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Eficácia da lei penal no tempo

Entre nós vigora também o princípio de que as leis são feitas para o futuro (irretroatividade), mas, excepcionalmente, permite-se a re­ troatividade quando a lei nova beneficiar o réu.

Esse princípio, aliás, constitui, no nosso ju s positw n, dogma constitucional, pois o inc, XL do art. 5S dispõe que a lei penal só re- troagirá quando beneficiar o réu.

Conforme fiisamos, foi admitida a regia da “não retroatividade” da lei penal, com certa mitigação. Nos termos do art. 2- e seu pará- giafo único do CP, permite-se a retroação da lei penal todas as vezes que a lei nova beneficiar o réu. Se a lei nova é mais severa, aplica-se a lei antiga, que, assim, terá uma ultra-atividade, isto é, será aplicada a lei anterior, muito embora houvesse surgido lei nova.

A retroatividade benéfica vem devidamente disciplinada no art. 2- e respectivo parágrafo do CP, e esses dois dispositivos cuidam de três hipóteses:

a) se a lei nova deixa de considerar crime fato incriminado pela

lei anterior, haverá a retroação, pois, nos termos do art. 2- “ninguém pode ser punido por fato que a lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória” ;

b) a lei nova descreve a figura típica de modo idêntico à lei ante­

rior, mas a pena cominada é menos rigorosa;

c) a lei nova favorece o agente de outro modo.

Aí estão as três hipóteses.

A) O primeiro caso ver sa sobre a abolitio criminis: Quando sur­

ge lei nova, não mais considerando infração penal determinado fato antes tido como tal, se o agente o cometeu na vigência da lei anterior, com o advento da novatio legis várias situações podem ocorrer:

Ia) A ação penal ainda não foi iniciada. Recebendo os autos do inquérito, o Promotor de Justiça requererá seja decretada extinta a punibilidade, nos termos do inc. III do art,. 107 do CP e de acordo com o art. 2-, cciput, do mesmo diploma. Se a lei nova suprimiu a incriminação, ela retrotrai, extinguindo o direito de punir,.

2a) A ação penal já foi iniciada Não mais poderá prosseguir. Cumprirá ao Juiz, de ofício, ou a requerimento de qualquer das partes, decretar a extinção da punibilidade, nos termos do art. 61 do CPP combinado com os arts. 2- e 107, III, do CP.

3a) O réu foi condenado, Nesse caso, mesmo havendo sentença com trânsito em julgado, aplica-se a lei nova, extinguindo-se o ju s

punitionis do Estado, desfazendo-se os efeitos da res judicata, por­

tude dela (da lei nova), a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”. Uma vez riscado do rol dos delitos pela lei nova o fa to

anteriorm ente considerado crime, tudo quanto na vigência da lei

velha “começou e se ultimou, fica sem efeito” , E Aloysio de Carvalho Filho explica a razão: se a não retroatividade da lei penal (in p ejus, acrescentamos nós) encontra o seu fundamento na necessidade de garantia e respeito à liberdade dos indivíduos, não deve essa liberda­ de continuar restringida ou anulada, quando a sociedade não tiver motivos para considerai criminoso o fato a que, antes, cominara pena

(Comentários ao Código Penal, v. 4, p. 195-6).

Cessam, pois, a execução e os efeitos penais da sentença conde­ natória,. Vale dizei, se o réu estiver cumprindo a pena, não mais conti­ nuará a cumpri-la; se houver mandado de prisão contra ele, a ordem será recolhida; seu nome, que fora lançado no rol dos culpados, con­ forme determina o art, 393, II, do CPP, será riscado. Além disso, diz a lei: “Cessam os efeitos penais da sentença condenatória”. Assim, todo e qualquer efeito penal que possua a sentença condenatória de­ saparece, O réu, se teve a sua primariedade quebrada com aquela condenação, volta ao statu quo ante. Enfim: se aquele foi o seu p ri­ meiro delito, cuja incriminação foi suprimida pela lei nova, mesmo esteja cumprindo pena, aquela mancha desaparece e se extingue. É como se ele jam ais houvesse cometido crime. Subsistem apenas os efeitos civis. Afinal de contas, a lei nova suprimiu, tão somente, a incriminação; deixou de considerar aquele fato como figura delitual p en al Não fez desaparecer o fato em si, Este houve; apenas deixou de ser considerado crime. Daí dizer o art. 29 que cessam, apenas, os

