• Nenhum resultado encontrado

Regular a Atividade / Regulador Regulado

No documento Estado regulador no setor da proteção civil (páginas 124-130)

Lei do Financiamento das AHB

2019-2022 Despesa a Realizar pela

B. Necessidade da Constituição de Uma Entidade Reguladora Para o Setor

1- Regular a Atividade / Regulador Regulado

Na proteção civil a necessidade de uma entidade reguladora independente não se prende diretamente com a abertura à concorrência, ou a necessidade de preencher falhas de mercado, à semelhança do que acontece em outras áreas, embora com uma complexidade temática diferenciada como a comunicação social, há outros valores a salvaguardar, conforme refere (Simões, 2009) “assim, ao invés do que acontece em outros sectores, em que as principais razões justificativas da regulação são a criação da concorrência e a prestação de um serviço público ou, segundo a terminologia comunitária, um serviço de interesse económico geral, no sector da comunicação social a intervenção pública visa, como se referiu, um conjunto intrincado de fins como a salvaguarda dos princípios constitucionais - a liberdade de expressão e informação, a liberdade de imprensa e a liberdade e independência dos órgãos de comunicação social perante o poder político e o poder económico, a garantia do pluralismo -, bem como a tutela de determinados interesses como os dos menores, a garantia de um serviço público com fins diversos como a formação cívica e cultural, a informação, o exercício dos direitos de antena, de resposta e de réplica política, e ainda a promoção de bens considerados de mérito atenta a salvaguarda da diversidade cultural, ao nível comunitário e ao nível nacional”246.

Apreciamos com particular interesse técnico e cientifico a sistematização feita por (Simões, 2009) que de resto perfilhamos sobre regular os media numa época de transição do leasing back para ao leasing forward e foi transcrita porque se adequa muito ao setor da proteção civil, quando se refere “sobre os principais aspetos da regulação do setor da comunicação social ou dos média:

a) o acesso ao mercado;

b) as questões objeto de regulação no âmbito da atividade do setor; c) os regimes da concorrência e da propriedade;

d) o serviço público; e) o regime de incentivos;”

Mas se o direito económico se baseia na intervenção do Estado pela figura do novo «Estado regulador» justificado pelas falhas de mercado, o direito processual

246Simões, Tânia Cardoso – Regular os Media numa Época de Transição do Leaning Back para o Leaning Forward. Ferreira, Eduardo Paz; Morais, Luís Silva; Anastácio, Gonçalo – Regulação em Portugal: Novos Tempos, Novo Modelo?. Coimbra: Almedina, 2009 p. 578

administrativo justifica sua intervenção pela necessidade do chamamento dos «expertises» na regulamentação, na administração, na fiscalização.

Chamar os expertises na concepção do sistema e ao processo de decisão com vista à eficiência e eficácia.

O que aqui temos e já foi referenciado neste trabalho é o sistema em rede e o que a entidade independente deveria regular. Já foi amplamente referido e não vamos fazer mais referências. No entanto, não poderemos deixar de repetir que do ponto de vista do conceito económico, que para se efetivar a coesão territorial, terá de haver redistribuição, não apenas redistribuição económica, mas de meios. Essa redistribuição obriga à existência de redes.

Na cartografia de risco, a necessidade de mudar itens, rácios e matrizes. E como foi também já no decurso do trabalho dito, com a ANEPC gasta-se dinheiro, utilizam-se recursos e não existe eficácia, falha na eficiência e falha no controlo. Não há controlo, não há fiscalização, o dinheiro não vai para onde deve ir, porque deveria de haver controlo? Falha e em muito na análise dos risco.

Quanto à rede? A rede hoje passa pelas NUT’S, uma nova organização do território. Essa organização é a Comunidade Intermunicipal, então compreende-se a razão de a nova Lei Orgânica da ANEPC ter colocado as estruturas de comandos nesta distribuição administrativa do território250.

Falhas do Governo ou falhas do sistema? Porquê? ou como (Lobo, Vol. I, 2019) “o que se passa?” onde o mesmo refere “a desorganização urbanística em Portugal e o ineficiente ordena- mento do território são factores estruturais no nosso país. Porém, esta- mos dotados, teoricamente, dos melhores instrumentos administrativos e legislativos disponíveis. Contudo, as florestas ardem de forma violenta, e a qualidade urbanística não melhora, independentemente dos elevados investimentos em infra-estruturação realizados. O que se passa”251?

