 2003).

Este Plano propõe-se ainda minimizar as disparidades regionais, estimular a competitividade do sector, possibilitando, assim, a melhoria da qualidade de vida da população; descentralizar as decisões; e cuidar do meio ambiente. Os seus principais vectores são: redução das desigualdades regionais e sociais, geração e distribuição de rendimentos, geração de emprego e ocupação e equilíbrio da balança de pagamentos (PNT, 2003, p. 20).

Desta forma, os objectivos gerais do PNT 2003 -2007 são: desenvolver o produto turístico brasileiro com qualidade; e estimular e facilitar o consumo do produto turístico brasileiro nos mercados nacional e internacional. Dentre os objectivos específicos, foram apresentadas propostas de: oferecer um produto turístico de qualidade; diversificar a oferta turística; estruturar destinos turísticos; ampliar e qualificar o mercado de trabalho; aumentar a inserção competitiva do produto turístico no mercado internacional; ampliar o consumo do turismo interno; e aumentar a taxa de permanência e gasto médio do turista.

No PNT 2003-2007 são apresentadas como metas:

• Criar condições para gerar 1.200.000 novos empregos e ocupações, através de ofertas de crédito e acções de captação de investimentos no Brasil e no exterior para novos empreendimentos turísticos;

• Aumentar para 9 milhões o número de turistas estrangeiros no Brasil. Para isso será necessária uma promoção diferenciada no mercado internacional e investir na qualidade do produto turístico oferecido;

• Geração de 8 biliões de dólares em divisas, vinculada ao aumento do fluxo de turistas estrangeiros, ao aumento da permanência média e gastos médios per capita. Vale lembrar que para o aumento da permanência média e gastos médios por turista estão também vinculados a diversificação e qualificação do produto turístico brasileiro; • Aumentar para 65 milhões a chegada de passageiros nos voos domésticos como consequência também da diversificação e qualificação do turismo nacional;

• Ampliar a oferta turística brasileira, desenvolvendo no mínimo três produtos de qualidade em cada Estado da Federação e Distrito Federal.

Entre os macro-programas apresentados pelo MTur como forma de viabilizar o alcance dos objectivos anteriormente citados, estão:

1. Gestão e Relações Institucionais: esse macro-programa ressalta a importância de integrar os sectores públicos e privados, no sentido de facilitar o desenvolvimento do sector. Os objectivos são: integrar os governos federal, estadual e municipal, descentralizando o processo de decisão no Turismo Brasileiro; Integrar o sector público e o sector privado e demais instituições, optimizando recursos e dando eficiência às acções; monitorar e avaliar os resultados do plano nacional de turismo; e participar dos fóruns internacionais de interesse do turismo.

2. Fomento: Este macro-programa trata de dois importantes programas – programa de atracção de investimento e programa de financiamento para o turismo. Os objectivos são: ampliar e melhorar a infra-estrutura turística do país; aquecer o mercado interno através de financiamento ao consumidor final; captar investidores para o Brasil; facilitar o crédito à pequena e média empresa; captar investimentos para áreas ainda não desenvolvidas e gerar novos postos de trabalho.

3. Infra-estruturas: este importante macro-programa trata de uma condição básica para o desenvolvimento do turismo – as infra-estruturas. É dividido em: Programa de Desenvolvimento Regional e Programa de Acessibilidade Aérea, Terrestre, Marítima e Fluvial. Os objectivos principais são melhorar as condições de vida nas cidades turísticas, criar condições para a implantação de equipamentos turísticos, facilitar o acesso de turistas e equilibrar o desenvolvimento das regiões brasileiras.

4. Estruturação e Diversificação da Oferta Turística – Este macro-programa visa estruturar e diversificar a oferta do produto turístico brasileiro. Divide-se em: Programa de Roteiros Integrados e Programa de Segmentação. Os seus objectivos são também diminuir as desigualdades regionais, ajudar a aumentar o fluxo de turistas nacionais e internacionais e aumentar o tempo de permanência do turista internacional com um leque maior de serviços oferecidos.

