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Os espaços florestais, quando geridos de forma sustentável, podem con‑ tribuir para muitos serviços do ecossistema durante um longo período de tempo. As funções de protecção mais importantes preconizadas pelo ecossistema florestal são:

• Formação e protecção do solo, regularização dos regimes hídricos. A floresta contribui para a formação e conservação do solo. O crescimento das raízes das árvores, por acção mecânica e química, vai meteorizando e alterando as ro‑ chas que se vão fragmentando em partículas cada vez mais finas. A contínua deposição de folhas, ramos e outros materiais vege‑ tais vai formar a manta morta, uma espessa camada de restos orgânicos que se vai decompondo lentamente, transformando ‑se

em húmus, que contribui igualmente para a formação do solo e enriquece os seus níveis superiores onde as raízes se expandem e absorvem os elementos nutritivos e sais minerais de que a ve‑ getação se alimenta.

A floresta constitui uma “capa” que protege o solo do impacto di‑ recto das gotas e águas das chuvas, impedindo a sua desagregação e arrastamento, protegendo ‑o da erosão. As copas das árvores fun‑ cionam como um guarda ‑chuva que intercepta a precipitação que se vai escoando lentamente ao longo dos ramos, pernadas e troncos. A manta morta dos solos florestais actua como uma esponja que impede o escorrimento superficial e absorve a água das chuvas e a que escorre das árvores, que se vai infiltrando pouco a pouco, alimentando os lençóis freáticos e reservas subterrâneas. A floresta absorve picos de precipitação, escoando lentamente as águas das chuvas, contribuindo para a regularização dos regimes hídricos, re‑ dução dos níveis de cheias e manutenção dos caudais de fontes e nascentes. Pela protecção que dá aos solos e provocar a lenta in‑ filtração, contribui igualmente para a pureza e qualidade das águas de abastecimento. A desarborização pode ter consequências graves como o deslizamento de terras e o aumento da frequência e inten‑ sidade das cheias.

• Regulação climática e captação de nevoeiros. A flo‑ resta funciona como um regulador climatérico, reduzindo as am‑ plitudes térmicas e criando um ambiente mais fresco e húmido. As árvores quer em bosquetes, quer em alinhamentos, intercep‑ Figura 16 | Favos de mel.

Para saber um pouco mais

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da atmosfera (figura 18). Mas não é só a queima de combustíveis fós‑ seis que está a aumentar os gases com efeito de estufa. O aumento de população associado ao desenvolvimento tecnológico aumentou a pressão para converter as florestas em pastos e campos agrícolas. A remoção da floresta tem como consequência a libertação do car‑ bono armazenado no solo, devido à sua mobilização, enquanto que o carbono retido na biomassa irá sendo libertado à medida que a ma‑ deira se decompõe. A duração da madeira depende sobretudo da sua utilização: utilizações mais nobres, como o mobiliário, podem durar tam o vento reduzindo a sua intensidade, protegendo os campos

e culturas da sua acção e da geada e os solos da erosão eólica. As matas fixam as areias das dunas protegendo os campos vizinhos do seu avanço.

A floresta intercepta os ventos marítimos provocando a conden‑ sação da humidade que transportam, sobretudo pelo arrefeci‑ mento em altitude ou nocturno, na forma de orvalho e nevoeiro. As gotículas de água ficam suspensas nas folhas e ramos das ár‑ vores, escorrendo pela força da gravidade até ao solo, reforçando o seu reabastecimento de água. Este fenómeno é tanto mais sig‑ nificativo quanto ocorre sobretudo durante o Verão reduzindo as carências hídricas da vegetação.

• Contribuição para a regulação dos gases com efeito de estufa na atmosfera. O efeito de estufa deve ‑se a gases consti‑ tuintes da atmosfera terrestre, como o dióxido de carbono, o vapor de água ou o metano, entre outros, que absorvem e devolvem para a superfície da Terra uma parte da radiação infravermelha emitida por esta, que de outro modo escaparia para o espaço.

A partir da revolução industrial, quantidades imensas de carbono que estavam armazenadas sob a forma de carvão, petróleo ou gás no interior da Terra começaram a ser lançadas para a atmosfera, a um ritmo crescente, aumentando a concentração de dióxido de carbono

Figura 18 | Registo histórico da concentração de dióxido de carbono na at‑ mosfera de 1959 a 2004 do Scripps Institution of Oceanography em Mauna Loa, Havai (http://cdiac.ornl.gov/trends/co2/sio ‑mlo.html).

O efeito de estufa é extremamente importante, pois na sua ausência a temperatura na superfície da Terra seria de 17ºC negativos, cerca de 32ºC a menos da temperatura média actual, o que não permitira a vida humana na terra. Mas se o efeito de estufa se tornar mais forte, a tempera‑ tura poderá aumentar, com consequências potencialmente catastróficas para a vida na Terra.

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até centenas de anos, enquanto que o papel tem uma duração média de cerca de cinco anos. Mas o balanço final deste tipo de alterações de uso de solo não se resume apenas à libertação de carbono asso‑ ciada ao momento da conversão. As actividades agrícolas raramente são sumidouros duradouros, isto é, que tenham a capacidade de reter carbono durante longos períodos de tempo, sendo frequentemente fontes líquidas de carbono para a atmosfera.

O efeito da vegetação terrestre sobre a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera é bem visível na figura 18. O ciclo anual de aumento e redução do dióxido de carbono na atmosfera deve ‑se sobretudo à actividade da vegetação no hemisfério Norte da Terra. Quando chega o Inverno, o consumo de dióxido de carbono pelas plantas diminui, à medida que estas morrem ou entram em dormên‑ cia, iniciando ‑se o ciclo de aumento do dióxido de carbono na at‑ mosfera. Quando as plantas voltam a funcionar, começam a retirar dióxido de carbono da atmosfera, reduzindo a sua concentração. As florestas são o maior sumidouro terrestre de dióxido de carbono. As árvores não só capturam o dióxido de carbono na sua biomassa como o retêm durante longos períodos. Como a madeira é um pro‑ duto difícil de decompor biologicamente (apenas bactérias e fungos são capazes de o fazer eficazmente), o carbono pode ficar retido por períodos superiores à própria árvore. A floresta pode dar um im‑ portante contributo para desacelerar as emissões para a atmosfera, permitindo simultaneamente a utilização pelo Homem dos produtos florestais, desde que assente numa gestão sustentável.

Para maior desenvolvimento deste tema ver capítulo II.1 e III.2 do Guião de Educação Ambiental – conhecer e preservar as florestas.