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O solo, devido ao seu carácter não renovável à escala humana e por constituir o suporte físico da vegetação e, como tal, da fauna silvestre, é, provavelmente, o recurso mais importante da biosfera. A formação de um solo pode demorar várias centenas ou mesmo milhares de anos. Calcula‑se que um centímetro de solo demore entre 100 a 400 anos a formar‑se. Os solos férteis utilizados pela agricultura demoraram entre 3.000 a 12.000 anos para se tornarem produtivos.

Mas o que é a desertificação?

A Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação defi‑ ne desertificação como “degradação do solo em zonas áridas, semi‑áridas e sub‑húmidas, resultante de vários factores incluindo variações climáti‑ cas e actividades humanas” (UNCCD Art. 1a). Das variações climáticas naturais às alterações climáticas induzidas pelas actividades humanas, passando pela sobre‑exploração do solo ou pelos incêndios florestais, a desertificação tem origem numa complexa rede de interacções entre factores físicos, biológicos, políticos, sociais, culturais e económicos.

Por outras palavras, a desertificação é a degradação dos solos que perdem a sua fertilidade e, consequentemente, a sua capacidade de su‑ portar a vegetação. A degradação pode acontecer devido a secas pro‑ longadas, processos erosivos, ou sobre‑exploração do solo através de práticas agrícolas, florestais e de pecuária incorrectas, podendo ainda ser amplificada esta deterioração pela ocorrência de incêndios florestais.

Em Portugal, a desertificação é particularmente relevante nas zonas mais secas do país, onde séculos de utilização humana degradaram os so‑ los e fragilizaram os ecossistemas. O clima mediterrânico torna as zonas agrícolas particularmente vulneráveis aos processos de erosão do solo, já que combina Verões quentes e secos com períodos de chuva intensa no Outono e Inverno. O longo Verão quente e seco faz secar toda a vegetação menor, restando vivas apenas as árvores e arbustos cujas raízes conseguem ir buscar água ao solo mais profundo. Quando chegam as primeiras pre‑

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cipitações do Outono, devido ao menor coberto vegetal, os solos encon‑ tram‑se mais vulneráveis à erosão pela água da chuva, que pode ainda ser agravado por más práticas agrícolas. A existência de um coberto vegetal é, portanto, um factor preponderante no combate à desertificação, uma vez que protege o solo da erosão. Por outro lado, a degradação do solo implica a perda do suporte físico para a vegetação, que acaba por não conseguir sobreviver, deixando‑o mais desprotegido, acelerando o processo erosivo.

Os incêndios podem ser agentes também de desertificação, por elimina‑ rem a vegetação que protege o solo dos processos erosivos. Após um incên‑ dio, quando chegam as primeiras chuvas e se estas forem intensas, grandes quantidades de solo poderão ser arrastadas para os rios e para o mar. Não só

perde o ecossistema a sua camada de solo mais superficial (fértil e de supor‑ te para as plantas), como a jusante as barragens ficam assoreadas diminuindo não só a quantidade de água armazenada mas igualmente a qualidade desta.

O despovoamento, ou “desertificação humana”, é também efeito e cau‑ sa de degradação do solo. Se, por um lado, a pobreza das terras desincentiva o investimento económico e social reduzindo a capacidade de suporte para a população humana, por outro, a ausência do Homem pode ser ela mesma um agente potenciador da desertificação, por falta de acções mitigadoras, deixan‑ do o solo exposto a fenómenos destruidores, como os incêndios ou as enxur‑ radas. É devido a esta estreita relação entre desertificação e despovoamento que o combate à desertificação passa também por manter a viabilidade eco‑ nómica, ambiental e social das áreas mais vulneráveis. A manutenção das for‑ mações florestais existentes e a expansão da área florestal podem representar por si só uma via de consolidação das paisagens e da respectiva base biofísica e ecológica. A viabilização de actividades como a silvopastorícia ou o turis‑ mo ambientalmente sustentável representam oportunidades ímpares para a manutenção das populações humanas e para a conservação da natureza.

Para maior desenvolvimento deste tema ver capítulo V.2 do Guião de Educação Ambiental – conhecer e preservar as florestas.

REFERêNciAs BiBliOgRáFicAs

“Univ. s. Paulo – ciências para professores do ensino fundamental” (http://educar. sc.usp.br/ciencias/recursos/index.html)

UNEscO, (1997) learning to combat desertification – Education Kit on desertification, a teachers guide.

Programa de Acção Nacional de combate à Desertificação http://panda.igeo.pt/pancd/

Branco, M. e P. Ramos, (2009). coping with pests and diseases. cork Oak Woodlands: Ecology, Management, and Restoration of an Ancient Mediterranean Ecosystem. J. s.

P. James Aronson, Juli Pausas, island Press.

cottrell Jr, William H., The Book of Fire, Mountain Press Publishing company, 1989 castro c. F., serra g., Parola J., Reis, J., lourenço l, correia s., 2002. combate a incên‑

dios Florestais. Escola Nacional de Bombeiros, sintra. Figura 27 | Erosão do solo.

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5. As políticas de Ambiente

O desenvolvimento sustentável não é mais do que o uso e exploração de um conjunto de bens para que eles se mantenham, e, se possível, melhorem, para uso das gerações vindouras, tendo em linha de conta o equilíbrio entre as componentes ambientais, sociais e económicas.

A sua aplicação no espaço florestal está relacionada com o facto de a floresta constituir um recurso natural renovável, cujos rendimentos (económicos e outros), são em teoria permanentes, quando correcta‑ mente geridos. Os séculos de intervenção do ser humano sobre a flores‑ ta implicam ‑no directamente no conceito de sustentabilidade dos recur‑ sos florestais – essa intervenção passa agora pela gestão florestal activa no sentido de tentar recuperar o equilíbrio necessário à manutenção de todas as suas funções e perpetuá‑los para os seus descendentes.

Porque o ambiente é global e a floresta um bem e um património colec‑ tivo, a temática florestal extravasa os limites definidos pelas fronteiras adminis‑ trativas. Como tal, os benefícios, os compromissos e os desafios são comuns a todos os países e as responsabilidades partilhadas. Neste capítulo vão ser apre‑ sentadas sumariamente as mais importantes iniciativas e directivas (internacio‑ nais, europeias e nacionais), de protecção dos recursos naturais do planeta, com aplicação no espaço florestal, e com vista ao seu desenvolvimento sustentável.

Para maior desenvolvimento deste tema ver capítulo IV do Guião de Educação Ambiental – conhecer e preservar as florestas.

5.1. Directivas e Compromissos Internacionais