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Família

ESTÁDIOS DELIMITAÇÃO DOS ESTÁDIOS DE DESENVOLVIMENTO TAREFAS FATORES NEGATIVOS 1 Casal sem filhos Do casamento (formal ou

5. Dinâmica familiar

Dinâmica familiar é o modo de funcionamento da família ou, segundo Minuchin,61 a rede invisível de necessidades funcionais que organiza o modo como os elementos da família interagem. O conceito inclui a maneira como a família se relaciona e interage ao longo das gerações e como os seus membros se afetam recursivamente, a forma como lidam com os problemas e os conflitos, os rituais que cultivam, a definição da sua hierarquia, as regras familiares, explícitas e implícitas, e o delineamento dos papéis assumidos dentros da família. A dinâmica familiar é influenciada por fatores, internos e externos, bem como mudanças no decorrer da sua história.

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prioriza as necessidades, reconhece, valoriza e concilia diferenças, apresenta flexibilidade para mudanças e, quando enfrenta uma crise, consegue funcionar adaptando-se à nova realidade.62 Os seus elementos encontram nela um espaço de liberdade e afirmação, um lugar estável de segurança e de tranquilidade, onde se identificam e fazem valer os seus direitos.63

Contrariamente, as famílias disfuncionais têm menor capacidade para responder adequadamente às tarefas de desenvolvimento do ciclo de vida familiar e às exigências que ocorrem ao seu redor, devido à rigidez do seu funcionamento e ou à sua destruturação. Segundo Fleming,44 qualquer família que adote padrões rígidos de funcionamento torna-se “uma camisa-de-forças” que pode esmagar a individualidade de cada um e criar condições para a eclosão de perturbação mental num ou mais membros. A coesão, a adaptabilidade e a comunicação são as dimensões mais relevantes na avaliação da funcionalidade familiar.64-5

Por coesão familiar entende-se os laços emocionais que os elementos da família têm entre si e que resultam do equilíbrio dinâmico entre as necessidades de individualização/autonomia e as de afiliação/identificação.65

Entre o máximo da coesão, ou seja, a aglutinação ou enredamento, em que as interações globais predominam sobre a autonomia individual, e o extremo oposto, ou seja, o

desligamento ou desagregação, existe um continuum em que os pontos médios são mais propícios ao bom funcionamento familiar.61

De acordo com Minuchin et al.,66 nos subsistemas ou famílias aglutinados, o comportamento e os sentimentos de um membro afetam imediatamente os demais e o sentimento exacerbado de pertença ao grupo familiar inibe e limita o contacto com outros sistemas exteriores à família, com prejuízo da diferenciação dos seus elementos. Ao contrário, nas famílias desligadas as fronteiras entre os seus elementos são rígidas e estes têm pouco ou nenhum contacto entre si, sendo necessário situações de stress muito elevado para que, eventualmente, a família se mobilize no apoio à pessoa doente. As famílias funcionais são aquelas que têm uma medida exata de coesão, de modo a manter a unidade e, ao mesmo tempo, possibilitar a individualização.

As famílias aglutinadas foram alvo particular de estudo porque, tipicamente, negam os conflitos e exteriorizam as tensões através de queixas psicossomáticas. O “modelo da família psicossomática” proposto por Minuchin et al.,66 foi inicialmente criado para explicar como fatores familiares interferiam com doenças com componente psicossomática, sendo posteriormente generalizado para situações diversas de DC na família, especialmente quando o doente é uma criança.

