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Para que o trabalho educativo sobre a floresta promova as mudanças al‑ mejadas, é importante observar os ensinamentos colhidos pela experiên‑ cia. Esta mostra que a eficácia do processo educativo depende do cumpri‑ mento rigoroso dos princípios educacionais, os quais descrevem a relação entre o objectivo, o conteúdo, as condições e os métodos da educação7.

Um objectivo bem definido dá ao educador e ao aluno a orientação pedagó‑ gica correcta. É ele que orienta o trabalho pedagógico de modo a alcançarem‑ ‑se resultados reais. Deve partir do conhecimento do grupo – idade, nível de

6. Ecoliteracia é um termo criado por Fritjof capra. significa ser ecologicamente literato, ou seja, ca‑ paz de entender os princípios de organização das comunidades ecológicas (ecossistemas) e usar esses princípios para criar comunidades humanas sustentáveis.

7. Princípios da educação, segundo o Paws seminar concept.

interesse em questões ligadas ao ambiente e à floresta, nível de conhecimentos sobre a temática –, das necessidades educativas que o educador julgue mais relevantes e da intencionalidade do trabalho educativo.

Relativamente a este aspecto, nunca é demais sublinhar que a educa‑ ção ambiental deve realçar valores de vida e, por isso, não se pode limitar à comunicação de conhecimentos. Para educar o ser humano por inteiro há que lhe dar oportunidades para aprender através do coração, da ca‑ beça e das mãos. Assim, não faz muito sentido que os objectivos incidam apenas na mudança de comportamentos para minimizar um problema ambiental presente. Embora seja importante ensinar comportamentos mais amigos do ambiente, precisamos de objectivos mais ambiciosos.

São estes objectivos que nos irão conduzir à selecção de conteúdos, dos métodos a usar e, por fim, das actividades concretas que vamos desenvolver. Um ponto fundamental é que todo este percurso leve as pessoas a perceberem que a sua acção pessoal pode fazer uma diferença tangível no mundo em volta.

O trabalho de educação ambiental é mais eficaz quando os problemas ambientais são analisados no contexto de vida dos alunos, evidenciando a ligação entre os comportamentos quotidianos e as repercussões am‑ bientais que deles resultam.

Segundo diversos autores, como Carol Petrash8, “as crianças nascem com o sentimento de que o mundo é bom e maravilhoso. As nossas relações com elas e o modo como as pomos em contacto com a Natu‑ reza podem aumentar essa intuição ou destruí ‑la. Quando as crianças recebem amor e respeito, têm amor e respeito para dar. A nossa tarefa, como pais e educadores de crianças, não consiste em assustá ‑las com os perigos do ambiente, mas antes em dar ‑lhes a oportunidade de sen‑ tir aquilo que Rachel Carson9 chamou o «sentimento de admiração».

8. É licenciada em ciências da educação e tinha uma experiência de mais de 15 anos na área do ensi‑ no pré ‑escolar quando foi publicado o livro “Earthways – simple Environmental Activities for Young children” (Os Tesouros da Terra – edição do instituto Piaget) de que é autora.

9. Autora do livro “silent spring” (Primavera silenciosa) o qual é considerado o impulso que desen‑ cadeou o movimento ambientalista mundial.

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Desta admiração pode nascer uma sensação de afinidade com a Terra.” É, portanto, de excluir todo o tipo de abordagens que comuniquem à criança a ideia de que a Terra é um lugar inseguro, ameaçado, sujo e degrada‑ do. Não se trata aqui de dourar a pílula, simplesmente, é contraproducente face aos objectivos da educação ambiental (formar cidadãos intervenien‑ tes, conscientes, informados, responsáveis, com um profundo sentimento de ligação com a Terra) confrontar as crianças e os jovens com uma visão onde o caminho de destruição do planeta é imparável e está além das suas capacidades de intervenção transformá ‑lo.

Estudos científicos têm revelado que, mesmo na fase adulta, é con‑ traproducente a exposição a informações sobre a destruição ecológica em larga escala, que comunicam a ideia de que se trata de um proces‑ so excessivamente grandioso, complexo e fora do controlo do cidadão comum. O sentimento de impotência face a estas questões conduz as pessoas à apatia e à indiferença, que funcionam como defesa para não sentir dor. Os adultos tendem a limitar a sua esfera de atenção às áreas nas quais acreditam poder exercer algum controlo directo.

É importante, então, não só evitar dar uma imagem demasiado catas‑ trófica dos problemas ecológicos, mas também explicar como o cidadão anónimo pode participar e ter força para influenciar o curso dos acon‑ tecimentos e decisões.

Na hora de seleccionar os conteúdos a trabalhar poderá ser interessan‑ te ter em mente a recomendação de Steve Van Mattre, criador do programa Earth Education10. Ele defende que todos os programas ambientais devem

promover a compreensão de como a vida funciona em termos ecológicos, uma ligação emocional profunda e duradoira com a Terra e suas formas de vida, e ajudar as pessoas a minimizarem os impactes das suas actividades.

Sobre este último aspecto gostaríamos apenas de salientar que de‑ vemos evitar transmitir a ideia de que a actividade do homem na Terra tem sempre consequências negativas e que, o melhor que somos capazes de fazer é minimizar essas consequências. Se repararmos, essa forma de

10. http://www.eartheducation.org

pensar decorre do quadro de referência que gerou o desequilíbrio eco‑ lógico à escala planetária. Ele exclui a extraordinária capacidade criativa do ser humano e pouca esperança nos poderá trazer para o futuro.

O foco da aprendizagem deve ser colocado no pensar e compreender, em vez de privilegiar a memorização. Aqui as actividades práticas são valiosas porque levam à experiência e à aplicação criativa na vida do que é aprendido. Ao educador cabe a tarefa de guiar os alunos. Em lugar de expor conhecimentos, deve antes de tudo suscitar questões, inspirar, encora‑ jar, aconselhar; ajudar a chegar às respostas. Deve deixar espaço para

11. O nome latino é comenius (1592 – 1670). Foi filósofo, escritor e educador. É conhecido como o professor das nações. Defendia a criação de um novo sistema de ensino onde o jogo desempenhava um papel muito importante.

12. O projecto Paws resultou duma parceria europeia que envolveu peritos no desenvolvimento de um curso para ajudar a melhorar a capacidade pedagógica dos profissionais que fazem educação ambiental na área da floresta. Está disponível on ‑line no site http://www.paws.daa ‑bbo.de/

“Tudo deve ser ensinado através do uso de exemplos, re‑ gras e aplicações, e deve caminhar‑se gradualmente do mais simples para o mais complexo, do local para o mais distan‑ te, do concreto para o abstracto”.

J. A. Komensky11

“Quanto mais nova for uma criança, mais concreto deverá ser o método de ensino, ou seja, menos abstracto e mais ligado à experiência directa, envolvendo os sentidos”.

Para saber um pouco mais

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que os jovens tomem as suas próprias decisões e deve mostrar ‑lhes confiança nas suas capacidades para cumprirem as tarefas. É um pro‑ cesso de monitorização contínua, em que se vai avaliando e reforçando positivamente os alunos.

Não podemos deixar de sublinhar aqui que a educação ambiental não deve limitar ‑se a acções pontuais. Para ser eficaz precisa de ser um processo contínuo, de longo prazo, metódico, bem definido e intencional, que tenha relevância para a vida real dos alunos. O seu objectivo não se deverá limitar à aquisição de conhecimentos sobre o mundo natural e a interacção do homem com este, mas abarcar também o desenvol‑ vimento de competências pessoais e sociais, de forma a promover um processo de auto ‑educação que perdure ao longo da vida.