efeitos penais.... não os civis, Se A danifica o automóvel de B propo­

sitadamente, comete o crime de dano. Se amanhã vier nova lei, riscando o crime de dano do rol dos delitos, pouco importará a fase em que se encontre eventual processo por aquele crime: extingue-se o ju s puniendi ou o jus punitionis, conform e a fase processu al Restitui-se-lhe a primariedade (se aquele foi o primeiro crime). Nem por isso ficará B impossibilitado de promover contra A a competente ação de ressarci­ mento de dano, nos termos do ait. 186 do CC) É que a lei nova fez desaparecer o caráter criminoso do fato, e não o próprio fato.

Exemplo: o CP de 1890 dispunha, no art. 267, que a pena era de

prisão celular de 1 a 4 anos, para quem deflorasse mulher de menor idade, empregando sedução, engano ou fraude. Aquela época, o con­

ceito de menoridade era a idade até os 21 anos. Assim, se A, empre­ gando sedução, viesse a deflorar B, mulher de 20 anos, teria cometi­ do o delito tipificado no art 267 daquele estatuto penal Pois bem: suponha-se que tal fato houvesse ocorrido em 1938 e que o réu hou­ vesse sido condenado e estivesse a cumprir pena quando surgiu o CP de 1940 Este, definindo o delito de sedução, no art 217 (hoje já descriminalizado), fixou a idade da ofendida: menor de 18 e maior de 14 anos A lei nova, então, deixou de considerar como crime a sedu­ ção de mulher de idade igual ou superior a 18 anos. Se o processo não houvesse sido instaurado, não se instauraria; se houvesse sido, seria

trancado, pela extinção da punibilidade E se já houvesse sentença

condenatória, com ou sem trânsito em julgado, cessariam a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Nada, contudo, impedi­ ria que a ofendida ou seu representante legal ingressasse no juízo cível, nos termos do art, 1.548 do CC de 1916 (ou a r t 927 do novo CC), para exigir do “culpado” a reparação do dan o, E, se houvesse sentença condenatória irrecorrível, poderia a ofendida ou quem de direito executar o decr eto condenatório penal no juízo cível, segundo a regra do art. 9 1 ,1, do CP e art, 63 do CPP, Extinguem-se os efeitos penais da sentença condenatória, não os efeitos civis...

B) A segunda hipótese verifica-se quando a novatio legis des­

creve o tipo de maneira idêntica à da lei anterior, mas a pena comi- nada é menos rigorosa. A incriminação continua, apenas a sanctio

juris é mais benigna,

Ocorrendo tal hipótese, a lei nova retroage e terá aplicação ainda que o fato haja sido julgado por sentença transita em julgado Se a pena cominada na lei anterior era de reclusão e a lei nova comina a pena de detenção, sendo esta menos rigorosa que a outra, aplica-se a de detenção., Se a pena era de reclusão ou de detenção e a lei nova comina pena de multa, esta será a aplicável. Se a pena era de detenção ou reclusão e continua sendo, mas naquela o mínimo era superior ao fixado na nova, haverá retro eficácia da novatio legis. Se alguém for condenado por homicídio qualificado pelo motivo fú til (CP, art- 121,

§ 22, II) à pena mínima, que é de 12 anos, e amanhã (hipótese) vier nova lei riscando o motivo fútil do elenco das qualificadoras, subsis­ tirá apenas o homicídio simples, e a pena será reajustada: em vez de 12 anos, cumprirá ele tão somente a pena cominada ao homicídio simples (6 anos), a menos que a lei nova haja diminuído esse mínimo, quando, então, será aplicado o mínimo fixado na lei posterior,

C) A terceira hipótese ocorre quando a lei posterior, de maneira

diversa daquelas tratadas nos itens A e B, venha a favorecer o agente. São tantos os modos de favorecer o agente, sem suprimir a incrimi­ nação do fato ou sem cominar pena menos rigorosa, que seria peri­ goso fazer um elenco dos modos beneficiadores. À guisa de exempli- licação: ci) a lei nova estabelece causa extintiva de punibilidade não cuidada na lei anterior; b) permite a suspensão condicional da pena para determinada hipótese não contemplada na lei anterior; c) permi­ te o livramento condicional para determinado caso não previsto na lei anterior; d) a lei posterior permite o perdão judicial para uma hipóte­ se não contemplada pela lei velha etc,

A Lei n, 6.416, de 24-5-1977, não só aboliu a denominada rein­ cidência específica, como, também, instituiu a prescrição da reinci­ dência, E a Lei n. 7,209, de 11-7-1984, que alterou a Parte Geral do CP, manteve tais inovações

Assim, se A foi condenado, definitivamente, a uma pena exaspe­ rada, em face de reincidência específica, nada obsta, mesmo tendo sido transitada em julgado a decisão, possa beneficiar-se com a nova lei.

