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Princípio do duplo grau de jurisdição

Trata-se de princípio da mais alta im portância Todos sabemos que os Juizes, homens que são, estão sujeitos a erro Por isso m es­ mo o Estado criou órgãos jurisdicionais a eles superiores, precipu- amente para reverem , em grau de recurso, suas decisões. Embora não haja texto expresso a respeito na Lei M aior, o que se infere do nosso ordenam ento é que o duplo grau de jurisdição é uma realida­ de incontrastável. Sempre foi assim entre nós. Isto mesmo se infe­ re do art. 92 da CF, ao falar em Tribunais e Juizes Federais, Tribu­ nais e Juizes Eleitorais O bserve-se, ainda, que o art 9.3, III, da CF faz alusão ao “acesso aos tribunais de segundo grau”, numa de­ monstração de que há órgãos jurisdicionais de prim eiro e segundo grau. O art. 108, II, da M agna C arta diz competir aos Tribunais

Regionais Federais julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juizes federais e pelos juizes estaduais no exercício da compe­

tência federal da área de sua jur isdição. Evidente, também, compe­

tir aos Tribunais estaduais julgar, em grau de recurso, as causas deci­ didas pelos Juizes estaduais no exercício da sua competência própria.. E, nessa ordem de ideias, compete aos Tribunais Regionais Eleitorais, aos Tribunais Militares, aos Tribunais Regionais do Trabalho julgar as causas decididas pelos órgãos de primeiro grau dessas Justiças.

Por outro lado, como o § 2a do art. 5a da Lei Maior dispõe que os direitos e garantias nela expressos não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados interna­ cionais de que o Brasil seja parte, e considerando que a República Federativa do Brasil, pelo Decreto n 678, de 6-11-1992, fez o depó­ sito da Carta de Adesão ao ato internacional da Convenção America­ na sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), con­ siderando que o art.. 8°, 2, daquela Convenção dispõe que durante o processo toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma série de garantias mínimas, dentre estas a de recorrer da sentença para Juiz ou Tribunal Superior, pode-se concluir que o duplo grau de jurisdição é garantia constitucional. Evidente, também, que nas ações penais ori­ ginárias não há o duplo grau. Condenado ou absolvido um Juiz de Direito pelo Tribunal de Justiça, por exemplo, não há órgão superior para conhecer de eventual apelação.. Mais claro ainda, para melhor

entendimento, é o exemplo de um Deputado Federal ser condenado pelo STF Como não existe órgão jurisdicional que lhe seja superior, por óbvio que não pode havei o duplo grau. Se por acaso houvesse, evidente que os seus membros, quando processados, poderiam, tam­ bém, recorr er para outro que estivesse acima daquele que os processou e, nessa ordem de ide ias, chegar-se-ia ao absurdo de um número in­ finito de órgãos superiores,,, o que teria indisfarçável sabor de dispa­ rate. Ademais, é de convir que as pessoas que fazem jus ao foro pela prerrogativa da função são julgadas por um órgão colegiado, e se acima desse órgão outro não existe para rever suas decisões, não po­ derá haver o duplo grau O STF e o STJ têm outras funções. Eventu­ almente poderia o réu interpor recurso extraordinário ou especial, Mas a finalidade, aí, não seria examinar as questões de fato, mas fazer respeitar a Constituição e as leis federais e tratados. O dupio grau, pois, pressupõe uma jurisdição infer ior, que conhece da causa, e outra superior, com a tarefa precípua de rever as decisões proferidas pela inferior: Entre nós, a jurisdição inferior é constituída de Juizes, Tri­ bunal do Júri, Juizados Especiais e Conselhos de Justiça, enquanto a superior é representada pelos Tribunais de Justiça, TRFs, TREs, Tri­ bunal de Justiça Militar (onde houver) e, finalmente, Turma RecursaL O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, repeti­ mos, têm outras funções, e não lhes cabe reexaminar as decisões dos Tribunais Estaduais ou Federais, salvo se atentarem contra a Consti­ tuição, as leis federais e os tratados,.

A nosso ver, nada impede que nas hipóteses de foro pela prer­ rogativa de função, o imputado seja processado e julgado por uma Câmar a ou Turma, adm itindo-se o recur so de apelação para o Órgão Especial ou Plenário. Quem julga o Prefeito no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo? Não é uma das suas Câmaras? E por que não transformar essa exceção em regra e adm itir o duplo grau? Pura questão de bom senso.

Aliás, o duplo grau de jurisdição é garantia constitucional, na dicção do art. 8S, inc 2, letra h, do Pacto de São José da Costa Rica, c/c o § 2a do art. 5S da nossa Lei Fundam ental Insta acentuar que o fato de termos os recursos extraordinário e especial, segando dispõem os arts. 102, III, e 105, III, ambos da CF, não significa tenhamos um

tr iplo grau de jurisdição, mesmo porque o STF e o STJ não examinam, nesses recursos, matéria fática. Limitam-se a constatar s6 a Constitui­

ção fo i desautorada ou se Lei Federal Tratado foi desrespeitado,.

