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Em Portugal, a necessidade de dotar as florestas de um quadro de referên‑ cia geral, a médio prazo, que seja reconhecido pela sociedade e por todos os agentes do sector, conduziu já em 1996 à adopção unânime pela Assembleia da República da Lei de Bases da Política Florestal e à elaboração em 1998

do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Floresta Portuguesa. Derivam desta legislação os Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF), “ins‑ trumentos sectoriais de gestão territorial”, que estabelecem as normas de in‑ tervenção sobre a ocupação e utilização dos espaços florestais, a nível local. Actualmente, a Estratégia Nacional para as Florestas (assinada em 2006), constitui o documento de referência das orientações e planos de acção pú‑ blicos e privados, para o desenvolvimento do sector florestal nas próximas décadas. A Estratégia Nacional para as Florestas insere ‑se na Estratégia Florestal da União Europeia e concretiza ‑se desde já com a adopção de medidas no âmbito do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) e do Plano Estratégico Nacional do Desenvolvimento Rural (PENDR) e em planos e programas especiais, como os da Defesa da Floresta contra Incên‑ dios (PNDFCI) ou o da Luta contra o Nemátodo do Pinheiro (PROLUNP), onde são definidos os objectivos específicos, as metas, a repartição de res‑ ponsabilidades e o quadro de recursos humanos e financeiros.

Por outro lado, as características inerentes à propriedade florestal portuguesa, e nomeadamente a preponderância da propriedade priva‑ da, vieram despoletar iniciativas privadas de desenvolvimento da gestão florestal. Este é o caso das recentemente criadas Zonas de Intervenção Florestal – ZIF – que visam a constituição, com base voluntária por parte dos proprietários, de áreas florestais suficientemente grandes para su‑ portarem uma gestão conjunta. Estas estão sujeitas a uma legislação pró‑ pria, que confere benefícios aos proprietários que adiram, viabilizando um ordenamento e gestão compatíveis com a sustentabilidade. Pretende‑ ‑se com esta iniciativa associar as boas práticas silvícolas ao equilíbrio ambiental e aos interesses económicos dos proprietários, sem esquecer os interesses da Sociedade em geral pelos valores colectivos da floresta.

Para maior desenvolvimento deste tema ver capítulo II.4 do Guião de Educação Ambiental – conhecer e preservar as florestas.

REFERêNciAs BiBliOgRáFicAs

DgRF (2006) Estratégia Nacional para as Florestas. DgRF, lisboa. Em: http://www. afn.min ‑agricultura.pt/portal/politica ‑e ‑planeamento ‑florestal/enf

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6. Um olhar sobre a educação ambiental

Consideramos que o termo “Educação Ambiental” é aquele que melhor enquadra a abordagem educativa da floresta que procuramos aqui pro‑ mover. Apesar deste termo ter sido usado indevidamente para enquadrar actividades educativas que perderam de vista a razão de ser e o propósi‑ to de onde radica a educação, é aquele que salienta algo basilar: trata ‑se duma educação sobre o ambiente, para o ambiente e no ambiente.

Uma educação à qual está inerente o desígnio de conduzir à sustentabili‑ dade. Esse objectivo de encontrar novos caminhos de relação com os siste‑ mas vivos, que não comprometam a capacidade de sustentação da vida sobre a Terra, é a razão de ser da educação ambiental. O entendimento profundo deste objectivo é central. Sem ele, arriscamo ‑nos a deixar escamotear a ver‑ dadeira missão da educação ambiental e comprometemos a sua eficácia.

Não nos podemos esquecer que o desenvolvimento sustentável é um caminho onde se procura equilibrar três grandes perspectivas do mes‑ mo sistema: a ecológica, a social e a económica. Assim, uma educação promotora de um tal desenvolvimento terá de abarcar o conhecimento, a reflexão e a prática que permitam conduzir ao equilíbrio destes três componentes da vida humana no tempo.

A experiência mostra ‑nos que as soluções mais sustentáveis resul‑ tam da procura de consensos alargados, nos quais convergem os diferen‑ tes interesses presentes nas populações. Daí a importância da educação ambiental promover a participação activa das populações, não só na im‑ plementação de medidas amigas do ambiente, mas também na própria tomada de decisão. Uma participação fundada numa ligação ao ambiente que o torna inerente à identidade de cada um.