5. Qualidade do Produto Turístico – Além de ser responsável pela qualificação profissional da área de turismo, este macro-programa trata ainda da regulamentação do sector, normatizando e fiscalizando segmentos e a actividade turística. Busca desempenhar um papel indutor da qualificação dos serviços prestados e estimular os mecanismos de Fiscalização, para evitar a prática de abusos, tanto nas relações internas do sector quanto na venda ao consumidor.

6. Promoção e Apoio à Comercialização – este macro programa visa a comercialização do produto turístico brasileiro no exterior, com actuação nos principais mercados emissores internacionais e nos mercados sul-americanos, sendo também

considerada uma estratégia de promoção da imagem diversificada do produto brasileiro. Tem como objectivos: aumentar o fluxo de turistas estrangeiros e nacionais no Brasil, promover a diversidade cultural e regional brasileira, promover as diferentes regiões brasileiras diminuindo as suas desigualdades e fortalecer o segmento de negócios, captando uma maior quantidade de eventos para o Brasil.

7. Informações Turísticas – este macro-programa propõe os seguintes Programas: de base de dados, de pesquisa de procura, de avaliação dos impactos do turismo, de avaliação de oportunidade de investimento como forma de atingir os seus objectivos de conhecimento da oferta turística nacional, avaliação dos impactos gerados pela actividade, conhecimento da demanda internacional e suporte de dados para gestão, desenvolvimento, promoção e marketing.

Muitas críticas foram realizadas ao PNT 2003-2007. De acordo com Luz (2003), o PNT é um plano desfocado e megalomaníaco. Desfocado porque, segundo o autor, o Plano preocupa-se com a geração de empregos, mas não apresentou, a principio, propostas para a qualificação da mão-de-obra turística, e megalomaníaco por apresentar “metas aparentemente espectaculares e bilionárias”.

A questão da promoção do Brasil no exterior, como um produto de qualidade, é outro ponto que, segundo Luz (2003), apresenta incoerência, pois o próprio PNT afirma que o sector não está devidamente estruturado. Para o autor, a promoção só deveria ser realizada depois que o turismo interno estivesse estabelecido e estruturado. Esta seria uma forma de se capacitar a mão-de-obra e atingir a qualidade na prestação de serviço para satisfazer as expectativas dos turistas internacionais. O autor ressalta ainda que as metas estabelecidas pelo PNT de aumentar o fluxo turístico internacional para 9 milhões até 2007 são improváveis, visto que não há base de dados que demonstrem ser possível esta tendência.

Santos Filho (2003) também realiza críticas profundas ao PNT 2003-2007, principalmente no que diz respeito ao diagnóstico realizado. O diagnóstico afirma a existência de pouca diversidade no produto turístico brasileiro actualmente oferecido que, ao que consta, é de enorme variedade. Quanto às desigualdades regionais e sociais, o autor aponta a necessidade de uma política macroeconómica mais consistente, além também da necessidade de profissionalização e formação de mão-de-obra local,

principalmente ao nível técnico, para que o turismo seja instrumento de integração e não exclusão social.

Apesar das críticas realizadas ao PNT 2003-2007, o que se pode observar, até o final de 2005, é o constante crescimento da actividade. Segundo dados do Ministério do Turismo (2006), em 2002 desembarcaram no Brasil 3,8 milhões de turistas internacionais, 4,1 milhões em 2003, 4,7 milhões, em 2004, e 5,4 milhões de turistas e em 2005.

No que se refere aos gastos, em 2003 foram deixados US$ 2,480 biliões, em 2004 foram deixados US$ 3,222 biliões, e em 2005 foram deixados US$ 3,861 biliões, confirmando os sucessivos crescimentos em número de turistas e em recursos deixados no país por conta do turismo, conforme pode ser visualizado no Gráfico abaixo (Ministério do Turismo, 2006):

Ilustração 2 – Gasto de Turistas Estrangeiros no Brasil

Fonte: Ministério do Turismo, 2006