Só, Já o duplo grau obriga o órgão acl quem a examinar matéria fáti- ca e jurídica, É como se tivéssemos uma segunda primeira instância, Há, ainda, outros princípios, valendo lembrai, dentre eles, o da infranqueabilidade do domicílio (CF, art,. 5-, XI); o do sigilo da cor­ respondência e das comunicações telegráficas (CF, art 5-, XII, l ü parte), sigilo não atingido por qualquer restrição, ao contrário das comunicações telefônicas e de dados de informática, como prescreve a parte final do referido inciso; o princípio de que ninguém pode ser preso, salvo o caso de flagrante ou ordem escrita de Autoridade Judi­ ciária competente (CF, art. 5-, LXI), tornando, assim, inoperante o art. 319 do CPP; o princípio do respeito à coisa julgada (CF, art, 5S, XXXVI), ressalvando-se apenas a ação rescisória no cível e a revisão criminal, assim mesmo dês que observadas as prescrições legais; o principio proibitivo da identificação datiloscópica (CF, art. 5a, LVIII), exceto os casos previstos em lei. Uma dessas hipóteses vem tratada no art 5a da Lei n. 9.034, de 3-5-1995; as demais foram objeto da Lei n. 12.037, de l fi- 10-2009, que êxplicita as hipóteses em que o civil- mente identificado deverá sê-lo datiloscopicamente e, inclusive, traz algo de oovo: além dessa identificação, o preso ou processado será também identificado fotograficamente (ver maiores detalhes sobxe o tema neste volume, Cap, 7, § 4a, item 12). Pensamos até que a Lei n. 9 034/95, no que respeita à exigência de identificação, ficou tacita- mente revogada pelo novo diploma,

capítulo 2

Desenvolvimento Histórico do

Processo Penal

SU M ÁR IO : 1 O Processo Penal na Grécia 2 O Processo Penal em Rom a 3., O P rocesso Penal entre os germ ânicos. 4, O P rocesso Penal canônico 5 O sistem a inquisitivo nas le ­ g islações laicas 6 As inovações após ü R evolução Francesa 7, Tipos de Processo Penal 8 Direito pátrio,

1. O Processo Penal na Grécia

Os atenienses, como os romanos, faziam distinção entre os crimes públicos k os crimes privados. Os primeiros prejudicavam a coletivi­ dade, e, por isso, sua repressão não podia ficar à mercê do ofendido; quanto aos segundos, a lesão produzida era de somenos importância para o Estado, e, assim, a repressão dependia da exclusiva iniciativa da parte Entre os atenienses, o Processo Penal se caracterizava “pela participação direta dos cidadãos no exercício da acusação e da juris­ dição, e pela oralidade e publicidade dos debates” . Alguns delitos graves, que atentavam contra a própria cidade, eram denunciados ante a Assembleia do Povo, ou ante o Senado, pelos Tesmotetas, e a As- sembleia ou o Senado indicava o cidadão que devia proceder à acu­ sação.

Apresentada a acusação, as provas e prestado o juramento, o Ar- conte procedia à prelibaçâo da seriedade da acusação e designava o Tribunal competente, convocando as pessoas que deveriam constituí-lo. No dia do julgamento, falava, por primeiro, o Acusador, inclusi­ ve inquirindo suas testemunhas. Em seguida a Defesa.

Os Juizes, diz Vélez M ariconde, punham-se na posição puramen­ te passiva de árbitros de uma luta leal entre as partes; afinal, votavam sem deliberar. A decisão era tomada por maioria de votos. Quando havia empate, o acusado era absolvido.

Os mais importantes Tribunais atenienses eram os da Assembleia do Povo, que se reunia, exclusivamente, para julgar crimes políticos bem graves. Não havia nenhuma garantia para o acusado. O Areópago, o mais célebre Tribunal ateniense, era competente para julgar os ho­ micídios prem editados, incêndios, traição e, enfim, todos aqueles crimes a que se cominava pena capital, Impressionava o julgamento: o Tribunal se reunia ao cair do sol, as partes não podiam afastar-se da matéria de fato, e a votação era secreta, Havia também o Tribunal dos Éfetas, composto de cinqüenta e um Juizes, dentre os membros do Senado, cuja competência se circunscrevia aos homicídios involuntá­ rios e não premeditados; o Tribunal dos Heliastas, que exercia a ju­ risdição comum, Algumas vezes funcionavam, no mesmo julgam en­ to, 100, 500, 1.000 e até mesmo 6.000 Juizes. Era a crença de que tantas cabeças asseguravam melhor justiça, ou talvez a explicação esteja na cupidez dos três óbolos que o Estado destinava a cada um dos Juizes, por crime que julgavam (cf Faustin Hélie, apud Jorge A. Romeiro, Da ação p en a l, p. 25). Veja-se, também, Vélez Mariconde,

Estúdios, cit., v. 1, p. 16,