Promover a cidadania ambiental participativa é um trabalho educa‑ tivo que não se pode alhear de opções políticas claras ou escusar ‑se a fazer uma reflexão não conformada com o sistema de valores vigente. Por isso, o educador ambiental precisa também de responder à neces‑

sidade de educar para uma cultura de democracia, tolerante, solidária e socialmente interveniente.1

Mas deve ir ainda um pouco mais longe se quiser promover transfor‑ mações duráveis. Precisa de entender claramente as raízes da actual crise ecológica e humana, e de coragem para encontrar soluções que desafiem os paradigmas e modelos de desenvolvimento predominantes. A questão é, se a educação ambiental não trabalhar sobre a essência do problema, transformando as suas causas, não passará de mais uma operação cosmé‑ tica sem reais consequências.

Então, que causas serão essas? O que nos fará aceitar tacitamente um sistema económico dependente de um consumo crescente, que concentra os recursos nas mãos de poucos enquanto empobrece sistematicamente o resto da humanidade e, em simultâneo, aniquila as bases de sustento da vida na Terra? Porque participamos nesta loucura colectiva que, sem a cumplicidade de cada

1. É uma eco ‑filósofa activista. criou um enquadramento teórico inovador para as mudanças pesso‑ ais e sociais, e uma metodologia para a sua aplicação em workshops. http://www.joannamacy.net

“O que a humanidade é capaz de amar por mero dever ou exortação moral é, infelizmente, muito limitado. [...] O necessário cuidado flúi naturalmente se a pessoa tiver uma consciência alargada e aprofundada, de modo que a protecção da Natureza é sentida e concebida como a pro‑ tecção de nós próprios”.

Para saber um pouco mais

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cidadão anónimo, ruirá? Porque aceitamos esta forma de estar e de pensar que nos faz crer numa superioridade cultural, quando afinal ela se revela tão destrutiva para a Terra e para a própria felicidade humana?

Cabe a cada um esta reflexão. As respostas a que chegamos podem ser díspares mas possivelmente convergem no ponto central a que chamamos consciência. E esta é, talvez, a questão fundamental: tornarmo ‑nos cada vez mais conscientes, independentemente da imensa diversidade de formas que o caminho possa tomar. Tal passa certamente pelo resgate da nossa capacidade de pensar pelos nossos próprios meios, por encontrarmos a partir do sentir que emerge da experiência os nossos próprios valores e por nos permitirmos sonhar, voltando a acreditar que os ideais podem comandar a vida. Trata ‑se, tão só, de um caminho de conquista da nossa própria individuação. Sermos indivíduos por inteiro, livres e conscientes.

São vários os autores como Bill Plotkin2 ou Zenobia Barlow3 com

correntes de pensamento que hoje avançam a hipótese de que para en‑ contrar um caminho de harmonia com a Natureza, o Homem precisa de fazer as pazes com a sua própria natureza. Quer este nos pareça ou não o caminho mais acertado para resolvermos a grave crise que temos em mãos, a afirmação de Albert Einstein: “Nenhum problema pode ser resolvido a partir do mesmo nível de consciência que o criou” é capaz de ser um interessante ponto de partida para a nossa reflexão.

Enquanto educadores ambientais precisamos de reflectir sobre estas questões fundamentais. Depois, precisamos de realizar em nós próprios a mudança que preconizamos para a sociedade. Costuma dizer ‑se que ninguém tem o poder de mudar o mundo, apenas a si mesmo. Este é ou‑ tro modo de formular a máxima de Mahatma Gandhi: “Se queres mudar o mundo, sê tu próprio a mudança”. Talvez essa seja a melhor via. Ser um exemplo vivo das ideias, valores e palavras que defendemos.

2. É doutorado em psicologia e criou uma abordagem terapêutica onde a individuação emerge da experiência em contacto com a natureza selvagem. http://www.natureandthehumansoul.com 3. É co ‑fundadora e directora executiva do center for Ecoliteracy. A sua carreira tem ‑se centrado na integração da teoria e da prática acerca da liderança na mudança de sistemas ligados ao ambiente. http://www.ecoliteracy.org

6.1 Importância da Educação Ambiental no actual