Só por isto, só por estas realidades elencadas já haveria e em muito a necessidade

250Os governos civis acabaram. A organização do território deixou de estar assente em distritos e passou pelas NUT’S, regiões (CCDR) e comunidades intermunicipais. Também o setor da proteção civil tem de se adaptar e modernizar nesse aspeto. Não nos cabe, nesta sede, pronunciar sobre a boa ou má distribuição de zonas, no entanto, há que reconhecer para uma melhor eficaz intervenção que haja harmonia e coerência na estrutura de intervenção, distribuição política e administrativa, e comandamento. Sendo o responsável pela proteção civil em cada território o presidente da câmara e do ponto de vista operação o coordenador municipal, não pode o seu superior político e operacional estar em outras estruturas funcionalmente diferentes gerando falhas na respetiva cadeia/linha hierárquica. O interesse geral assim o obriga.

de uma entidades reguladora.

Mas para que haja regulação é necessário separar o regulado do regulador. Não nos iremos debruçar sobre a figura jurídica do regulado, no entanto, e à semelhança do que aconteceu já em Portugal há várias possibilidades, desde logo manter-se uma direção geral como hoje acontece no domínio da saúde, ou mesmo através de da criação de um instituto como hoje acontece com a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais252.

No corpo deste trabalho fomos muito críticos nas mais diferentes situações em que nos deparámos com duplicações de funções no serviço emergência e proteção civil entre entidade reguladora e entidade regulada, numa confusão de competências na mesma entidade ou nos mesmos órgãos. Aqui e ali, mas com profusão, foi feita a critica.

Mas muitos outros exemplos podiam ser chamados à colação: i) pela falta de sinergias entre as entidades; ii) por não haver entidade que verdadeiramente regule o setor, com poderes regulatórios; iii) da necessidade de transparência nos procedimentos e medidas implementadas; e iv) os especialistas não serem chamados a tomar parte do processo de decisão.

Fazemos em sede de anexo no ponto “Critérios e exemplos da Ineficiência do

Atual Sistema” do Anexo IV a listagem não completamente, mas muito exaustiva das

situações que existem, no âmbito do serviço de proteção civil, no entanto, ressalva-se que não se indicou para qual a natureza da entidade regulada deveria ir, face à dificuldade de inventariar entidades que não existem.

Estamos perante a segunda conclusão. Não há necessidade de uma revisão constitucional para que a proteção civil possa ser objeto de regulação numa entidade administrativa independente.

Conclui-se, acrescentado pelo que foi explanado quanto à necessidade da lei de valor reforçado que a entidade reguladora deveria ser criada por lei da Assembleia da República, por lei de valor reforçado.

252Decreto-Lei n.º 12/2008, de 16 de fevereiro – Cria a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais, I.P.

2- Expertises

A regra da legitimidade democrática “cedeu” à regra do “saber”254.

Mais refere (Cardona, 2014) “e neste domínio que, a nosso ver, se centram as explicações em torno do “saber” e do “conhecimento” dos experts que, nos termos da lei, fundamentam o exercício das diversas competências das entidades”255.

Quanto à necessidade dos «expertises» na definição das políticas da emergência e da proteção civil, torna-se cada vez evidente, mais uma exigência.

Quando nos referimos a «expertises» não significa exclusivamente chamar engenheiros da proteção civil, mas os urbanistas os paisagistas, os engenheiro agrícolas, os engenheiros florestais, os economistas, os gestores, os juristas, que com visões muito setoriais se podem multidisciplinarmente articular, conjugar visões limitadas para uma visão muito mais ampla das definições das estratégias, das definições das políticas e sua concretização. Também e ainda chamar os expertises incluiu, chamar os médicos, os enfermeiros, os técnicos especialistas no socorro nas suas mais variadas vertentes e, muitos outros que podem contribuir para o enriquecimento da atividade, quer pelos conhecimentos acumulados, quer na concepção das políticas e estratégias que beneficia e muito eficiência e eficácia.