Nesse caso, nos termos do art, 6 6 ,1, da LEP, verbis: “Compete ao Juiz da Execução: I — aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o condenado”. No mesmo sentido era, também, o art 1.3 da Lei de Introdução ao CPP Da decisão cabe, hoje, agravo em execução, segundo dispõe o art, 197 da Lei de Execução Penal

O pedido deve ser formulado ao Juiz das Execuções, e como tal se entende o indicado na lei local de organização judiciária; na sua ausência, ao da sentença, Como vimos, a matéria já era tratada pelo art.

13 da Lei de Introdução ao CPP. Com o advento da Lei de Execução Penal (Lei n. 7 210, de 11-7-1984) e como a aplicação da lei nova aos

casos julgados é um incidente da execução, a matéria foi repetida no novo diploma»

Consoante dispõe o parágrafo único do art 2- do CP, a lei nova retroagirá sempre, haja ou não sentença com trânsito em julgado: a) se houver a supressão de incriminação, isto é, no caso da abolido

criminis; b) quando a lei nova favorece o agente, cominando ao fato

por ele praticado, na vigência da lei anterior, pena menos rigorosa; e c) se a lei nova favorece o agente de outro modo, isto é, se a lei pos­ terior beneficiar o réu de outro modo que não os acima explicitados

A Constituição atual, no inc. XL do a r t 52, determina: “A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu” ,. De sorte que a lei nova incidirá e poderá ser invocada sempre que for possível beneftciá- -lo. Desse modo, se a lei nova diminui o prazo do sursis e se o réu fora beneficiado de acordo com lei anterior com tal medida, e, no dia em que a lei nova entrou em vigor, expirou-se o prazo do benefício, já não pode ser invocada a novado legis, por manifesta impossibilidade,. Mas, enquanto possível sua aplicação, terá retroprojeção. Hoje, con­

tudo, em face da redação dada ao parágrafo único do art, 2S do CP, qualquer discussão a respeito seria destituída de importância: “a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória tran­ sitada em julgado”.

Quando se cuidou da retroeficácia de-‘7a loisplus douce”, houve quem encontrasse certa dificuldade em explicar como poderia ser desfeita a “coisa julgada” que, por necessidade social, é tida e havida como verdadeira (res judicata pro veritate habetur).

A razão, ao que parece, está com Florian, ao explicar que a au­ toridade da coisa julgada não se fere, já que, ao desaparecer a lei, desaparece o substrato da própria coisa julgada ( c f Principii, v. 1, p. 208), sendo que Sebastian Soler entende justíssim a tal observação

{Derecho penal argentino, v. 1, p. 206).

Mas, se a lei nova é mais gravosa (lex gravior), ou porque erige à categoria de infração fato anteriormente tido como lícito, ou porque de algum modo desfavorece o réu, será irretroativa. Princípio ético e de humanidade impede tenha a lei gravosa retroeficácia. Nesse caso a lei anterior será aplicável, Embora revogada, continua tendo aplica­

I

ção aos fatos ocorridos durante sua vigência. É o que se chama de ultra-atividade da lei penaL Não importa o modo pelo qual a lei nova se torna mais severa. Desde que mais gravosa, a novatio legis não se aplica aos fatos ocorridos antes da sua vigência. Pode acontecer de a lei nova aumentar a pena, substituí-la por outra mais grave, excluir o

sursis ou o livramento condicional, abolir uma causa excludente de

antijuridicidade ou de culpabilidade, criar circunstâncias qualificado- ras, eliminar circunstâncias atenuantes ou causa extintiva de punibi- lidade etc. Em qualquer hipótese, se a lei anterior era, de qualquer modo, mais benigna, terá ultra-atividade, isto é, será aplicada aos fatos que se passaram quando vigorava, a despeito do surgimento de nova le i. Todavia, se mais benéfica for a lei posterior, isto é, a lei nova, esta terá retroefícácia, sendo aplicável àqueles fatos que se cometerem antes da sua vigência.

