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2.7. Distinção entre tributo e sanção

3.1.1. Distinção Entre Evento e Fato

A professora Aurora Tomazini137 é clara ao explicar que para um enunciado

factual ingressar no ordenamento jurídico, é necessário seu relatado em código próprio, de acordo com as regras por ele prescritas e é por meio das provas que o evento é atestado e que os fatos jurídicos são constituídos e mantidos no sistema. Sendo o fato que se deseja provar (fato alegado) o objeto dinâmico da prova, que se constitui como objeto imediato ao representa-lo parcialmente.

A diferença entre “evento”, acontecimento experimental, “fato”, enunciado linguístico sobre determinado evento, e “fato jurídico”, enunciado linguístico pertencente ao direito positivo, resta patente.

Os três termos referidos manifestam-se na diferença entre os enunciados da norma jurídica geral e abstrata e norma jurídica individual e concreta, justamente no grau de determinação. Enquanto na norma geral e abstrata se projeta para o futuro desenhando a conotação do evento, na norma individual e concreta suas referencias voltam-se para denotar evento passado.

135 MIRANDA, Pontes de. TRATADO DE DIREITO PRIVADO-TOMO I -PARTE GERAL 136 VILANOVA, Lourival. Escritos jurídicos e filosóficos. Editora AXIS MVNDI, 2003. p.361

137 CARVALHO, Aurora Tomazini. Curso de Teoria Geral do Direito. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2010. p. 412

96 Nessa linha, Fabiana Del Padre Tomé138 diferencia a expressão “fato

jurídico” em sentido amplo e em sentido estrito. Este é o enunciado factual protocolar, denotativo, posto na posição sintática de antecedente de uma norma individual e concreta; aquele é qualquer enunciado jurídico que relate a ocorrência de um evento e que produza efeitos na ordem jurídica, mas não necessariamente instituindo direito e deveres correlatos individualizados.

Assim, se nas normas gerais e abstratas encontraremos a hipótese de incidência tributária, nas normas individuais e concretas achamos o fato jurídico tributário, este responsável por relatar linguisticamente o evento tributário, ele é fato jurídico por desencadear efeitos na ordem jurídica, e é tributário por estar ligado à instituição de tributos.

A linguagem do direito está inserida na complexa realidade social. Com efeito, é preciso ter a consciência de que jamais em qualquer área o homem conseguirá tomar o real em sua completude, assim, dentro dessa multiplicidade a linguagem jurídica elege facetas, recorta características do evento. Nesse sentido, Paulo de Barros Carvalho leciona: Em substância, recorta o legislador eventos da vida real e lhes imputa a força de, relatados em linguagem competente, suscitar os comportamentos que entende valiosos.139

O mesmo evento, como uma fusão de empresas, pode importar ao jurista, como também pode envolver o contabilista, o economista, entre outros. No entanto, cada área deve preservar seu campo de atuação. A depender do corte, o contador construirá o fato contábil, o economista o fato econômico e o jurista o fato jurídico, não há, pois, fato puro, todos eles são representações do evento, construções linguísticas.

A ausência dessa consideração leva muitos aplicadores a misturar os conceitos, as linguagens, provocando uma verdadeira destruição do Direito, libertando os limites dos domínios do que está dentro ou fora do mundo jurídico. Um tema que enseja problemas dessa ordem no nosso campo investigativo é o planejamento

138 TOMÉ, Fabiana Del Padre. A Prova no Direito Tributário. 2. ed. São Paulo: Noeses, 2008.

97 tributário, sua descaracterização é corriqueira, sob a alegação pelo Fisco da ocorrência de fraude, simulação ou abuso de forma, bem como ausência do “proposito negocial”.

Dai porque insistimos em afirmar: o direito constrói sua própria realidade.

Não é despiciendo repisar que o para construção do juízo normativo, ou da norma em sentido estrito terá o jurista que buscar em diversos excertos de leis, com variadas incursões até alcançar uma visão sistemática da norma, está ultrapassada a ideia de literalidade. Quando falar-se em sentido literal, como, por exemplo, no art. 111, do Código Tributário Nacional, o sentido não será extraído ou será alcançada a verdadeira intenção do legislador. O sentido literal deve ser visto como a acepção de base das palavras, isto é, aquilo que não se encontra na zona de penumbra, considerando que os utentes compartilham do mesmo idioma ou de um universo cultural assemelhado, nesse sentido, a literalidade resume-se ao sentido mais utilizado daquela palavra.

Em seguida, ao investigar a fenomenologia da incidência normativa, o uso da regra-matriz é uma das mais valiosas formas de se estudar o direito. O legislador, ao produzir a norma geral e abstrata, delimita o campo de extensão da hipótese, demarcando fatos que se projetam sobre a linguagem da realidade social. Por outro lado, no consequente, o legislador define atributos pressupostos da relação jurídica.

Paulo de Barros Carvalho140, leciona: a passagem da norma abstrata para a

norma concreta, processo mediante o qual se dá a incidência daquela norma, exatamente, nessa redução à unidade: de classes com notas que se aplicariam a infinitos indivíduos, nos critérios da hipótese, chegamos a classes com notas que correspondem a um e somente um elemento.

Um estudo mais atilado do fenômeno jurídico deve se preocupar em observar como se dá a comunicação quando da subsunção do fato à norma, sendo a teoria da comunicação ferramenta essencial para o aprofundamento da análise da

140 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 8. ed. Saraiva, São Paulo, 2010.

98 incidência da norma jurídica, permitindo uma pesquisa da anatomia do sistema comunicacional, seccionando-o141. Para estabelecer sua função comunicacional, a língua

pressupõe a aquiescência dos membros da comunidade, devendo ser resistente a alterações pontuais. É fundamental compreender como, por meio de atos de fala, o ser humano é capaz de construir mensagens de modo tão sofisticado e complexo. Ao tomar o Direito como sistema comunicacional, observa-se quem está apto a proferir os atos de fala, o legislador, o julgador ou o particular.

No decorrer da pesquisa, utiliza-se a classificação e as subdivisões de acordo com cada finalidade. Cabe, por hora, apenas mencionar que as regras do direito possuem finalidade ilocucionária assertiva e diretiva.142