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Como já foi referido neste manual, a floresta tem árvores, matos, herbáceas, matéria vegetal seca e morta, que constituem um manto de combustível.

Vamos perceber neste sub‑capítulo o comportamento do fogo nos ecossistemas florestais.

4.3.1. Comportamento do fogo

O comportamento do fogo compreende a maneira como os combustí‑ veis se inflamam, como as chamas se desenvolvem e o fogo se propaga. Este comportamento é determinado por três factores:

a) Quantidade e tipo de combustível presente b) Condições meteorológicas existentes c) A topografia da região onde o fogo arde

a) A composição do combustível, nomeadamente no que se refere à sua humidade, composição química e densidade determina Figura 23 | As duas primeiras fases da combustão: o pré‑aquecimento e a

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o seu grau de inflamabilidade (facilidade de ignição e de propagação). As árvores vivas contêm normalmente grandes quantidades de água nos tecidos, ao contrário dos troncos mortos. Este conteúdo de água e a distribuição no espaço dos combustíveis define a rapidez de pro‑ pagação do fogo bem como a intensidade e temperatura que pode atingir. Um alto teor em humidade pode abrandar o processo de combus‑ tão, uma vez que o calor do fogo tem primeiro que a eliminar. Para além da humidade, a composição química do combustível determina a rapidez de combustão. Algumas plantas, arbustos e árvores contêm óleos e resinas que promovem a combustão, ardendo mais fácil, rá‑ pida ou intensamente do que aquelas que não têm esses produtos. Em relação à densidade do combustível, se as partículas deste estão juntas, vão inflamar‑se umas às outras, fazendo com que o combustí‑ vel arda rapidamente. Mas se as partículas estão tão juntas que o ar não pode circular entre elas, o combustível não arde livremente. Este é o caso por exemplo de madeiras muito densas como a da azinheira ou menos densas como a do pinheiro. Estas duas espécies ardem de maneira diferente.

b) As condições meteorológicas, como o vento, temperatura e humidade do ar também contribuem para o comportamento do fogo. O vento é um dos factores mais importantes porque pode tra‑ zer consigo um fornecimento extra de oxigénio ao fogo, bem como empurrá‑lo para uma nova fonte de combustível.

A temperatura ambiente determina a temperatura do combustível, uma vez que este material obtém o seu calor absorvendo a radiação solar, influenciando a sua susceptibilidade para a ignição. Em geral, os combus‑ tíveis inflamam mais facilmente a altas temperaturas do que a baixas. A humidade no meio ambiente – quantidade de vapor de água no ar – afec‑ ta o nível de humidade do combustível. Com níveis baixos, os combustíveis tornam‑se secos e por isso ardem mais rapidamente do que quando os níveis são elevados. A humidade do ar também depende da temperatura ambiente. Quanto maior for a temperatura ambiente, maior é a quantida‑ de de vapor de água que pode existir na atmosfera. Mas como a quantida‑ de de vapor de água é relativamente estável nos nossos espaços florestais,

uma vez que não são frequentes grandes superfícies de água que possam fornecer quantidades importantes de vapor de água por evaporação, à medida que a temperatura sobe durante o dia o ar vai ficando mais seco. c) A topografia influencia a progressão de um fogo. Numa encosta, um fogo sobe muito mais rápido do que desce. Isto porque a chama

Para saber um pouco mais

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ao subir vai pré‑aquecer os combustíveis acima situados, o que au‑ menta a velocidade de propagação.

Como se pode observar na figura 24, no ponto 1. a chama pré‑aquece (por radiação) somente as árvores que estão mais próximas. O fogo pro‑ gride devagar. No ponto 2. a chama pré‑aquece mais árvores devido ao seu posicionamento na encosta. O fogo progride muito mais depressa e sobe a encosta. Por último no ponto 3. a chama não consegue facilmente aquecer mais árvores, por isso consome o combustível que tem dispo‑ nível e apaga‑se.

Na mesma figura, porém já com o efeito do vento, este empurra a chama para as árvores não ardidas, o que permite que através da radia‑ ção estas sejam mais rapidamente pré‑aquecidas. O mesmo acontece quando está a subir a encosta, mas com maior intensidade do que na figura anterior. No topo da colina, o vento dobra a chama o que vai fazer com que esta, ao invés do que acontecia no ponto 3., vá pré‑aquecer as árvores na encosta descendente provocando a progressão do fogo na encosta seguinte.

O vento pode ainda desencadear o denominado salto de fogo, em que devido ao transporte de elementos incandescentes como folhas e pinhas, se iniciam novos pequenos fogos à frente daquele que já está a deflagrar, aumentando a velocidade de propagação do fogo.

A propagação de um incêndio florestal é normalmente feita de acor‑ do com três padrões:

a) Incêndio de superfície, que se propaga com uma frente de chamas e queima a folhada, os troncos caídos e outros combustíveis ao nível do solo (figura 25 a);

b) Incêndio de copa, que se propaga pelas camadas mais altas da folha‑ gem das árvores, na copa. Estes fogos, são os mais intensos e frequen‑ temente os mais difíceis de controlar, necessitando de ventos fortes, declives acentuados e grandes quantidades de combustível para se manter a arder (figura 25 b).

c) Incêndio subterrâneo, onde arde a matéria orgânica no solo logo abaixo da folhada, e que é suportado por uma combustão incandes‑

Figura 25 a | Incêndio de superfície.

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cente (sem chama). Este tipo de incêndio, apesar de poder ocorrer em Portugal, não costuma percorrer grandes distâncias, pois os solos com muita matéria orgânica são muito raros em Portugal (figura 25 c). Para maior desenvolvimento deste tema ver capítulo V.3 do Guião de Educação Ambiental – conhecer e preservar as florestas.