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CAPÍTULO II O Direito do Trabalho moçambicano do período colonial e sua relação com a OIT

5. Alteração do sistema de 1899 O Código do Trabalho Indígena de 1928 e a principal legislação

5.2. Outra legislação do Direito do Trabalho colonial em Moçambique e Convenções da OIT em que ela

5.2.6. Despacho de 7 de Junho de 1973 (Insere disposições sobre a isenção de horários de trabalho nos

Este Despacho sofre a influência da OIT, nos mesmos termos que o Despacho de 16 de Junho, já que facilita o seu cumprimento, pelo que, para não sermos repetitivos, remetemos para aí as Convenções e disposições em que se cifra esta influência.

5.2.6. Despacho de 7 de Junho de 1973 (Insere disposições sobre a isenção de horários de trabalho nos estabelecimentos comerciais e industriais).

Vejamos o conteúdo do despacho:

· “A isenção do horário de trabalho só pode ser concedida a trabalhadores que exerçam cargos de direcção, confiança e fiscalização ou que sejam considerados insubstituíveis por virtudes de especialização e, ainda, aos que estejam ligados às entidades patronais por laços de parentesco muito próximos, se for reduzido o movimento dos respectivos estabelecimentos”.

· “Podem também ser isentos do horário de trabalho os trabalhadores dos estabelecimentos comerciais situados nos pequenos centros ou estabelecimentos industriais de acentuado carácter rural”.

· “Os instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho devem fixar as retribuições mínimas a que, no caso de serem isentos, terão direito os trabalhadores por eles abrangidos”.

· “Na falta de disposições incluídas nos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho, os trabalhadores isentos de horário de trabalho têm direito a uma retribuição especial não inferior à remuneração correspondente a uma hora de trabalho extraordinário por dia”.

· “Podem renunciar à retribuição referida no número anterior os trabalhadores que exerçam funções de direcção na empresa”.

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· “A prova de parentesco será feita por certidão do registo civil, sempre que requerida conjuntamente pela entidade patronal e pelo trabalhador”.

A primeira nota que devemos fazer sobre este Despacho é que ele fixa excepções aos Despachos de 16 de Outubro de 1964 e de 8 de Abril de 1970.

A segunda nota a fazer é que o Despacho aqui em análise sofre a influência das Convenções no1, no 14 e no 30 da OIT, conforme se alcança da explanação abaixo.

A Convenção no 1, de 29 de Outubro de 1919 (tende a limitar as oito horas por dia e quarenta e oito horas por semana o número de horas de trabalho nos estabelecimentos industriais)113

Pelo art 2º desta Convenção fixa-se que “em todos os estabelecimentos industriais, públicos ou particulares, e suas dependências, de qualquer natureza que sejam, e com exclusão daqueles em que se achem apenas empregados membros de uma mesma família, o período de trabalho do pessoal, não poderá exceder oito horas por dia e quarenta e oito por semana, salvo as excepções abaixo previstas:

· As disposições deste diploma não se aplicam às pessoas que ocupem um posto de fiscalização ou de direcção, nem qualquer cargo de confiança;

· Quando a duração do trabalho num ou em vários dias da semana for inferior a oito horas por força da Lei ou em virtude de usos ou de convenções entre os organismos patronais e operários, ou entre os representantes dos patrões e dos operários na falta de tais organismos, pode um acto da autoridade competente ou uma convenção entre esses organismos autorizar que o limite das oito horas seja excedido nos outros dias da semana, não se permitindo em caso algum que o acréscimo previsto neste parágrafo exceda uma hora por dia.

· Quando os serviços se efectuarem por turnos, a duração do trabalho pode ser prolongada além de oito horas diárias e quarenta e oito horas semanais, sob condição de a média de horas de trabalho calculada adentro de um período de três semanas ou menos não exceda oito horas por dia e quarenta e oito horas por semana”.

A Convenção no 14, de 29 de Outubro de 1919 (Convenção sobre a aplicação do repouso semanal nos estabelecimentos industriais)

Regula o art 2º desta Convenção que:

113Rui Enes Ulrich afirma que 8 horas é o limite reivindicado por todo o operariado contemporâneo, “sem o menor fundamento

científico, mas inspirado apenas na divisão do dia constante da canção das Trade-Unions Inglesas: “Eight hours to work, eight hours to play. Eight hours to sleep, eight shillings a day!” Este autor, na sua obra Ulrich, Rui Ennes (1906). Legislação operária

português. Coimbra. França Amado – Editor, pág. 70 e ss, debruça-se sobre a importância da existência de um limite máximo de trabalho, além do qual o operário não pode trabalhar sem perigo para a sua saúde, sem que seja violado o mais fundamental dos seus direitos, o direito à existência, realçando a responsabilidade do Estado na fixação desse limite.

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· “Todo o pessoal ocupado em qualquer estabelecimento industrial público ou particular, e suas dependências, deverá sob reserva das excepções adiante previstas, gozar em cada período de sete dias, de um descanso de vinte e quatro horas consecutivas pelo menos. Este descanso será, tanto quanto possível, concedido simultaneamente a todo o pessoal de cada estabelecimento. Coincidirá, na medida do possível também, com os dias consagrados pela tradição ou pelos usos do país ou da região respectiva”.

Já o seu art. 4º dispõe que “cada membro pode autorizar excepções totais ou parciais ao disposto no art. 2º (incluindo nelas a suspensão e a diminuição do descanso) tendo em conta especialmente todas as considerações de ordem económica e humanitária adequadas, e depois de ouvidas as competentes associações patronais e operárias, onde as houver. Esta consulta não será necessária nos casos de excepções já concedidas por virtude da aplicação da respectiva legislação em vigor”.

Finalmente, o art. 7º, reza que, “no intuito de facilitar a aplicação destas disposições, cada patrão, director ou gerente será obrigado a dar a conhecer, quando o descanso hebdomadário, seja concedido a todo o pessoal ao mesmo tempo, os dias e horas de repouso colectivo, por meio de avisos fixados de forma visível no seu próprio estabelecimento ou em outro local conveniente, ou ainda por qualquer maneira que o governo aprove. Quando o descanso não for concedido a todo o pessoal ao mesmo tempo, a dar a conhecer, por meio de um registo elaborado nos termos aprovados pela legislação do país ou por um regulamento da autoridade competente, quais os operários ou empregados sujeitos a regime especial de descanso, e indicar esse regime”. A Convenção no 30 (respeitante à regulamentação da duração do trabalho no comércio e nos

escritórios) determina através dos arts. 3º e 4º que “a duração do trabalho do pessoal ao qual se aplica esta Convenção não pode ultrapassar quarenta e oito horas por semana e oito horas por dia. Esta duração diária pode ser repartida de modo a que não ultrapasse 10 horas. Já o art. 6º estabelece excepções ao regime dos arts. 3º e 4º. Desta forma, regulamentos de autoridade pública poderão autorizar a repartição da duração do trabalho por um período mais longo que uma semana, com a condição de a duração média do trabalho calculada pelo número de semanas consideradas não ultrapassar quarenta e oito horas por semana e, de nenhum caso, a duração ultrapassar dez horas”.