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1.2.2. Pressupostos Filosóficos Gerais e Filosóficos Jurídicos

1.2.2.2. Direito e Lógica

Por outro lado, a Lógica oferece critérios na busca da determinação da correção do raciocínio, apontando as premissas e formalizando as proposições é possível identificar a validade dos esquemas intelectuais perpetrados. A grande utilidade da linguagem formalizada é apurar se o raciocínio está escorreito, e é de grande valia ao

47 Texto “Vilém Flusser e o constructivismo lógico-semântico”, de Fabiana Del Padre Tomé, publicado no livro Vilém Flusser e Juristas, coord. Florence Haret e Jerson Carneiro, São Paulo: Noeses, 2009. P. 324

43 ser utilizada na análise do efeito da norma de parcelamento em relação com os crimes contra a ordem tributária.

Sem esse instrumental metodológico e sem essas premissas filosóficas, muitos dos problemas aqui tratados quedariam sem rumo, o discurso permaneceria raso e solto.

Nicola Abbagnano48 bem exprime que todas as proposições da lógica são

tautologias, nada dizem, são analíticas, apenas mostram possíveis modos de conexão ou transformação entre proposições. A partir dai tem-se um novo positivismo, agora um positivismo lógico.

Quem desenvolveu de modo inusitado os estudos lógicos foi Aristóteles. Ele transformou as pesquisas dos conteúdos mentais na secreta intimidade de sua organização interior, num sistema de enunciados de natureza científica. E o fez de modo tão bem composto que Kant admitiu estar diante de um corpo de conhecimentos pronto e acabado, não havendo como experimentar novos progressos.49

No direito esses conceitos tem uma aplicabilidade incrível. O manuseio dos problemas lógicos permite ao profissional manusear a técnica do raciocínio correto.

Os Juízes, Advogados e demais juristas se ocupam o tempo inteiro em raciocinar sobre as normas, manejá-las, descrevê-las criando e refutando argumentos que precisam de coerência lógica.

Lourival Vilanova50 expõe que a Lógica vem a ser a formalização da

linguagem, quer dizer, a separação das estruturas que estão encobertas pela matéria ou conteúdo das proposições, no Direito, as relações sociais, valores, etc. Assim, o

48 ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia, O Neo-empirismo. Volume XIV Lisboa: Editorial Presença, 1969. p. 21

49 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário, Linguagem e Método. 4ª ed. São Paulo: Noeses, 2011. p. 68

50 VILANOVA, Lourival. As Estruturas Lógicas e o Sistema do Direito Positivo. São Paulo: Max Limonad, 1997. p. 20

44 interesse na formalização da norma penal tributária, por exemplo, é consequência do reconhecimento da importância dessa ciência na produção de raciocínio correto.

A convivência entre a Lógica e a Linguagem é tal que só há Lógica onde houver Linguagem. A Lógica enquanto Linguagem é um sistema de significações dotado de regras sintáticas rígidas – com plano semântico em que seus signos apresentam um e somente um sentido.

Assim, temos que a proposição é a expressão verbal do juízo, o termo é da ideia e o argumento, do raciocínio. Apreendemo-los pelo ato gnosiológico da intelecção e o método que se lhes aplica é o racional-dedutivo. Essas formas ideais, contudo, só existem onde houver qualquer manifestação de linguagem.

Para que exista lógica jurídica é indispensável que exista linguagem, pois com a linguagem são postas significações.

Para Lourival Vilanova51 a proposição não pertence a nenhuma linguagem-

de-objetos. Em rigor, não está no mesmo plano da linguagem-de-objetos. Não é do plano da vida prática, em que a linguagem é instrumento de informação sobre as coisas do mundo, nem é do plano da linguagem de cada ciência especializada no conhecimento de uma parcela ou ângulo das coisas do mundo.

Tomar, pois, a proposição em si mesma é tirá-la do contexto empírico, ou existencial, pondo entre parênteses os componentes desse contexto, numa mudança de atitude da consciência ante os objetos.

É com base nesses conceitos que no decorrer da dissertação far-se-ão incursões sobre a estrutura lógica das normas de direito tributário sancionador.

Compreender a formalização lógica representa um poderoso instrumento de análise do Direito.

51 VILANOVA, Lourival. As Estruturas Lógicas e o Sistema do Direito Positivo. São Paulo: Max Limonad, 1997. p. 41

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Desse modo, quando o Direito é o objeto de estudo, o uso das leis da lógica clássica, conhecidas com o nome de lei de identidade, de não-contradição e de exclusão de terceiro, é de grande proveito.

A abstração (lógica), ou reflexão lógica como descrita por Husserl é útil para compreender os enunciados da linguagem prescritiva de situações objetivas, ou seja, a linguagem do Direito cuja finalidade é "alterar a circunstância", e cujo destinatário é o homem e sua conduta no universo social.

A organização lógica das proposições permite filtrar as imperfeições encontradas nos enunciados prescritivos.

O professor Lourival Vilanova52 bem explica: Formalizar não é conferir

forma aos dados, inserindo os dados da linguagem num certo esquema de ordem. É destacar, considerar à parte, abstrair a forma lógica que está, como dado, revestida na linguagem natural, como linguagem de um sujeito emissor para um sujeito destinatário, com o fim de informar notícias sobre os objetos. E destaco, por abstração lógica, a forma, desembaraçando-me da matéria que tal forma cobre. A matéria reside nos conceitos especificados, nas significações determinadas.

No entanto, a lógica é apenas um ponto de vista sobre o conhecimento, nessa senda, Geraldo Ataliba preleciona:

“a experiência jurídica integral levará em conta todos os aspectos constituintes do dado: o lógico nos enunciados e o empírico nos dados-de-fatos, valorativamente selecionados da realidade física e social (que, por isso, se qualifica juridicamente, ou se torna juridicamente relevante).”

52 VILANOVA, Lourival. As Estruturas Lógicas e o Sistema do Direito Positivo. São Paulo: Max Limonad, 1997. p. 20

46 A lógica se preocupa com a correção do processo, uma vez completado. Sua interrogação é sempre esta: a conclusão a que se chegou deriva das premissas usadas ou pressupostas?

O professor Paulo de Barros53 afirma: considerações deste tope nos

permitem perceber que a lógica, por si só, não é suficiente para nos conduzir à concreção material da experiência jurídica, isolando, na sua amplitude, tão-só os caracteres formais das normas, auxilia na análise sintática.

Sendo parcial a visão lógica, o discurso linguístico do Direito deve ser estudado, na sua integridade, ou seja, nas três dimensões semióticas: sintática, semântica e pragmática.