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Direitos Fundamentais

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2- Direitos Fundamentais

A questão que para nós se coloca é a de saber ser a proteção civil é um direito fundamental? Não o sendo, será que é o conjunto de direitos fundamentais?

Refere-nos (Canotilho, 1993) “a República Portuguesa é um Estado de direito democrático baseado no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais... Pela análise dos direitos fundamentais, constitucionalmente consagrados, deduz-se que a raiz antropológica se reconduz ao homem como pessoa, como cidadão, como trabalhador e como administrado”154.

Para (Miranda, 1986) “por direitos fundamentais entendemos os direitos ou as posições jurídicas subjetivas das pessoas enquanto tais, individual ou institucionalmente consideradas, assentes na Constituição, seja na Constituição formal, seja na Constituição material – de onde, direitos fundamentais em sentido formal e direitos fundamentais em sentido material.” Mais refere o autor “Mas tal noção de direitos fundamentais implica necessariamente dois pressupostos, sob pena de se esbater e deixar de ser operacional: não há́ direitos fundamentais sem reconhecimento duma esfera própria das pessoas, mais ou menos ampla, frente ao poder político; e não há́ direitos fundamentais sem que as pessoas estejam em relação imediata com o Estado, dotadas do mesmo estatuto e não sujeitas a estatutos específicos consoante os grupos ou as condições em que se integrem”155156.

Mas ainda antes de se responder a esta pergunta, relembrando os ensinamentos mais genéricos da Constituição da República Portuguesa. «Raymond Aron» chama aos direitos centros de liberdades: liberdade/autonomia; liberdades-participação sociais; liberdade-participação.

Por via de regra foi feita nos finais do séc. XX uma classificação muito generalizada por direitos de 4 gerações. Sendo a primeira geração de direitos a afirmação do estado liberdade, do individualismo e da participação política através da soberania popular. Temos na primeira geração duas dimensões da liberdade, estamos em pleno liberalismos. Direitos fundamentais do cidadão, que são sempre direitos barreira, direitos obstáculos, baseando-se sempre no princípio da omissão do Estado. O cidadão não tem de prestar satisfações ao Estado e o Estado não tem de intervir na sua vida pessoal. O

154Canotilho, José Joaquim Gomes Canotilho, 1993, Op. Cit. p. 363

155 Miranda, Jorge – Os Direitos Fundamentais na Ordem Constitucional Portuguesa. Espanha: Revista Española de Derecho Constitucional, 1986 pp. 107 e 108.

que sucesso é que o individuo tem um castelo que ninguém pode entrar, não só o Estado, ou quem quer seja, ninguém pode aí entrar, é assim que o individuo cresce, é assim que o individuo vive. Ao Estado a omissão é uma abstenção, não é uma ação. Ao contrário do que será mais tarde com o advento dos direitos sociais ou direitos de prestação. É ainda nesta primeira geração de direitos temos a participação política, estamos no estado liberal, no constitucionalismo, onde existe separação de poderes, respeito pelos direitos políticos, o direito de votar e o direito de ser eleito. Por exemplo entre nós o “ius sufragii” adquire- se aos 18 anos para as eleições locais, regionais ou legislativas, mas só aos 35 anos é adquirido o “ius honorum” para ser eleito presidente da república, que mostra que se trata de dois direitos diferente.

A segunda geração de direitos assenta mais no reconhecimento do princípio da igualdade. As mulheres deixaram de ter restrições à sua cidadania e à sua liberdade. A origem social, a situação económica e o grau de escolarização deixaram de ser um obstáculo ao exercício de direitos e a liberdade de associação desenvolveu-se sem autorização do Estado.

Enquanto na primeira e segunda estamos no Estado Liberal, na terceira geração de direitos estamos no Estado Social de Direito, pós segunda guerra mundial. O que nos interessa é qualificar em função dos pressupostos e fatores dominantes, são os direitos sociais, os direitos prestação. Enquanto na primeira e segunda geração se exigia a prestação do Estado, para que os direitos fundamentais não fossem restringidos, agora o que se exige é que o Estado intervenha, que o Estado tenha de agir para realização prestações sociais aos cidadãos. Na Inglaterra no pós guerra, o “walls care” universal e gratuito. Já em Itália, França e Bélgica era a função educativa, sem prejuízo da generalização da segurança social, da proteção da saúde, sobretudo no âmbito de pequenos centros do tipo dispensário, já que os hospitais por via de regra, pertenciam a instituições de solidariedade social (em Portugal às Misericórdias, na Alemanha às Caixas e Previdência em que os trabalhadores faziam descontos por iniciativa própria, para poderem usufruir em caso de doença e velhice, e outros direitos de prestação social que estas instituições concediam empréstimos aos associados em caso de necessidade, como no caso de comparticipação aos funerais dos membros das respetivas famílias).

Os direitos chamados de quarta geração já emergem na década de 80, porventura embrionariamente na década de 70, ligados a um problema que surgiu, a preocupação com a poluição. Pôs-se pela primeira vez a questão de saber se o homem ao transformar a natureza, iria a passos largos afinal acabar com ela e consigo mesmo. A atitude geral

foi uma atitude de relativa indiferença, considerou-se maioritariamente manifesto exagero da parte dos movimentos ambientalistas que surgiram. Até aqui a regeneração da natureza tinha sido feito por si própria, que deixou de ser. A extinção de espécies vegetais, de espécies animais com a rapidez alucinante eram facilmente visíveis e puseram os decisores políticos minimamente preocupados.

E volta-se à questão qual o papel do Estado?

Se nos direitos de primeira geração o que se pede ao Estado é uma omissão da ação. Já nos direitos de segunda e terceira geração, o que se pede ao Estado é bem diferente. Pede-se uma ação concreta e de realização de prestações como a função educativa, ou proteção da saúde ou da segurança social.

Concretizar os direitos de terceira e de quarta geração afigura-se muitoimportante em sede proteção civil, porque a atuação do Estado nesta matéria e indo ao encontro ao direito europeu e das reformas do sistema da proteção civil que atualmente vivemos têm por base a intervenção do Estado face ao risco.

Não obstante de o risco não ser a essência ou sequer a finalidade do conceito de proteção civil, é sem margem para dúvidas um substrato de grande relevância, à semelhança do que acontece com a coesão territorial.