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No Direito pátrio, o sistema adotado, pode-se dizer, não é o pro­ cesso acusatório puro, ortodoxo, mas um sistema acusatório com laivos de inquisitivo, tantos são os poderes conferidos àquele cuja função é julgar com imparcialidade a lide, mantendo-se equidistante das partes. Na verdade, pode o Juiz requisitar abertura de inquérito (art. 52, II, do CPP); decretar de oficio prisão preventiva (art. 311 do CPP); conceder

habeas corpus de ofício (art. 654, § 2~ do CPP); ser destinatário da

representação (art. 39 do CPP); ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes (art. 1 5 6 ,1, do CPP); determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante (art. 156, II, do CPP); ouvir outras tes­ temunhas além das indicadas pelas partes (art. 209 do CPP) e, inclu­ sive, as referidas pelas testemunhas (§ l fi do art. 209 do CPP) etc.

A acusação, nos crimes de ação pública, está a cargo do M inis­ tério Público Excepcionalmente, nos delitos de ação pr ivada, comete- -se à própria ví tima o ju s persequencli in judicio. Pode também a ví­ tima, nos crimes de ação pública, exercer a acusação se, porventura, o órgão do M inistério Público não intentar a ação penal no prazo previsto em lei.

Salvante o caso especial do processo, do impeachment, a função de julgar fica a cargo de Juizes permanentes, e, excepcionalmente, o julgamento está afeto a Juizes populares (Tribunal do Júri). E isto nos

crimes dolosos contra a vida, consumados ou tentados.

O processo é eminentemente contraditório. Não temos a figura do Juiz instrutor A fase processual propriamente dita é precedida de uma fase preparatória, em que a Autoridade Policial procede a uma investigação não contraditória, colhendo, à maneira do Juiz instrutor, as primeiras informações a respeito do fato infiingente da norma e da respectiva autoria. Com base nessa investigação preparatória, o acu­ sador, seja o órgão do Ministério Público, seja a vítima, instaura o processo por meio da denúncia ou queixa, Já agora, em juízo, nascida a relação processual, o processo torna-se eminentemente contraditório, público e escrito (sendo que inúmeros atos são praticados oralmente,

tais como debates em audiências ou sessão). O ônus da prova incum­ be às partes, mas o Juiz não é um espectador inerte na sua produção, podendo, a qualquer instante, determinai, de oficio, quaisquer dili­ gências para dirimir dúvida sobre ponto relevante, antes mesmo da propositura da ação, consoante a regra do art. 1 5 6 ,1, do CPP.

Permite-se às partes uma gama de recursos, e, tutelando ainda mais o direito de liberdade, concedem-se à Defesa recursos que lhe são exclusivos, como os embargos infringentes e de nulidade, Não adotamos a revisão pro societate. Só o réu pode promovê-la.

Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, assim considera­ das todas as contravenções e os crimes apenados até o máximo de 2 anos, sujeitos ou não a procedimentos especiais (ressalvadas as con­ dutas tipificadas nos arts. 303, 306 e 308 do Código de Trânsito Brasileiro, que, embora apenadas com 2 ou 3 anos no seu grau máxi­ mo, são também consideradas de menor potencial ofensivo por força do parágrafo único do art» 291 do citado diploma), será possível a

transação, sob os olhos do Juiz, entre o Acusador e o autor do fáto,

sujeitando-se este a uma multa ou pena restritiva de direito, sem gerar reincidência.

Diga-se de passagem, contudo, que o nosso processo penal não é um processo penal acusatório ortodoxo Há uma gama de atos con­ feridos ao Juiz que em rigor deveriam competir às partes: requisitar inquérito, ser destinatário da representação, decretar, de ofício, prisão preventiva, conceder habeas corpus sem provocação da parte, deter­ minar a prova que bem quiser e entender, ouvir testemunhas além daquelas indicadas pelas par tes, quebrando, assim, o princípio acusa­ tório..

Sem embargo, o legislador passou a adotai na ouvida das teste­

munhas a direta intervenção das partes O Juiz, doravante, só fará

reperguntas às testemunhas após as partes fazerem diretamente as suas, e assim mesmo para elucidar algum fato não esclarecido, como acentua o art. 212 do CPP, com a sua nova redação. E no Tribunal do Júri continua um misto de processo acusatório puro e processo penal acusatório não fiel aos seus princípios.

capítulo 3

Eficácia da Lei no Tempo

SUM ÁRIO: 1. Vacatio legis., 2. A b-rogação. Derrogação. Ab- -rogação expressa e tácita. 3 Princípio da retioatividade 4, Princípio da irretroatividade. Ultra-atividade, 5, Eficácia da lei penal no tempo 6 Eficácia da lei processual penal no tempo

1. “Vacatio legis”

Depois de elaborada, sancionada e promulgada, a lei é publicada. Mas, mesmo publicada, ela só começa a viger, grosso m odo, depois de certo lapso de tempo, suficiente para se tornar conhecida. Esse lapso de tempo — vacatio legis — varia: 45 dias, .30 dias etc. O CPP, por exemplo (Dec.-lei n, 3.689, de 3-10-1941), publicado no Diário

Oficial da União de 13-10-1941, começou a viger no dia Ia- 1-1942

(Lei de Introdução, art. 16) , O art., 1Q da Lei de Introdução ao Código Civil proclama que, ‘salvo disposição contrária, a lei começa a vigo­ rar em todo o País 45 (quarenta e cinco) dias depois de oficialmente publicada” . Contudo o art. 8~ da Lei Complementar n. 95, de 26-2- 1998, prescreve que “A vigência da lei será indicada de forma expres­ sa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula ‘entra em vigor na data de sua publicação’ para as leis de pequena repercussão”.

Quanto à contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância, “far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia sub­ sequente à sua consumação integral”. Já “as leis que estabeleçam período de vacância deverão utilizar a cláusula ‘esta lei entra em vigor após decorridos (o número de) dias de sua publicação o ficiar” (§§ Ia e 2-, acrescentados pela Lei Complementar n 107, de 26-4-2001).