Esse modelo contempla três vetores determinantes do tipo e do curso da doença: vulnerabilidade fisiológica ou constitucional, implicando fragilidade e predisposição para um dada patologia; caraterísticas familiares relacionadas com a coesão (aglutinação), com a adaptabilidade (rigidez) e com a interação (sobreproteção e deficiente capacidade para resolver conflitos, que são vividos angustiadamente, pelo que a família nega-os ou evita- os); envolvimento da criança nos conflitos do casal, constituindo-se a criança e a sua doença como mecanismo de evitamento de conflitos, o que, por sua vez, constitui um poderoso reforço dos sintomas. Nas famílias com estas caraterísticas, quando surge um conflito entre o casal, o pai fecha-se a trabalhar ou arranja o que fazer fora de casa, por exemplo. Se na família existe um filho com DC, então a mãe envolver-se-á em excesso com o doente, negligenciando as necessidades dos outros elementos, incluindo o marido. A relação conjugal degradar-se-á progressivamente, levando ao envolvimento com o doente num ciclo crescente. As caraterísticas transacionais da família, antes descritas, fornecem o contexto para o uso da doença como modo de comunicação, contribuindo, assim, para a emergência da “função” doença. Este contexto disfuncional pode, por sua

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vez, dificultar a adesão ao tratamento, agravando mais o quadro. Se a criança melhorar e os pais aprofundarem a sua intimidade e vida social, mais conflitos conjugais irão emergir, pelo que a própria criança pode desejar permanecer doente para manter os pais juntos.

Por adaptabilidade familiar entende-se a capacidade que a família tem para mudar a sua estrutura, o poder e as regras de relação face a um stress.65 A família, ao longo do seu desenvolvimento, realiza permanentes mudanças e ajustamentos, qualitativa e quantitavamente diferentes. As mudanças produzidas no interior dos sistemas sem que os mesmos se transformem designam-se de primeira ordem e dizem respeito às adaptações que quotidianamente a família realiza para responder a acontecimentos banais, tais como mudanças de horário escolar, alterações pontuais de divisão de tarefas, doenças breves ou visitas inesperadas de familiares ou amigos. As mudanças que modificam o próprio sistema designam-se de segunda ordem, são de natureza qualitativa e, por isso mesmo, implicam alterações inequívocas nas regras básicas da família. Nestas mudanças, os desvios ou flutuações do sistema são ampliados e originam um novo padrão de funcionamento familiar.23 São, pois, mudanças que na família se tornam inevitáveis na passagem das diferentes etapas do ciclo vital ou no enfrentar de crises acidentais, como é a DC grave.

As mudanças, sobretudo as de segunda ordem, exigem uma adequada adaptabilidade da família, que constitui um garante e um indicador de saúde e funcionalidade. Pelo contrário, a baixa adaptabilidade ou rigidez dificulta o próprio evoluir, ao abrir as portas para que toda a crise seja transformada em risco de bloqueio e, consequentemente, aumento do sofrimento e do mal-estar daqueles que envolve.

Alarcão23 distingue entre emergência, resolúvel no quadro de funcionamento habitual ou com alterações de primeira ordem, e crise que, exigindo transformação dos padrões de interação, só pode ser ultrapassada com mudanças de segunda ordem. Reenviando os conceitos para processos qualitativamente distintos, a autora compara a emergência a uma situação de avaria. Nos sistemas mecânicos, a avaria paralisa o seu funcionamento ou torna-o ineficaz e a resolução do problema passa pela substituição da peça avariada ou do mecanismo afetado. A reparação faz com o que o funcionamento do sistema permaneça igual ao que era antes daquela ocorrência. A crise do sistema humano é muito diferente. A família não pára, a sua história prossegue e o sistema tem que, mudando, reencontrar um novo estádio de equilíbrio. Nas famílias rígidas, o temor perante a necessidade de mudança leva à tentativa de a impedir, pelo que vivem a situação de crise como emergência.

A comunicação, constituída por sinais verbais, corporais e comportamentais, facilita ou dificulta o movimento das famílias na coesão e na mudança. Famílias equilibradas, em termos de adaptabilidade e coesão, possuem mais capacidades positivas de comunicação do que as famílias extremas (rígidas ou, no polo oposto, caóticas; desligadas ou, no polo oposto, aglutinadas).64 Quando a comunicação não é direta e aberta, a doença pode servir de recurso de comunicação na família,34 como nos casos enquadráveis no “modelo da família psicossomática” de Minuchin et al.,66 entre outros exemplos possíveis.

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