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A produção de bens de utilidade directa tem sido a principal função da floresta desde o alvor da humanidade. As matérias ‑primas florestais fo‑ ram trabalhadas e transformadas em energia, habitação, papel, entre tantos outros bens considerados hoje como indispensáveis. O mundo ocidental tem vindo a gerir e a ordenar as suas florestas com vários fins, sendo um dos principais garantir o fornecimento sustentável destes produtos.

A floresta fornece um amplo leque de bens directos, sendo os mais valorizados a madeira, a cortiça, a celulose, a biomassa para a energia, os frutos e as sementes e outros materiais vegetais e orgânicos como os cogumelos e as cascas das árvores.

3.3.1 Madeira

O pinheiro ‑bravo (figura 12) é a espécie mais usada no nosso país para produção de madeira para a indústria do mobiliário. Trata ‑se de uma espécie de crescimento relativamente rápido (idade de corte perto dos 40 anos), com madeira de qualidade para um vasto leque de produtos, podendo ser usada, por exemplo, para carpintaria, soalhos, aglomerados ou pasta para papel.

As madeiras designadas como “nobres” no mercado – carvalho, cerejeira ‑brava, nogueira, castanheiro, entre outras – podem ser explo‑ radas aos 45 anos, caso do castanheiro, ou em ciclos mais longos, como

a cerejeira ‑brava (60 anos) ou o carvalho ‑alvarinho ou a nogueira (80 anos). Embora estas espécies tenham maior valor económico, são pouco utilizadas pelos produtores devido às suas maiores exigências ecológicas, sobretudo em relação à precipitação e fertilidade do solo.

3.3.2. Pasta para papel

O eucalipto é outra espécie de grande importância económica no nosso país, cuja madeira é aproveitada pela sua celulose para produção de pasta para papel de alta qualidade.

O elevado interesse em Portugal por esta espécie advém do elevado rendimento que proporciona num curto período de tempo. O primeiro

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corte pode ser realizado 12 anos depois da plantação, o que proporciona rendimento substancialmente mais cedo que as outras espécies, e simul‑ taneamente reduz o risco de perda de produção por incêndio. É uma árvore que rebenta de toiça, isto é, que volta a crescer a partir do cepo cortado, o que possibilita mais uma ou duas produções sem necessidade de replantar (rotação).

Em Portugal Continental, os eucaliptos são as árvores de maiores dimensões existentes na actualidade, podendo atingir 10 metros de perí‑ metro à altura do peito (1,30 m) e mais de 70 metros de altura.

3.3.3. Cortiça

A cortiça é a “casca do sobreiro”, matéria ‑prima florestal renovável e de grande versatilidade. O sobreiro é usualmente explorado em dois tipos de povoamento. Os sobreirais são povoamentos densos, em geral dedicados exclusivamente à produção de cortiça. Os montados de sobro, povoamentos de baixa densidade, são o tipo mais frequente, e são geral‑ mente sistemas de produção agro ‑silvo ‑pastoril.

A actividade de extracção de cortiça é regulada por lei, para asse‑

gurar uma utilização sustentável deste recurso. A primeira extracção ocorre pelos 20 a 30 anos e as subsequentes com um intervalo mínimo de 9 anos. Apenas a partir da terceira extracção a cortiça atinge uma elevada qualidade (cortiça amadia).

A cortiça tem um amplo leque de usos e aplicações, sendo o mais tra‑ dicional o fabrico de rolhas para bebidas, promovendo o envelhecimento e o desenvolvimento de vinhos de qualidade e aguardente. Tem também muitas aplicações na construção civil como revestimento, devido às suas propriedades isolantes. É ainda utilizada em indústrias tão diversas como a automóvel, do calçado e a aeroespacial, entre uma infinidade de outras aplicações que não cessam de crescer.

Figura 13 | Transporte de madeira de pinheiro.

Para saber um pouco mais

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3.3.4. Biomassa para energia

A biomassa para energia é a massa de matéria vegetal existente nas flo‑ restas e também a que já foi transformada em produtos ou subprodutos silvícolas. Este conceito engloba também os resíduos das indústrias de celulose, serrações, resíduos urbanos e de outras indústrias.

A biomassa florestal como fonte de energia surge, no contexto ac‑ tual, como uma das vias para reforçar a produção de energia a partir de fontes renováveis.

Com o aproveitamento da biomassa é possível ampliar o valor económico dos espaços florestais, e simultaneamente reduzir os incêndios florestais, pois existe uma retirada do material de menores dimensões que arde facilmente. No entanto, é necessário ter em atenção o equilíbrio natural do ecossistema, não sendo aconselhável retirar toda a biomassa da floresta. A existência de matos, árvores mortas e matéria orgânica no solo promove o aumento da biodiversidade, a manutenção do ciclo dos nutrientes e a riqueza dos solos.

3.3.5. Frutos e sementes

Os frutos e sementes podem ser consumidos directamente, aproveitados in‑ dustrialmente ou utilizados para a alimentação do gado. São exemplos o pinhão, a castanha, a noz, o medronho, a alfarroba, a bolota e a avelã, entre outros.

O pinhão de pinheiro manso constitui uma fatia económica impor‑ tante no sector florestal. Anualmente produzem‑se 50.000 toneladas de pinha, a que correspondem 2.500 toneladas de pinhão. Cerca de 20% das pinhas são processadas pelas indústrias nacionais, destinando‑se 90% do pinhão à exportação. O pinhão nacional é de elevada qualidade, atingindo os 17,5 €/kg na indústria.

A castanha é também muito valorizada, sendo uma componente impor‑ tante na economia das populações rurais. Nas regiões de produção é um im‑ portante alimento não só para as pessoas mas também para os animais. A sua produção é de 26.000 toneladas por ano a um preço médio de 1.260 €/ton.

A produção de bolota, nos montados de sobro e azinho do Sul de país, outrora essencial na dieta humana, apresenta hoje um valor económico cres‑ cente, pois está associada à produção de gado doméstico e bravio, sendo de salientar uma crescente expressão na engorda do porco ‑preto alentejano.

3.3.6. Outros produtos

Os diferentes espaços florestais apresentam um amplo leque de produ‑ tos para além dos já citados.

A extracção de resina de pinheiro foi uma actividade importante para a economia rural no passado. Porém, devido à conjuntura internacional, esta produção tornou ‑se pouco rentável no nosso país, estando em vias de desaparecimento.

Nas florestas encontram ‑se ainda uma grande variedade de cogume‑ los, plantas aromáticas e medicinais, nomeadamente: funcho, poejo, ale‑ crim, rosmaninho, espargos, tomilho, absinto, louro, entre tantos outros. Apesar do elevado valor de mercado de alguns destes produtos, não existem ainda estatísticas que nos permitam quantificar esse valor.

A produção de mel é mais uma das actividades com interesse económico associadas aos espaços florestais. As abelhas podem utilizar as flores de espé‑ cies florestais (ex. eucalipto), ou usufruir dos diferentes matos e espécies melífe‑ ras que se encontram nestas áreas, como por exemplo o rosmaninho e a urze. Nalgumas regiões, destaca ‑se como uma fonte de rendimentos apreciável, sen‑ do o seu valor de produção anual estimado em cerca de 8 milhões de euros.

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Para maior desenvolvimento deste tema ver capítulo III.1 do Guião de Educação Ambiental – conhecer e preservar as florestas.