Como saber qual a lei mais benigna? Com acerto ensina Antoli- sei que a benignidade deve ser apurada comparando os resultados que derivam da aplicação das duas normas à situação de fato que se apre­ senta ao Juiz. E explica: se uma lei nova eleva o máximo da pena e diminui o mínimo, é mais favorável a lei anterior se, num caso con­ creto, entenda o Juiz deva ser aplicado o máximo (Manual de derecho

penal, trad. Juan dei Rosai, 1960, p. 88). Mas, se o Juiz optar pela

aplicação do mínimo, à evidência, mais benigna será a lei nova. Enfim, na apreciação da benignidade, devem ser analisados todos os elementos que “de cualquier manera puedan influirle en el trata- miento dei hecho justiciar,.

Pode o Juiz, com elementos da lei anterior e da posterior, formar uma terceira combinação normativa? Quase toda a doutrina se insurge contra tal poder do Magistrado. Observa Carlos Maximiliano: "‘Se existe uma parte mais branda na lei atual e outra na anterior, adota-se o mais benéfico diploma, como tal considerado em conjunto; não é lícito dividir as duas normas positivas e aplicar a fração de cada uma”

{Direito intertemporal, Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1955, p. 298,

n 255). No mesmo sentido Battaglini: “una combinazione dei due sisteme legislativi è inammissibile” (Diritto penale, Torino, UTET, 1949, p, 76); José A. Sáinz Cantero: “La ley más favorable no puede obtenerse mediante la combinación de la ley derogada y de la ley

nueva; no se debe formai la norma aplicable tomando unos elementos dela primera y otros de la segunda, porque se crearía una teicera norma... Admitii lo contrario seria permitir al podei judicial ia crea- ción de normas” (Lecciones de derecho penal, .3. ed , Barcelona, Bosch, 1990, p. 403), Em sentido contrário, e favorável à combinação, Cailos Fontán Balestra observa: “El análisis debe ser hecho caso por caso y autor por autor, Nos parece por eso que el critério más acep- table es el sustentado por Franz von Liszt, según el cual el juez debe aplicar mentalmente, poi separado, Ias dos íeys — la nueva y la de- rogada — al caso concreto a resolver, decidiéndose por la que con- duzca al resultado más favoiable al procesado — Tratado, t, II, § 19, III” (Tratado de derecho penal, Buenos Aires, Abeledo-Peirot, 1970, t I, p. 303) E Mezger é do mesmo sentir: será então lei mais benig­ na “a que produz no caso concreto o resultado mais favorável para o autor; especialmente é lei mais benigna a lei não penale.” (apud C. E Balestra, Tratado, cit-, p„ 303). Assim também Petrocelli (apud Fre­ derico Marques, Tratado de direito penal, São Paulo, Saraiva, v, 1, p. 210); Basileu Garcia (Instituições de direito p enal, São Paulo, Max Limonad, v„ 1, L 1, p. 148). Por ultimo a palavra sempre autorizada de Frederico Marques: “Dizer que o Juiz está fazendo lei nova, ultra­ passando assim suas funções constitucionais, é aigumento sem con­ sistência, pois o julgador, em obediência a princípios de equidade consagrados pela própria Constituição, está apenas movimentando-se dentro dos quadros legais para uma tarefa de integração perfeitamen­ te legítima” (Tratado, c i t , p 210). De fato, o problema é curioso e não pode ser solucionado com simplismo, Suponha-se que a lei ante­ rior haja fixado o mínimo da pena em 1 ano, mas não permitido o

sursis„ Vem a lei nova e fixa o mínimo em 2 anos, mas permite o

benefício O réu cometeu o crime na vigência da lei anterior. Está sendo julgado, Entende o Juiz estejam preenchidas as condições para a concessão da suspensão condicional da pena.

