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Pragas e doenças – as árvores também são atacadas

Os agentes bióticos são organismos que fazem parte dos ecossistemas na‑ turais. As pragas são originadas principalmente por insectos, e as doenças são causadas por fungos, bactérias ou vírus. Os danos que causam são geral‑ mente baixos, pois existe um equilíbrio entre hospedeiros, pragas/doenças e seus predadores e parasitas. Estes organismos nocivos atacam sobretudo árvores que já se encontram enfraquecidas. Nas florestas de produção a vulnerabilidade é maior pois as plantações são quase sempre monoespecífi‑ cas, o que aumenta a quantidade de hospedeiros susceptíveis a determinada praga ou doença, à qual acresce uma menor biodiversidade, resultando em menos inimigos naturais que as possam controlar. As variações meteoro‑ lógicas (por exemplo, episódios de frio ou calor extremo, secas) desempe‑ nham também um papel fundamental na dinâmica das pragas e doenças, ao enfraquecerem as árvores e, frequentemente, criarem condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento de agentes nocivos.

Ao contrário da agricultura, o combate a pragas e doenças não tem sido frequente nas florestas. A grande extensão das florestas acarreta custos muito elevados para os tratamentos, que dificilmente serão recu‑

perados no momento do corte, e a probabilidade de reincidência do pro‑ blema é grande, devido à longa duração do ciclo produtivo. As acções de combate devem por isso ser devidamente ponderadas e têm ‑se limitado a espécies de elevado valor económico, ou natural, como, por exemplo, o sobreiro, ou quando a saúde pública pode estar em risco, como é o caso da presença da processionária do pinheiro em núcleos urbanos. Recentemente, a questão do nemátodo da madeira do pinheiro, agente de elevada nocividade para o pinhal, tem vindo a mudar este paradigma.

4.1.1. Processionária do Pinheiro

A processionária, também conhecida como a “lagarta do pinheiro” (figura 20), é uma praga que parasita quase todas as espécies de pinheiro e cedros. É um insecto desfolhador, que se alimenta das agulhas dos pinheiros quando está

Para saber um pouco mais

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na forma de lagarta. As lagartas têm um comportamento gregário, andam em procissão umas atrás das outras, resultando daí o seu nome – processionária. Nesta fase do seu desenvolvimento, estes insectos possuem pêlos urticantes de elevado potencial alérgico (microdardos), que lançam quando ameaçadas, podendo causar graves problemas de saúde pública.

Escolas que tenham pinheiros nos pátios ou nas suas imediações têm de estar atentas a esta situação, chamando de imediato os serviços da sua Câmara Municipal para resolver o problema. Os alunos não devem mexer nas lagartas, nem brincar junto das mesmas.

Esta praga é muito comum no Mediterrâneo, tendo como inimigos naturais o pica ‑pau e outras aves insectívoras, morcegos e aranhas.

4.1.2. Nemátodo da madeira do pinheiro

O nemátodo é um verme de dimensão microscópica originário da América do Norte. Fora do seu habitat natural pode causar danos catastróficos, como aconteceu no início do sec. XX na Ásia, onde dizimou centenas de milhares de hectares de resinosas em pouco tempo. Em Portugal foi detec‑ tado na zona de Setúbal em 1999, tendo‑se implementando o Programa Nacional de Luta Contra o Nemátodo da Madeira do Pinheiro (PROLUNP), com o objectivo de controlar este agente e evitar a sua dispersão.

A sua dispersão é feita por um insecto vector, que em Portugal é o longicórnio do pinheiro. Este transporta os nemátodos nas traqueias, e quando se alimenta dos raminhos e rebentos de árvores adultas, deixa pequenas feridas que são aproveitadas pelo nemátodo para penetrar nos vasos do xilema, onde se reproduz e acaba por entupir os vasos, provo‑ cando a morte da árvore. Um dos sintomas visíveis nas árvores é a copa ficar com uma cor amarelada, que rapidamente passa a uma colora‑ ção castanho‑avermelhada (emurchecimento das folhas, Figura 21). O pinheiro‑bravo é das espécies florestais mais afectadas por esta doen‑ ça que tem contribuido para o seu declínio.

Os meios de controlo possíveis são o corte e destruição das árvores atacadas, durante o período do Inverno e o controlo da população de insec‑ tos vectores durante o período de Primavera‑Verão. Como medida preven‑ tiva não se deve escolher o Pinheiro‑bravo para acções de arborização em

zonas onde se encontra o nemátodo, sendo aconselhado usar espécies mais resistentes, como por exemplo o Pinheiro‑manso ou espécies folhosas. PARA MAis iNFORMAçõEs cONsUlTAR:

http://www.afn.min‑agricultura.pt/portal/pragas‑doencas/ http://www.confagri.pt/Floresta/pragas/praga11.htm

4.1.3. O declínio do montado de sobro

O declínio dos povoamentos de sobreiro tem sido motivo de grande preocupação em Portugal e na bacia mediterrânica em geral. Apesar dos Figura 21 | Pinheiro com sintomas de ataque pelo nemátodo da madeira do pinheiro (Bursaphelenchus xylophilus).

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muitos estudos já realizados, as suas causas não são ainda alvo de consen‑ so entre a comunidade científica. Alguns dos factores identificados estão relacionados com condições ambientais ou deficiências na gestão, como sejam respectivamente as podas e o descortiçamento excessivo ou as lavouras do solo, que destroem as raízes “pastadeiras” (de desenvolvi‑ mento horizontal) das árvores, e o efeito de anos de seca consecutivos. Os povoamentos de sobreiro são sistemas heterogéneos e de grande complexidade, frequentemente associados à exploração agrícola e pe‑ cuária. Os impactos destas actividades, em conjunto com os factores abióticos, podem resultar numa debilitação progressiva, aumentando a vulnerabilidade a pragas e doenças que normalmente seriam apenas agentes secundários.

Uma destas doenças é a doença da tinta, causada por um parasi‑ ta que ataca as raízes (Phytophthora cinnamomi). Este fungo poderá ser um dos principais agentes envolvidos na mortalidade dos sobreiros. Recentemente foi proposto um tratamento que impede o desenvolvi‑ mento dos sintomas nas árvores atacadas pelo parasita, mas a sua eficácia de longo prazo ainda não foi comprovada.

Para maior desenvolvimento deste tema ver capítulo V.1 do Guião de Educação Ambiental – conhecer e preservar as florestas.