A credibilidade do setor conquista-se pela confiança. Pela obtenção de resultados satisfatórios. E isso só é possível chamando os melhores dos melhores.

Este envolvimento dos especialistas não significa de modo algum que uma entidade reguladora do setor vai contratar um conjunto vasto de técnicos especialistas em todas as áreas em que atua. Este envolvimento efetiva-se através das ferramentas jurídicas que uma entidade reguladora independente tem ao seu dispor, desde a sua constituição com expertises até ao simples mecanismo de chamar os regulados a participar na elaboração de normas regulamentares, evidenciando independente, neutralidade e a transparência dos atores e, consequentemente o bem-estar social do cidadão. Assegurar a garantia da felicidade e do bem estar do cidadão passa neste setor pela prestação do socorro em tempo útil e, com um mínimo de competência que o cidadão, tem o direito de exigir como direito subjetivo em que esta garantia se materializa e fundamenta.

254Cfr. Cardona, Maria Celeste Ferreira Lopes, Op. Cit., p. 5 255Cardona, Maria Celeste Ferreira Lopes, Op. Cit. p. 303

3- Accountability

Uma das questões mais debatidas na doutrina tem a ver com o facto de as entidades administrativas independentes serem como o próprio nome indica, «independentes» do poder político. É o poder político que é legitimado democraticamente para o exercício das funções de governar. É essa a regra da democracia.

Resume-nos (Marques, et al., 2008) “num sistema de governo de natureza parlamentar o Governo é responsável perante o parlamento pela sua própria actividade e pela condução da Administração Pública. O Governo não pode porém ser chamado a responder pelos organismos que, por força da Constituição ou da Lei, dispõem de grande independência no exercício das suas funções, sem que o Governo possa demitir os seus membros nem endereçar-lhes recomendações ou diretrizes, nem revogar ou alterar as suas decisões (que só são impugnáveis perante os tribunais por motivo de ilegalidade, não pelo seu eventual desacerto ou inoportunidade). Por isso, às entidades reguladoras independentes coloca-se evidentemente um problema de "accountability" democrática, visto que não respondem perante nenhum órgão do poder democraticamente legitimado, nem perante o Governo nem perante o parlamento”256.

Então o que é que concorre para que possa haver esta exceção que cada vez é mais generalizada, tendo-se alargado o âmbito dos setores aplicáveis, quer no direito interno, quer no direito europeu?

A necessidade de independência do poder político e o chamar à entidade reguladora os expertises.

Refere (Amaral, Vol. I, 2015) “um órgão de controlo, para ser eficaz, tem de ser qualitativamente diferente dos órgãos controlados. E também alguns serviços de gestão administrativa, apesar da sua função instrumental, têm que ter alguma independência relativamente aos outros órgãos e departamentos que servem”257.

Mas a falta dessa chamada «legitimidade democrática» é assegurada através da accountability?

Para (Moreira, et al., 2003) “a solução deve assentar num compromisso equilibrado entre a exigência de manter a independência das AAI em relação ao "jogo político" e, simultaneamente, evitar que se criem corpos administrativos absolutamente

256 Marques, Maria Manuel Leitão; Moreira, Vital – A Mão Visível: Mercado e Regulação.

Coimbra : Almedina, 2008 p. 198

separados do Executivo e que não respondem de todo em todo, nem perante ninguém (a não ser perante os tribunais); pelas suas escolhas ou valorações.

Na verdade, cremos que a abertura da CRP à criação de AAI não resolve todos os problemas de ordem constitucional suscitados por estas entidades, em especial o de saber perante que instâncias do poder político respondem, para obviar ao défice de legitimação democrática de que são manifestamente acusadas”258.

Este accountability é hoje assegurado por diversas maneiras, onde destacamos, através do Governo, ou da Assembleia da República com o envio de relatórios anuais da atividade e contas, da atividade de regulação, da sujeição de prestação de contas a fiscalização do Tribunal de Contas, procedimentos contratuais regidos pelos requisitos de publicidade e concorrência.

Outro dos mecanismos do accountability é a independência dos seus órgãos face ao poder político, mas também face aos regulados com a correspondente responsabilização. A democracia efetiva-se pela legitimidade democrática, mas também pela transparência.

No documento Estado regulador no setor da proteção civil (páginas 124-130)