Qual das duas leis é a mais benigna? A anterior que fixava o mínimo em quantidade inferior à lei nova, ou esta que, sem embargo de haver elevado o mínimo, permite o sursis? Parece ser a posterior, em face da permissão do benefício. E se o benefício viesse a ser re­ vogado? Deveria ele ser recolhido ao xadrez para cumprir aquele

mínimo que lhe foi imposto, muito além do fixado na lei velha? Não estaria sendo violentada a Carta Magna? Nesse exemplo manda o bom senso deva o Juiz aplicar, se for o caso, a pena fixada na lei anterior e o benefício previsto na lei posterior

Se a lei mais benigna retroage e tem, também, ultra-atividade, e a mais severa é irretroativa, ante a impossibilidade de ser formada uma terceira norma, forçoso é aplicar a parte benigna de ambas, dan­ do a impressão de ter surgido uma terceira norma. É apenas aparência No fundo a Constituição foi respeitada.

H quanto às leis excepcionais ou temporárias? Dizem-se excep­ cionais ou tem porárias as leis quando, elaboradas em “anormais condições da vida social (locais ou gerais), têm o prazo de vigência prefixado no seu próprio texto ou subordinado à duração do excep­ cional estado de coisas que as ocasiona” (cf Hungria, Comentários, v. 1, p. 128).

A respeito dessas leis, dispõe o art. 3a do CP de 1940: “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua dura­ ção ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”

Nesses casos, pois, a lei sobrevive à sua própria ab-rogação. Ela se torna ultra-ativa, constituindo-se em exceção ao princípio da retroativi­ dade benéfica. Nesse sentido, a lição de Aníbal Bruno: “Há um caso em que o Código estabelece a ultia-atividade da lei É em relação às leis temporárias e às excepcionais” (Direito penal, v. 1, p. 265; também

Costa e Silva, Código Penal% v. 1, p. 31; Magalhães Noronha, Direito,

cit», p. 104).

Se a lei temporária é aquela que tem o seu termo prefixado, de­ corrido o período da sua duração, ocorre a autorrevogação. Pois bem: mesmo revogada, contínua aplicável aos fatos que ocorreram durante seu período de vigência Também nas excepcionais, que vigem duran­ te as circunstâncias que as determinaram, cessadas as circunstâncias, ocorrerá a autorrevogação. Embora revogadas, continuam sendo apli­ cadas aos fatos que se cometeram durante sua vigência

Na Exposição de Motivos que acompanhou o CP de 1940, escla­ receu o Ministro Francisco Campos a razão de ser dessa exceção: esta

ressalva visa impedir que, tratando-se de leis previamente limitadas no tempo, possam ser frustradas as suas sanções por expedientes as­ tuciosos no sentido de retardamento dos processos penais

Silvio Ranieri, no seu Mamtale de diritto penale, v. 1, p 55, apresenta, também, a mesma justificação: as leis temporárias ou ex­ cepcionais poderiam ser facilmente burladas, “particolarmente per quelli fatti crim inosi che venissero comessi sul finire dei período eccezionale o di tempo per il quale furono emanate’\

O que se firma, pois, no art. 3a do CP é a perduraçâo dessas leis, “ainda quando esgotadas a época ou as circunstâncias da sua atuação, para atingir os fatos que as tenham infringido, evitando-se, assim, que se as condenassem àquela espécie de ineficácia preventiva” (cf. Osman Loureiro, O direito penal e o Código de 1940, p. 54),

Por outro lado, se se sabe, com antetioridade, que tais leis estão destinadas a extinguir-se depois de certo tempo, os autores das infra­ ções teriam praticamente a possibilidade de ilidir a sanção, especial­ mente com referência aos fatos cometidos, quando iminente o venci­ mento do término ou quando o estado excepcional chega ao seu fim, e essa possibilidade, na justa observação de Antoíisei, determinaria injustiças graves, debilitando, notadamente, a eficácia iritimidativa da lei (Manual, cit,, p. 90).

Nem mesmo sobrevindo lex m itior, terá esta aplicação, salvo, diz Pontes de Miranda, se a nova lei é exatamente para corrigir a penali­ dade da anterior (Com entários, cit., p„ 341). No mesmo sentido, Magalhães Noronha (Direito, cit., p. 105).

Mas, se a Lei M aior proclama o principio da retroatividade da lei mais benigna, o disposto no art. 3a não afrontaria o dispositivo cons­ titucional? Não. É que, na espécie, o tempus é preponderante elemen­ to da estrutura da norma. Mas, diz Frederico Marques, por ter sido elaborada em função de acontecimentos anormais, ou em razão de uma